segunda-feira, 19 de maio de 2014

Ética - quarta parte

Ética – um argumento oportunista?


Uma forma agressiva contra qualquer pessoa é dizer que faltou à Ética, disso ou daquilo, deste ou daquele modelo. O que se percebe, contudo, é que esse dardo é usado contra desafetos, inimigos, obstáculos a conveniências.
Poucas pessoas poderão dizer que respeitam rigorosamente figurinos morais, que têm ética definida e consciente e não a transgridem.
Com a mesma facilidade com que acusam, escondem o que fazem.
Bertrand Russell em sua luta por uma sociedade justa e feliz teve imensas dificuldades de sobreviver, ganhou um espaço na memória da Humanidade justo e merecido.
Do blog Paulopes (Lopes) temos um excelente resumo de suas orientações:
1 - Não tenha certeza absoluta de nada.

2 - Não considere que valha a pena esconder evidências, pois elas inevitavelmente virão à luz.

3 - Nunca tente desencorajar o pensamento, pois assim com certeza obterá sucesso. 

4 - Quando encontrar oposição, mesmo que seja de seu cônjuge ou de suas crianças, esforce para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, porque uma vitória que dependente da autoridade é irreal e ilusória.

5 - Não tenha respeito pela autoridade dos outros, porque há sempre autoridades contrárias.

6 - Não use o poder para suprimir opiniões que considere perniciosas, pois as opiniões vão lhe suprimir.

7 - Não tenha medo de possuir opiniões excêntricas, porque todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.

8 - Encontre mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, porque, se valorizar a inteligência, chegará a um acordo proveitoso e profundo.

9 - Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentar escondê-la.

10 - Não tenha inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.

Fã de Bertrand Russel desde o primeiro livro que li e perdi (emprestando) na década de sessenta tenho por esse filósofo tremenda admiração e o lamento de que sejam tão raros.



Ética – a opção metafísica e a pragmática.


Bíblias, códigos formais e informais relacionam orientações, determinações, dogmas e preceitos que ilustram muito bem o nível intelectual das tribos e nações que os criaram. O conhecimento humano e o desafio de sobreviver em ambientes hostis assim como a necessidade de disciplinamento de multidões, inclusive de indivíduos que sempre tiveram a maravilhosa base para serem rebeldes, inovadores, assim como instintos, pulsões e força para agredira levaram sábios e líderes a associar “constituições”, leis, normas e critérios de julgamento a poderes muito acima da capacidade de confrontação dos seres humanos. Deuses e espíritos bons e maus foram extremamente importantes, talvez hoje mais ainda, para conter a selvageria e comportamentos indesejados pelos poderosos.
Códigos morais sempre foram, portanto, extremamente pragmáticos. Note-se que pragmatismo é um conceito desenvolvido no século 19[1] e que evoluiu para uma proposta de raciocínio eficaz[2], algo com muitos desdobramentos no mundo do gerenciamento de empresas, por exemplo.
A visão pragmática (Pragmatismo) é diferente da utilitarista[3], pois acima de tudo propõe a racionalização da vida e não a subordinação a visões imediatistas de custo e benefício. É sempre importante lembrar que a Humanidade foi, acima de tudo, utilitarista. Os sacrifícios, fogueiras e cruzadas, penitências e vidas de isolamento social sempre foram as consequências da “economia” do medo e da fé.
As propostas morais existiram e estão por aí a serviço dos poderosos.
Na luta para conter transformações indesejadas àqueles que ocupam cargos de comando inventaram os dogmas[4], os tabus[5], cláusulas pétreas[6] e maldições que travaram o desenvolvimento humano, pois, como disse Bertrand Russell em seu livro (Principles of Social Reconstruction): “A certeza absoluta é por si só suficiente para impedir qualquer progresso mental naqueles que a possuem”. Isso é mais do que evidente ao longo da História da Humanidade...
A incapacidade do ser humano de fazer afirmações sobre a existência de Deus é o que, paradoxalmente, mais impressiona. Em sua diminuta grandeza qualquer pensador, por maior que seja, estará muito longe de qualquer base de demonstração do que pretenda afirmar. Mais e mais, à medida que nosso conhecimento sobre a complexidade dos seres e a essência deles assim a dimensão incalculável do universo levam-nos a questionar crenças e convicções.
Podemos transcrever o conceito “Epistemologia” endossando a hipótese da impossibilidade (Wikipédia em 23 de dezembro de 2013):
Epistemologia (do grego ἐπιστήμη [episteme] - ciência; λόγος [logos] - estudo de), também chamada de teoria do conhecimento, é o ramo da filosofia que trata da natureza, das origens e da validade do conhecimento. A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento, motivo pelo qual também é conhecida como teoria do conhecimento. Relaciona-se com a metafísica, a lógica e a filosofia da ciência, pois, em uma de suas vertentes, avalia a consistência lógica de teorias e suas credenciais científicas. Este facto torna-a uma das principais áreas da filosofia (à medida que prescreveria "correções" à ciência). A sua problemática compreende a questão da possibilidade do conhecimento - nomeadamente, se é possível ao ser humano alcançar o conhecimento total e genuíno, dos limites do conhecimento (haveria realmente uma distinção entre o mundo cognoscível e o mundo incognoscível?) e da origem do conhecimento (Por quais faculdades atingimos o conhecimento? Haverá conhecimento certo e seguro em alguma concepção a priori?).
O pragmatismo é sensível na reação das pessoas quando se diz a elas que não acreditamos em Deus: “então podemos fazer qualquer coisa?”.
A figura de um Criador do Universo é uma simplificação que conduz a outras teses, acima de tudo ao que denominamos moral. Afinal, se alguém cria alguma coisa pretende extrair dela algum resultado. Ou seja, nada mais natural do que produzir livros e aulas sobre a vontade divina. Nesse intuito aconteceram as escolas filosóficas e universidades[7]. Já na idade Média as Primeiras Universidades no mundo ocidental apareceram.

Ironicamente a formação de escolas e universidades gerou a diversidade intelectual, provavelmente em pleno conflito com as vontades daqueles que as dirigiam.
O ser humano é complexo demais para simplificações, assim até a capacidade de enfrentar os deuses era um estímulo aos pensadores e personagens mitológicas como foi Ulisses após a Guerra de Troia.
Mais concretamente encontramos algumas pessoas que mudaram caminhos da Civilização Ocidental, assim como eventos decisivos, tais com a Independência dos Estados Unidos da América do Norte e a Revolução Francesa.
É importante registrar que o número de mártires da inteligência humana, de pessoas inteligentes, cultas e criativas, suficientemente rebeldes para discordar é incontável e desconhecido. Vale, contudo, para motivar pensamentos ler e ver obras de tempos modernos, quando a tecnologia e o rompimento das barreiras criadas pelos senhores das trevas agora permite o prazer de conhecer pessoas extraordinárias que se destacaram na luta contra os imperadores de consciências.
Escrever, conceituar e propor algum padrão ético é relativamente fácil quando tudo é precedido pela aceitação de alguma religião política ou metafísica, para, ao contrário, escrever e desenvolver um conjunto de propostas “morais” sem conexão metafísica é fundamental uma enorme vivência, conhecimentos ou o atrevimento de dizer algo mais e diferente.
Estabelecer base para a Ética do Século 21 significa construir algo fora das facilidades dos milagres e revelações. Não pode ofender fanáticos, é um caminho improdutivo. Pensar e expressas convicções comportamentais no século 21 deverá ter como base um medo universal, algo que intimide as pessoas e as faça pensar sobre seus hábitos e ações.
Infelizmente o medo é justo e necessário. A Humanidade está em situação de extrema fragilidade. Paradoxalmente o seu desenvolvimento tecnológico criou uma interdependência planetária, ou seja, qualquer catástrofe em alguma grande região afetará violentamente as demais. Mais ainda, os jovens estão sendo educados a viverem com facilidades artificiais.
O planeta Terra passou por um período de relativa estabilidade, ainda que a Humanidade tenha, como sempre, sofrido agressões absurdas, inacreditáveis, o que nos autoriza a temer repetições.
Essa combinação de riscos galácticos e microscópicos aconselham esforços de educação e orientações comportamentais mais seguras, sustentáveis.
Do geral para os detalhes podemos partir da proposta de um código de ética universal, aplicável a todos os seres humanos e que contenha orientações básicas.
Obviamente a aceitação de propostas morais sofisticadas depende da inteligência humana. Aí a grande esperança, a de que algum processo de desenvolvimento viabilize a utilização maior do cérebro, estimulando a racionalidade. Temos um grande potencial governado por glândulas que podem ser trabalhadas para maior eficácia. É algo que começa, talvez, a ser feito em grandes e secretos laboratórios.
A generalização da racionalidade não interessa aos defensores da vida no Além nem a lideranças oportunistas. Isso sempre limitou a inovação e o crescimento de todos nós. Aos poucos, contudo, poder-se-á furar, talvez, censuras e blindagens religiosas e ideológicas.
A construção de um código de ética laico e universal é importante para, no mínimo, preparar os seres humanos ao que possa acontecer.
Temos códigos morais extremamente lindos, louváveis. Serão eficazes ou obstáculos à nossa sobrevivência?
A melhor base de desenvolvimento é estudar a história de povos dominantes e dominados, fortes e vivos e civilizações extintas. O que têm a ensinar?
Na vida dos povos podemos sentir nitidamente os efeitos de religiões com bases belíssimas, mas que significaram a ruína de e a morte de milhões de pessoas. Com certeza se o objetivo da nossa vida for a garantia de uma existência melhor em outro mundo a aceitação das leis religiosas é prioritária.
Acreditando, contudo, que devemos lutar pela sobrevivência de todos os que nos cercam é imperativo ajustar filosofias, opções religiosas e materiais de modo a não termos dúvidas em relação que deveremos fazer para sobreviver, assim como os limites éticos de cada comportamento.
O dilema de quem pode morrer afogado, a água sufocando e a possibilidade de salvamento de apensa uma pessoa é o melhor exemplo do que pretendemos alertar. O sobrevivente sairá dessa condição com complexo de culpa? Vai estragar sua vida?
Os campos de concentração e ambientes de extrema miséria estão por aí para mostrar o que é a luta pela sobrevivência.
A educação e o aprimoramento do ser humano precisam aceitar debates desagradáveis, mas necessários.
O que devemos ensinar e aceitar? Até onde nossas limitações admitem auto sacrifícios?
Sabemos viver sem religiões e crenças salvacionistas?
Vivemos em condições extremamente competitivas, algo que é tão natural que até a concepção é fruto de uma corrida de espermatozoides. A realidade impõe a quem tem poder a necessidade de decisões constantes com imenso significado na vida de qualquer pessoa. Não é sem razão que se criam associações, organizações e compromissos de lealdade. Todos têm medo de serem prejudicados, ainda que não mereçam maiores considerações, exceto o “sou seu irmão”, companheiro, patrício, parente etc.
O que não se pode esquecer é a importância da eficácia de nossas instituições, empresas, de todas as atividades que qualquer indivíduo exerça. A competência e a importância do sucesso são inquestionáveis.
A dimensão dos cargos e funções implicam em códigos de ética específicos, algo que os teóricos e defensores da igualdade absoluta (normalmente dentro de suas confrarias) desprezam.
A qualidade de vida e a sustentabilidade dependem mais e mais do sucesso. Se antes podíamos desaparecer porque éramos poucos e fracos diante de animais e tribos hostis, agora precisamos de serviços essenciais, de condições de convivência com multidões.
Portanto, que padrões éticos podemos criar, aceitar e ensinar?

Receitas prontas – a História e os poderosos


O medo e o oportunismo sempre dirigiram preocupações éticas e morais. Em suas origens, pensadores tão fantásticos quanto os gregos lastreavam suas doutrinas na hipótese de uma vida futura melhor ou pior. No mínimo queriam apaziguar deuses inventados por eles atavicamente ligados a um antropomorfismo que sucedeu a sentimentos de pavor dos tempos selvagens, quando seres superiores habitavam campos, florestas e montanhas divertindo-se com as fragilidades humanas.
As religiões, corporações, partidos políticos etc. se caracterizam pela imposição de conjuntos de leis, comportamentos, rituais, sinais etc. como condição de qualificação. Perfeito, mas é inteligente, justo e necessário?
A Humanidade precisa rever radicalmente suas organizações que pretendem se caracterizar por códigos de ética e padrões morais.
Fantasticamente tive a oportunidade de conhecer, ler e procurar entender o livro (Ética - Demonstrada à Maneira dos Geômetras) onde conheci o pesadelo de um filósofo submetido a teocracias, Baruch Spinoza, assim como o contorcionismo para se livrar da forca ou fogueira, mas alvo de conveniências dos poderosos que, felizmente, não venceram a coragem desse ser humano extraordinário. O livro citado é difícil, mas a introdução escrita por (Huberto Rohden) em linguagem acessível e trazendo uma interpretação introdutória ao livro é algo imperdível àqueles que procuram pesquisar as lógicas universais. Do texto de Spinoza gostamos de ver a lógica dos teoremas[8] e a definição do que seria Deus; a proposição XI onde estabelece vale o destaque: “Deus, isto é, uma substância constituída por uma infinidade de atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita, existe necessariamente”. “Deus é um ser absolutamente infinito, isto é, uma substância constituída por uma infinidade de atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita” (Definições). A coragem de imaginar, escrever e divulgar pensamentos dessa espécie fizeram de Spinoza um dos heróis do pensamento humano, um gigante, uma pessoa extremamente corajosa, seguindo exemplos de outros que destacamos talvez pelo maior deles, algo mostrado de forma magistral no filme (Giordano Bruno).
Coerência, não é fácil ser coerente.
Muitos livros e filmes mostram o lado oposto de lideranças famosas e a realidade pessoal de seres humanos em qualquer situação de poder, merecem ser lidos, vistos, ouvidos e discutidos: (Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo, 2013), (História da Vida Privada ), (O Cemitério de Praga, 2011), etc.
Com certeza muitas lógicas estimularam revoluções; apesar do viés ideológico os livros de Eric Hobsbawm são imperdíveis [ (Hobsbawm, A Era das Revoluções 1789-1848, 2004), (Hobsbawm, A Era do Capital 1848 - 1875, 2007), (Hobsbawm, Era dos Extremos, 1998), (Hobsbawm, Globalização, democracia e terrorismo, 2007)].
Em tempo, por quê a insistência na leitura de tantos livros?
No mundo de normas e academicismo o saber exige diplomas e carimbos corporativos. Para quem gosta e aprende sem cursos formais existe sempre a barreira do formalismo, inclusive da sempre repetida afirmação: isso o Dr. Fulano de tal já disse... Meu pai e o pai de meu pai são exemplos extraordinários do que a inteligência, determinação, coragem, empreendedorismo e vontade de aprender podem fazer, sem a necessidade de cursos formais.





Ética e coerência


Algo extremamente comum e desastroso é a falta de sintonia entre o comportamento real e os códigos de ética e a moral, juramentos, votos de todo tipo. Sem qualquer pudor as pessoas juram obedecer a determinados padrões morais e muitos códigos de ética nem sempre publicáveis para de imediato usar os seus votos de acordo com as piores conveniências pessoais.
A falta de coerência natural do ser humano obrigou inúmeras religiões a criar rituais complexos e punições terrenas a seus “fiéis”. Esse comportamento de um animal eventualmente racional é compreensível, afinal ele procura sobreviver, crescer e dominar.
Não devemos assumir a posição de juízes de um tribunal tão complexo quanto o da moral e virtudes humanas, mas devemos procurar padrões que nos deixem felizes e em paz com a nossa consciência.
Nesse sentido os livros sobre os ensinamentos dados por Michel ([org.], Foucault - a coragem da verdade - O Governo de Si e dos Outros II, 2011), ([org.], Foucault - a coragem da verdade)]são muito bons, pois esse filósofo procurou acima de tudo a verdade da existência, ainda que proponha a honestidade intelectual quase como um processo religioso. O resgate da escola Cínica e em especial de Diógenes Dion é um atrevimento sadio num mundo mais e mais alienado. Aliás, é interessante notar que nossa civilização migra da hipocrisia para o pragmatismo. Isso, contudo, tem um tremendo custo. A alternativa pode ser a proposta Luc Ferry em (Aprender a Viver - Filosofia para os novos tempos, 2006), principalmente se entendermos que seremos incapazes de mudar qualquer coisa, inclusive a nós mesmos.
A aceitação da desonestidade é quase uma virtude. Precisamos de honestidade e só com muita coragem e capacidade de eliminar gradativamente comportamento que denominamos de “corrupção” e submissão a interesses brutais de elites poderosas poderemos construir um mundo melhor e sustentável.
Os interesses em torno das lógicas radicais capitalistas e liberais (exploração sem limites do ser humano mais esperto pelo ser humano menos capaz) podem destruir a Humanidade, apesar de terem sido parte da evolução e criação de soluções.
Agora é hora de repensar tudo, se quisermos passar o século 21 com sucesso e evolução de todos os sobreviventes.
A ética Universal, algo que um dia talvez tenhamos consensualmente, não poderá ser submetida a contingências oportunistas. Poderemos ter padrões orais adequados a ambientes diferentes, mas a ética só pode ser única, à medida que vier a ser produto da razão subordinada a uma visão metafísica da Verdade.
É doloroso constatar que na política, comércio, no exercício da Engenharia, Medicina, Administração etc. encontramos pessoas dizendo isso e fazendo aquilo.
As contradições chegam a limites perigosos quando empresas, partidos e relações políticas, públicas e, ou privadas impõem (O QUE É UM CÓDIGO DE ÉTICA?) códigos de ética explícitos ou discretos (até secretos) contrariando a crença comum geradora do que poderíamos qualificar como inegociável diante de leis maiores, tais como a Constituição Federal e estatutos aprovados universalmente.
Entre mafiosos de toda espécie códigos comportamentais, éticas criminosas estabelecem lealdades a qualquer custo.
A ONU/UNESCO aproveitando um período de excepcional “bondade” tem criado estatutos, leis e padrões de alto nível moral. São orientações de altíssimo nível ético, se entendermos o que se formou a partir de grandes e bons filósofos e profetas uma base moral realmente justa e necessária.
Ao contrário do esoterismo (ensinamentos secretos e de qualidade duvidosa) devemos e podemos louvar o exoterismo [9], algo que nasceu na esplendorosa Grécia dos tempos de seus grandes filósofos. A partir dessa aurora intelectual a Humanidade descobriu rumos e desenvolveu civilizações mais e mais avançadas, ainda que de forma sinuosa.
Governos sempre dependem de seres humanos. O poder se alterna entre lideranças notáveis pela excelência e outras que fizeram história por ausência ou inversão de valores. Maravilhosamente, contudo, quase milagrosamente, o “bem” venceu e chegamos aos tempos atuais apesar da força de ideologias tétricas e outras que, apesar de bem intencionadas, estavam completamente fora do alcance de seus militantes.
Não podemos esquecer a natureza do ser humano, algo que podemos compreender melhor com livros até simples como (Humano, Demasiado Humano), (Foucault, História da Loucura, 1972), (As Origens do Totalitarismo, 2007) e, para mim o mais impressionante, (La Commune de Paris racontée par les Parisiens , 2009). A ferocidade humana não tem limites em certas circunstâncias...
Ética, moral, religiões, ideologias não podem ignorar a essência do “homo sapiens sapiens”.
Ela existe, a ética é uma orientação filosófica construída por seres humanos. Assim ganha detalhamentos em função de sua finalidade e construção. Qualquer formatação, contudo, deveria ser coerente com a maior, universal.
Entendendo-se a Ética como subproduto de um conhecimento superior da Verdade  (Verdade) chegamos à conclusão que podemos ter códigos de ética complementares, nunca divergentes ao maior, algo que a Humanidade ainda não desenvolveu. Considerando, entretanto, a fragilidade do ser humano diante da imensidão e complexidade do Universo ficamos no dilema de onde se apoiar de forma eficaz, algo que Michel Foucault apontou em seus livros, aulas e trabalhos.



O essencial, o desafio das opções


Todo ser humano nasce, cresce, envelhece sob os efeitos de opiniões e vontades alheias a seus interesses. A infelicidade e muitas desgraças são a pura consequência de vidas desvirtuadas ao sabor dos interesses de quem pode afetar seus semelhantes.
A inveja, a competição permanente gera comportamentos e decisões normalmente excludentes e ajustadas aos nossos interesses.
Temos o direito de viver e da conquista da felicidade [O princípio da máxima felicidade – O utilitarismo (Sandel, 2013)] e obrigações que existem também para que isso seja possível.
A felicidade é um estado de espírito extremamente complexo e pode ser ilusório, pelo menos essa é a afirmação de uns sobre conceitos de outros, ou seja, não existe unanimidade.
Desde situações extremas e Michel Foucault (Foucault, História da Loucura, 1972) trata muito bem disso, algo que já em língua portuguesa encontramos no livro (Os grandes sonhos da Humanidade - Condutores de Povos, Sonhadores e Rebeldes, 1937) descrevendo sociedades ensandecidas e fanáticas, até a serenidade de grandes gênios de encontramos de Buda a inúmeros outros que deixaram registro de seus pensamentos, ensinamentos e exemplos, temos um imenso leque de opções.
Infelizmente a vida de qualquer cidadão segue um padrão de exigências que satura e quase impede maiores estudos.
O processo de aprendizado ganha, contudo, novos recursos (Cascaes, Ensino e literatura século 21) e o trabalho necessário e suficiente a uma vida digna pode ser equacionado de modo a se ter tempo para a família, o lazer, esporte e o estudo. Boas leituras serão sempre uma forma de lazer e aprendizado.
Assim é fundamental termos cautela ao escolher caminhos e figurinos, a vida passa...




Estado Laico – religiões – Tecnologia - interesses particulares


A Ética é a lógica da Moral que por sua vez está subordinada a preocupações metafísicas ou seculares, de modo geral a essas duas bases. Normalmente, na vida comum, a uma mistura dessas duas diretrizes. Uma pessoa normal sente que precisa equilibrar convicções, ainda que intuitivamente.
Ao longo da História a sociedade humana, gregária ou não, submeteu-se a partir do momento em que percebeu desde a necessidade de crenças comuns a padrões morais, fortalecidos pelo medo a tudo o que não entendia ou simplesmente na admiração de cenários tão lindos que a inspiravam a crer em Deus.
Podemos imaginar a sensação de qualquer troglodita[10] no limiar da inteligência vemos o firmamento em noites limpas, o mar infinito, plantas e animais de que podia se aproximar. Esses seres humanos tinham habilidades sensoriais aguçadas, como enxergavam a Natureza?
O “homo sapiens sapiens” transformou-se, evoluiu. De predador e coletor virou sedentário, agricultor, construtor. Organizado em comunidades gerou teorias e práticas religiosas.
De forma oportunista muitas crenças se estruturaram de maneira antropomórfica (atribuindo a divindades e similares qualidades humanas), ou simplesmente assim porque não havia como exigir maiores abstrações. Essa é uma condição onipresente na sociedade atual onde a maioria das pessoas não tem tempo, não pode ou não quer pensar e estudar. É infinitamente mais simples racionalizar a gosto de nossos medos e instintos, assim livramo-nos de dúvidas que incomodam e sem essa carga intelectual cuidar melhor de nossos desejos mais agradáveis.
É surpreendente, paradoxal ver de que forma as pessoas aceitam tacitamente “filosofias” e seus efeitos tão rapidamente, mesmo quando diferem drasticamente de décadas de crenças aparentemente consolidadas. Ao aceitarem o ingresso em alguma sociedade com base filosófica renegam parte ou tudo o que diziam acreditar sem ao menos estudar direito o que o novo ambiente propõe. Ou seja, ou o ser humano é incrivelmente volúvel e superficial ou nesses ambientes terá descoberto por milagre uma coleção de “revelações” revolucionárias e que aceitou com entusiasmo.
Povos inteiros mudaram de religião por vontade de reis e guerreiros poderosos, será que a Humanidade agora é melhor, mais inteligente e capaz de sustentar fé e convicções sem modismos e imposições?
Surpreendentemente estamos, além disso, sob o império da mídia e do marqueting, em muitos lugares subjugados pela força, simplesmente (Princesa). A intolerância é algo assustador, a sutileza da manipulação dos meios de comunicação, contudo, infinitamente mais perigosa se aprofundarmos análises dos piores exemplos de violência cultural do século 20, quando a mídia comercial atingiu um nível de capilaridade e organização dominantes.
O racismo e sentimentos tribais fortíssimos ainda existentes na Europa e Ásia, por exemplo, são assustadores. Inacreditavelmente mesmo após todo o sofrimento causado pela Segunda Guerra Mundial guerras o ódio tribal é fortíssimo. Vimos isso nitidamente em diversas ocasiões e de pessoas que nos pareciam evoluídas. O que acontece na Iugoslávia é antológico, terrivelmente sintomático de nossas limitações intelectuais e comportamentais, por quê?
Essa é a realidade.
Ela existe entre nós, dentro de nossos cérebros talvez por efeito de arquivos genéticos.
A importância da separação do Estado, a defesa do Estado laico é essencial à liberdade de pensamento e opinião, assim como poder adotar padrões éticos que acreditamos.
O destaque do século 21 será a ampliação exponencial dos recursos tecnológicos para comunicação, processamento de dados, utilização de processos computacionais de análise e assim a ampliação da vida inteligente, em todos os sentidos. O aproveitamento desse paraíso técnico será também proporcional ao descolamento de atavismos. Inovações mexem fundo nos preconceitos. Devemos “preparar” nossas crenças para o futuro, principalmente os jovens que terão a oportunidade de viver neste cenário se nenhum cataclismo universal interromper esse desenvolvimento.
É sempre importante lembrar que os cataclismos[11] são efeitos rotineiros em nosso planeta, e de modo algum raros, tanto aqueles causados pelas nossas eternas guerras quanto pelo mau humor da Terra (Cataclismos - visões e histórias).
O fundamental para enfrentar essas situações é estarmos preparados para sobreviver. Fragilidades pessoais e familiares serão fatais. A história da Humanidade é o relato de cenários para os descendentes daqueles que enfrentaram tudo e venceram: nós.



[1]Pragmatismo constitui uma escola de filosofia estabelecida no final do século XIX, com origem no Metaphysical Club, um grupo de especulação filosófica liderado pelo lógico Charles Sanders Peirce, pelo psicólogo William James e pelo jurista Oliver Wendell Holmes, Jr., congregando em seguida acadêmicos importantes dos Estados Unidos.
Segundo essa doutrina metafísica, o sentido de uma ideia corresponde ao conjunto dos seus desdobramentos práticos.
O primeiro registro do termo pragmatismo ocorreu em 1898, tendo sido usado por William James. Este creditou a autoria do termo a Charles Sanders Peirce, que o teria criado no início dos anos 1870.
A partir de 1905 Peirce passou a usar o termo pragmaticismo para designar sua filosofia, rejeitando o nome original, pragmatismo, que estaria sendo usado por "jornais literários", de uma maneira que Peirce não aprovava. Wikipédia
[2] Nas palavras de William James: "O método pragmatista é, antes de tudo, um método de terminar discussões metafísicas que, de outro modo, seriam intermináveis. O mundo é um ou muitos? Livre ou fadado? Material ou espiritual? Essas noções podem ou não trazer bem para o mundo; e as disputas sobre elas são intermináveis. O método pragmático nesse caso é tentar interpretar cada noção identificando as suas respectivas consequências práticas (...). Se nenhuma diferença prática puder ser identificada, então as alternativas significam praticamente a mesma coisa, e a disputa é inútil. - Wikipédia
[3] Em Filosofia, o utilitarismo é uma doutrina ética que prescreve a ação (ou inação) de forma a optimizar o bem-estar do conjunto dos seres sencientes . O utilitarismo é então uma forma de consequencialismo, ou seja, ele avalia uma ação (ou regra) unicamente em função de suas consequências. Filosoficamente, pode-se resumir a doutrina utilitarista pela frase:
Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo).
Trata-se então de uma moral eudemonista, mas que, ao contrário do egoísmo, insiste no fato de que devemos considerar o bem-estar de todos e não o de uma única pessoa. Antes de quaisquer outros, foram Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) que sistematizaram o princípio da utilidade e conseguiram aplicá-lo a questões concretas – sistema políticolegislaçãojustiçapolítica econômica, liberdade sexual, emancipação feminina, etc. Em Economia, o utilitarismo pode ser entendido como um princípio ético no qual o que determina se uma decisão ou ação é correta, é o benefício intrínseco exercido à coletividade, ou seja, quanto maior o benefício, tanto melhor a decisão ou ação. Wikipédia
[4] Dogma é uma crença ou doutrina estabelecida de uma religiãoideologia ou qualquer tipo de organização, considerada um ponto fundamental e indiscutível de uma crença. O termo deriva do grego δόγμα, que significa "aquilo que aparenta; opinião ou crença" , por sua vez derivada do verbo δοκέω (dokeo) que significa "pensar, supor, imaginar". - Wikipédia
[5] Tabu é uma instituição de fundamento religioso que atribui caráter sagrado a determinados seres, objetos ou lugares, interditando qualquer contato com eles. Segundo Freud é a base da "Idolatria", política de políticos como Adolf Hitler e outros. Segundo Freud, a violação desse interdito provocaria um castigo divino uma "Maldição", uma "Herança Maldita" provocado pelos seguidores, que incidiria sobre o indivíduo culpado ou sobre todo o grupo social, donde segundo sua Ideologia licenciaria a prática do Terrorismo, aos seus "inimigos", a prática de uma antiga sociedade marxista denominada "Mão Negra" que caçavam os Nobres e os Clericais de 1848 em diante, não se sabe se essa sociedade clandestina ainda existe.
[6] Cláusulas pétreas são limitações materiais ao poder de reforma da constituição de um Estado. Em outras palavras, são dispositivos que não podem ter alteração, nem mesmo por meio de emenda, tendentes a abolir as normas constitucionais relativas às matérias por elas definidas.  Wikipédia
[7] Dentro da definição moderna, as primeiras universidades surgiram na Europa medieval, durante o renascimento do Século XII, a primeira delas foi a de Bolonha, no norte da Itália. Isso acontece no século XI, em 1088, quando o ensino da cidade se tornou livre e independente das escolas religiosas. A Universidade de Bolonha é assim considerada a mais antiga do Mundo e a primeira da História.
Numa definição mais abrangente, a Academia, fundada em 387 a.C. pelo filósofo grego Platão no bosque de Academos próximo a Atenas, pode ser entendida como a primeira universidade. Nela os estudantes aprendiam filosofiamatemática e ginástica. Não constituía, entretanto, realmente uma universidade, porquanto cada pensador fundava uma escola para repassar seus conhecimentos, não para debatê-los. Contudo só na Idade Média foi que as universidades ganharam corpo e foram estabelecidas pela Igreja Católica onde seus alunos aprendiam disciplinas relacionadas com a fé, como teologia, filosofia e idiomas.
As primeiras universidades da Europa foram fundadas na Itália e na França para o estudo de direitomedicina e teologia. Antes disso, instituições semelhantes existiam no mundo islâmico, sendo a mais famosa a do Cairo. Na Ásia, a instituição de ensino superior mais importante era a de Nalanda, em BiharÍndia, onde viveu no século II o filósofo budista  Nagarjuna. Wikip
[8] Em matemática, um teorema é uma afirmação que pode ser provada como verdadeira através de outras afirmações já demonstradas, como outros teoremas, juntamente com afirmações anteriormente aceitas, como axiomasProva é o processo de mostrar que um teorema está correto. O termo teorema foi introduzido porEuclides, em Elementos, para significar "afirmação que pode ser provada". Em grego, originalmente significava "espetáculo" ou "festa". Atualmente, é mais comum deixar o termo "teorema" apenas para certas afirmações que podem ser provadas e de grande "importância matemática", o que torna a definição um tanto subjetiva. Wikipédia.
[9] Esotérico versus Exotérico - Wikipédia
Existem duas espécies de conhecimento: esotérico e exotérico. O termo "exotérico" (antônimo de "esotérico", apesar de ter a mesma pronúncia) se refere ao ensinamento que nas escolas da Antiguidade grega era transmitido ao público sem restrições, por se tratar de ensinamento dialético, provável e verossímil. O conhecimento exotérico ou conhecimento do mundo exterior é aquele que percebemos através dos sentidos físicos.
Helena Blavatsky, que é considerada a criadora da moderna Teosofia, dizia que o termo "esotérico" refere-se o que está "dentro", em oposição ao que está "fora" e que é designado como "exotérico". Aponta o significado verdadeiro da doutrina, sua essência, em oposição ao exotérico que é a "vestimenta" da doutrina, sua "decoração". Também segundo ela, todas as religiões e filosofias concordam em sua essência, diferindo apenas na "vestimenta", pois todas foram inspiradas no que ela chamou de "Religião-Verdade".

[10] Troglodita é um nome masculino que designa um homem, uma colectividade ou animais que habitam uma caverna ou uma habitação cavada numa rocha ou que se apoia sobre falhas ou grutas naturais nas falésias. A origem deste nome remonta ao Antigo Egipto onde havia o povo dos Trogloditas, que vivia instalado em rochedos próximo do Mar Vermelho. Wikipédia

[11] Cataclismo (grafado ocasionalmente como cataclisma) (do grego κατακλυσμός - kataklusmós, água, inundar, fazer desaparecer por inundação) é uma tragédia ambiental de caráter generalizado, como o Grande Terremoto do Leste do Japão ocorrido em março de 2011. São desastres repentinos, praticamente imprevisíveis e de impossivel prevenção, sendo a única maneira de salvar vidas a evacuação do local. Também tem como característica um alto número de fatalidades e grande prejuízo econômico para o local, sendo necessário anos, décadas em certos casos, para a recuperação total das estruturas locais. Wikipédia

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