Conversando com meus filhos
Índice:
Este livro é uma homenagem à família
acima de tudo, independente de datas comemorativas, porque todos os dias são de
aprendizado entre pais e filhos, avós e netos, sem a necessidade de existir o
tristemente famoso conflito de geraçòes.
O autor aborda temas do cotidiano que,
englobados, somam os principais passos para a boa formação moral e
espiritual da juventude, colocados em forma de conversa com os filhos,
estimulando, na realidade, a leitura, a leitura pelos pais que tem boa vontade
mas não conseguem expressar seus seus sentimentos.
Palavras aparentemente esparsas formam elos
de uma verdadeira corrente de bem viver e transcendem aos umbrais da casa
paterna, para deixar o autor percorrer as ruas em busca dos meninos e meninas
do Brasil, geração que vive permanente procura de respostas, muitas vezes tendo
conduta reprovável simplesmente porque ninguém lhe falou tão claramente quanto
o que está ali expresso.
A impressão que temos, embora ele se refira
a seus filhos, é a de que, na impossibilidade de adotar todos os jovens, traz a
sua contribuição nesse exemplar, como se cada privilegiado que tenha a
oportunidade de leo os “Conselhos do Cascaes”, recebesse um pai de papel que
poderá salvá-lo das armadilhas deste mundo.
O autor se doa, de corpo e alma aos filhos
dos outros, tendo a humildade de falar somente com os seus quando na realidade
sua preocupação é universal.
Longe de pretender ser um reformador do
mundo, registra nas letras conselhos que todos os pais gostariam de dar, e
percorre um labirinto de emoções, encontrando sempre a saída na família.
De agora em diante, a luta da família pela
união ganha um novo aliado, facultando que exista o diálogo aberto, que
perguntas sejam respondidas através desse livro, gerando em todos a certeza de
que vale a pena nascer, viver e, no dia da partida poder olhar para trás e
dizer: Missão Cumprida!
Anita Zippin
advogada, jornalista, membro do Centro de Letras do Paraná, da Academia de
Letras José de Alencar e da Associação Mundial de Periodistas e Escritoras.
Casei-me cedo. Logo vieram os filhos.
Sustentá-los tornou-se meu grande desafio. Educá-los? minha esposa sempre junto
deles foi a professora.
Hoje aposentado, com netos e ainda um filho
adolescente, sobra a questão: transmiti a meus filhos o que seria justo,
correto, minha mensagem de pai?
Tive sucesso profissional. De uma certa
forma isto ajudou muito. Sinto que meu time orgulha-se do pai. Serve-lhes
também de suporte moral nas lutas da vida.
Seria suficiente, contudo, mostrar-lhes meu
“curriculum vitae”? vejo em seus olhos tantas dúvidas, tantas questões ...
O Mundo transforma-se. Minha geração começou
na Segunda Guerra Mundial, viveu a Guerra Fria e todas as suas lutas. Saímos de
um padrão clássico para a revolta de um James Dean, a revolução Elvis,
Beattles, Hippies e outras.
A guerra do Viet Nan freqüentava nossas
aulas. Brasileiros viemos do Estado Novo, Democracia, ditadura e agora outra
vez a democracia. Eta fôlego !
Tudo isso confundiu, criou modas, épocas .
O que ensinar? política? sociologia?
religião? Deus como ficou neste carnaval de idéias, filosofias?
É tentando explicar alguma coisa a filhos já
adultos, na perspectiva dos meus 50 anos e com a preocupação de pai e avô que
escrevi este livro. Espero ajudá-los a serem felizes e suficientemente bem
sucedidos. Preocupa-me que tenham sucesso como pais e cidadãos.
Em minha vida profissional tive muitos
alunos, companheiros, centenas ou milhares de jovens que de uma forma ou de
outra viram e ouviram meus discursos. Esses filhos adotivos também me
preocupam. Aprendi a amá-los e respeitá-los. Sei que muitas vezes falhei como
educador. Nem sempre a imagem material correspondeu ao que sentia. Muitas
mensagens ficaram prejudicadas pela necessidade operacional, pela luta do dia a
dia. Eles foram minha grande família, pela qual também sinto-me
responsável. Espero aqui corrigir falhas de comunicação, dar-lhes mais uma vez
propostas, idéias, visões de um ser humano que antes de mais nada lutou, riu,
chorou, sofreu muito em muitas decisões tomadas e por outras deixadas de lado.
Antes de mais nada quero que a minha pequena
e a grande família sejam harmônicas, amorosas e felizes.
Este livro faz com letras o que meu pai me
deu com intermináveis conversas. Tive a grande felicidade de ouvi-lo durante
anos. À mesa do almoço, durante a janta, em sua loja ou andando ao seu lado
tive a grande sorte de aprender lições maduras, inteligentes. Conversávamos
sobre política, religião, história, comportamento. Eu menino e ele, meu pai,
adulto e com toda a paciência e tolerância que lhe era peculiar discutíamos
durante horas os problemas do Mundo.
Minha querida mãe foi o exemplo de pessoa
guerreira, corajosa e incrivelmente laboriosa. Em sua simplicidade tinha
consciência de seus desejos, pacientemente subordinados a uma personalidade
muito forte, a de meu pai. Ela me mostrou toda a força e coragem que uma mulher
pode ter. Longe da imagem cândida e frágil estabelecida para as mulheres, ela
brigava, trabalhava duro, enfrentava qualquer situação sem medo e com uma garra
de fazer inveja à maioria dos grandes homens que conheci. Ainda hoje, já idosa
e com tantos problemas de saúde, a leoa ruge em sua toca.
Os dois foram um exemplo de seriedade,
trabalho e responsabilidade muito raro.
A essas pessoas extraordinárias, meu pai
infelizmente falecido há tantos anos, quero dedicar este pequeno trabalho.
Nada é mais sagrado que a família, a pequena
tribo .
Por mais que se lute, por maiores que forem
as conquistas, é nela que encontraremos nossa base de apoio, nossa razão de ser
.
Ninguém nasceu para viver só. Pertencer a um
grupo é condição de afirmação, felicidade e segurança.
O jovem, quando instintivamente foge de seu
ninho, em seu íntimo procura outro, o de sua futura família.
A consciência da necessidade de construí-la
vem com o amor, com a descoberta de quem irá acompanhá-lo, formar seu par .
Na sociedade moderna, bombardeada dia e
noite por mensagens negativas em torno do casamento, com tantos apelos à infidelidade,
ao consumismo, o jovem com facilidade poderá desorientar-se. É interessante
notar, entretanto, que dentro de cada pessoa, e isto se reforça com o tempo, a
preocupação na formação de sua família é base de seu comportamento. Nota-se com
mais evidência nas mulheres. Elas têm na maternidade uma forma de afirmação, de
realização sublime. Não atender este chamado da natureza será um fator de
frustração emocional, mais cedo ou tarde.
A verdade é que a família é nossa base. Os
filhos nossa razão de ser. O amor pela companheira(o) a base do equilíbrio
emocional.
Ao iniciar a vida longe do lar paterno, o
jovem deve se lembrar que o resultado de todas as suas experiências será formar
uma família. Mais cedo ou tarde sentirá falta de um ninho, do aconchego de um
lar, do ruído de crianças. Precisará de pessoas que lhe amem, que dele esperem
apoio, para quem seja importante.
O grande desafio será escolher alguém para
esta parceria com a vida. O amor será o principal fator de aproximação mas
algumas questões poderão atrapalhar muito. Religião, profissão, saúde e cultura
pesarão no sucesso do casal.
A harmonia em um lar depende bastante do
mútuo respeito e admiração. Como obtê-la? Um casal sem coerência filosófica
viverá em conflito. Sobreviverá?
É muito difícil o apoio recíproco quando não
existe aceitação de princípios religiosos, éticos e morais. São bases culturais
que se manifestam em todos os detalhes da vida. Da manhã à noite mostramos o
que pensamos a respeito de religião, trabalho, sexo e relações humanas.
Fatalmente visões diferentes levarão a constrangimentos pesados.
Muitas religiões estabelecem para os não
crentes o inferno e os piores adjetivos. A diversidade religiosa gera
orientações diferentes, critérios divergentes. As dúvidas e dogmas fermentam
agressões. Como suportá-los sem revolta? Um casal em clima de beligerância
transmitirá insegurança e indisciplina. As crianças não compreendem as
abstrações dos pais e muito menos terão como tratá-las com frieza,
objetividade, equilíbrio.
E a saúde? Antes do casamento muitas doenças
poderão ser evitadas. Por pior que seja, deve-se fazer o pré natal. O casal
poderá ter filhos? como serão? A mídia, a nossa cultura supervaloriza a
liberdade. Raramente veremos em teatros, cinemas ou televisões o apelo à
responsabilidade. O casamento naturalmente leva aos filhos. Eles serão
herdeiros genéticos e culturais dos pais. E os pais poderão ser portadores de
problemas graves, doenças degradantes. Temos o direito de gerar filhos doentes?
Há muitas maneiras de evitar problemas maiores. A medicina está muito
adiantada. A prevenção é o melhor caminho. De qualquer modo é bom lembrar que a
perfeição é uma abstração. Todo ser humano carrega alguns problemas que se
manifestarão ao longo da vida.
Nos casos extremos a adoção de crianças é
uma bela e justa saída.
Mas é isso que o casal pretende ?
A formação de uma família é um ato de
grandes conseqüências pessoais e sociais. Não há como negar a responsabilidade
e o compromisso que o casal tem com a vida.. Felizmente a medicina oferece cada
vez mais recursos para prevenção de doenças. Consultando-se especialistas
haverá grandes chances de unir-se o amor à saúde.
E o dinheiro? o que significa na vida
familiar?
Quantos casais começam felizes, imersos em
um mar de carinhos num espaço de grande amor e, após alguns anos, diante da
impossibilidade de se sustentarem, acabam se separando em meio a acusações as
mais cruéis. Quando a separação vem sem filhos, tudo bem. Mas quando deixam
crianças “órfãs” prematuras? o drama para esses pequenos seres humanos estará
apenas começando. Filmes e novelas mostram quadros, romances, aventuras
fogosas. Não dá ibope explicar detalhes, causas, efeitos sutis desses dramas
nas cabeças das crianças. Não atrai platéias mostrar que somos culpados de
tantas tristezas, de tantos problemas.
Vale imitar os passarinhos, que primeiro
constróem seus ninhos para depois porem seus ovinhos e o fazerem na época em
que a natureza lhes oferece alimento, calor.
A família não deve ser o instrumento de fuga
da casa paterna, uma forma de afirmar-se. Não é raro perceber-se casamentos de
jovens que, no desespero de encontrar um melhor ambiente, acabam se unindo
prematuramente. Em suas mentes nada impedirá que tenham uma vida melhor casando-se.
Logo vem os filhos, as exigências materiais e, paralelamente, o sentimento de
que realmente amariam outras pessoas, que a liberdade pretendida
transformara-se em prisão.
Por tudo isso é prudente casar-se tarde. O
amadurecimento físico e mental é importante. Os primeiros 25 anos de vida devem
ser dedicados ao aprendizado, à formação profissional, moral e física. O
casamento entre adultos tem muito mais chances de ser bem sucedido.
O casamento precoce tolhe o jovem em uma
fase de sua vida em que é aventureiro, em que procura descobrir o mundo .
Religiões, empresários, sociedades
belicistas poderão desejar a união prematura. Afinal ela produzirá soldados,
crentes, operários... Para as “vítimas” a união precipitada poderá tornar-se um
pesadelo gigantesco.
Doenças venéreas, em especial a AIDS,
recomendariam o casamento mais cedo. Aí encontraremos a justificativa para a
união informal e sem filhos. Permitindo-se aos jovens uma vida sexual saudável
e responsável evitaremos os encontros clandestinos, promíscuos, sem controle.
Os conceitos e preceitos antigos aplicam-se
a uma sociedade dominada pela superstição, preconceitos. Felizmente, no mundo
ocidental, podemos viver um clima de relativa liberdade em muitos países.
Devemos aproveitá-la para experiências que possibilitem maior felicidade e
responsabilidade. Em especial maior segurança na hora de assinar o livro no
Cartório, onde assumiremos o compromisso legal de formar uma família .
É bom insistir que o casamento gera filhos e
estes não podem ser responsabilizados ou penalizados pelas loucuras dos pais.
Para eles a presença dos pais é vital, essencial a um desenvolvimento físico e
mental equilibrado.
O casal perde autonomia quando gera filhos.
A partir deles ganha um compromisso com a sociedade, a natureza e a vida. A
harmonia passa a ser um desafio permanente, o compromisso com o sucesso da
união ganha prioridade. Se antes os caprichos poderiam determinar separações,
agora, se isto acontecer, poderá tranqüilamente ser classificado como um grave
crime contra os filhos. Eles são produto do amor e não do ódio. Não poderão
pagar por desentendimentos que seriam superados se entre o casal houvesse mais
inteligência e seriedade. A propósito é bom lembrar que o mais capaz é
justamente quem deverá mostrar maior diplomacia, habilidade e tolerância. Tudo
isso leva à necessidade de um contrato de tolerância e de grande esforço de
mútua compreensão. Temos tradicionalmente o padrão machista de existência. É
uma lógica simples. Um manda, o outro obedece. À medida que a humanidade
evolui, contudo, a mulher conquista sua indepedência material e cultural. Nos
países mais desenvolvidos já é perfeitamente claro a identidade de direitos e
deveres. Se biologicamente as diferenças são enormes e maravilhosas, politicamente
e economicamente a esposa acompanha o marido em muitos caminhos. É sensível até
uma certa superioridade da mãe sobre o pai. Ela, na consciência de suas
responsabilidades, tendo gerado em seu ventre os filhos que lhe acompanharão o
resto da vida, sente-se responsável e solidária àqueles que gerou. Os homens,
que nunca tiveram este sentimento muito forte, agora o tem menos ainda. A
realidade da sociedade futura talvez seja a de crianças sem pai, vivendo um
ambiente em que a mãe fará o papel que hoje compete ao casal. Um resultado
disso tudo será o crescimento de questões comportamentais e menor fertilidade.
As mulheres, sentindo o risco da maternidade, tenderão a optar pela
esterilidade. Educando seus filhos o farão com a visão feminina, aos meninos
faltará o modelo masculino. Neste quadro teremos um novo padrão masculino. Os
psicólogos deverão rever modelos... Talvez esta seja uma resposta da
natureza ao excesso de população.
A família tem diversos limites, amplitudes.
O primeiro é constituído pelos pais e
filhos, em um segundo círculo teremos também os avós e tios, em um terceiro
outros parentes e assim por diante. Este conjunto, que no passado era a base de
tribos errantes nos desertos e florestas, possui elementos de grande
resistência e capacidade de mobilização. Assim como eventualmente cria
problemas ao interferir negativamente na vida de um casal é também o espaço em
que poderemos cobrar solidariedade. Muitos acidentes, fracassos profissionais e
materiais poderão ser fatais se não existir a família onde encontrar apoio.
Saber valorizá-la e aprender seus limites e compromissos é uma arte a ser
desenvolvida pelos jovens que levantam vôo.
Vivemos em uma cultura extremamente
competitiva. Disputamos espaços permanentemente. A própria visão da sociedade é
egocêntrica. Somos desafiados como indivíduos, procuramos nos defender unidos a
parceiros de bandeiras. Nascemos egoístas, cobram-nos altruísmo, admiram os
vitoriosos. Na família, junto àqueles que nos amam, teremos espaço para treinar
a vida. Junto ao carinho dos pais, as disputas infantis serão exercícios
culturais para a luta pela sobrevivência. Quando pais não poderemos esquecer
nossas responsabilidades pela educação dos filhos. Elas não se limitam à
escolha de escolas. Em casa as palavras e o exemplo valerão e muito na formação
de caráter. Gerar uma família é um desafio enorme. Em momento algum os pais
poderão desprezar a sorte dos filhos. Eles serão aquilo que a família
estabelecer. Ninguém é mais responsável que os pais pelo sucesso dos filhos. No
Brasil temos o hábito de responsabilizar o governo pelas nossas falhas. Herança
do clima escravocrata que tivemos durante séculos, habituados a rsponsabilizar
os donos do poder como culpados pelas nossas falhas. Essa atitude ridícula,
muito também conseqüência de ideologias utópicas, facilita a falta de atenção
pelos compromissos que assumimos ao gerar descendentes.
Ter família, gerar família e viver em
família é algo sério, sublime e um compromisso com a vida, o prêmio que esses
pedaços de matéria tiveram do Grande Arquiteto do Universo.
O ser humano é um animal socializante. O
isolamento não é seu comportamento natural. A necessidade de ter ao lado
companheiros e amigos é atávica. Viver sem possuí-los é condenar-se à
infelicidade.
Critérios? como conquistá-los? com que
objetivo? a que custo?
Desde a infância procuramos companhia. Ela
surge no seio da família, nas praças, escolas, praias, ruas...E como influem em
nossa cultura, formação. Por acidente ou deliberadamente construímos nossa vida
ao escolhermos nossos amigos. Os modismos, vícios, artes, o exercício da
liderança ou da subserviência, tudo é treinado, desenvolvido nos “bandos”, nas
“gangues”. Essas micro tribos muitas vezes antepõem-se à família criando
conflitos que exigirão muita habilidade dos pais e educadores.
O jovem deve perguntar-se: quem está de seu
lado? o que pretende? pode efetivamente confiar em seus companheiros? poderá
ajudá-los? qual o futuro de todos?
Diz-se há muito tempo: antes só do que mal
acompanhado. Lendo o livro “Memórias sonhos reflexões” de C.G. Jung vemos uma
declaração interessante: “meus colegas de escola rural: eles me alienavam de
mim mesmo”. Quantos já não sentiram o mesmo? Os amigos entorpecem percepções
pessoais. A preocupação de se identificar com o bando leva muitos a se
ignorarem, a assumirem posturas contraditórias com suas próprias crenças. Na
insegurança de suas idéias assumem figurinos estranhos. Ter consciência de que
se é diferente e querer sê-lo é a base para grandes vitórias ou derrotas.
Apenas sendo diferente é que poderemos ter o orgulho de, algum dia, mostrar que
descobrimos um caminho especial. Lutar pelo respeito à individualidade é
preservar valores especiais. As florestas tropicais são um bom exemplo da
riqueza de formas de vida. Podem ser perigosas, violentas, não serão nunca
monótonas. Podemos ser a grande experiência, a base de um mundo novo. Tudo
depende de acreditarmos em nossos instintos, nas mensagens que trazemos em
nosso inconsciente. A amizade, o prazer da convivência com amigos não deve
inibir ideais, posturas e lutas que acreditarmos.
O mundo poderá parecer pequeno. A sensação
de “se não pertencer àquele time estará abandonado” é comum. Principalmente para
o jovem existe todo o espaço do universo. Optar pelos melhores amigos é
fundamental. Ter coragem de dizer não quando não concordarmos com alguma
proposta ou companhia poderá ser decisivo em nossas vidas...Não amamos o físico
e sim espírito e corpo. Quando uma pessoa mostra não corresponder à imagem que
dela fazíamos devemos nos afastar dela. Amizades eternas apenas por pessoas que
apresentarem sintonia conosco e motivos de afeição. Em nossa primeira fase da
vida estaremos formando personalidade. Poderemos caminhar para rumos decentes
ou não. Infelizmente para permanecer nos melhores caminhos deveremos escolher
nossas amizades. Somos sensíveis. Não há como conviver sem envolvimentos,
mudanças.
Saber conversar com os pais, professores e
orientadores espirituais é muito importante na juventude. Dos pais teremos a
certeza de estarem preocupados com o nosso sucesso. Certos ou errados em suas
propostas, terão, com certeza, a intenção de nos darem bons conselhos.
Professores e orientadores espirituais, mais profissionais, terão enfoques
diferentes. Todos juntos mostrarão uma coleção de alternativas importantes. O
aspecto importante é que a decisão será nossa. Por mais frágeis que sejamos
estará em nossa vontade aceitar ou não o que ouvirmos. Aprendendo a andar, a
falar e ouvir ganhamos independência que exercitaremos na conquista de nossa
identidade. Conversando, vendo, sentindo aqueles que pretendem nos transmitir
idéias, comportamentos, sentimentos, projetos e filosofias criamos nossa
personalidade e cultura. A qualidade do resultado deste processo dependerá das
oportunidades que tivermos e conquistarmos.
Quando escolhemos amigos, companheiros e
inimigos, decidimos a nossa sorte. Eventualmente valerá a pena mudar de escola,
freqüentar outros ambientes. À medida que as cidades crescem multiplicam-se
ambientes alternativos. E se todos forem insuficientes, resta o canto do
próprio quarto, o banco solitário de uma igreja, aquele espaço às margens de um
rio ou de uma praia onde só com Deus poderemos conversar e ouvir lições
importantes.
Os mitos fazem parte de nossa vida. As
imagens dos super heróis, os grandes atletas e artistas povoam a cabeça da
garotada. Escolher paradigmas é algo que fazemos sem perceber, intuitivamente.
Os ideais estabelecidos na juventude irão acompanhar o adulto, fazendo-o mais
feliz ou frustrado.
Entre amigos exercita-se a liderança. Aí pode-se
desenvolver a auto estima, a capacidade de envolvimento, o espírito de
camaradagem. Ao ter-se a convicção de ser o melhor, dita-se regras, modelos, ações.
Outros aprenderão a obedecer, a seguir o chefe. O ideal, contudo, é treinar a
convivência, o senso de equipe.
É comum alguém, sendo mais forte, liderar
pela força. Infelizmente muitos jovens sentem a necessidade deste tipo de
comando para juntos agredirem, lutarem em ambientes hostis. Em ambientes de
poucos recursos materiais gera-se solidariedade e conflitos pesados. As
crianças precisam sobreviver, não recebem dos pais o necessário para vestir-se,
alimentar-se. O resultado acaba sendo a delinqüência juvenil, precursora da
marginalidade definitiva, das penitenciárias. Tendo-se boas idéias, propostas e
princípios não se deve deixar levar por aqueles que não os têm mas nem sempre
isto é suficiente para enfrentar a vida. Não conseguimos, no Brasil, solucionar
este problema gravíssimo. A má distribuição de renda e a miséria em que vive
grande parte de nossa população é um fato social tenebroso em torno do qual
vemos pouca objetividade. Nossos governantes, apaixonados pela modernidade
satânica do “salve-se quem puder”, não criam condições de solução para este
problema. Matematicamente e friamente as elites brasileiras estão condenando
milhões de pessoas à marginalidade.
Não devemos nos envergonhar de nossas boas
qualidades morais, éticas e filosóficas. Defender aquilo em que se acredita é
uma demonstração de maturidade. Infelizmente não é raro o jovem sentir-se mal
por não ser capaz de seguir os piores. Esta rebeldia nasce geralmente no seio
da própria família. Principalmente os filhos de famílias desagregadas tendem a
procurar nos amigos os pais que não tiveram. Nesta compulsão acabam ligando-se
a grupos pouco recomendáveis.
Os entorpecentes, as drogas, tão comuns em
nossos dias (cheios de direitos humanos para os bandidos) fazem com que a
necessidade de vigilância seja maior. Qualquer descuido poderá ser fatal.
Afastar-se de amigos viciados, por mais cruel que isto pareça, é necessário ao
indivíduo em formação.
Os amigos bem escolhidos são uma
demonstração de maturidade e uma dádiva de Deus .
Ter alguém para conversar, apoiar e ser
apoiado, amar e ser amado é vital à nossa existência. Quando vencemos,
conquistamos alguma coisa, saboreamos uma imagem, uma experiência fascinante,
precisamos contar para alguém, partilhá-la, mostrar. Isto não acontecendo é
como se não tivesse existido, não terá a mesma graça.
Ter amigos para os bons e maus momentos é
importante .
Mesmo depois de formada a própria família
será com os amigos que iremos desabafar, contar problemas, procurar conselhos.
Neste meio exercitaremos uma pequena sociedade. Entre amigos teremos
competições, desafios. Não é raro o sexo ser um destes fatores de afirmação,
conquista. Por mais intensas que sejam as disputas, o fundamental será
compreender o direito do próximo à felicidade. Aceitar as derrotas com
dignidade é o que se espera de uma pessoa sadia. Lembrando a principal lei de
Cristo, “ame o seu próximo como a si mesmo”, teremos base para aceitar perdas
em favor de um amigo.
Basicamente devemos estar atentos às
questões em torno do ambiente em que vivemos. Ele poderá ser saudável,
sinérgico, gratificante. Poderá, também, ser degradante, negativo, destruidor.
Devemos ter forças e coragem para sair do lado daqueles que não prestam, de
lutar pelo que julgamos certo, de fazer amigos para um mundo melhor .
Vivemos nossas vidas comparando-nos,
disputando com os amigos e inimigos. Com e contra eles muitas vezes atingimos o
ápice da crueldade. Neste espaço estaremos mostrando nosso caráter . Ao
errarmos, contudo, veremos como estaremos perdendo. Dentro de nós existem
mensagens, modelos, leis que irão cobrar-nos os males que fizermos. Talvez
muitos ainda não chegaram a um nível de perfeição que os façam sentir seus
erros, suas violências. Quando se atinge um nível moral mais elevado, contudo,
aumenta o peso da consciência diante de falhas cometidas. As agressões serão
especialmente doloridas quando atingirem pessoas que amamos. No exercício
profissional esse é um dilema brutal. Decisões que atingem amigos poderão doer
para sempre. Estaremos vendo suas famílias, a saúde deles, a felicidade
prejudicada. A vida tem situações irônicas, difíceis. Entre elas poderemos ter
que decidir sobre a existência de pessoas que amamos. A ética profissional será
testada com rigor. Conceitos filosóficos serão cobrados. A dúvida entre o
coração e o cérebro estará desafiando nossa capacidade de gerenciar, de ser
companheiro ou amigo, de ser humano e racional.
Nada é mais complexo do que a vida política.
Querê-la é candidatar-se à glória, a realizações fantásticas ou às humilhações
das derrotas, da perda material e social, à desmoralização. O clima de intrigas
típico dos partidos, palácios e congressos é degradante. As disputas
permanentes jogam uns contra os outros, estimulam o narcisismo, a arrogância e
a violência. O resultado é que o político autêntico tem um perfil psicológico
característico.
O político, de modo geral, é um narcisista
sado-masoquista.
Ter como projeto de vida sê-lo é algo a ser
pensado cuidadosamente. Um político renuncia à sua vida própria, passa a viver
em um palco, à vista de todos. As amizades são forçadas, a cobrança permanente
.
As pessoas são, mais freqüentemente que o
imaginável, corruptoras e corruptas. Querem vantagens, privilégios no contato
com o poder... Ideais? projetos sociais? primeiro o da conveniência pessoal.
O egoísmo, o desejo imperativo de não morrer
e a necessidade de alimentar-se está na base do sentimento humano, de suas
atitudes. A pirâmide de Maslow mostra bem isso ( vide capítulo “Psicologia e
sociologia”).
Todo ser humano nasce 100% egoísta. A
educação é que lhe dará a parte altruísta.
Nesta visão, sabendo que qualquer indivíduo
parte de suas necessidades básicas, é que o exercício da política deverá ser
encarado. Ter ilusões quanto aos desejos dos cidadãos é fatal. O eleitor
cobrará de seus eleitos atenção para seus problemas pessoais, corporativos,
comunitários. A visão ampla é secundária, não interessa à grande maioria da
população.
O sucesso na política virá na avaliação fria
e correta do eleitorado e da própria capacidade. Sem uma visão precisa do
cenário em que se lutará perde-se eficácia, rendimento. A tão falada demagogia
nada mais é que a percepção que o político tem das fraquezas de seu eleitorado.
Fala o que seu povo deseja ouvir, faz o possível. É interessante notar como as
multidões dão pouca atenção à realidade. Querem milagres, benefícios, não
importa quem vá pagar. Esquecem-se de que toda a riqueza é gerada pelo próprio
povo e dele sairá o dinheiro necessário às fantasias pretendidas.
Mas a política é instrumento de poder e o
poder é necessário para aqueles que sonham mudar a sociedade. Tendo-se
características necessárias e suficientes para esta empreitada, ótimo! Todos
devemos muito a pessoas que se dedicaram a causas populares. Em defesa do
direito do cidadão comum muitos perderam tudo, inclusive a vida. Sem publicidade,
discretamente e corajosamente inúmeras pessoas lutam diariamente nos hospitais,
nas fábricas, nas ruas e em muitos outros lugares para que a vida de todos
continue. A história tem o registro de alguns mas milhões de soldados
batalharam e morreram pela liberdade, por uma vida melhor, para que no futuro
talvez todos venham a ter uma existência digna. O político é um soldado cujas
armas são as palavras, o poder de convencimento, o carisma. Muitos merecem o
nosso respeito e admiração pelo trabalho e riscos assumidos em defesa do povo.
Não devemos esquecer, entretanto, que a
democracia é o império da pequena burguesia. É bom observar como detalhes
pequenos tiram grandes líderes do teatro político. O povo observa minúcias de
comportamento. Não podendo avaliar o candidato tecnicamente, decide sobre
aspectos superficiais. Disso se aproveitam os manipuladores da opinião pública.
Quando querem destruir uma liderança exploram questões da vida familiar,
pessoal ou pequenos desvios de comportamento da vítima.
O eleitor posiciona-se em cima de
propaganda. Quer ser bajulado, tocado. Em períodos de eleições exige dos
candidatos demonstrações de poder. Os comícios transformam-se em festas
caríssimas. A euforia dos discursos, o som dos foguetes e das músicas, o ajuntamento
de pessoas excita as pessoas. O clima de torcida organizada gera compromissos,
paixões. O principal objetivo das eleições é esquecido. O que importa é vestir
a camisa dos vitoriosos. O voto útil consolida-se. O resultado é que sem
dinheiro é praticamente impossível ao candidato eleger-se. O eleitor comum não
pergunta quem paga os shows, quem custeia os aviões executivos. Quer festas e
promessas a seu favor. Principalmente em países de liberdade recente, o
exercício da democracia mostra a fragilidade de uma cultura não adquirida.
Para o idealista bem sucedido na vida
pública ( isto também acontece, ainda que raramente ), o prazer de contribuir
para que alguma coisa melhore será um prêmio fantástico. Devidamente provocado,
em momentos especiais, o eleitor poderá acertar. Há muito a ser feito. No
Brasil a miséria material e mental mostra que alguém, tendo poder,
inteligência e disposição poderá contribuir muito. A humanidade está em
transformação permanente. Colaborar para o seu aprimoramento é tornar nossa
vida melhor.
E os partidos políticos ?
Com o fim do império soviético os ideais
socialistas perderam força. Vivemos a euforia do capitalismo puro, das teses
individualistas, da rejeição ao distributivismo, do elogio ao egoísmo.
A mídia, devidamente censurada, trabalha a
favor destas propostas neoliberais. A comercialização da imprensa tornou-a
dependente do poder estabelecido. A popularização de “especialistas”,
comentaristas e redatores deu-lhes a áurea da infabilidade. São pessoas hábeis
que percebem o momento de mudar as mensagens de modo a não perderem a
credibilidade. Vivemos imersos na informação mal feita, nas análises
apaixonadas e apressadas.
A democracia brasileira é relativa, muito
relativa. A miséria de nosso povo, a riqueza extravagante de alguns e algumas
sutilezas de nossas instituições e do processo político levam-nos a um padrão
norte americano onde o dinheiro manda e o trabalhador limita-se a seguir os
poderosos em suas lutas.
As elites, conscientes de suas “qualidades”,
efetivamente mandam, o que não é privilégio do Brasil.
A lei do mais forte é universal. Nos países
em que as teses marxistas imperaram, esperança de maior poder para o
trabalhador, os burocratas aliados aos militares geraram tiranos e acabaram por
impor ao povo, que dominavam, padrões severos de exploração. Em todos os
lugares o resultado é o mesmo quando a sociedade não é organizada e educada
para inibir a concentração de poder.
O cidadão comum, entorpecido, não pensa, só
reage .
A maioria das pessoas é totalmente absorvida
pela rotina, pelo trabalho, pela luta diuturna pela sobrevivência. Muitos não
têm tempo nem dinheiro para informar-se corretamente.
No Brasil, os salários aviltantes pagos não
deixam margem para outras despesas além das mínimas necessárias à sobrevivência
do indivíduo, eventualmente de sua família. A política ainda sofre o ataque
sistemático de pessoas interessadas em torná-la objeto de rejeição pelos
cidadãos. O resultado é que chegam ao dia das eleições sem se preocuparem com
seus resultados, tendo repugnância pelo próprio voto. Infelizmente esse
processo alienante é favorecido pelo comportamento natural das pessoas. A lei
do menor esforço conduz o indivíduo. O ser humano, em suas fantasias, vê o que
quer, faz o que for mais fácil e recebe o que merece .
A inteligência é um dom eventual, raramente
utilizada para análise e pesquisa das verdades sociais, menos ainda para sua
transformação positiva. A pobreza é entendida como objeto de exercício da
caridade, não como conseqüência de ações políticas e administrativas
equivocadas e, portanto, corrigíveis.
Para o patriota que pretender dedicar-se à
política torna-se vital a compreensão dessa dinâmica, desses vícios mentais.
Neste cenário o político tem a opção fácil
de defender os poderosos (versão sádica) ou estar com os fracos (político
masoquista). Na luta honesta pelos humildes estará sem apoios importantes para
sua promoção. Poderá realizar muito mas pouco será divulgado. Normalmente
desaparecerá por falta de mídia.
Diante de tudo isso, o que fazer? que
bandeiras?
O caráter pesa muito. Qual a sua religião? o
que considera importante? como ser político e viver em harmonia consigo
próprio? com sua família? amigos e companheiros?
Ter consciência de todos esses fatores é
vital para uma vida sadia .
O grande conselho seria : evitem a política,
cuidem de si e de seus filhos e companheiros, procurem uma vida sadia,
equilibrada. A política, com certeza, não é o melhor caminho para a felicidade.
Optando pela vida pública, entretanto, é
importante ter-se um plano, metas, objetivos. A política é um grande jogo,
cheio de sutilezas. A família deverá saber o preço que estará pagando. A esposa
não deverá esperar fidelidade conjugal, os filhos terão um pai ausente e todos
o risco da miséria e difamação .
No jogo, nos vestibulares das campanhas, nas
surpresas das urnas as pessoas se confundem. Idealistas viram bandidos,
bandidos saem como heróis. Grandes administradores acabam perdendo suas
referências. Desaparecem valores e bases importantes. A poucos é dado o prazer
da realização sadia ...
Na vida pública saber o que se pretende será
vital ao sucesso da empreitada. Procurar notoriedade? realizar obras?
conquistas sociais? enriquecimento material? Ouvi em palácio o seguinte : “a
política é para rico bobo e pobre esperto”. Pode também ser o caminho de algum
mártir ...
Evidentemente a política não é o caminho
para o enriquecimento honesto. Principalmente nesta terra americana é fácil
fazer fortuna trabalhando. O Brasil é um país com muitas oportunidades. Uma
pessoa corajosa, empreendedora, trabalhadora e persistente sempre encontrará um
caminho produtivo.
A democracia é o padrão de autogoverno que
dignifica o cidadão. Exige uma base mínima. Não funciona em sociedades muito
atrasadas. Talvez não seja o nosso caso. O povo brasileiro, ainda que
precariamente, já adquiriu cultura suficiente para se governar. Precisa,
entretanto, ser conscientizado da responsabilidade do voto...
A liberdade é um bem extremamente valioso. O
voto universal é o instrumento que homens e mulheres livres utilizam para se
governarem. O poder é legitimado pelas eleições. O caminho das urnas é o
daqueles que quiserem exercer o poder político. O eleitor tem nas urnas seu
momento de poder. Conquistar votos é condição “sine qua non” para, no
comando, mudar a sociedade, torná-la mais justa, séria . A opinião pública é a
referência do discurso mas exige cuidado. O líder precisa agradar para
continuar na preferência de seu eleitorado. Nele, contudo, pesará a questão
ética.
A consciência social transforma-se, evolui
mas também regride. Após a Segunda Guerra Mundial muitos países tiveram uma
geração de pessoas que haviam sentido na carne os horrores das batalhas. Nesses
países tivemos um clima de rejeição à violência. Agora vemos entre eles o
renascimento das teses racistas, da xenofobia, das rivalidades religiosas. Dar
bons princípios, forma, consistência ao processo político é o dever de nossos
líderes. Se pretenderem seguir este caminho é bom saber que o preço será
elevado. Tendo sucesso poderá valer a pena. Na ciência política irão deparar-se
com os partidos, as propostas estruturais, de poder e distribuição de forças,
riquezas, felicidade .
O grande dilema será : egoísmo X altruísmo.
Em torno desta questão teremos as propostas capitalistas, de defesa da
propriedade ou das minorias, de melhor distribuição de renda ... São questões
permanentes que estão na base dos partidos. O egoísmo leva aos partidos de
direita, conservadores. Têm o mérito de lutar pelo indivíduo, de protegê-lo da
tirania das maiorias. O altruísmo conduz à esquerda. O democratismo, a defesa
de populações, o império das maiorias é uma conseqüência de suas teses. No
Brasil os partidos de esquerda têm em seu seio a defesa das minorias, por
enquanto. Nas ditaduras do proletariado as minorias sofreram restrições porque
se rebelaram contra decisões que suas culturas condenavam. Apesar disso tudo
são os esquerdistas que defendem com mais sinceridade melhor distribuição de
renda, maior atenção pelo povo.
Na política devemos sempre encarar as
questões ideológicas sem radicalismos. Em sintonia com a complexidade do ser
humano, a tolerância é fundamental. A postura ideológica é uma diretriz, não
uma camisa de força . Bertrand Russel disse em seu livro
“Princípios de reconstrução social” :- A certeza absoluta é por si só
suficiente para impedir qualquer progresso mental naqueles que a possuem-.
Esta assertiva vale para a política e para as religiões ... A cultura política
é necessária para errarmos menos. Ao votar devemos estar conscientes do que
fazemos. Através da política administra-se nações. Em um ambiente democrático
poderemos construir uma sociedade justa, eficaz, saudável. O exercício da
política é essencial a um povo que procura evoluir .
É dever de cada cidadão instruir-se e
participar de acordo com suas possibilidades e ideais .
Se a política é uma atividade complexa e
própria de pessoas com perfil específico, o exercício da cidadania é uma
obrigação de todos.
A Democracia exige participação, a liberdade
cobra responsabilidades, deveres. Ninguém tem o direito de omitir-se. A
participação de cada um é obrigação ética, moral e cívica. Aqui poderíamos
dizer que a responsabilidade será proporcional à capacidade e consciência do
cidadão.
É comum observar de pessoas com boa formação
críticas as mais diversas ao trabalho dos líderes. Sem piedade cobram resultados
e soluções mas não se dispõem a qualquer ação positiva. Apenas têm a
preocupação de falar em ambientes estéreis, usando sua capacidade crítica para
o prazer da intriga, da conversa inútil. Essa atitude é perceptível na vida dos
partidos políticos. O número de militantes é mínimo. As grandes decisões,
contudo, acontecem já na formação das primeiras equipes. Vereadores, prefeitos
e todos os cargos eletivos têm sua base nas bases políticas, distantes da
grande maioria da população por pura omissão. E as desculpas são incríveis. O
homem medíocre é especialista em explicar porque não faz.
Toda pessoa bem intencionada e voluntariosa
tem a liberdade de procurar autoridades e líderes e com eles participar do
processo político e administrativo. Isso não significa envolver-se em campanhas
ou atividades partidárias mas, simplesmente, transmitir sugestões, propostas e
críticas que contribuam com o aprimoramento da administração pública, as leis e
normas que a regem assim como o aperfeiçoamento institucional. O político é um
ser humano com as limitações de sua formação e experiências. O assessoramento é
muito importante à sua atividade. Tendo o apoio de pessoas honestas e
inteligentes poderá crescer, enriquecer sua atividade política. Uma idéia boa
bem administrada, não importa de onde venha, é munição para as lutas que o
homem público enfrentará em sua carreira.
A cidadania também tem espaços na atividade
de associações, clubes e instituições prestadoras de serviços. Qualquer
indivíduo encontrará um lugar em que poderá ser útil. No Brasil temos as APAEs,
os clubes de serviço, as sociedades protetoras de animais, grupos para
prestação de assistência a todas as classes menos favorecidas. Há muito lugar
para trabalhar, para devolver um pouco da felicidade de ter tido uma vida
melhor.
Quando vemos o tempo que se gasta em
futilidades ficamos pensando quanto essas pessoas poderiam fazer de bom pela
humanidade. E elas com certeza seriam mais felizes. Precisariam rezar menos.
Teriam menos medo da morte. Seriam mais úteis. A simples observação do
desperdício em toda sorte de atividades inúteis dá a dimensão da omissão. Ver
quanto alguns contribuíram mostra como poderíamos ser úteis. Amar o próximo é
proposta divina.
Nossa cultura cristã é muito passiva. Havia
no início a visão do fim do mundo próximo. A miséria seria recompensada em
breve no outro mundo. O que importava era cantar e rezar esperando o
Apocalipse. Passados dois mil anos percebemos que por falta de uma preocupação
e ação sadias o inferno está mais próximo do que o céu. A falta de visão
humanista, da caridade, da preocupação, do amor pelo próximo gerou uma
sociedade egoísta, insensível.
Tudo começa pequeno. A ação de uma pessoa
isolada poderá transformar-se em um grande movimento, numa grande transformação.
Não devemos nos subestimar. A verdade tem muita força. Usando-a objetivamente
poderemos contribuir muito para o progresso de nossa sociedade. Simplesmente
usando poucas horas por semana teremos como acrescentar algo, um tempo para
conversar com quem tem poder sugerindo-lhe projetos, um pequeno trabalho por
alguma criança abandonada, alguma contribuição na administração de uma
associação etc.
Principalmente aqueles que estudaram,
adquiriram cultura, viajaram pelo mundo têm um compromisso com a vida. Aqueles
que de alguma forma enxergam têm a responsabilidade, a obrigação de contribuir.
Muitos nascem cegos com olhos sadios. Muitos viverão e morrerão sem perceber
coisa alguma. Outros sentirão o potencial que possuem, terão até capacidade de
criticar, de comentar os erros dos que mandam. Essas pessoas não poderão
omitir-se sob pena de merecerem a pecha de irresponsáveis e desumanos.
O Brasil é um país em desenvolvimento.
Nossas leis, costumes e sociedade estão longe de um padrão responsável e
inteligente. Comparando-nos com a sociedade francesa atual, por exemplo, vemos
a distância que nos separa de um povo politizado, consciente de seus direitos e
deveres. Infelizmente nosso modelo é os Estados Unidos Da América do Norte. Um
templo do Direito é a versão moderna da Roma dos Césares. Belicosa e
imperialista, Roma nunca atingiu o esplendor humanístico da Atenas do tempo de
Sócrates e Platão. Os EUA começaram bem, sua primeira constituição, quando da
independência da Inglaterra, foi um momento de grande valor na história da
Humanidade. Infelizmente as guerras em que se meteu neste século despertaram
seus piores instintos. A França, mais de um quarto de século depois,
posicionou-se de forma progressista no processo de derrubada da monarquia. Os
belos princípios da Revolução Francesa, tão bem descritos na sua “Declaração
dos direitos do Homem e do Cidadão”, levaram mais de um século para começar a
ter forma real. A França imperialista, colonialista, tinha uma retórica muito
diferente da sua realidade, principalmente em relação a outros povos. Sua
atuação no Vietnã e na África são exemplos recentes de como um povo pode ter
duas imagens. Uma interna, democrática e civilizada e a outra externa,
estúpida, violenta e desumana. Neste final
de século, contudo, devemos ambicionar o espírito da política interna francesa.
Para fora nunca perderam sua empáfia, sua postura arrogante e discricionária.
Internamente os franceses cultivam um espírito democrático consciente,
inteligente, responsável e com grande conteúdo socialista, humano.
Infelizmente até os países mais
desenvolvidos mostram que séculos de cultura avançada não impedem o progressos
das piores teses. Cada geração é um recomeçar. A experiência e convicções dos
mais velhos são rejeitadas dentro do eterno impulso à mudança. E as mudanças
nem sempre são no sentido do aprimoramento social. O péssimo hábito de se
procurar a modernidade, a última mensagem defendida pelos donos da verdade, têm
causado muito sofrimento desnecessário.
Temos muito o que fazer, não podemos
descansar enquanto nosso país não se transformar em terra civilizada, justa e
bela...
O que significa ter religião? o que esta
palavra nos diz? Caldas Aulete explica : “Religião, faculdade ou sentimento que
leva a crer na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal”.
Nesta explicação simples temos a base de decisões tomadas por bilhões de
pessoas .
Observando-se a natureza vemos tal
complexidade que a visão de Deus torna-se imediata, natural. Encontrar uma
forma de aproximação, de compreensão de sua essência e vontade é um impulso
expontâneo em qualquer ser humano.
A complexidade, entretanto, é infinitamente
maior que nossa capacidade de entendimento. A arrogância e ignorância de alguns
levam a teorias e teses incríveis. As religiões formais acabam sendo uma
solução fácil para este dilema. Elas têm a áurea da revelação e da tradição. Em
seus rituais criam ambientes de mistério. Envolvem-nos com cerimônias que nos
dão a sensação do contato direto, do conhecimento da verdade, da solução tão
ansiada . A visão de Deus, contudo, está muito acima de tudo o que se escreveu,
falou. Nossa incapacidade de entender deveria colocar-nos em situação de maior
humildade e tolerância.
Quantas religiões existem? quais as
desvantagens e vantagens em professar uma delas? o que ganharemos e perderemos?
alguma delas mereceria nosso apoio incondicional? por que?
A maioria das religiões pede obediência
total a suas leis, normas e orientações. A dúvida é um mau negócio para os
sacerdotes. Quando esta disciplina atinge o nível do fanatismo, a religiosidade
torna-se um perigo ao crente e a todos em sua volta. O fanatismo cega,
discrimina, agride, gera infelicidades, mata. A dependência das pessoas em
crenças, mitos e rituais tornou-se evidente nos efeitos da propaganda política.
Marx, Engels, Lenin, Mao Tse Tung, Hitler e Mussoline foram deuses modernos.
Muitos deram a vida por esses ídolos ...
A institucionalização de religiões cria
profissões e relações econômicas muito convenientes a seus sacerdotes. O
cristianismo consolidou-se à medida que se aproximou do poder secular.
Infelizmente neste processo virou arma política e perdeu sua identidade com os
mais humildes. Em nome de Cristo exércitos invadiram as Américas exterminando
seus povos e culturas originais. Na África e Ásia também usou-se a cruz para
enfraquecer a resistência à invasão européia.
A indústria, a lavoura e pecuária, o
comércio e os exércitos precisam de autômatos, de pessoas disciplinadas ( vide
o livro Terceira Onda, Alvin Toffler ). Dizendo ao povo que os sacrifícios
nesta vida seriam recompensados na próxima os sacerdotes viabilizavam sua
exploração pelas classes dominantes. Assim tivemos sociedades em que a
inteligência era inibida, o ascetismo estimulado .
O fanatismo, uma conseqüência da lavagem
cerebral a que muitos se submetem, é um problema gravíssimo. Dentro desta
condição a agressividade aumenta podendo tornar as pessoas violentas. Quantas
guerras tiveram sua base psicológica na intolerância religiosa? Quantos já
morreram pela posse de Jerusalém?
De qualquer modo o ser humano exige
explicações. É muito difícil viver sem tê-las. A morte intriga, as diferenças
da fortuna agridem, a natureza assusta as pessoas mais sensíveis.
Felizmente existe o lado positivo. As
religiões, de modo geral, dão tranqüilidade espiritual e até felicidade.
Resolvem questões que poderiam destruir muitos. Há momentos em que acreditar em
Deus, ter o conforto espiritual de um sacerdote e a crença em uma vida após a
morte ajudam sobremaneira a enfrentar a vida.
Oferecer aos filhos uma religião é saudável,
é prudente .
E os aspectos negativos? como
inibi-los?
Deve-se combater o fanatismo, mostrar
alternativas e, acima de tudo, que a visão e o respeito a Deus e à sua obra é o
mais importante .
Em torno do conceito de Deus existe a
natureza, a vida, o amor .
O respeito às infinitas formas de vida é uma
condição de felicidade e harmonia
Mas a questão permanece, qual religião
professar ?
Esta é uma opção de foro íntimo, de
convicção pessoal. O ideal seria termos aquela que nos colocaria dentro da
sociedade em que vivemos. A harmonia social é saudável se bem que exigindo
muitos cuidados. Há limites para esta preocupação.
A família tende a nos governar. A religião é
algo que entendem ser responsabilidade deles transmitir. Entenda-se bem, a
religião deles. Pais e avós acreditam ter poderes de consciência sobre seus
descendentes. São os rituais tidos como tradição de família. Não respeitá-los
cria rejeições, agressões, desunião .
As cerimônias míticas são parte de nossa
vida. Marcam com solenidade ostensiva momentos importantes. Desrespeitá-las
poderá pesar na formação da família.
Na falta de maior compreensão dos mistérios
da vida, os rituais cumprem uma missão importante, aliviando tensões, balizando
mudanças, mostrando caminhos .Um excelente livro a respeito é “O poder do mito”
de Joseph Campbell ( conversando com Bill Moyers). Nele verificamos a íntima
relação da civilização e os mitos e também o registro de seus efeitos no
comportamento humano. Nesta e em outras obras de Campbell vemos diversas
citações do trabalho de Carl Gustav Jung. Este psiquiatra desenvolveu toda uma
teoria mostrando relações entre o comportamento humano e imagens míticas
inconscientes mas ativas .
Quando o menino torna-se homem? quando o
namoro se transforma em casamento? como enterrar um pai? nesses momentos a
religião tem um efeito sedativo gigantesco. Confortam, sugerem compensações e
dão solenidade e dignidade. Temos aí fases da vida em que a religião é
extremamente valiosa. Seus sacerdotes sabem disto. Os templos são feitos também
para mostrar e dar suporte a essas solenidades. Templos, igrejas, ambientes
reservados e decorados esotericamente servem para meditação e reflexões
importantíssimas à saúde mental.
Critérios para uma vida religiosa ou, pelo
menos, com o suporte de uma religião? outra vez, qual a melhor religião?
A prioridade será sempre a da própria
família. Com ela teremos pelo menos o conforto da convivência familiar
harmoniosa no plano filosófico. O outro fator importante é o da sociedade em
que vivemos. Deve ser muito difícil ser católico no Irã ou muçulmano em Roma.
Finalmente o maior argumento, o mais
importante é o da fé. Acreditar, aceitar, admirar a religião que se adota é
fundamental a uma vida sadia. A hipocrisia não ajuda. Aqueles que dependem de
nós querem-nos heróis, modelo de virtudes. Como o seremos se mentirmos? se não
mostrarmos coerência?
A dedicação integral a uma religião é um
caso extremo de fé. É uma opção de vida com muitas restrições e compromissos.
Tudo isto deve ser motivo de muita reflexão. A decisão pela vida sacerdotal só
deveria ser tomada após a fase adulta. O jovem é inexperiente e decidir pela
dedicação plena a uma religião poderá ser motivo de muitos conflitos e
frustrações. Principalmente quando se exige abstinência sexual caminha-se
contra a natureza, o preço é alto .
Muitas religiões têm base filosófica e
posturas absolutamente anacrônicas. Conduzem seus fiéis à alienação, ignorância
e conflitos sociais. A tolerância é essencial à Humanidade e à civilização.
Adotar uma filosofia de vida radical é condenar-se ao obscurantismo, à
violência. Cuidado também no relacionamento com pessoas fanatizadas, obcecadas
por suas crenças. Com muita facilidade poderemos ofendê-las e vice versa. A
presença delas em qualquer ambiente estranho cria conflitos, desconfortos...
Concluindo devemos admitir que a harmonia
mental é saudável. A saúde física depende muito desta tranqüilidade, da fé e
sintonia com uma filosofia..
Trabalhar em quê? que vestibular fazer? vale
a pena estudar?
Um dos grandes desafios de qualquer jovem é
escolher sua profissão. Onde e como trabalhar é uma definição de cidadania. Ao
optar por uma carreira estará decidindo sobre riscos e benefícios inerentes à
profissão exercida. É uma decisão que pesará sobre toda a sua vida .
Ao fazer as muitas opções que culminarão com
a consolidação de uma vida profissional definida, o jovem parte normalmente dos
exemplos de família e de suas fantasias juvenis. O que a maioria ignora é o que
existirá em torno da profissão eleita, os compromissos sociais e os efeitos na
própria saúde física e mental.
O principal é compreender-se a necessidade
de sobrevivência. Em torno desta questão a opção profissional e uma auto
análise são fundamentais. A diferença entre o bom e o mau profissional passa
pela competência, aptidão e disposição ao trabalho exercido. O sucesso
profissional refletir-se-á na saúde mental e física do indivíduo. A decisão
justa, correta, será extremamente valiosa.
O ser humano, contudo, é versátil, capaz de
muitas atividades, profissões. Por mais simples, por menor que seja a
inteligência e mesmo diante de barreiras físicas e sensoriais, normalmente
tendo-se motivação adequada poder-se-á conquistar um lugar digno na sociedade.
A educação para o trabalho, a capacidade de se submeter a uma disciplina e a
perseverança são recursos culturais importantes. A história dos povos que
tiveram sucesso mostra muito bem como essas características são importantes.
Pais que desejam a felicidade de seus filhos devem entender que eles não
deverão ser compensações de frustrações paternas antigas e, sim, objeto de um
processo educacional calculado, objetivo, consciente.
Os erros custarão caro aos futuros adultos.
Muitas infâncias gostosas terminarão em vidas perdidas.
A opção profissional é um ato de vontade de
grande responsabilidade. O que se pretende? dependendo da profissão décadas
serão gastas entre quatro paredes, repetindo-se infindavelmente procedimentos
burocráticos. Outros terão que arriscar suas vidas, passar dias e dias longe de
suas famílias, sem o convívio e o carinho daqueles que lhes amam. A vida de um
atleta profissional é completamente diferente da existência de um advogado, que
sua vez estará a milhares de anos luz distante do dia a dia de um arquiteto. É
triste observar-se a frustração de muitos. Uma decisão errada poderá expor
deficiências desagradáveis, humilhantes. Em grandes empresas, onde a competição
entre companheiros é maior, a seleção acaba sendo dura, cruel. Muitos
aposentam-se frustrados por não terem atingido posições sonhadas. Preteridos
desenvolvem angústias que lhes deixarão infelizes e doentes. Por falta de
autocrítica não vêem suas deficiências. Assumem personalidades agressivas.
Amargurados e doentes mentalmente terminarão seus dias de mal com a vida.
Qualquer pessoa poderá sentir-se útil,
prestigiada, se estiver na profissão correta, ajustada à sua personalidade e
potencial. Da profissão mais humilde à mais elevada intelectualmente qualquer
pessoa será respeitada se exercê-la de forma competente. Vale a pena uma
auto-crítica severa. Certas qualidades básicas são essenciais a qualquer
atividade. Um bom advogado não pode prescindir de uma memória desenvolvida. O
raciocínio matemático é essencial ao engenheiro. A habilidade manual é condição
de sucesso para o cirurgião. Principalmente os pais têm a responsabilidade de
mostrar aos filhos os caminhos possíveis. Há especialistas, existem técnicas de
avaliação. Tendo-se dúvidas e lembrando que muitas profissões só serão
compreendidas já no seu exercício, o suporte de profissionais para uma decisão
vocacional é válido.
Outro ponto a merecer reflexões é o padrão
das escolas. Em trinta anos o Brasil multiplicou por dezenas ou centenas o
número de faculdades. Poucas, muito poucas, entretanto, conseguiram ter bons
padrões de ensino. Escolas mal formadas criam ilusões. Profissionais mal
preparados partem para o mercado de trabalho completamente despreparados para o
exercício da profissão que escolheram. O resultado é a mediocridade de muitos
em prejuízo de uma sociedade que paga serviços e impostos e espera melhores
resultados de seus profissionais.
Acreditando em seus valores o ideal será
criar sua própria empresa, trabalhar “por conta própria”. Os padrões de
competição são mais objetivos, diretos. O indivíduo foge às disputas padrão
“agradar o chefe”. Os riscos são maiores mas o prêmio infinitamente superior,
confortador. Nossa sociedade tende a desvalorizar o emprego. Por melhor que
seja o profissional, só aqueles à vista de todos e de quem a felicidade direta
depende terão salários mais altos tolerados. No Brasil, talvez por efeito da
cultura escravagista ainda dominante, qualquer pagamento é considerado elevado.
Fazendo-se comparações com os milhões de miseráveis, nega-se salários e não se
discute riqueza.
Um aspecto importante é criar-se uma base
profissional independente para os filhos. Mostra-se como ser empreendedor, como
não depender de pessoas que não nos interessam. Gerando-se uma empresa cria-se
um espaço de trabalho próprio. O esforço para desenvolvê-la materializa-se em
algo pessoal, com qualidades e defeitos à imagem do criador. Nesse ambiente a
família poderá aprender a ter independência, ousadia e criatividade.
O emprego exige do trabalhador a submissão a
regras não escritas, à cultura da empresa em que exercer sua profissão. As
humilhações não são raras. Os grandes chefes e até os mais humildes não raro
trazem para as empresas suas frustrações. Os loucos, os tarados, os neuróticos
têm nos postos de comando o espaço que precisam para exercitar suas
deficiências. Assim, havendo a possibilidade de trabalhar “por conta própria”,
essa hipótese deverá ser vista com carinho. Perder oportunidades dessa espécie
poderá custar caro. - Antes de mais nada evitar tornar-se um empregado.
Preferir ganhar menos. Ser dono de suas decisões. Não se humilhar submetendo-se
a um patrão, a um chefe. O Brasil, de uma maneira especial, é um país rico de
oportunidades. Não é difícil criar sua empresa. Desde cedo aprender a ousar, a
inventar, a ser.
Não gaste empregos, gere-os.
O mundo respeita os empreendedores .
Aquele que se submete a um emprego opta pelo
conforto da segurança de um salário, aceita ser conduzido, limitado.
Empregar-se poderá ser importante para ter-se base para, mais tarde, criar sua
empresa. Ótimo mas perigoso. Não se deve perder de vista a necessidade de
realização pessoal, de maior independência. Outro aspecto importante é a
tendência das grandes empresas à terceirização. A modernização pulveriza postos
de serviço tidos como intocáveis. Muitos trabalhadores, super especializados,
têm se encontrado de repente desempregados e sem nenhum preparo para uma
mudança de vida. A visão antiga de que obtinha-se segurança empregando-se
acabou. As teorias neo liberais penalizam o empregado. Os defensores dessa
cultura política não têm em suas cabeças a necessidade de sobrevivência
harmônica. Não lhes preocupa uma sociedade sadia. O desempregado é assunto da
caridade, da solidariedade social. O pai de família que parte para a
delinqüência para poder sustentar sua família é caso de polícia.
Felizmente o Brasil é um país com grandes
oportunidades para o empreendedor. Muitos espaços existem. Uma pequena loja ou
fábrica, uma empresa rural ou de prestação de serviços poderá ser o início de
uma bela vida profissional. Tudo começa pequeno. Esta primeira fase é
importante. Aprende-se. À medida que se domina a arte, aumentam os resultados.
Conhecer as artimanhas da legislação trabalhista, os truques do fisco, a
psicologia do comprador, a qualidade do produto e os verdadeiros custos leva
tempo. Método, organização, liderança e capacidade administrativa adquire-se na
prática, nos erros e acertos do dia a dia.
Com trabalho, disciplina e austeridade
forma-se poupança. Com este capital amplia-se a empresa. Reinvestindo e não
desperdiçando o que se ganha adquire-se a dimensão sonhada. Recursos de banco?
só em última instância. O Brasil é terra da agiotagem oficial. Sob qualquer
desculpa os juros disparam.
Empresa urbana ou rural? de alta ou baixa
tecnologia? comércio? indústria?
Na definição por uma profissão decide-se
pela personalidade que teremos. A profissão cria padrões comportamentais,
algoritmos de decisão, diferentes visões políticas. A própria expectativa de
vida será afetada pela profissão .
Devemos ver o que acontece em nosso mundo
capitalista. A tendência é a regressão em relação aos ideais de riqueza
distribuída. Os ideais de mais conforto e segurança para o trabalhador estão
sendo abandonados. Essas propostas, tão comuns há pouco mais de dez anos, deram
lugar ao império da produtividade e competitividade. A abertura de fronteiras
colocou países em que o trabalho é escravo ou de altíssima tecnologia gerando
produtos de baixo custo, entrando em nações mais desenvolvidas politicamente e
nelas contendo movimentos de melhoria de vida do trabalhador. Aliado à
regressão nos direitos trabalhistas a tecnologia veio com a automação e a
informática implodindo milhões de empregos.
No cenário atual o ideal é aprender a ser
versátil e a criar atividades. Deve-se ter coragem e capacidade de
sobrevivência independente e para isso não basta um diploma. O jovem atual
precisa aprender a criar e conduzir sua própria empresa. Em paralelo ao curso
básico pretendido deve-se procurar aprender ciências relativas à administração,
legislação, liderança, relações públicas e informática. O domínio de línguas
estrangeiras é de extremo valor. O inglês é a língua base da comunicação
internacional. Estudando, trabalhando e tendo-se persistência as chances de
sucesso são grandes. Note-se a necessidade de homem e mulher preparem-se para o
mercado de trabalho. Um padrão de vida razoável dependerá da contribuição dos
dois. Isso terá implicações no planejamento familiar, na distribuição de
tarefas domésticas. O mundo do século 21 pouco terá de semelhança ao do início
deste que termina.
E na opção pelo emprego?
Devemos ter o cuidado de verificar a saúde
financeira e moral da empresa. Ela lhe imporá padrões. Que tipo de indivíduo
pretende ser? a empresa lhe dirá. Ao conversar com pessoas empregadas há muitos
anos pode-se ver em seus traços fisionômicos, nas expressões empregadas e no
raciocínio o que fizeram. É impressionante como somos afetados pelo ambiente em
que vivemos .
Diga-me com quem andas e te direi quem és.
Mostre-me sua empresa e lhe direi como será o seu futuro.
Amoldamo-nos. E não poderia ser diferente.
Não sobreviveríamos se agíssemos diferentemente .
As mulheres, de uma maneira especial,
precisam avaliar bem o que pretendem profissionalmente. A maternidade é um
fator tremendamente perturbador. A mulher moderna, cidadã, independente, paga
um preço muito alto pelas conquistas feitas. A sociedade foi organizada para um
modelo patriarcal, machista. Como ser mãe e empresária? mãe e operária? mãe e
empregada?
O Brasil, em suas contradições, não inibe a
geração de filhos mas não dá às famílias creches, escolas e assistência médica
decentes. A falta de creches e escolas de padrão razoável é um problema grave
para qualquer família. O privilégio de uma boa formação pertence aos mais
ricos. As pessoas humildes, sem dinheiro, submetem seus filhos às escolas mais
próximas, menos caras. Felizmente muitos têm a oportunidade de mostrar -se como
uma família unida, trabalhadora, decente. Nos ambientes mais ricos as
oportunidades de alheiamento em relação aos filhos é maior. O resultado é a
perda de referências, o abandono dos filhos, as doenças comportamentais. Com
dinheiro e longe dos pais acabam sendo alvo fácil de traficantes. A
generalização do uso de drogas é um risco permanente. Esta doença social atinge
níveis absurdos. Com a omissão de muitas autoridades, pois o vício não tem
preconceitos, o traficante instala-se por todos os lugares. Os pais, ignorantes
ou imersos na luta pela sobrevivência, acabam descobrindo muito tarde a perda
de um filho. A falta da mãe, principalmente, pesa na lógica juvenil. Já nas
famílias mais pobres é a ausência pelos desafios da sobrevivência. As crianças,
abandonadas nas ruas crescem sofrendo a influência dos bares de esquina, dos
malandros e bandidos de toda espécie. A miséria destrói fantasias, cria
realidades brutais. Os jovens mais inteligentes e voluntariosos serão os
líderes de bandos. Belíssimas crianças serão adultos degradados, que terminarão
seus dias em penitenciárias, valas ou calçadas, mortos por esquadrões da morte,
em conflitos de quadrilhas ou, simplesmente, corroídos por doenças da pior
espécie.
Os anos passam e só ouvimos discursos. Não
vemos um programa sério de planejamento familiar. As altas taxas de crescimento
da população geram mão de obra barata e mais anjinhos no céu. Famílias
numerosas e ausentes na educação dos filhos são freqüentes no Brasil. Os pais
trabalham fora para sustentar seus filhos e ter acesso aos bens de consumo tão
bem postos na mente de qualquer cidadão. A mãe e mulher trabalhadora contribui
para o orçamento familiar saindo de casa e submetendo-se a um padrão de
serviços idêntico ao do marido. Ao voltar para sua residência nela terá que
cumprir as tarefas que sua avó fazia com muitas empregadas e sem outra
preocupação que a própria casa. Sem apoio em casa e fora dela a mulher se escraviza,
trabalhando em 3 turnos, dois no emprego e mais um em casa. A mocinha charmosa,
simpática e elegante facilmente irá transformar-se em uma mulher dura, de
formas pouco estéticas e sem a graça tão desejada.
Conciliar família, trabalho e amor é o grande
desafio de qualquer casal. Nesta equação a mulher perde mais. A profissão que
abraçar será um ponto a favor ou contra o stress que viverá. Tradicionalmente
as mulheres tem optado por atividades ligadas às áreas sociais. O problema será
obter salários compensadores. Nada impede que outras atividades sejam
absorvidas pelas mulheres. Fugindo aos padrões clássicos todas as profissões
estarão, com maior ou menor propriedade, acessíveis. Nelas talvez encontrem
formas de serem recompensadas dignamente pelo esforço feito sem perderem
qualidades, que desejam na condição feminina. A informática é uma área em que
qualquer “dona de casa” poderá ser muito produtiva. Nessa ciência há a
possibilidade de trabalhar em casa, fora de horário e sem os constrangimentos
das atividades mais pesadas fisicamente.
Tanto em sua compulsão pelo casamento como
no trabalho muitas jovens receberão os conselhos dinossáuricos da família, que
ainda não se atualizou. Dificilmente ouvirão algo em seu benefício. Delas se
espera o respeito à família e à sociedade, a submissão ao pai e ao marido. Que
gerem filhos, cozinhem. O que menos se pensa é na realização como empresárias,
líderes e cidadãs.
Mas se decidirem empregar-se ? Cairão no
império dos homens. Com facilidade tornar-se-ão objeto sexual, principalmente
se forem atraentes. O chefe rejeitado vingar-se-á. A competição terá outros
valores .
De qualquer forma homem e mulher precisam
trabalhar, sentirem-se úteis, sustentarem-se. O trabalho dá condições para
sobrevivência física e mental. É essencial a uma vida sadia. Os consultórios de
psiquiatras vivem cheios de pessoas que não precisam trabalhar, lutar para
viver. A sensação de vazio, conseqüência da inutilidade, é mortal. Todos
ansiamos subir na escala social. Todo ser humano precisa se respeitar,
sentir-se útil, importante. É melhor que o seja de uma forma positiva e não
fútil, inútil.
Assim, para sustentar nossos filhos, termos
e merecermos a admiração da sociedade, conquistarmos alguém, precisamos ter
capacidade de trabalho e aplicarmos esta competência positivamente. Por tudo
isto a profissão é uma opção vital. Uma decisão errada poderá custar muito
caro.
A escolha do melhor caminho profissional
será motivo de satisfação, de realização, de equilíbrio pessoal e social .
Entre as muitas profissões falarei da
Engenharia porque sou engenheiro. Assim, com mais propriedade poderei discorrer
sobre uma atividade que exerço há três décadas. Muito do que direi a respeito
vale para outras profissões. Falo com orgulho desta especialidade que adotei
porque pude senti-la em toda a sua potencialidade, percebendo que nela tem-se a
oportunidade de uma vida sadia, até ingênua.
Construir, manter e refazer casas, estradas,
usinas, computadores, cidades e palácios. Estas são, entre muitas, as
atividades de engenheiros com seus companheiros técnicos, artífices e
operários. Muitas são as profissões possíveis. Entre muitas a Engenharia é uma
das que melhor corresponde ao ideal da utilidade, da produção.
Usando as chamadas ciências exatas o
engenheiro projeta, constrói, opera e mantém fábricas, cidades e estados que de
outra forma seriam aglomerados selvagens de seres humanos.
A Engenharia também produz armas e venenos.
O engenheiro é um profissional que muitas vezes esquece o objetivo de suas
obras. Um filme famoso mostra bem o comportamento e envolvimento de um
profissional em um projeto errado: “A ponte sobre o rio Kwai”. Um oficial
inglês e dezenas de prisioneiros em um campo de concentração japonês participam
da construção de uma ponte ferroviária sob o comando dos oficiais inimigos.
Incomodado com as trapalhadas dos japoneses na construção da ponte, ele e
seus comandados feitos prisioneiros decidem colaborar na obra, até para
terem uma distração. A ponte é feita com um bom padrão e, pronta, aguarda a
passagem do primeiro trem. Surge um comando aliado para destruí-la. Qual a
reação inicial do oficial inglês? lutar contra este comando porque pretendia
destruir “sua” ponte. Naquele momento ele esquecia a finalidade daquele projeto,
transportar soldados japoneses para a frente de batalha onde seus compatriotas
seriam mortos. Apenas sua ponte lhe preocupava.
Quantos profissionais não têm comportamento
semelhante? o exercício de uma profissão exige consciência de suas finalidades
para não fazermos pontes indesejáveis sobre rios estranhos.
O jovem ao escolher sua profissão tem o
desafio de procurar um caminho compatível com suas pernas e cultura, ao optar
por um trabalho estará mostrando seu caráter. A Engenharia, como exemplo, é uma
profissão especialmente alienante ao envolver o profissional em desafios às
vezes distantes dos propósitos daquele jovem imberbe que procurava uma
faculdade para o vestibular.
É uma profissão apaixonante quando se tem a
felicidade de trabalhar em bons projetos, terrível quando se cai na
mediocridade ou em trabalhos menos dignos.
Mas vale como tema da discussão do projeto
de vida de qualquer cidadão.
O que fazer? por que? como?
Assim podemos dizer que a Engenharia serve
como modelo para uma proposta de vida. Ao receber seu diploma o recém formado,
compelido pela necessidade de sustentar-se, casar e manter uma família entende
que o mais importante é começar a trabalhar. Onde? não interessa? o principal é
ter o famoso emprego? o tempo mostrará como esta decisão terá sido correta ou
não.
Uma bela carreira poderá ser a do
engenheiro. Deixará sua marca em muitos blocos de concreto ou mantas de asfalto
.
A Engenharia, tendo-se o cuidado de sua
aplicação, é uma belíssima profissão. Em torno de equações, leis naturais,
transformamos a natureza com esta ciência, ajustando-a aos interesses humanos.
Esta é uma atividade que acrescenta valores.
Gera produtos reais. Existe.
Aqui, falando como engenheiro, quero dizer a
meus filhos a satisfação que tive optando por esta profissão.
Um grande ensinamento da Engenharia é a
disciplina, o respeito às leis da natureza. O engenheiro não consegue enganar
as leis da física ou da matemática. Não adianta escrever dez ou mil páginas
argumentando a favor ou contra qualquer relação natural. Só funcionará aquela
que estiver correta, precisamente fiel ao que as leis da natureza disserem.
Evidentemente o engenheiro trabalhará sempre com aproximações. Quem sabe quais
são exatamente as leis da física ou da química? a verdade é que a natureza
coloca-se na mente do profissional da Engenharia de uma forma severa, dura. A
qualidade do profissional poderá ser medida por sua habilidade em conhecer,
respeitar e usar o que o Grande Arquiteto do Universo determinou.
A Engenharia permite a seu profissional
atravessar fronteiras, a expressar sua competência em muitos lugares. Nas suas
mãos estará a possibilidade ou não de sobrevivência da humanidade. Como estarão
as cidades daqui há um século? a Engenharia terá encontrado a forma de
alimentar, transportar, aquecer, abrigar e servir água à população então
existente?
A qualidade de vida e a própria vida
dependerão do trabalho intenso e criativo de nossos engenheiros.
Educar filhos, ensinar, aprender junto, eis
aí um grande desafio .
O melhor comando, a melhor lição é o
exemplo. Em nossas atitudes mostramos concretamente em que acreditamos. Mas que
exemplos? o que será melhor? como transmitir as melhores propostas e reprimir
nossas piores imagens?
A sociedade, por sua vez, é ambígua, sugere
um caminho e valoriza outro. O poder e a riqueza são os principais elementos de
admiração e aceitação. Infelizmente o ser humano por ser um animal com vida, dependendo
de uma série de fatores para sobreviver, muitas vezes aproxima-se dos poderosos
para ter mais segurança, na chance dos chacais. A riqueza material é um fator
de respeito e temor. Tendo-se dinheiro entra-se em qualquer lugar. O resultado
é termos uma sociedade materialista, cheia de imagens falsas, cínica e
hipócrita. A honestidade, o patritismo sadio, o respeito pelo ser humano
praticamente não existe nesses escalões. O que importa é a marca e o ano do
carro, o clube que se frequenta, o número, duração e destino das viagens
internacionais, a griffe da roupa, etc. O culto à inutilidade é a marca da alta
sociedade moderna. Na sociedade de consumo a indústria e o comércio dependem da
supervalorização de objetos e hábitos supérfluos.
Outros trabalham, lutam honestamente para
conquistar pequenos espaços, ganhos aparentemente medíocres mas suados, justos.
O que fazer para ter riqueza? segurança? autoridade? o caminho mais longo é o
do trabalho decente e honesto. Muitos preferem atalhos...
O que propor aos filhos?
Ensina-se o que se sabe e pode.
O que deveria nos preocupar? o que seria
mais importante? saudável? o sucesso? a felicidade? a passividade? a
agressividade?
Muitas religiões pregam o amor ao próximo, a
caridade e até o ascetismo. Uma vida dedicada ao próximo e à própria existência
é a melhor mensagem. Procurar egoisticamente preservar purezas inúteis para
conquistar um lugar no paraíso é uma forma alienada de viver. Talvez por isso
um santo, tendo tido uma vida absolutamente limpa, irá para o inferno se pecar
gravemente segundos antes de morrer e um pecador ganhará o paraíso se souber
arrepender-se na hora certa. Talvez muitos cristãos não tenham percebido aí a
determinação divina ao trabalho, ao exercício da vida. Para se ter uma vida santa
muitos a tornam inútil. O fundamental é preparar-se para a vida e nela
exercitar as melhores lições.
É interessante observar que a educação
mereceria um plano estratégico a ser feito pelos pais e educadores. Diretrizes,
objetivos e metas bem definidos. Educadores e educandos planejando, avaliando,
ajustando o processo de formação.
Os pais, principalmente, precisam
conscientizar-se da imensa responsabilidade que é ter e educar filhos. Um filho
é um grande compromisso com a vida, não simplesmente um objeto de prazer ou
vaidade .
Muitos casais perdem seus filhos por não
estudarem e aplicarem um método correto para educá-los. O problema começa pelo
distanciamento, a falta de acompanhamento, a omissão. Com quem andam as
crianças? o que ouvem e o que pretendem? principalmente quando pai e mãe
trabalham fora de casa, o processo educacional corre riscos sensíveis.
Em qualquer situação, contudo, é importante
observar comportamentos, reações e idéias. É incrível a ignorância e alheamento
de muitos casais em relação a seus filhos.
Os pais são os grandes paradigmas. Qualquer
criança precisa dos pais, depende deles com uma intensidade mal avaliada. Não
interessa à maioria dos adultos refletir sobre suas responsabilidades.
Compreender a importância da paternidade seria inibir o divórcio, o futebol e
as noitadas com os amigos, o comodismo da liberdade sem responsabilidades.
Em uma sociedade urbana moderna tem-se
poucos filhos. Essas crianças precisam dos pais até como parceiros de jogos,
brincadeiras .
No convívio o que dizer e mostrar?
Além da religião, transmitimos valores
éticos, morais. Cada família, consciente ou inconscientemente, desenvolve um
padrão que os filhos apreendem, captam em suas sutilezas .
Em casa a disciplina ajudará na vida
profissional e moral. A capacidade de dedicar-se com firmeza a um trabalho,
respeitando suas restrições, desafios, prêmios e preços é essencial ao sucesso
profissional. O excesso de disciplina inibe a criatividade mas a ausência é uma
tragédia. Em qualquer ambiente cobra-se comportamentos. Saber ajustar-se é uma
condição de sobrevivência. Esta disciplina pode passar pela divisão de tarefas
domésticas, postura às refeições, higiene e tratamentos pessoais. Uma família
harmoniosa gera pessoas felizes, ajustadas. É difícil entender a meneara com
que muitos pais tratam seus filhos. Alguns mais por comodismo do que qualquer
outra coisa aceitam qualquer vontade de seus filhotes. Dão-lhes tudo para não
se incomodarem. Outros procuram oferecer aos filhos tudo aquilo que julgaram
ter perdido na juventude. Esquecem-se de que educar é estabelecer limites,
criar valores, mostrar padrões. A responsabilidade dos pais é intransferível,
indelegável. A maior é preparar seus filhos para as lutas da vida.
Outra questão muito séria é a eleição de uma
escola. É talvez a mais importante, principalmente havendo alternativas. Lá
dentro o jovem formará seus valores sociais, aprenderá a identificar
autoridades, valores públicos. Nos pátios escolares formará seu time, sua
gangue. Participará de competições, será admirado ou rejeitado .
É comum admirar-se uma escola pela rigidez
moral ou disciplina. No passado deve ter sido um bom modelo. Ainda o é para
determinadas carreiras. No mundo moderno, contudo, deve-se procurar um ambiente
em que a disciplina, aliada à responsabilidade dê espaço à criatividade, à
iniciativa, à ousadia. Os filhos devem poder discutir com os pais o ambiente
escolar, a qualidade dos professores, o rendimento obtido. Infelizmente muitas
escolas têm em seus quadros pessoas sem qualidades psicológicas para o
magistério Uma boa escola alia fatores positivos, desenvolve o jovem em todos
os aspectos desejáveis em um cidadão livre e responsável .
Escolas mal estruturadas e mal equipadas são
o padrão brasileiro.
Nos colégios, em seus portões e caminhos
teremos o perigo das drogas. Em casa nunca será demais falar deste assunto com
clareza e, no acompanhamento diário, observar o estado físico e mental dos
filhos. Nos seus primeiros sintomas merecerão tratamento profissional e
vigoroso. Cada droga tem uma relação de efeitos identificáveis com atenção.
Conhecê-los e estar atentos é obrigação dos pais. A eterna vigilância é o
compromisso de todos em uma sociedade que se agiganta e perde valores de
cidadania .
Outro problema grave é a violência. Não é
raro os pais terem os filhos como espectadores obrigatórios da teatralização de
fanfarronices e brutalidades .
Pais imaturos acabam por transmitir aos
filhos padrões de agressividade que mais tarde poderão transformá-los em
criminosos. Os adultos muitas vezes apenas encenam personalidades, as crianças
poderão assumi-las efetivamente .
No trânsito das cidades é normal vermos
carros cheios de crianças sendo dirigidos por verdadeiros assassinos. Que
imagens são colocadas nas cabecinhas desses meninos e meninas?
Infelizmente a violência, aliada ao egoísmo
é mais do que freqüente nos meios de comunicação. Super heróis que mais
apropriadamente seriam super assassinos são mostrados como modelos idealizados
de seres humanos. Sociedades guerreiras, geradoras de exércitos, apresentam
paradigmas belicistas, violentos. Essas “espartas” modernas, infelizmente, são
detentoras de alta tecnologia. Ciências e equipamentos desenvolvidos para suas
guerras agora servem para dar lucros a empresários da brutalidade. A máquina de
guerra preocupa-se em produzir soldados.
A violência gera violência. A violência produz
ódios. O ódio afasta o amor, a felicidade. Torna as pessoas intolerantes,
agressivas, amarguradas.
Educar os filhos para a tolerância, o amor,
a humildade é uma forma de fazê-los mais felizes.
Vale a pena insistir na imagem e efeitos do
automóvel. Uma forma grave de violência é induzir os filhos a dirigir em grande
velocidade, a não respeitar pedestres, a ter no carro uma forma de competição e
agressão. No Brasil ainda não despertamos plenamente para os aspectos negativos
do transporte individual, motorizado. Todo ano dezenas de milhares de
brasileiros morrem ou ficam aleijados pela imprudência de bandidos camuflados
de motoristas. Talvez porque parentes de nossos ministros e legisladores
estejam nesta categoria de feras ainda não se fez uma legislação severa para os
crimes de trânsito .
Ensinar os filhos a se beneficiarem dos
equipamentos modernos sem deles serem vítimas é uma obrigação dos pais e
educadores .
O processo educacional é complexo e casos
especiais exigem posturas, mensagens adequadas, ação especializada. Parece
óbvio mas a atitude de muitos é estabelecer um padrão e penalizar aqueles que
não se ajustarem ao modelo .
É comum ouvir-se : “não entendo , todos
foram educados da mesma maneira e são tão diferentes”. Esta é uma declaração de
ignorância e incompetência. Não existem duas pessoas iguais, logo não tem
sentido tratá-las, educá-las exatamente da mesma forma. A personalidade de uma
criança já nasce em grande parte definida por seu código genético. Ele dirá a
dimensão e ação de suas glândulas, o nível de inteligência, a forma física.
Como, portanto, imaginar que um mesmo padrão educacional dará a todos os mesmos
efeitos? como penalizar uma criança que tiver outras exigências? a massificação
do ensino reduz custos mas segrega muitos que se perdem por falta de pequenos
ajustes.
A simplificação de imagem é conveniente aos
juristas e sacerdotes. As leis são feitas partindo-se do princípio de que
existe auto determinação. Esta fantasia tão a gosto daqueles que apreciam
despachar pessoas para o inferno é prejudicial ao processo educacional. Nas
escolas vivemos uma sucessão interminável de provas. Testes e mais testes dão
orgasmos a muitos professores. Decidir sobre o futuro de pessoas indefesas é
talvez o grande poder dado a mestres nem sempre capazes.
Não é difícil perceber as características de
uma criança. Em sua espontaneidade ela mostrará sua índole com clareza.
Tendo-se consciência disto os pais e educadores devem ajustar-se pois do
sucesso deles poderemos ter menos violência e sofrimentos. A habilidade e
determinação darão como resultados a felicidade e o sucesso da família.
Basicamente teremos em torno da preocupação
“educar” a manifestação de todos os preconceitos e frustrações dos pais e
professores assim como, no aspecto positivo, a realização, a afirmação de
projetos e ideais mais nobres.
A visão deste compromisso mostra a dimensão
do casamento, da paternidade e da escola. Vivemos uma época de culto à vida
lúdica, da competição egoísta, da afirmação de valores negativos . Neste
cenário não é fácil administrar um plano pois os pais têm contra si um mundo de
vetores contrários, mais interessados em transformar seus filhos em
consumidores ou em objeto de perversões .
O desafio da liberdade é vencer a liberdade
dos poderosos. Eles controlam a mídia, o lazer, as religiões ...
Educar é capacitar o educando a resistir a
tudo isso preservando e desenvolvendo os melhores valores morais, éticos,
profissionais, sociais e individuais.
Fazer com que os jovens enfrentem a vida sem ilusões
de ganhos fáceis e prazeres sem compromisso. Disciplina, honra, dignidade,
bondade e energia são absolutamente necessários a uma vida sadia. O grande
sucesso será a tranqüilidade moral e filosófica na idade adulta. A consciência
livre dos pesadelos de maldades inúteis, da frustração da inutilidade, a
certeza de ter dado o máximo de si é o prêmio daqueles que fizeram de sua
existência um circuito honesto, produtivo e sério.
O ser humano vive, exige rituais.
A cerimônia do casamento talvez seja a mais
significativa na vida de qualquer pessoa. Assim a celebração ritual do
casamento normalmente é um espetáculo social, cheio de pompa e circunstância. O
casal afirma o desejo de constituir família, diz publicamente que viverá um
para o outro, permite aos pais mostrarem que cumpriram seus deveres...
A amplitude do compromisso geralmente não é
avaliada corretamente. Principalmente em pares jovens a mútua fascinação, a
paixão e a própria ignorância não lhes deixam ver a dimensão de suas
decisões. E como haveriam de fazê-lo? falta-lhes experiência, malícia e
paciência.
O namoro que precede ao casamento não mostra
muitos aspectos da vida e da personalidade das “vítimas”. Questões
fisiológicas, caprichos, disposição para o trabalho, para a luta pela
sobrevivência só aparecerão em toda a sua plenitude com o tempo. Muitos
casamentos falham porque os casais não se dedicam ao seu sucesso. A vida em
comum acaba revelando detalhes eventualmente insuportáveis um do outro .
O casamento tradicional é falho como
instrumento de felicidade. Teve sucesso em uma sociedade machista. A esposa era
escrava do homem. Em casa a mulher dedicava-se aos filhos enquanto o homem
exercitava seu império sexual até onde seus recursos financeiros e dotes
físicos o permitissem. A mulher ignorante desconhecia seus direitos de ser
humano. Submetia-se a toda sorte de violências. Ainda hoje vemos que grande
parte das prostitutas são mulheres expulsas de casa pelos próprios pais.
Famílias incapazes de aceitar erros de suas filhas, vítimas de ambientes onde a
mulher ainda é vista como a virgem que servirá ao marido quando casar.
Na atualidade, em nosso mundo ocidental, em
que a mulher é relativamente livre, tem profissão, luta por seus direitos, o
casamento exige outras condições
É comum os velhos falarem mal dos jovens. A
inveja salta de seus olhos ao perceberem que as novas gerações tem a coragem e
as oportunidades que não ganharam ou conquistaram. Os mais velhos defendem as
instituições a que se submeteram. O casamento tradicional é uma delas. À medida
que novas formas de relacionamento familiar acontecem, surgem os conflitos.
Principalmente em pequenas cidades a dominação cultural é mais sensível e
odiosa. Bertrand Russel, no início deste século, falava muito deste padrão de
comportamento em sua Inglaterra vitoriana. Livros como “Princípios de
Reconstrução Social”, “Ensaios Céticos” e “Ensaios Impopulares” deste grande
filósofo merecem ser lidos, estudados, discutidos com atenção. Continuam atuais.
Como é lindo observar essa juventude mais
consciente, dona de si, contrariando todas as gerações anteriores, elas que
fizeram a bomba atômica, o nazismo, as grandes guerras. A cultura tradicional,
ou seja, aquela dominante há meio século, tinha os vícios da má comunicação. As
teses fascistas eram vistas com naturalidade por líderes, educadores e
sacerdotes. O marxismo, em oposição, pregava a luta de classes, a revolução
armada. Por todos os caminhos chegava-se à violência. A nova geração mostra-se
melhor que as anteriores, o que também é natural. Vivemos em um mundo de grande
volume de informações, de viagens, turismo como nunca se imaginou possível.
Graças a tudo isso adquire-se cultura sobre bases mais realistas. O efeito
sobre a família é violento. As afirmações e posturas dos pais são questionadas,
comparadas.
A televisão é uma janela para o Mundo. Por
ela vê-se padrões e comportamentos de toda espécie. O principal foi quebrar
tabus. O aquário em que se criava os filhos acabou. O desafio dos pais é serem
convincentes. O desafio da família é existir dentro dessa realidade. O maior
desafio dos casais é continuarem unidos apesar de todos os apelos à
infidelidade, à irresponsabilidade e à aventura.
Não há como negar que o casamento é uma
fonte de renda para sacerdotes e advogados. Aos pais também é um momento
importante pois acena com promessas de uma descendência e patrimônio
administrados e, evidentemente, a realização dos sonhos de felicidade dos
filhos. A sociedade tem aí a promessa de mais operários, soldados, intrigas,
notícias e tudo o que a multiplicação humana produz.
O amor, felizmente, é o grande impulsor à
união permanente. Os jovens, principalmente, têm vitalidade e pureza para se
apaixonarem. A atração pelo ser humano desejado surge com sentimentos de
admiração, sensações de prazer e paixão que marcarão suas vidas para sempre.
Manter esse espírito é o desafio de quem pretende manter uma relação saudável,
gostosa e dignificante.
Mas nem só o amor gera casamentos. Fugir de
casa, a esperança de uma vida melhor financeiramente, uma gravidez precoce,
medo da opinião pública, tradição e proteção são talvez fatores mais
freqüentes. Assim é muito importante ter-se muita consciência do que se faz
para não ser vítima de um processo que trará grandes efeitos sobre a vida
futura .
Em princípio o casamento formal em uma
sociedade moderna só teria sentido para dar-se aos filhos ambiente e condições
legais, morais, sociais e psicológicas para viverem. Para uma criança é
extremamente cruel crescer sem pai e mãe. São frágeis, não pediram para nascer,
precisam da segurança de uma família. Um lar constituído e feliz ser-lhes-á
infinitamente melhor do que nascerem e crescerem sem uma base sólida, bem
definida.
O pesadelo de uma família desunida, sem
amor, em clima de conflito, é um desastre para as crianças e jovens. É visível
o trauma causado pelas desavenças do lar. Se em casa não encontram harmonia,
inteligência e amor, onde achá-los?
O ideal seria que os casais passassem por um
período de vida em comum antes de confirmarem o desejo de se unirem em
cartórios e igrejas.
Qual o risco que se corre? um e talvez o
pior seria o da vulgarização do processo. A mulher, de uma maneira muito
especial, ficará sujeita ao perigo da degradação, promiscuidade e rejeição. Ela
deverá ter um cuidado maior ao pretender viver com alguém. Até porque o homem
tende a procurar outras, deixando para trás aquelas já conquistadas ...
O grande erro de muitas moças é renunciar a
uma profissão, à sua própria independência financeira, em favor de uma união
que a destruirá, que poderá torná-la uma simples dependente. Mulheres
inteligentes, com grande base cultural, acabam tendo uma vida medíocre, muitas
vezes cheia de humilhações, porque se submeteram a um homem. Essa submissão vem
da tradição, da tirania dos pais e da própria sociedade. Um fenômeno visível
nos países do primeiro mundo é a ascensão das mulheres e a pequeníssima
fertilidade dos casais. Uma razão simples é a necessidade de rendimentos
maiores, condições habitacionais restritivas e hábitos de consumo maiores e
mais sofisticados. O salário da esposa torna-se importante. De qualquer forma,
sob o pretexto que for, a dependência deve ser evitada, eliminada. A liberdade
é vital à evolução do ser humano.
A democracia e a civilização exigem lares de
pessoas livres e responsáveis.
Entre as causas de casamentos entre jovens a
gravidez precoce deve estar entre as principais. É algo que se abate sobre
milhares de jovens a cada mês. Nessas ocasiões surge uma questão moral, ética de
extrema gravidade. O dilema entre o aborto e o casamento.
Se o casamento é uma temeridade, o aborto é
um crime covarde.
É inacreditável ver tanta gente defendê-lo.
Pessoas radicalmente contra a pena de morte lutam pela legalização do aborto
irrestrito. Sua defesa é uma demonstração da maneira superficial com que muitos
de nós raciocinamos.
Quando a vida começa? Vivendo em uma
sociedade egoísta, insensível, competitiva, talvez possamos aceitar o aborto
como um crime menor. Afinal milhões são condenados à morte por falta de
alimentos, assistência médica, habitação, dignidade.
Em um mundo em que o individualismo é
valorizado ao extremo, nada mais natural que a lei das selvas. A violência é
norma. Saber usá-la é virtude.
Quem chora pelas crianças que não saíram
vivas do útero de suas mães? seus pais têm o direito de condená-las à morte?
não seremos todos responsáveis?
O aborto não é solução para uma gravidez
indesejada. A família é a principal responsável, cabe-lhe manter esta criança.
A criança é responsabilidade de todos e principalmente daqueles que a geraram.
Mas não deve ser pretexto para qualquer casamento. Unir-se a um indivíduo
idiota, malandro, desonesto e irresponsável só porque dele teve o
espermatozóide fatal é um terrível equívoco. Nestes casos é preferível procurar
o apoio da família ou amigos pois conviver com alguém sem qualidades mínimas
para o desafio do casamento é arriscar-se a agravar a situação. Um erro não
justifica outro.
Graças à AIDS o uso de preservativos é
proposto em rádios e televisões. Os meios de comunicação aderiram ($) à
educação sexual. Ótimo ! Talvez este seja o grande favor que a AIDS esteja
prestando à Humanidade. Saber evitar a concepção é fundamental a uma sociedade
que pretenda ser sadia. Programar a gravidez é muito importante à felicidade
dos casais e de seus filhos. E o ideal é tê-los na certeza de que encontrarão
um lar feliz, saudável, próspero e ansioso pelo novo rebento.
Outro aspecto sensível é a sintonia social.
O casamento une famílias. O que isto significa? a necessidade de convivência
com pessoas que irão opinar sobre a vida um do outro, o sucesso profissional,
religião, educação etc. Principalmente morando perto de parentes, estes terão
influência no sucesso ou insucesso do casal. É impossível ser feliz quando se
torna objeto da vontade de outros que não aqueles dentro do próprio lar. A
menos que o caráter, a personalidade dos parentes seja não intervencionista, o
ideal será morar bem longe deles.
Compatibilidade de gênios e de cultura é
essencial à vida em comum .
A conversa do dia a dia, o gosto pelos
esportes, música, cultura de modo geral será motivo de conflitos e
confraternizações na vida familiar. A conversa de um casal enamorado é
romântica, em torno de flores e amores. Após algum tempo de vida em comum o
diálogo migrará para o mundo real. O sexo, resolvido durante a noite, dará
lugar a outros fatores de contato. Assim a afinidade será cobrada com rigor. Um
erro de avaliação poderá custar caro.
Por tudo isso o casamento formal e a geração
de filhos merece extremos cuidados. Um casal feliz é uma unidade forte,
poderosa. O amor constrói belos edifícios. Saber o que é o amor e tê-lo como
base de um relacionamento permanente é ter o paraíso na Terra. Não podemos
esquecer, contudo : para que o amor exista e resista muitos pontos de harmonia
são necessários.
O casamento deverá ser o resultado de um
longo processo de aproximação. Dele virão os filhos. Eles deverão encontrar
pais felizes e capazes de sustentá-los. O futuro da humanidade dependerá mais
da paternidade consciente e responsável do que de qualquer outro fator social.
A formalização de uma união e a geração de
outros seres humanos não é brincadeira, espetáculo pirotécnico ou exercício de
cartório.
Toda poesia tem espaço em um relacionamento
sem filhos e compromissos. O relacionamento livre e responsável é necessário.
Através dele, mais cedo ou tarde o amor consolidar-se-á acusando a conveniência
de um casamento do qual virão filhos felizes e saudáveis.
Nada se compara ao sexo como fator de
estimulação e ordenamento da vida. Sob todos os aspectos a definição sexual
influi na formação física e psíquica de todos os seres humanos. Já nas crianças
pequenas os hormônios vão marcando posturas, idéias e formas que explodirão na
puberdade.
O jovem carrega todo o peso e o prazer de
sensações e sentimentos que, bem administrados, farão dele um adulto saudável e
feliz. Infelizmente muitos preconceitos tornaram o sentimento sexual algo
pecaminoso, sujo. O instinto sexual é maravilhoso e essencial à vida. Sua
importância transcende a inteligência da grande maioria das pessoas
consideradas racionais. Seu caráter animal dá-lhe uma imagem negativa,
principalmente diante de pessoas educadas para temê-lo. O desafio da criança,
do jovem e adulto é administrar este sentimento com dignidade e
responsabilidade sem lhe tirar o imenso potencial de prazer e de estimulação do
amor.
Compreender e aceitar sua sexualidade é
vital ao bem estar, à própria saúde.
Infelizmente temos em torno do sexo muitos
tabus, uma história repressiva, preconceitos doentios. Não é difícil
compreendê-los. A idade das trevas é recente e persiste em muitos lugares do
planeta. Indivíduos frustrados tornam-se censores, críticos daqueles que
expressam sua felicidade e liberdade. Religiões construídas em passado distante
ainda governam pessoas muito próximas. Tabus e preceitos feitos para florestas
e desertos estão presentes à nossa volta.
Muito da repressão foi estimulada sutilmente
para aumentar a agressividade, a disposição para certos trabalhos, para o
controle filosófico que explora os mistérios de corpos e mentes em
transformação e cheios de atrações compulsivas.
Soldados lutam melhor se a tensão sexual
estiver exacerbada, sacerdotes lucram com o sentimento de culpa do prazer
oculto pelas regras puritanas.
Como viver de forma saudável? quais são os
limites? como tirar o máximo de proveito de impulsos tão naturais quanto
misteriosos? e suas conseqüências? o que é justo aceitar?
Basicamente é fundamental que as
experiências não sejam forçadas, venham a seu tempo, corpo e mente
amadurecendo.
Atrasar o processo é vantajoso quando
lembramos a necessidade de independência financeira, do emprego, do famoso
dinheiro. Nas selvas o “homus sapiens sapiens” podia comportar-se como um
coletor e predador. Muito cedo este selvagem aprendia a sustentar-se e a
procriar. Na selva de pedra há diferenças, em especial a dificuldade de
sobreviver e sustentar sua prole. Assim é importante que atenção seja
concentrada na prática de esportes, nos estudos, no desenvolvimento
profissional e cultural até poder governar-se e responder por seus atos.
Brasileiros, vivemos em um país mítico em
que se arbitrou ser a nação responsável por tudo e por todos, inclusive nossos
desmandos sexuais. Para não se ter a infelicidade de se transformar em
demonstração dessas utopias, devemos ser cautelosos e compreender que pagaremos
caro, nossos filhos muito mais, se não controlarmos nossos impulsos sexuais. A
vida sexual exige prudência pois seus efeitos na própria personalidade e todos
os riscos inerentes à sua natureza são muito grandes. A vulgarização, sua
transformação em simples “esporte” trará conseqüências danosas a pessoas que
deveriam ser motivo de carinho, respeito e amor.
O sexo é dinamite. A estimulação precoce
causará uma infinidade de problemas que o jovem não terá como resolver.
A prática sexual leva ao relacionamento
íntimo com um parceiro(a). A troca de experiências, prazeres e atenções faz do
casal uma dupla em que as portas da intimidade estarão mutuamente escancaradas.
Nesse momento o espeito recíproco ganha um significado especial. Compreender a
importância dos segredos, das confidências, de intimidades tão guardadas é um
ato de humanidade, de grandeza moral. À medida que macho e fêmea se respeitarem
o relacionamento mais íntimo virá como um ato de amor e com o compromisso de
não magoar, não ofender. Um aspecto terrível do sexo é ser instrumento de
agressão e de afirmação pessoal. Ninguém precisa provar a estranhos sua postura
sexual. No momento certo as oportunidades virão.
Compreender e amar o próximo é lei divina.
No relacionamento sexual teremos a maior prova de compreensão desta lei.
É óbvio que todos estão sujeitos a erros de
avaliação. Nem sempre a boa qualidade de um contato social confirma-se no ato
sexual.
É importante haver experiências antes da
consolidação de um casamento. A ignorância torna as pessoas frágeis. Para que
um jovem desenvolva sua visão e sentimentos em torno do sexo ele precisará
conhecer e vivenciar seus segredos. Muitas armadilhas colocam-se no caminho dos
jovens pares amantes. Precisam ter uma boa dose de convicção de seus
sentimentos antes de resolverem procurar um cartório, arranjar sogra e sogro,
ter filhos.
Amar não é sinônimo de “transar”.
Lamentavelmente usa-se a expressão “fazer amor” para a consumação do ato
sexual. Talvez por isso muitos vivam sem saber o que é amar. Infeliz o que não
souber distinguir as duas coisas. Devemos sempre ter a intenção de amar. A
aproximação sexual exige atenção, afeto para não brutalizar, sujar um ato que
no mínimo é o preâmbulo da vida.
Outro aspecto importante é a relação entre o
sexo e uma coleção de doenças. Saber identificá-las, evitá-las e,
principalmente, procurar assistência médica ao primeiro sinal é condição de
saúde, higiene. Em tempos de AIDS é questão de sobrevivência. Os preconceitos
atrapalham. Vencendo esta barreira deve-se procurar instrução em literatura
apropriada, educadores e, evidentemente, os próprios pais.
É importante lembrar que em torno dos
hormônios despejados no organismo para construção e operação do padrão sexual
do jovem, excessos e deficiências criarão perturbações até graves. Em especial
a violência, a agressividade poderá surgir causando conflitos de toda espécie.
Por essas e outras a legislação sobre o menor tem a prudência de protegê-lo, de
considerá-lo menos responsável. Aos pais cabe o dever da vigilância, da
orientação e do acionamento de especialistas. O corpo humano é uma máquina
exigente, carente de cuidados permanentes.
Mas com tudo e por tudo a definição sexual
traz a maravilha da mútua atração, de imensas possibilidades de prazer e, acima
de tudo, o sentimento do amor mais intenso e gratificante.
Quantas espécies de amor existem? de quantas
maneiras pode-se amar? qual a intensidade máxima? a duração possível? qual é a
melhor forma de amar e ser amado?
Poucas palavras são tão usadas quanto
“amor”. Poucos sabem o que é amar.
O amor é o principal caminho rumo à
felicidade. Muitas religiões dizem, mostram, afirmam direta ou indiretamente
que o paraíso será atingido por aqueles que souberem amar. Os fundadores dessas
seitas, em suas conjecturas a respeito da natureza humana, devem ter percebido
quanto é importante encher o coração de ternura, afeição e até paixão pelo ser
humano, a vida, a natureza, o universo, pela obra do Grande Arquiteto do
Universo. Querer a felicidade de todos, desejar o bem até a nossos inimigos é
algo que exige muita capacidade de compreensão da vida. Lembrar que tudo o que
vemos é uma conseqüência de fatores diversos e alheios à vontade de todos, que
somos o produto de circunstâncias aleatórias e determinadas pelo circuito de
eventos naturais é necessário para que saibamos perdoar, querer, ser e , acima
de tudo, desejar o sucesso de existências as mais diversas.
Somos, contudo, animais eventualmente
racionais. A lucidez não é nossa grande virtude. Nossos corpos gritam
necessidades que imperam sobre nossas inteligências. Escravos dos instintos
agimos sem muito pensar. Há, contudo, uma consciência imersa dentro de nossos
cérebros. Percebemos quando erramos. Intuitivamente notaremos mensagens
dizendo-nos que no excedemos. Talvez seja oportuno falar no plural. Vale um
pouco de filosofia. o desafio de questões como : “Quem somos? Realmente puros
indivíduos? Não seríamos parte de um todo? De uma grande inteligência?”.
Vivemos sob o império de ordens genéticas
responsáveis pela sobrevivência da vida. Todos os animais têm a determinação da
sobrevivência. A atração pelo sexo oposto é dominante. O resultado é sermos
movidos por forças alheias à inteligência fria. O pensamento, a análise, a
lógica dos fatos visíveis é apenas um pequeno sinal do infinito sob a capa de
um grande mistério. A vida, com toda a sua complexidade, ainda não encontrou
quem a explicasse razoavelmente. Vemos e ouvimos frases de efeito, simplistas,
metafísicas. A verdade pura, entretanto, provavelmente nunca será conhecida.
No mundo concreto, visível e compreensível
por nossa pequeníssima inteligência, sentimos o império do sexo. As relações
humanas, impregnadas por nossos instintos, dizem-nos o que fazer. O sentimento
do amor, em suas formas mais primárias, é onipresente. Nisso tudo qual é a
forma de sua manifestação?
Os jovens são as principais vítimas das
convenções. Entre muitas o que se diz ser amor é a principal armadilha.
O sentimento de posse, a procura da
segurança, a luta pela sobrevivência, os padrões sociais e econômicos fazem do
amor instrumento de conquista e afirmação. O verdadeiro ato de amar é ignorado,
desprezado até, e por isto mesmo algo literário, poético e pouco freqüente.
Muitos casais se formam acreditando amar-se
o suficiente para enfrentarem juntos os desafios da vida. Mais tarde, ao virem
a descobrir grandes amantes, sentirão, então, toda a extensão possível do
sentimento de amor, apaixonante, envolvente, gratificante.
O amor sexual, tendo junto a admiração
cultural, gera uniões poderosas. Casais assim formados poderão vencer barreiras
inimagináveis. A suprema felicidade será companheira.
O amor tem sua forma social também. Senti-lo
em relação a todos, na satisfação de querer o bem, a felicidade para todo ser
humano é algo que torna as pessoas solidárias, positivas. Infelizmente a
hipocrisia também existe. Quantos dizem amar o próximo quando realmente só
procuram garantir um lugar no Céu ou alguma notoriedade?
O amor é antes de mais nada um sentimento de
ternura, simpatia, bondade e altruísmo. O amor não é egoísta. Querer ter deve
ser apenas conseqüência de uma admiração pelo objeto de afeição. O amante
verdadeiro, antes de mais nada, quer a felicidade do ente querido. O desejo
sexual, natural quando o afeto surge entre pessoas que se atraem fisicamente,
fará com que o amor se manifeste em sua forma mais intensa. Quando isto
acontece teremos duas pessoas apaixonadas, escravas uma da outra. A felicidade
é tão grande que compensa até o risco de perdê-la. A vontade de abraçar, beijar
e transar é imperiosa. Perder a oportunidade de viver momentos de amor é
renunciar à vida. Um grande amor, ainda que temporário, vale uma vida. Quem
sentiu o amor sexual em sua plenitude sabe quanto é válido encontrá-lo,
senti-lo mesmo que por pouco tempo. É um sentimento que absorve todas as
energias, mobiliza todos os sensores, enche de vida cada centímetro de pele,
bloqueia outras preocupações. Qualquer lado que se olha, vê-se o ente amado. Os
pensamentos convergem para os momentos de ternura, de carinhos que não param...
Falar sobre o amor é descrever um conjunto
de sentimentos que se manifesta em muitas escalas. A suprema felicidade, ainda
que temporária, é o prêmio a quem sentir e viver um grande amor.
Devemos amar a natureza, a vida, o ser
humano. Não seria esse o primeiro mandamento da lei mosaica?
O amor em todas as suas manifestações também
gera tristezas. A perda do ente amado, a infelicidade de ver a violência, os
conflitos, as guerras entre tribos e nações são motivos de angústia,
infelicidades até brutais. Aceitar o desprezo de quem se ama é terrível assim
como é difícil compreender os radicalismos, o fanatismo e a mútua destruição
por utopias, fantasias, objetos e espaços que poderiam ser tão bem
compartilhados.
A incapacidade de amar talvez seja a doença
mais grave de muitos de uma população que não encontra solução para suas
contradições.
O amor completo, permanente, exige
seriedade, responsabilidade e compromisso. Um ser inteligente não pode ignorar
as conseqüências dos seus atos. Isto significa compreender os efeitos de uma
aproximação, avaliar e responder por suas atitudes. Como exemplo das
contradições da vida vale lembrar o comportamento de muitos que lutam pela
justiça social, assumem riscos enormes na vida pública e, entretanto, tratam
suas namoradas como produtos descartáveis, ignoram filhos ...
O amor e o sentimento de justiça são as
grandes marcas de um indivíduo civilizado.
Um aspecto empolgante no sentimento de amor
é como ele envolve a pessoa quando despertado pela presença de alguém que a
fascine. Compreender e dominar a revolução que acontece no corpo e na mente à
aproximação do ser amado, desejado, administrando-se para que suas atitudes não
sejam uma agressão e sim a manifestação do mais puro sentimento de carinho é
uma demonstração de maturidade e autocontrole. A liberação dos instintos deve
ser precedida da consciência de todos os possíveis efeitos. Esta é talvez uma
postura impossível mas desejada. A pior conseqüência do amor sexual é um filho
indesejado, inoportuno. Uma criança é uma grande responsabilidade, a afirmação
da vida, um compromisso com o futuro. Por isso um casal deve refletir muito
sobre o que faz. E neste ponto vemos muito pouco de orientação nas escolas e na
mídia. Ao contrário, romantiza-se o amor e não se mostra seus riscos. As
novelas são entre famílias ricas, quando não alguém ganha na loteria e tudo se
resolve. Planejamento familiar é assunto praticamente desconhecido .
E os outros padrões de amor? Percebemos na
pele, no peito, nos olhos e ouvidos o prazer de sentir belos quadros, músicas,
veludos, frases...Gostamos, queremos, desejamos e amamos. Assim a sociedade se
movimenta. Estamos sempre procurando objetos e sensações que amamos. Entramos
em sintonia. Corpo e alma vibram em muitas freqüências. Temos um padrão
complexo de ressonância. Assim sentimos, gostamos. Esta capacidade extremamente
sutil de querer sem pensar, de sentir, de ver sem saber, aproxima-nos de Deus.
Nossa metade não aritmética do cérebro atua com seus algoritmos misteriosos,
não lineares, probabilísticos e geniais. Desenvolver estes sentimentos é
gratificante. A vida ganha colorido, alternativas. Saber amar uma bela
paisagem, o barulho de um riacho, da chuva, o cheiro da terra molhada pelas
primeiras águas, o perfume de uma orquídea, uma rosa é uma qualidade divina,
lúdica, prazeirosa. Enfim a vida nos concede muitos sabores que se transformam
em amores tão refinados quanto formos capazes.
Mas um grande amor é aquele que atingimos
quando nosso coração se abre. A capacidade de ver e amar a natureza como um
todo é privilégio de alguns em sua mais elevada escala de aprimoramento
intelectual e moral. É a perfeição.
Dominar o ódio, os ressentimentos,
integrar-se à natureza deve ser o projeto de todo aquele que realmente quiser
entender a vida.
O amor é nosso objetivo, por ele seremos
felizes ao mesmo tempo em que saberemos ser úteis.
Um desafio de um casal, na atualidade, é manter-se
unido apesar de todos os desvios do comportamento arbitrado ao decidirem viver
juntos. O ambiente hipócrita de até bem pouco acabou. O clima de arbitrariade e
intervencionista escondia questões semelhantes às de hoje. A liberalização de
costumes mostra aspectos da vida humana com mais clareza e vemos, atualmente, o
que sempre existiu. No passado a censura escondia e, nos traumas dos pecados,
as perversões talvez fossem maiores.
No mundo ocidental a abertura política, social e econômica das mulheres assim
como a liberação sexual levou-as a participar dos direitos e deveres masculinos,
entre eles o de esquecer os padrões morais rígidos de poucas décadas atrás.
Esta condição criou conflitos pesados nas propostas de fidelidade entre casais.
Os direitos que os maridos julgavam ter agora também atingem suas esposas.
Principalmente as mulheres mais lúcidas e cultas insurgem-se contra os
privilégios masculinos.
As aventuras amorosas são perigosas. Os casamentos duram menos, as separações
tornam-se rotina. Isso não é bom, os grandes perdedores são as crianças, que
acabam desamparadas e sem pais que lhes farão falta em suas fragilíssimas
vidas. A sociedade ainda não desenvolveu uma alternativa para lhes dar carinho,
proteção e educação.
Tudo isso contribui para mudanças de planos e vidas. Entre os muitos fatores de
dissolução familiar, obedecendo a códigos antigos, está a infidelidade
conjugal. Até onde seria aceitável? É motivo para uma separação?
A promiscuidade sexual sempre foi considerada nociva em qualquer sociedade
razoavelmente lúcida. Fatores higiênicos, principalmente, condenam a
multiplicação de parceiras(os). A intimidade do contato sexual é muito grande.
Fazê-lo sem amor é usar as pessoas para um apetite que as destrói. O principal
prejuízo é vulgarizar um ato tão maravilhoso e importante, levando seus atores
a uma visão primária do contato entre seres humanos. Nessas condições, pessoas
unidas pelos votos do casamento tendem a se perder. O matrimônio terá sido um
erro. Filhos, existindo, terão o desprazer de não poderem ver seus pais como um
par único. Em cenários onde o modelo clássico é mantido, as crianças poderão
ser agredidas pelos prazeres dos pais.
Entre o extremo da promiscuidade e o da
fidelidade absoluta há muitas situações possíveis. É comum ouvir dizerem que
seria normal um caso, uma experiência eventual. Curiosidade, paixões
momentâneas, vinganças e tentativas de conquistar outra pessoa são motivos
freqüentes de aventuras mais ou menos profundas. Qualquer que seja o rótulo,
afetará para sempre o comportamento das pessoas envolvidas. As marcas
dependerão dos sentimentos que despertarem e do grau de maturidade de cada um
dos parceiros nesses jogos sexuais.
É interessante notar como a vida inteira
todos exercitam jogos sexuais em todos os ambientes que freqüentam. A
conquista, o flerte, o ensaio é até óbvio em festas e encontros de amigos. Nos
locais de trabalho, por exemplo, vemos na maneira de se vestir, no tom da voz,
nos maneirismos a sexualidade falando. A sensualidade é muitas vezes
suficientemente forte para levar casais eventuais às últimas conseqüências.
Alguns padrões clássicos contribuem muito
para investidas, entre elas um razoavelmente comum é o machismo, o problema de
afirmação pessoal. Curiosamente parece que certos indivíduos duvidam de suas
qualidades, precisando testá-las permanentemente. Outros simplesmente
mostram-se escravos de instintos naturais, importantes em espécies ameaçadas de
extinção mas perigosos em uma sociedade contaminada pela AIDS, herpes e outras
doenças razoavelmente perigosas.
A mídia, o culto à moda, o estrelismo levam
muitos a fazerem coisas contrárias a tudo o que lhes seria recomendável. O
resultado poderá ser a infelicidade, a perda de paradigmas sadios e a
frustração após uma vida vazia.
Os casais estão sujeitos a todo tipo de
tentação. Principalmente quando são constituídos por indivíduos atraentes, a
probabilidade de se envolverem com outras pessoas é muito grande. Nessas
condições é fundamental haver um espírito de tolerância e muito amor. A
capacidade de se respeitarem e compreenderem situações eventuais é
essencial ao sucesso de um casamento. Raros são os casais que permanecem unidos
por muitos anos sem qualquer acidente. Exceto naqueles realmente sem capacidade
de envolvimento, a infidelidade surgirá mais cedo ou tarde. E como reagir quando
a(o) companheira(o) souber?
Talvez no altar o padre devesse fazer esta
pergunta aos noivos : continuarão unidos mesmo diante de alguma infidelidade
eventual?
A sobrevivência de uma família depende da
capacidade de superar dificuldades. Ela é formada para que se dê um lar a
crianças que deverão ser o produto do amor. Os sentimentos mudam. Dormimos com
um estado de espírito e acordamos com outro. Por diversas razãoes biológicas e
culturais mudamos sempre. Fazer afirmações sobre sentimentos futuros é desconhecer
a própria natureza humana. Como diria Vinícius : “O amor é eterno enquanto
durar”. Nada justificaria juras de fidelidade, convivência e amor que não fosse
para criar os filhos gerados nessa união. A ausência deles dá aos casais a
liberdade de qualquer separação, da procura de outros caminhos. Tendo-os haverá
o compromisso de criá-los, educá-los, prepará-los para viverem felizes e
dignamente. Este aspecto do casamento é muito importante. Não há necessidade de
leis nem de sacerdotes para se perceber como a união dos pais é necessária.
Isso significa conter orgulhos, vaidades e
paixões. Pai e mãe deverão sempre pensar nos efeitos de suas decisões na vida
de seus filhos. Se um erra, o outro deverá procurar agir de modo a minimizar os
efeitos de falhas que todos possuem. Muitas vezes dá-se à questão sexual uma
importância muito acima da real. O parceiro ofendido acreditará ter o direito
de agir com violência, tumultuando um lar até então feliz e saudável.
No amor o grande crime é destruí-lo.
A infidelidade não é, obrigatoriamente,
sinal de desamor, até porque pode-se amar muitas pessoas ao mesmo tempo. É um
modelo falso apresentar o amor como sentimento exclusivo de um casal. É fácil
apaixonar-se por pessoas que admiramos, principalmente se essas pessoas
reunirem qualidades físicas e intelectuais sintonizadas às nossas. Os filhos
são o fator excludente. Para criá-los há necessidade de concentração de afeto,
recursos materiais, atenção. Para termos o direito de gerar descendentes, a
fidelidade e a dedicação à família é vital.
Proíbe-se o histerismo, a imprevidência e a
violência. Com serenidade e inteligência e muito amor deve-se julgar situações
que abalem um lar, por mais constrangedoras que possam ser. Cuidado com a
opinião de estranhos. Ninguém pode avaliar com precisão o que um poderá
representar para o outro. Decisões de casais a eles pertencem.
Quando garoto tive a oportunidade de
observar uma seqüência que poderia retratar bem o que é a vida. Numa tarde de
verão, num daqueles aguaceiros típicos de Blumenau, poças de água se formaram
no solo argiloso em frente de casa, na rua. Naquela época o uso de automóveis
era um luxo de poucas pessoas. A chuva passou. Brincando na rua notei a
formação de um limo no fundo de uma poça d’água. Algumas horas mais tarde
aquela camada verde já se apresentava espessa. No dia seguinte ela flutuava
sobre a água. À tarde desapareceu com a própria água. Assim em algumas horas
toda uma cultura vegetal desenvolveu-se, atingiu sua plenitude e desapareceu. O
mistério da vida, seu aparecimento, temporalidade e beleza estavam naqueles
litros de água e através deles a imagem de Deus.
Um grande espetáculo dão as flores. Surgem
bem devagar, abrem suas pétalas sem pressa, atingem o ápice de sua maturidade
em alguns dias. Algumas produzirão sementes. Durante um tempo encantarão pela
beleza, algumas também com perfumes inebriantes. Murcham e caem. O ciclo da
vida completou-se para estas demonstrações de arte e beleza, da complexa
dinâmica da natureza.
A vida é a oportunidade que a matéria
encontra de apresentar-se com mobilidade própria, capacidade de multiplicação,
transformação, agregando-se algo que tem sido motivo de muita polêmica, guerras
e religiões, o espírito.
Aprendemos, infelizmente, a respeitar
basicamente apenas a vida humana. Esta cultura fez do ser humano um predador
gigantesco. A Terra transforma-se sob suas mãos. Todas as formas de vida sofrem
sua presença.
Mas a vida por si só é algo fantástico. Em
todas as suas formas mereceria nosso respeito. O que a Natureza é capaz de
produzir? não é a vida o que mais fascina? a vida não é, de acordo com as
bíblias, o último ato da Criação?
Quando falamos de ecologia e ambientalismo
costumamos raciocinar com o que nos afeta, com o que põe em risco direto nossa
existência. Mas todo o conjunto é importante, fazemos parte de um mundo que era
rico em formas de vida, de imagens fantásticas, ricas. Paulatinamente estamos
destruindo, matando. Parece até possível existirmos dentro de grandes ampolas,
cercados de máquinas e tubos. Seres humanos viveriam felizes confinados em
ambientes pasteurizados, sem outras vidas que não as suas?...
A vida civilizada que pretendemos não é
essa, alienante e mecanizada.
A felicidade, requisito básico na motivação
pela vida, exige sentimentos de integração, contato com a natureza em sua forma
básica, primitiva e luxuriante.
Os povos primitivos acreditavam em deuses
pelo medo, o pavor da fome, das doenças, da morte. Cerimônias de todo tipo eram
feitas para agradá-los. Na ignorância em que viviam denominavam as forças da
natureza como deuses coléricos, bondosos, criativos e caprichosos.
A evolução da inteligência permitiu-nos
compreender os raios, as colheitas e doenças mas a vida em si continuou e até
aumentou seus mistérios. Não conseguimos ficar sem explicações.
O que entendemos, qual o conceito de Deus?
não seria o conjunto das leis naturais que governam o Universo?
Como acreditar em Deus? como perceber sua
presença?
Todo o sentimento da existência de Deus vem
da observação da natureza e, em especial, da vida. A complexidade de uma
simples abelha, o conjunto de detalhes que se completam, sua interação à
colmeia, faz-nos duvidar da aleatoriedade de combinações que no tempo e na
quantidade de exposições de átomos e moléculas possibilitaria a formação deste
inseto. Quando ainda, olhando em volta, vemos milhões de espécies de animais,
plantas e insetos compreendemos que as explicações científicas estão longe de
convencer. Há muito que estudar, pensar e sentir.
O amor à natureza e à vida significam
atenção a uma vontade que não compreendemos mas percebemos. O raciocínio, a
inteligência e a cultura aumentam o mistério. Na cadeia evolutiva, entre
os animais, alguns quase nada pensam, outros raciocinam mais. A natureza
parece um grande mosaico, cada planta, animal cada pedaço de pedra parece
ajustar-se, um ao lado do outro, formando uma seqüência de seres e objetos que,
em si, demonstram uma lógica surpreendente.
A vida é fascinante, merece todo o nosso
respeito e a certeza de que expressa uma demonstração de poder e perfeição ...
A valorização da vida não deve ser apenas
produto de retórica. Precisamos lutar para que evolua para uma condição de
respeito e dignidade. O processo político é extremamente importante. Muitas
ideologias pregam o individualismo, a segregação de raças, religiões. Lutando
por uma melhor distribuição de renda, para a garantia dos direitos básicos do
cidadão estaremos no caminho de uma vida mais feliz, decente.
Se Deus nos criou inteligentes foi,
certamente, para que utilizássemos esta qualidade no aprimoramento da vida e da
natureza. Não foi para construir armas e venenos que um cérebro foi colocado
acima de nossos pescoços.
A grande responsabilidade da inteligência é
que ela é a nossa ligação com Deus. Se pode haver alguma semelhança com o
Criador, será nesta característica do ser humano. Respeitando esta condição
devemos fazer o melhor uso possível dela. O mau uso da inteligência é uma
blasfêmia, é uma ofensa a Deus
A vida é o resultado do sopro divino sobre a
matéria.
Com inteligência e vontade poderemos
transformá-la em uma canção maravilhosa, em uma divina mensagem de paz e amor..
O que é inteligência? qual a sua
importância? somos racionais? de que forma?
Antes de mais nada é bom lembrar que não
escolhemos os pais que tivemos, a saúde, os acidentes, o lugar em que nascemos.
Somos o produto de inúmeros processos, a maioria fora de nosso controle.
Ninguém poderá ser ridicularizado, agredido por ser menos inteligente ou hábil
para qualquer atividade. Pessoas menos dotadas poderão concentrar sua atenção
em detalhes que outros mais capazes não teriam interesse. Há espaço para todos
e todos merecem respeito enquanto pessoas honestas e trabalhadoras. Os mais
brilhantes não deverão esquecer nunca que muitas doenças e acidentes poderão
reduzi-los a níveis de imbecilidade...
Evidentemente nossas limitações criam
restrições, frustrações e fracassos.
A inteligência tem formas bem diferentes de
manifestação. Diferentemente da cultura que é ter conhecimentos, a inteligência
é a capacidade de raciocinar sob os mais diversos estímulos. A origem destes
impulsos caracterizando as formas de existência. A inteligência é a capacidade
de deduzir, induzir, memorizar e, assim, compreender e manipular a natureza em
suas formas de manifestação..
A racionalidade é uma característica
variável entre os seres humanos. O homem é um animal eventualmente racional,
quando o é. Em seu conjunto poderíamos dizer qua a humanidade é levemente
racional.
A intensidade da inteligência varia muito
entre as pessoas e em cada uma com o momento, a hora do dia, o metabolismo. A
diferença é brutal. Consciente disto deve se ter cuidado com o cenário em
grandes decisões. Conhecer-se bem é o primeiro sinal de uma inteligência
privilegiada. A influência do metabolismo é vital. O efeito de estimulantes é
uma demonstração desta característica do ser humano. O cérebro é uma máquina
com muitos detalhes importantes. Uma vida sadia é necessária à maximização da
produção mental. Vícios como o alcoolismo e outras drogas destroem o cérebro.
Este computador trabalha sempre, acumulando informações, processando-as. Por
isso precisa de carinho e respeito.
Diante disto por quê as pessoas bebem? tomam
entorpecentes?
A inteligência por si não traz felicidade, ao
contrário, na maioria das vezes torna-a mais difícil. Poderíamos até dizer que
a burrice é um dom da natureza à medida que simplifica as exigências
intelectuais, que permite a qualquer um embevecer-se diante de uma obra de arte
primária, uma conversa idiota, um ambiente grosseiro. O raciocínio cria
tensões. O ser mais inteligente não aceitará as explicações comuns. A
curiosidade gera ansiedades. A aceitação tranqüila dos dogmas sociais e
filosóficos evita conflitos. Acreditar é aceitar o que nos propõem. É
identificar-se com a maioria, os mais fortes. Quantos gênios as fogueiras da
Inquisição queimaram? Muitos, com certeza, eram menos inteligentes e mais
idealistas, corajosos...
É normal a ignorância e a mentira imporem-se
pela violência.
Mas a inteligência dá-nos o refinamento de
prazeres especiais. Compreender, ver o que ninguém mais vê, saber o que ninguém
sabe, ter o poder de decidir sobre bases melhores é um privilégio sensível.
Pelo raciocínio chegamos aos segredos do Universo. Compreendemos o que possa
ser Deus e a nossa missão.
Ser ou não ser racional, eis o grande
dilema.
Esta é uma questão vital e que precisa ser
colocada em algum momento de nossa vida. Quando? como? quanto? são perguntas
complementares. Dependendo da resposta seguiremos à esquerda ou à direita nas
muitas esquinas da vida.
A opção pela irracionalidade é o caminho das
paixões. A fascinação dos grandes sentimentos só é acessível a quem não se
deixa dominar pela lógica, a quem não se submete ao império da razão.
Por isso a pergunta : quando podemos ser
racionalmente irracionais?
Apesar de todos os riscos a inteligência é
fascinante. É uma qualidade divina e que por isto deve ser bem administrada
para não transformar o céu em inferno.
Religiões e partidos políticos exigem fé
absoluta. Duvidar é crime, acreditar virtude. Esquecem-se que Cristo tratou São
Tomé com deferência especial, não o ignorou. Por quê? A convicção é diretamente
proporcional à renúncia à inteligência.
Todo ser humano pode pensar. Mas pensar dói
sob diversas maneiras. Para que o desconforto? O pensamento leva-nos à visão da
morte e poucas coisas são tão aterradoras quanto a morte. Paradoxalmente por
não pensarem os jovens vão às guerras. Trocam suas vidas por medalhas, que
alguns anos depois estarão sendo vendidas por camelôs. O “não pensamento” é a
arma dos irresponsáveis.
O homem medíocre renega a inteligência. Em
sua pequenez vive bem com o “não pensar”. O que pretendemos? submergir na
multidão? viver uma vida que não existiu? é interessante registrar como a
inteligência une-se à loucura para quem quiser marcar sua existência. Seria
apenas marcar? quem se lembra de um dia comum? viver não é gravar com força
imagens em nossa memória?
A mediocridade mata muitas inteligências.
Quantas pessoas nascem com um potencial gigantesco e morrem na obscuridade
porque lhes ensinaram a ter medo de tudo, a supervalorizar estados materiais
insignificantes, a não assumirem riscos. Lamentavelmente a freqüência da
mediocridade é infinitamente maior do que poderíamos
imaginar.
A falta de uma visão mais matemática, com
mais sensibilidade probabilística, o sentimento de que qualquer risco é
inaceitável é próprio dos covardes, seres humanos que perderam a oportunidade
de acrescentar algum degrau rumo à civilização.
Um jovem inteligente no início de sua vida,
quando opta por uma carreira estabelece objetivos, metas, desafios. Nesta fase
precisa se conhecer, avaliar-se, saber do que é capaz. Quanto se exige de um
adolescente...
Toda profissão tem requisitos próprios,
exigências específicas. Saber escolher aquela carreira que melhor se ajustar à
própria inteligência é um bom começo de vida, um “handicap” a favor do sucesso.
E o sucesso profissional é uma boa base para sentir-se feliz e ter-se a certeza
de uma justa compensação à sociedade e à família. Cada profissão tem uma série
de sutilezas. Habilidade manual, memória, raciocínio lógico, harmonia musical,
paciência, coragem, e assim por diante são parâmetros que variam de atividade a
atividade. Veremos em cada profissão um conjunto de características que
separarão o medíocre do notável, o sucesso do fracasso.
E a vida afetiva? quem procurar para uma
vida em comum? o gênio respeitará a idiota? o burro submeter-se-á a uma mulher
brilhante? os preconceitos? muitos cuidados são necessários até porquê os
filhos serão o resultado desta mistura genética. Que padrão genético quereremos
transmitir?
Na profissão, no amor, no esporte, na
religião, em todas as atividades a inteligência será cobrada. Para algumas
atividades não ter será melhor...
Um cuidado é necessário. Muitas formas
existem para inibir a inteligência ou mesmo destruí-la. Maus hábitos poderão
estagnar seu desenvolvimento ou regredi-lo. O cérebro, da mesma forma que o
físico, exige exercícios constantes e uma boa alimentação, períodos de
descanso, higiene. Deve-se ter o cuidado do aprendizado constante, da
curiosidade, disciplina mental. Por mais que estudemos, aprendamos, sempre
haverá algo a conhecer, analisar, apreender. Cada momento será significativo à
medida que se acrescentar algo ao que soubermos. Aprender sempre. O estímulo ao
cérebro, o enriquecimento de nosso arquivo e o aprimoramento do “software”
instalado em nossa carcaça será recompensado pela ampliação do nosso poder, do
maior refinamento e amplitude de nossos prazeres...
Muitos se queixam da falta de sucesso
profissional mas não contam o quanto desperdiçaram. A vida é uma luta constante
onde a vitória estará mais próxima dos melhores, mais preparados. A agilidade
mental, a capacidade de reação intelectual dependerá do nível atingido, da
capacidade exercitada.
A história está repleta de exemplos de
grandes líderes, cientistas, artistas que atingiram o ápice de suas carreiras
porque, entre outras coisas, aplicaram-se com determinação, estudaram
exaustivamente, esforçaram-se muito mais que outros em suas atividades.
A inteligência reflete-se no amor, talvez
mais do que em qualquer outra atividade. A capacidade de compreender as razões
da companheira, a paciência, a tolerância só existem em mentes privilegiadas.
Pessoas primárias reagirão de forma selvagem às dificuldades da vida.
A capacidade de raciocinar mostrará seus
efeitos em todas as nossas atividades. Com ela poderemos ganhar notoriedade,
riqueza, sucesso. Bem usada será fator de felicidade. Desperdiçá-la será, pelo
menos, um desrespeito à humanidade.
Os desafios são grandes. A miséria é
onipresente. Usar a inteligência para diminuí-la é um compromisso com Deus. A inteligência
oculta é egoísta. De que valem os diplomas, as milhares de horas de estudos se
tudo isso não se transformar em um benefício à sociedade, à natureza?
A população cresce, ocupa espaços, derruba
florestas, represa rios, polui ares e mares. Por quê não usar a inteligência
para as pesquisas de soluções? para a luta pela vida?
A inteligência aliada à coragem torna-se
criativa, empreendedora.
O medo torna o ser humano medíocre,
retrógrado, conservador, egoísta.
Saber pensar e agir é próprio dos líderes,
dos grandes gerentes, daqueles que conquistam.
A humanidade encontra-se no limiar do século
21. Teremos grandes desafios, questões delicadas que afetarão nossa visão ética
da vida. A superpopulação, a poluição, a degradação ambiental exigirão mudanças
radicais no processo de desenvolvimento. Por exemplo : qual a nossa visão
estratégica da energia, saúde, educação, lavoura, indústria e tudo o
mais?
Vemos preocupações pontuais. A visão é
normalmente de médio e curto prazo, oportunista.
Precisamos de muita, muita inteligência para
garantir aos nossos netos e bisnetos a sobrevivência no século 21 com
dignidade, com a felicidade de viverem em mundo melhor.
Das floresta para as cidades o “homus
sapiens sapiens” veio com violência e preservando a maioria dos hábitos
selvagens. Das cidades para o futuro precisaremos dominar instintos,
estabelecer o império da razão.
Pelo menos por simples questão de
sobrevivência, a humanidade terá que ampliar sua capacidade de pensar e
disciplinar-se, dominar-se.
Preceitos e normas do século passado poderão
ser mortais no próximo.
Graças à inteligência poderemos ter a
esperança de sobreviver e de criar um mundo melhor, mais saudável e justo.
O mundo transforma-se perigosamente. O
aumento da população humana já dá mostras evidentes de excessos. As praias
perdem sua fauna na presença de banhistas, a agricultura e pecuária destroem
florestas. Fauna e flora viram assunto de livros de história. Pesticidas e
adubos poluem rios e mares. As cidades crescem sem parar. O consumo de
combustíveis modifica a atmosfera. Caminhamos para a saturação, a destruição de
nosso tão necessário ecosistema.
Infelizmente este tem sido assunto de
demagogia, personalismos, exploração maldosa da ignorância popular.
No Brasil oscilamos entre extremos.
Nossa legislação é tão severa que se torna
inaplicável além de ser instrumento de picaretagens as mais diversas. Os
radicalismos levam a impasses prejudiciais a todos. O pior é que os maiores
problemas não são discutidos de forma adequada.
As cidades, centros de consumo, não se
submetem a qualquer disciplina. O desperdício cobra a construção de mais
barragens, leva à queima excessiva de combustíveis, à utilização de materiais
poluentes etc..
O próximo século será o da mobilização
ecológica. Compreender e aplicar corretamente suas propostas será o grande
desafio da nossa gente.
O jovem desde cedo deverá conscientizar-se
da importância desta questão pela pura e simples necessidade de sobreviver.
Não temos escolha. Ou disciplinamos nossa
vida de acordo com as restrições naturais de nosso planeta ou estaremos
condenando nossos descendentes ao inferno.
Nossa moral e ética ocidental, nossa cultura
não previam a questão ambiental e os valores da preservação da natureza. Diante
do homem feito à imagem e semelhança de Deus os animais, as florestas, a
natureza não tinham vez. Os bichos não têm alma, tudo existe para ser explorado
pelo homem. Explorado? usado? destruído?
Estamos chegando nos limites de
sobrevivência.
Continentes inteiros perderam suas
florestas, a maioria de seus animais e vegetais originais. O pouco que sobrou
mal serve como testemunho de um passado luxuriante. Os países do hemisfério
norte deveriam com urgência iniciar um grande programa de reflorestamento e
recuperação da fauna e flora de um século atrás, pelo menos.
São povos cínicos. Dificilmente veremos lá o
que pregam aqui. Querem que o Hemisfério Sul compense os crimes ecológicos do
Norte.
Criminosamente têm feito e sustentado
guerras, estimulado economias consumistas, desenvolvido padrões perdulários.
Países que tanto falam em ecologia não
aceitam restrições à pesca da baleia, à intocabilidade da Antártica, ao
desarmamento, à geração e transporte de lixo atômico, à exploração dos povos .
Apesar, contudo, da forma irresponsável com
que agem, não temos desculpas para repetir erros. Cada cidade, estado e a nação
deverão desenvolver planos e ações para salvar o país. O Brasil ainda tem
espaços preservados e muitos recuperáveis.
Um grande responsável pela degradação
ambiental é a miséria. Uma família sem recursos ocupará espaços de preservação
para morar e sustentar-se. A degeneração cultural leva à violência, ao desprezo
pelas normas mais elementares de vida. Nosso modelo econômico é concentrador de
renda, nossas escolas precárias, não temos um programa de planejamento
familiar, vivemos sob o império da demagogia e da irresponsabilidade. Vamos
pagar um preço elevado se não mudarmos.
O ser humano precisa da natureza em sua
totalidade. Não existe um pássaro desnecessário, uma árvore feia ou um animal
desprezível. Se não sabemos porque existem é porque nossa ignorância e
sensibilidade precárias não o permitiram.
Como é triste notar, ano a ano, a degradação
do meio ambiente.
Quem se lembra das saíras, dos bem te vis,
das tatuíras, gaivotas, dunas de areia, matas fechadas e córregos cheios de
peixes em águas limpas?
Quem teve a felicidade de conhecer esse
Brasil sente dor no fundo do coração quando percebe que está desaparecendo
debaixo de avenidas, plantações, edifícios...
É óbvio que não se pretende o extermínio da
humanidade mas toda a nossa capacidade deverá ser utilizada na conciliação da
sua sustentação com a recuperação da vida sobre a Terra.
O belicismo, a xenofobia, o racismo e o
fanatismo têm sido instrumentos de mobilização guerreira. A violência é o
padrão de existência de muitos povos. Filosofias que deveriam pregar a paz usam
a promessa de outros paraísos como desculpa para a destruição mútua nesse
mundo.
Existe algo mais anti ecológico que a
guerra?
O desastre ambiental é inevitável quando
explodem bombas, queimam depósitos de combustíveis, destroem florestas com
desfolhantes ...
A natureza tem mecanismos próprios de
regulação. Talvez lentos mas aparecem. No mínimo como um grito de vingança.
Doenças, falta de água, excesso de calor, radiações são as formas de reação que
já observamos. Após a Primeira Guerra Mundial a “gripe espanhola” matou mais
gente que a própria guerra e no mundo todo, não apenas nos campos de batalha.
Por tudo e para o que mais se deseja, uma
vida feliz e decente, deve-se procurar aprender a viver preservando e, se
possível, recuperando, preservando e convivendo com a natureza.
O que isto significa? como fazê-lo? é
possível?
Antes de mais nada combatendo o desperdício.
Com o uso criterioso da tecnologia e disciplina na aplicação de planos e
projetos inteligentes poderemos economizar energia, diminuir a poluição,
consumir menos. Os urbanistas, de uma maneira especial, deverão planejar suas
cidades de modo a não se ter desperdícios criando-se parques, cuidando
avaramente dos fundos de vale, mananciais, evitando-se adensamento
populacionais excessivos, refreando propaganda que estimule a movimentação de
populações para os centros urbanos. As cidades deverão ver seus planos de
urbanização como instrumentos sagrados de disciplinamento do desenvolvimento.
No campo a produtividade deverá ser
estimulada evitando-se a ampliação das fronteiras agrícolas e pastoris. O uso
de agrotóxicos e fertilizantes deverá ser submetido ao máximo de racionalidade
e vigilância. Em tempos de satélites, fibra ótica, computadores e radares não é
difícil aprimorar padrões. Não fosse a extrema ignorância e miopia de nossos
legisladores e governantes poderíamos estar muito melhores. Infelizmente a
tecnologia é muito mais instrumento de enriquecimento ilícito do que forma de
desenvolvimento harmônico e decente..
Algumas questões de grande efeito econômico
e ambiental deverão ser resolvidas, entre elas o uso de motores térmicos.
Automóveis, aviões e caminhões deverão ser substituídos por veículos elétricos
e a energia elétrica deverá ser produzida sem poluir a atmosfera ou produzir
resíduos radiativos. Detergentes, plásticos e outros produtos terão uso
controlado. Instalações sanitárias, aparelhos eletrodomésticos e o projeto de
prédios, casas e indústrias deverão respeitar normas conservacionistas...
O transporte individual terá que ser limitado
a casos especiais. Em grandes cidades a metade de seus espaços é dedicada ao
transporte com todos os problemas de impermeabilização do solo, poluição
sonora, mecânica ( atropelamentos ) e química.
A tecnologia em boas mãos é uma grande
aliada. Meteorologia, sistemas de comunicação e instrução custam infinitamente
menos que os prejuízos causados pela atividade aleatória e pouco inteligente de
muitos de nossos empresários e trabalhadores.
A indústria precisa ter um cuidado especial
com o uso da energia e o tratamento de poluentes. O crescimento da produção
leva ao agigantamento de instalações industriais aumentando exponencialmente os
riscos ambientais. Este é um processo não linear. Até certo ponto rios, lagos e
mares poderão assimilar venenos e se recuperarem . Além de certos volumes o
efeito será irreversível e até, em alguns casos, com possibilidades de se
autoalimentar.
Um grande obstáculo à adoção de medidas é a
incapacidade de medir ou a falta de vontade em fazê-lo. É claro que tudo o que se
cria muda alguma coisa no meio ambiente. Quanto? esta é uma questão que
pretensos cientistas ecológicos não gostam de responder. É, no entanto, vital
informar, saber.
A valorização dos ecologistas e das lutas
pela preservação e recuperação do meio ambiente passam pela estruturação
científica, metodológica, conceitual e moral.
Mas a poluição está principalmente no
indivíduo, no cidadão. Ele, consumidor, ditará as necessidades, estimulará boas
ou más atitudes, empresas, projetos.
Um bom exemplo, é bom repetir, é o uso de
automóveis. Um veículo com um peso em torno de uma tonelada para uma carga
eventualmente útil de menos de cem quilos virou status, seu uso é indicador de
classe social. É usado extensivamente, sem qualquer critério. Queima combustíveis,
exige vias pavimentadas, garagens e estacionamentos, mata e aleija, ensurdece
as pessoas, gera gases. Um bom ecologista deveria evitar ao máximo o uso de
carros e aviões. Dando exemplo mostraria como respeitar o meio ambiente...
Até ao tomar banho podemos mostrar nossa
consciência ecológica. A água é cada vez mais rara e cara, sob todos os
aspectos. A sua obtenção exige barragens, estações de tratamento e,
posteriormente, esgotos etc. Um banho demorado é um crime contra a natureza.
Assim, no dia a dia poderemos aplicar
inúmeras regras para evitar desperdícios burros. Além de não degradarmos a
natureza estaremos evitando desperdício de dinheiro.
Sobre a Terra ainda há espaço para mais
gente. Não muito mais. Quanto a mais dependerá da inteligência e seriedade que
tivermos.
Nossos descendentes serão nossas principais
vítimas se não soubermos desenvolver um padrão de vida coerente com a natureza.
.
Talvez pareça estranho falar aqui sobre
jardinagem. Creio que esta seja uma grande falha de muitos que procuram educar.
Não falar sobre atividades que ensinam, distraem, enchem a alma de amor e
beleza.
Deus se manifesta pela vida e nela através
da beleza.
A Natureza espera e procura se comunicar
conosco. Fazemos parte dela. Não podemos, não há como substituí-la por paredes,
papéis, eletrônica... Precisamos cheirá-la, tocá-la, ouvi-la, vê-la, saboreá-la
em todos os sentidos não destrutivos.
No passado recente nossos pais viviam entre
árvores, pássaros. Suas casas eram cercadas de jardins. As cidades com poucos
prédios mostravam horizontes desenhados por montanhas, planícies e mares. As
ruas, pouco movimentadas, não eram o império de automóveis, caminhões e seus
condutores malucos. Acordavam ao som de passarinhos, dormiam vendo a Lua e suas
companheiras , as estrelas.
Atualmente, prisioneiros do asfalto,
fechamo-nos em casas cercadas de muros altos ou em apartamentos, arquivos de
gente. Precisamos nesses pequenos espaços criar um contato com a natureza.
A jardinagem é uma forma de trazê-la para
perto. A pequena semente colocada à terra produzirá brotos, a planta jovem
precisará de cuidados, orientação, carinho. Ela, já adulta, poderá desenvolver
flores ou outras expressões de arte e beleza que, como acontece conosco, tem
por principal objetivo a reprodução, a perpetuação da espécie.
Uma planta exige paciência, capacidade de
observação. Ela não fala, não grita. Olhando suas cores, seu desenvolvimento,
seu ambiente deveremos saber quando aguá-la, podá-la, adubá-la. Em retribuição
veremos suas flores, folhas e um conjunto harmonioso, partes de uma floresta em
que nossos ancestrais viveram. Iremos criando em torno de nós um ambiente que
mostrará harmonia, sensibilidade, amor. É fascinante observar o desabrochar de
uma flor, sentir seu perfume, seus caprichos. A delicadeza do desenho de uma
rosa, o contraste de suas cores com a base que a sustenta é bem uma analogia de
uma família, de um pai embrutecido com sua filha adolescente, graciosa, lúdica,
atraente.
Não devemos esquecer que a vida tem fases. O
tempo passa. Saber preenchê-lo com detalhes de beleza, arte, é enriquecer a
vida, acrescentar-lhe momentos de poesia.
Um jardim ou uma simples samambaia são
altares para reflexão, meditação. Diante de suas formas e essências pensamos,
avaliamos nossas atitudes. São refúgios da máquina, do ritmo frenético das
cidades, do trabalho.
Aprendemos as leis da vida à medida que
convivemos, alimentamos, sentimos aqueles que a têm.
Uma orquídea, um hibisco, uma roseira,
hortênsia ou samambaia, cada uma tem seus caprichos. Assim somos pretos,
brancos, amarelos, cristão, muçulmanos, judeus, budistas, homens ou mulheres.
Todos, como cada planta, cobrando um tipo diferente de atenção e todos, sem
exceção, muito amor.
Um jardim mostra tudo isso e muito mais. É
um recanto de lazer. O prazer de ver o sucesso de uma semeadura é sutil,
refinado. Somos estimulados a ter sensações intensas. Perceber o detalhe, aquele
leve traço de um cheiro exótico, as cores em sua combinações refinadas é algo
que só os mais atentos poderão saborear
É fácil ver gigantes e ouvir gritos mas é um
bom desafio sentir a leve mensagem de uma flor.
À medida que exploramos nossos sentidos,
aprimoramos nossas formas de prazer. Tê-los desenvolvidos é uma maneira de
maximizarmos a nossa capacidade de compreensão da vida, da natureza. A música
junta suas sete notas em frases que poderão dizer tudo o que o artista quiser.
Nossos instintos, os problemas do dia a dia,
a luta pela sobrevivência aquecem corpo e mente. Nada melhor que desligar um
pouco e parar para ouvir uma bela composição. Alguma melodia existirá para
dizer-nos que há coisas mais importantes ou que o momento vivido foi divino.
A música, por sua vez, cobra refinamentos,
exige cada vez mais. À medida que a ouvimos, evoluímos, aprimoramos nossos
sentimentos. Assim, por exemplo, aprenderemos a admirar os clássicos, as
melhores vozes, a poesia que o letrista colocou emoldurando notas musicais.
Infelizmente isto nos tornará restritivos, seletivos. Não devemos perder o
prazer das coisas simples, saber compreender que nos primeiros acordes está a
base das grandes sinfonias. Aqui vale o conselho. Cuidado com os modismos,
fases, padrões. Na música a beleza é eterna. Principalmente entre os jovens é
comum o hábito de rejeitar o que não estiver em sua moda. Assim perdem a
oportunidade de estudar, saborear, entender fases de nossa história cultural
muito importantes. Compreender a multiplicidade de gostos exige tolerância,
compreensão para a diversidade com que a natureza se manifesta.
Quem pratica um instrumento musical, canta
ou compõe aprende a ser paciente. A qualidade vem de exercícios intermináveis,
estudos, atenção. Em compensação exercita uma atividade extremamente
gratificante. A música passa a ser tema de conversas, reuniões, festas e
estudos de equipe. O aprendizado musical é um recurso de sociabilização
importante além de desenvolver a sensibilidade. Talvez a maioria das pessoas
não possua dons naturais para o exercício da arte mas quem o tiver deverá
desenvolvê-lo sob pena de perder um tremendo recurso de satisfação pessoal.
Um cuidado a tomar é não apaixonar-se pela
música a ponto de abandonar suas atividades básicas. Na juventude é comum
querer ignorar tudo o que não se aprecia. E na própria música o risco de se
desprezar padrões, que não se ama naquele momento. Um cidadão precisa de
cultura universal, não pode ignorar outras ciências. O conhecimento precisa de
amplitude, profundidade e qualidade para constituir um indivíduo sadio. A
preferência musical mostra como andam nossos hormônios, refletem nossa alma. No
ritmo do coração ou na pressão do sangue procuramos ressonância com nossos
sentimentos. O domínio das artes é a complementação maravilhosa que um ser
humano poderia desejar para a sua vida cultural.
Neste final de século temos a felicidade de
dispor de recursos inimagináveis há algumas décadas. O amante da música com
algum dinheiro terá acesso a um conjunto de melodias e músicas que todos
os imperadores sobre a terra, juntos, jamais tiveram até há pouco tempo. Esta
riqueza precisa ser compreendida, estudada, aceita como um privilégio, entre
outros, da época em que vivemos. Nesse privilégio o poder de extrair lições
importantes. Que essas lições sejam de amor e esperança.
O que extrair desta riqueza? aqueles de nós
que tiverem nascido com potencial para a música tem o compromisso de extrair
desta arte belíssimas jóias.
Vangelis, Kitaro, Chico Buarque, Piazzolla,
Tom Jobin, Vinícius são exemplos de compositores modernos que conquistaram o
direito à galeria dos grandes artistas.
Um cuidado é necessário. A habilidade
musical é um dom natural. Quando muito aprimora-se dentro do espaço definido
pelos nossos genes. Nascemos com o direito de viver em faixas biológicas.
Poderemos chegar ao limite de nosso potencial disponível, ir além só por
milagre. Saber qual a nossa capacidade é a chave de um planejamento feliz.
A atividade artística é muito cruel. Não existe
tolerância para o mau artista. Não interessa quanto se aplicou. Não importa se
gastou todas as suas energias para apresentar o que fez, o que sabe. É
impressionante a violência de muitos críticos. Além disso é impossível
convencer alguém a consumir o que não quer, o que não gosta.
Mas a música é motivo de prazer, excitações.
Tudo o que se estuda servirá, pelo menos, para a satisfação pessoal.
Outro fator importante é o efeito da música
sobre o estado de espirito. Ela pode deprimir, excitar, levar a sonhar com
anjos ou demônios. Por isso é preciso atenção para as opções que se fizer. Uma
escolha errada poderá causar um grande mal.
A música tem sido instrumento de revoluções,
guerras, amores e paixões...
Acima de tudo é um instrumento divino de
comunicação e prazer. Saber usá-la é um ato de inteligência e sensibilidade.
Os livros são o principal instrumento de
aprendizado e a ponte para qualquer lugar de nosso pequeno
mundo.
O que pensava Sócrates, Platão, Zoroastro ou
Napoleão? em algum livro encontraremos o que procuramos ou, pelo menos, o que
for possível aprender. O medo dos ditadores aos livros tem lógica cristalina...
Cada livro é o resultado de centenas de
horas de dedicação, é a manifestação escrita de pensadores, artistas,
cientistas, poetas...Ser caçador de livros, rato de livraria, leitor assíduo é
valorizar sua própria cultura. A programação é feita pelo leitor e tem o espaço
de suas limitações pessoais pois no mundo sempre existirá algo pelo menos
próximo do que pretende. Sempre haverá um livro com informações, poemas,
descrições que nos farão sonhar, viver muitas outras vidas. Com imaginação e um
bom livro poderemos saborear romances e aventuras em terras distantes. Um
grande amor? o sentimento guerreiro? a história das nações? profissões? vamos à
biblioteca e lá encontraremos o que procuramos.
O amor pela literatura é ter inteligência
para encontrar janelas seletivas através das quais veremos o mundo,
conheceremos estrelas e, acima de tudo, quem somos.
Ler e escrever. Lemos para aprender, para
ter prazer e até sofrer. Escrevemos para transmitir, dar, mostrar o que sabemos
e queremos.
A comunicação escrita é perene, resiste ao
tempo se tiver valor para alguém.
Tesouro de grandes idéias ou depósito de sujeiras,
os livros estão aí, peguem, escolham, selecionem.
Escrever é lançar sementes que poderão
vingar imediatamente, apodrecer ou esperar o melhor momento para fazer nascer
aquela planta que sonhamos ver à nossa volta. Escrever é dar de si, é expor-se,
é oferecer o que julgamos ser capazes.
Assim como o cantor sua frio, vence
angústias e sobe ao palco para mostrar sua arte, sujeitando-se a aplausos
consagradores ou vaias arrasadoras, o candidato a escritor deverá apresentar
sua obra na esperança da notoriedade e no risco do fracasso. Até por isto o
desafio tem valor. E o principal é o de oferecer a quem quiser um pouco de si,
mostrando com histórias ou poesias sua visão da vida. O escritor procura o
sucesso da mensagem, a notoriedade, a certeza de ter contribuído com um
tijolinho no grande edifício da nossa civilização.
Ler também é das formas mais discretas de
aprender, de encontrar o lazer, de rever imagens e romances distantes. O livro
é um companheiro silencioso, leal. Estará onde o deixamos.
Ler o quê? por quê? cada momento da vida
exige um pensamento, uma palavra. A poesia romântica, o texto sensual, a
descrição de um grande amor é, e não poderia ser diferente, a forma mais comum
e saborosa de literatura. Nós que procuramos paixões, que sonhamos com aquele
contato ao mesmo tempo fogoso e afetuoso, nós que vivemos de carinhos, tão
importantes quanto a água ou o ar, nós que nos sentimos vazios na ausência
daqueles que amamos, teremos nos livros as estórias e histórias que ansiamos.
A escrita é privilégio do ser humano.
Podemos imaginar animais pensando e até falando mas a escrita é a grande
conquista exclusiva da humanidade após milhões de anos de evolução. Do
humanóide “pitecantropus” ao “homus sapiens sapiens” um longo trajeto foi
percorrido até podermos ver o pensamento humano registrado em papéis, pedras e
couros. Em épocas já muito distantes mas tão próximas, quando lembramos os
milhões de anos do ser humano sobre a terra, surgiu a escrita. Das paredes de
pedra dos monumentos egípcios aos nossos livros foi uma longa caminhada.
Gutemberg foi nosso grande inventor moderno. Sua obra foi o ponto de partida do
grande processo de transformação cultural do mundo ocidental.
Ler, escrever, aprender, ensinar e fazer,
assim caminha a humanidade. Evidentemente poderíamos dizer simplesmente:
aprender, fazer, ensinar. Mas falando de literatura, de cultura escrita,
devemos destacar sua importância, a necessidade e a essenciabilidade de um
processo de formação.
Como saber se um livro é bom?
Além da fama conquistada pelos grandes
autores, temos a nossa própria sensibilidade, nossas necessidades. Começando a
ler, o texto, idéias e propostas deverão ser motivo de prazer. Entra-se em
sintonia com um bom livro. Ele nos envolve, emociona e conquista. Este processo
também mostra se estamos maduros para lê-lo. Um trabalho que não nos interessa
não irá prender-nos.
Na vida profissional existe no livro a
oportunidade de se transmitir o que aprendemos. Infelizmente a literatura
técnica não tem grande valor comercial. Nossos estudantes e escolas pouco têm
para formarem suas bibliotecas. Vale pela contribuição, teste e consolidação de
conceitos.
O mais deplorável seria não se comunicar,
não procurar multiplicar o que se aprendeu de bom. É difícil entender pessoas
que estudam a vida toda e não exercitam suas profissões, não lecionam, não
escrevem, não produzem. Muitos fazem da ociosidade e da inutilidade uma razão
de ser. Que pena!
O mundo moderno é o mundo da informação.
Para ter qualidade deverá ser também e principalmente o da formação. Os
escritores têm a responsabilidade de criar paradigmas e consolidar culturas.
Nossa esperança está em multiplicar e valorizar os melhores para que a
humanidade efetivamente evolua, consolide-se como espécie racional .
De José Ingenieros, Bertrand Russel, Hermann
Hesse, Marcuse, Marx, Engels, Gore Vidal, Joseph Campbell, Jorge Amado, Sartre
e tantos outros filósofos, romancistas, cientistas modernos tenho a mais grata
admiração pelo que me deram de tão valioso: seus estudos, experiências e, acima
de tudo , sonhos.
Os livros, ferramentas do pensamento livre,
são como os amigos. Dentro de uma multidão escolhemos aqueles que gostamos e
queremos. Não podemos viver sem os amigos...
O jovem é um adulto em formação, cheio de
hormônios, conflitos e energia. A agressividade em um corpo que pede ação exige
disputas, desafios e exercícios. Um cérebro precisando de distrações,
competições e a necessidade de afirmar-se, de mostrar personalidade. A
vitalidade de um ser humano em formação e saudável torna-o um animal
sedento de ação. Instintivamente procura desafios, exercitar seus músculos e
neurônios. O futuro de sua vida mental e física dependerá muito dessa fase.
Neste cenário o esporte, em especial aqueles
que mais exigem do corpo, são importantes sob muitos aspectos. O principal
nesta sociedade urbana em que vivemos em gavetas denominadas apartamentos é ser
uma válvula de escape de energias que, de outra forma, poderiam torná-lo um
elemento inconvenientemente agressivo. Canalizar a violência para o esporte
onde o jovem de forma disciplinada lutará é o grande desafio dos educadores. A
luta sob regras é o padrão natural de qualquer sociedade. Aprender a vencer e
perder, eis o que o esporte pode ensinar.
Os esportes coletivos acrescentam o trabalho
de equipe como condição de sucesso. Ótimo! A vida é uma luta constante.
Precisamos ensinar a nossos filhos e alunos como sobreviver. Saber competir em
times é um treino para a maioria das atividades profissionais. Organização,
estratégias, táticas e treinos desenvolvem o raciocínio. Em uma sociedade
civilizada estas batalhas estarão sujeitas a regras severas. No caso do Brasil
uma boa escola seria o jogo de truco, não exercita o físico mas contém todos os
elementos morais de nossa sociedade...
Aprender a perder. Saber lutar, dar tudo de
si, empenhar-se e, diante da derrota ter capacidade de superá-la com dignidade.
As crianças são cruéis, os adultos não ficam longe. A prática do esporte mostra
deficiências. Eu sempre fui um tremendo “perna de pau” , para jogar tinha que
comprar a bola, era a última opção de qualquer escalação. Não é fácil perceber
esta situação. Mas a vida é assim. Alguns nascem com muito, outros pouco tem,
muitos nem a bola possuem.
A natureza nunca foi comunista e o
esporte é uma demonstração disto.
Na prática esportiva sentimos que a vida
apresenta-se em um cenário de lutas. Aos melhores é dado o direito de escolher
primeiro e a eles tudo é permitido. A natureza aprimora-se em um processo de seleção
natural. A competição esportiva é uma amostra deste processo.
O Universo tem ética? moral? qual é a lei
das selvas?
Assim, ao nos dedicarmos a algum esporte
estaremos implicitamente vivendo em um ambiente em que a vida encontra
analogias, desenvolve modelos.
Ganhar a qualquer preço? quanto pagar? como
tratar o perdedor? como saborear a vitória? qual o prêmio?
Vemos nas quadras os instintos humanos em
sua plenitude. Nelas percebemos como é recente a saída das florestas. A
selvageria aflora com uma facilidade incrível e a troco de símbolos, apenas
símbolos.
Mas, viva! O esporte existe e substitui
guerras e conflitos caseiros. Desenvolve o físico, a capacidade de raciocínio,
prolonga a vida quando coerente com a saúde e o físico disponíveis. É
importante que a prática esportiva tenha acompanhamento especializado. O jovem
não imagina quanto seus anos de esporte lhe afetarão o resto da vida. Até as
amizades feitas nas quadras serão valiosas no relacionamento profissional e
social. A prática de algum esporte será um hábito saudável para toda a vida.
Deve-se ter o cuidado de não transformar o
esporte em atividade principal a menos, é claro, que esta seja sua proposta
profissional. É importante uma autocrítica severa para não se desenvolver
ilusões. É muito mais fácil tornar-se um profissional liberal bem sucedido do
que um grande atleta. Isto sem contar que a vida de um esportista exige uma
disciplina difícil de ser respeitada
E tendo sucesso? sem uma boa base escolar e
emocional o atleta arrisca-se a perder-se em um ambiente em que as relações
humanas são perigosamente alienantes. A vida profissional de um esportista é
curta. Seu máximo vigor dura pouco. E depois? como sobreviver? como sentir-se
respeitado? estes aspectos da carreira deverão ser considerados, se não pelos
jovens, por seus responsáveis, os pais. A autoridade dos pais é necessária
quando os filhos perdem-se em prazeres danosos à própria formação.
O fanatismo é uma anomalia freqüente e
danosa ao indivíduo e à sociedade. As cores, símbolos, nomes de clubes não
valem uma vida, uma inimizade. A paixão violenta por algum clube é no mínimo
digna de cuidados médicos ou psiquiátricos pois mostra o nível mental
extremamente frágil do torcedor. É fácil imaginar com que facilidade essas pessoas
transformar-se-ão em “buchas de canhão” em guerras de qualquer tipo. Bastará um
esquema de mídia e lá veremos as filas desses fanáticos marchando para os
campos de batalha. Devemos desenvolver um senso crítico, um refinamento
que impeça fanatismos. As cores ou nome de qualquer time valem como diversão,
passatempo, nunca como motivo de agressões. Infelizmente temos o hábito de
transformar em religião tudo aquilo que se cobre de símbolos, hinos e cores.
Devemos aprender a ter controle sobre nossos sentimentos. Nesse aspecto o
esporte é um bom treino. A paixão por um clube só fará sentido em seu aspecto
lúdico, prazeroso. Nenhum time vale um tapa em quem quer que seja. A
confraternização, a gozação e a brincadeira são atos normais em torno do
esporte. A violência é um afloramento selvagem de instintos animalescos.
Um outro aspecto importante é administrar as
amizades decorrentes deste ambiente. Em qualquer atividade devemos escolher
nossos amigos e companhias. Precisamos saber com quem, quando e como andar com
aqueles que nos cercam.
Uma grande virtude da prática esportiva é
que ela é incompatível com os vícios. A natação, por exemplo, denuncia
rapidamente quem se atrever a fumar, usar drogas. A vaidade estimulada pelo
esporte exigirá disciplina. O exercício constante desenvolverá músculos e
inibirá as tão famosas gorduras. Educar o ser humano a ter disciplina é algo
sensato, vital ao seu sucesso profissional e social. A preguiça é incompatível
com o atleta .
Talvez no futuro a humanidade acabe com as guerras
deixando para as quadras de esporte as competições promotoras de suas vaidades
e negócios.
Finalmente devemos concluir que a prática de
um esporte é necessária e saudável. O cuidado a se tomar será com os excessos e
o ambiente que se freqüentar. Um corpo saudável terá melhores condições de
conter um cérebro capaz. O exercício permanente desenvolverá a inteligência e o
físico.
A capacidade e prática de habilidades que
estimulam nossos sentimentos é divina. Deus manifesta-se acima de tudo no
sentimento de beleza, de harmonia, de estímulos transcendentes. O prazer
sublime transmitido por um belo quadro, uma sinfonia apaixonante, uma poesia
bem elaborada é a mensagem de amor e beleza que precisamos sentir. A capacidade
de ser mais que um simples animal procurando alimento e segurança é maravilhosa
no ser humano. Deus existe? somos feitos à sua imagem e semelhança? se existe,
se é verdade, está em nossa capacidade de admirar e fazer “belas artes”.
E não é tão simples assim. Precisamos
aprender a ver, ouvir, tocar. Nascemos com a ordem de sobreviver, apenas. O
cérebro, à medida que se desenvolve, acorda para o mundo. O prazer, a capacidade
de amar, chorar, rir, ter raiva e amor, de vibrar com o que se aproxima é uma
característica de alguns seres humanos. Assim como é virtude dos mais capazes
dominar esses sentimentos sem, entretanto, inibi-los. Sentir a plenitude das
paixões é maravilhoso. Talvez o coração não suporte tanta pressão mas é vivendo
intensamente que realmente poderemos dizer que existimos. Ao contrário de
algumas posturas filosóficas que pregam a insensibilização e a visão superior,
entendo que a visão humana é nossa e tê-la com vitalidade é bom,
saudável. Devemos apenas ter o cuidado de dominar os sentimentos quando tendem
a prejudicar alguém. O crescimento cultural e moral leva-nos a valorizar a
sensibilidade artística. Dando-lhes o devido espaço, colocando-as em nossa
equação existencial, as “belas artes” tornam-se fonte de prazeres sublimes.
O que procurar no universo das artes?
Muitos as cultivam para se sentirem
superiores, na preocupação de estarem entre os eleitos a uma casta maior.
Outros por compulsão e muitos também pelo simples amor à beleza. De qualquer
modo o estudo e admiração das manifestações artísticas da humanidade criam
laços, aproximam pessoas e povos assim como mostram suas raízes, suas culturas
e personalidades.
Procuramos sempre imagens de beleza,
sentimentos e amor.
O amor animal, selvagem, é uma das
principais formas de motivação. Nem poderia ser diferente. O sexo está no
centro do corpo até para declarar sua importância. A paixão por uma mulher leva
o homem a ver estrelas, a sentir no corpo todo o prazer de sua imagem, voz,
cheiros...O sexo define valores que percebemos e governam nossas decisões,
opiniões. Ignorá-lo é idiotice. Tratar os impulsos sexuais como algo ruim e
degradante é sinal de doença mental.
Com a energia da sensualidade podemos ver as
melhores obras artísticas. Somos animais e não aceitar esta condição é rejeitar
nossa natureza. Assim, compreendendo esta força criadora, muitos artistas
encontraram e acham inspiração para belíssimas composições.
Precisamos mostrar, ver, sentir a beleza do
Universo. Assim fazendo sentimo-nos fortes. Crescemos em nosso átimo de
existência. Tão pequenos, tornamo-nos gigantescos, pelo menos perante nossos
olhos.
Que grande felicidade deve sentir um ser
humano em poder sentir, ser um grande artista. E como são tristes. Toda a
pressão do Universo desaba sobre aqueles que procuram a perfeição. Já não se
disse bilhões de vezes que só Deus é perfeito?
O que sugerir?
Assim como a prática de algum esporte é
saudável e desejável, o exercício artístico também o é. Enquanto o primeiro tem
por objetivo maior o desenvolvimento do corpo, o segundo fortalece o espírito.
Que fazer? que habilidade? sentimento?
Isto vem escrito dentro de nós. Tudo depende
da capacidade que tivermos. É uma das formas natas de inteligência. Faz parte
de nosso “hardware”. A habilidade manifesta-se logo, já na infância. Já a
capacidade de escrever pode ser desenvolvida a partir de uma base comum,
exigindo, contudo, muito esforço. Cada atividade cobra um conjunto de qualidades
e o que o candidato a artista precisa verificar é se tem algo de especial,
alguma característica básica mais apurada. Todo este cuidado é necessário para
se evitar o sofrimento da rejeição, da frustração diante de pessoas que serão
tudo, menos condescendentes com aqueles que não atingirem um mínimo de
qualidade. Tudo depende da capacidade que tivermos de nos conhecer. Não existem
duas pessoas iguais. Cada uma precisa encontrar-se, saber de si. Essa luta, que
começa na corrida do espermatozóide vencedor, prosseguirá por todo o sempre.
Vale a pena? está nos gametas a determinação de vencer, competir, conhecer e
explorar. As artes, as “belas artes”são um desafio. Queremos ter prazer?
sobressairmo-nos? conquistar? lutemos , estudemos.
O artista procura ambientes, cenários.
Aprender com os melhores, desenvolver técnicas. Saber e inovar. Rejeitando
padrões consagrados, muitos conseguem criar outros sublimes. Um aspecto
magnífico das artes é ter em sua base um clima revolucionário. Contrariando a
tranqüilidade da tradição vemo-nos surpreendidos por gênios inquietos,
insatisfeitos, que a cada dia acrescentam algo de valor à nossa civilização.
Gritar pelas cores de um quadro, protestar nos passos de uma dança, mostrar
novas harmonias em uma poesia, eis a revolução sutil. A natureza é dinâmica,
com leis imutáveis transforma-se sempre.
O ser humano diviniza-se em suas
manifestações artísticas. E como ainda são poucas diante do que é capaz a
própria natureza. Procurar a beleza, mostrá-la, socializá-la é fazer da vida
uma sucessão de experiências gratificantes. Vamos lutar para criar espaços,
oportunidades para nossos talentos. A vida tem momentos difíceis e cruéis.
Enriquecê-la com imagens, sons e poesia é ser inteligente, consciente das
oportunidades de ser feliz.
A vida segue padrões, alguns naturais,
outros não. Na luta pela sobrevivência procuramos sinais, artifícios que nos
dignifiquem, que melhorem nossa imagem. Empresas e religiões impõem a seus
súditos o que vestir, falar e até pensar. Uma maneira de explicar é falar em
moda, dizer que aquele padrão o chefe deseja ou Deus mandou.
Ter modelos, até uniformes pode ser bom. Em
uma escola a vestimenta padrão evita a ostentação dos mais ricos. Nos exércitos
identifica batalhões e até serve para fins específicos como a própria proteção
ao ambiente hostil. Para o cidadão comum é uma forma de integrar-se, ser aceito
por uma comunidade.
Um ato de discrição é não colocar-se como
lançador de modas, não ser o primeiro nem o último quando o assunto for o de
vestir-se.
Sob a palavra “moda” também teremos as
novidades. O progresso, a evolução tecnológica cria produtos que se transformam
em roupas, carros, instrumentos do dia a dia. Não sendo propriamente modas mas
aquela última criação tão interessante, aguardada, desperta o nosso interesse.
Assim, pela novidade e oportunidade a vemos e ouvimos por toda parte.
Na política agora a moda é falar em
privatização, enxugamento do estado. No Brasil há um quarto de século a
moda era ao contrário. O país sem infraestrutura, com centenas de
concessionárias diferentes para cada serviço, não se desenvolvia. A solução foi
criar as grandes estatais que em pouco tempo colocaram o Brasil dentro do
padrão que conhecemos atualmente. Há setenta anos o fascismo e o comunismo eram
modas. O nacionalismo exacerbado gerava partidos radicais. O Mundo caminhava
para a Segunda Guerra Mundial.
A escravatura já foi moda. Há um milênio era
normal, lógico, comum escravizar pessoas. Em Roma discutia-se se os índios
americanos teriam alma. Assim os modernismos mudam. Pessoas pobres de espírito
aceitam as idéias do momento como panacéias. Não são capazes de enxergar um
pouco adiante.
Devemos, portanto, não nos escravizar às
modas, aos modelos gerados por pessoas ou grupos muitas vezes distantes de
nossa realidade. Sem falar na gravata, invenção de quem não conhece os
trópicos, vemos em muitos ambientes a obsessão pelos padrões criados em terras
longínquas.
Liberdade, independência, responsabilidade e
respeito, devemos aprender a usar estas bases de uma convivência civilizada.
Até onde somos obrigados a atender um padrão? seguir uma moda?
A submissão gratuita é degradante. A moda em
si, colocada como um padrão obrigatório é renunciar à liberdade, à
individualidade, à inteligência. Significa a aceitação do comando de gente que,
muitas vezes, têm apenas a preocupação de criar rebanhos, ganhar dinheiro
e poder à custa da fragilidade do ser humano.
Sem a intenção de ofender ou agredir devemos
vestir, falar, ser o que achamos de melhor. Devemos acreditar em nós. Ao imitar
ter o cuidado de não estar simplesmente e compulsivamente copiando um produto
inútil, simplesmente comercial. Tendo atenção para não estar sendo
conduzido, usado, poderemos aproveitar as boas novidades.
A moda é explicitamente instrumento de
grandes indústrias, de formadores de opinião, de dominação ideológica. Não é
crime. O erro está em transformá-la em mania, instrumento de agressão, discriminação
e exploração.
Assim como a cor, religião, sobrenome e
classe social têm sido usados pelos mais medíocres como instrumento de
exaltação, segregação e exploração, os padrões mais simples servem de elementos
identificadores dessas ligações. Todo ser humano precisa saber, qualquer que
seja a sua fé, que tem Deus em si e isto basta para amar-se e ser amado.
Roupas, carros, propriedades e outras
exterioridades de poder não diminuem, aumentam a responsabilidade social de
quem os tem. À medida que temos sucesso conquistamos poder para ajudar a tornar
a Humanidade melhor, mais saudável e feliz. Agredir gratuitamente o próximo,
humilhando-o e segregando-o por não ter o que usamos e nem sempre merecemos é
imoral e injusto.
A liberdade deve ser estimulada. Proposta
dentro de um espírito de responsabilidade devemos preservá-la em todos os seus
aspectos, inclusive em tudo aquilo que se vende sob a mensagem prosaica de ser
moda. Devemos exercitar a independência, a liberdade e responsabilidade em
todas as oportunidades de manifestação.
Não podemos aceitar patrulhamentos e
vigilâncias gratuitas. São válidos apenas aqueles padrões a que nos
submetemos voluntariamente ou por força dos limites do direito e do dever de
cada um. Valorizando-se, o indivíduo afirma-se como líder ou sendo alguém que
vive o que acredita por análises próprias.
Viver com independência significa minimizar
fatores de tensão. Seremos presos a tantas cadeias quantas quisermos. Infelizes
à medida que estabelecermos metas impossíveis.
Cuidado, entretanto, com o excesso de
independência, poderá ser instrumento de sofrimento. Enfrentar a sociedade
poderá levar à própria destruição. As classes dominantes são conscientes de
seus poderes e não apreciam insubordinações. Sacerdotes, gerentes, líderes
políticos e generais prometem o inferno aos dissidentes, insubordinados,
descrentes e os mais próximos, “amigos”, parentes e patrões poderão torná-lo
realidade.
Saber o que queremos e quanto estaremos
dispostos a pagar é fundamental a uma vida feliz.
O que somos? de onde viemos? o que nossos
antepassados fizeram?
Tudo na Natureza segue uma certa ordem. Cada
momento, imagem e objeto presente tem uma ligação com o objeto, a imagem, o
momento anterior. Assim vemos nossa história, nossa vida desenvolvendo-se numa
seqüência rica de momentos e cenários de grande valor para nós, pelo menos.
Qual a importância disto? nossa cultura
imediatista e consumista valoriza ações que produzam objetos e riquezas
materiais. Fugimos da introspecção, da valorização cultural em direção da
monetária. Fenômeno compreensível quando vemos que em qualquer clube, sociedade
ou reunião a fortuna material é vista como dignificante e condição necessária e
suficiente para acesso a qualquer honraria.
Mas para alguns interessa saber sua origem,
qual foi o comportamento dos povos sobre a Terra, o que transformou nações.
Outros compreendem que tudo isto poderá ser base para muitas decisões
importantes.
Muito da rejeição ao estudo da história vem
da forma medíocre e primária com que é apresentada e cobrada em muitas escolas.
Até nos vestibulares vemos a História transformar-se em um teste de memória e
conhecimento de coisas insólitas.
A verdade é que neste mundo de grandes
intercâmbios, conhecer a formação cultural, os vícios e virtudes de cada tribo
é necessário para compreendê-las e sermos bem sucedidos nas transações em que
nos metemos.
Na História veremos as origens de nossos
mitos, porque somos ricos ou pobres, nossa base racial e cultural. Conhecendo-nos
poderemos projetar e construir um futuro com maiores chances de sucesso.
Seria extremamente importante que nossos
líderes e formadores de opinião estudassem e analisassem cuidadosamente a
história econômica das grandes potências. Se o fazem, parece terem esquecido
muita coisa. O que é dinheiro? como se forma a riqueza de um país? por que o
Brasil ainda não teve uma reforma agrária? e o capitalismo japonês é liberal?
por que a Europa ocidental teve tanto apoio dos EUA para seu desenvolvimento
econômico e a América Latina suporte para os golpes militares que viveu? Um
fato relevante nos países mais ricos é a forma extremamente egoísta,
nacionalista com que sempre se conduziram. Só abrem fronteiras quando sentem-se
ricos e fortes o suficiente para resistir a qualquer concorrência. E a história
da dívida externa brasileira? por que tivemos uma década perdida? por que tanta
miséria? o que existe por trás da quebra do monopólio da Petrobrás?
A História é o antídoto contra os
fanatismos, os radicais. Superioridade racial, cultural? é só lembrar a
selvageria do nazismo, a morbidez da Guerra do Ópio, as sombrias decisões da
Inquisição. Se tudo isto não bastar vale a pena ler o livro “As veias abertas
da América Latina” de Eduardo Galeano para compreender porque sabemos tão pouco
das civilizações americanas pré colombianas. Nos livros de história também
encontraremos descrições da evolução do Direito, da vida privada, das artes e
povos que marcaram nossa civilização.
A História contém as lições que precisamos
para a vida política sadia.
É terrível ver o produto da ignorância. O
renascimento de posturas radicais em torno de religiões mostra que muitos
esqueceram os horrores de estados inquisitoriais. As ditaduras sempre
precisaram de censores e torturadores para se manterem, como defendê-las? só a
ignorância dessas épocas poderia levar um cidadão saudável mentalmente (?) a
desejá-las de volta.
Estudar e compreender os grandes movimentos
humanos, suas ideologias, costumes e ideais é, na perspectiva do tempo, obter
base para posicionamentos importantes e lúcidos. Neste final de milênio
precisaremos de muita inteligência para entrarmos no próximo século em
condições de melhorar a vida de toda uma sociedade, de fazê-la mais justa e
feliz.
A História que aprendemos em bancos
escolares é, normalmente, a de generais e batalhas. Precisamos ir muito além
disto. Devemos conhecer a evolução do pensamento humano, da vida familiar, de
suas relações burguesas, as grandes utopias, as cidades e seus efeitos. Uma boa
leitura para isto é a coleção “História da vida privada” dirigida por Philippe
Ariès e Georges Duby. Esta obra, editada em português, oferece análises e
imagens extremamente interessantes da cultura européia. Nela saberemos detalhes
das favelas francesas, do ambiente familiar da época dos Césares, da lógica
urbanística e relações de poder. Principalmente nós brasileiros, que costumamos
ver com desprezo nossa cultura, poderemos sentir como o Brasil tem qualidades
notáveis, se comparado a maioria das nações, até aquelas ditas desenvolvidas.
Recentemente a Abril Livros com a Time-Life
Books lançou uma série extraordinária para consumo popular : “História em
revista”. Sem análises de mérito ou de filosofia, descreve, com muitos detalhes
interessantes, as diversas fases da história da humanidade vista pelos
estudiosos do Primeiro Mundo. Isso é sensível pela ausência quase total da
América do Sul nas páginas desses livros. Da mesma forma com que ignoram a obra
de Santos Dumont (por exemplo), a América do Sul inexiste. Nós não passamos de
curiosidade exótica para a grande maioria dos cidadãos norte americanos e
europeus. Os europeus se esqueceram que o extermínio dos povos americanos
aconteceu com as invasões dos “descobridores” e a exploração das riquezas
minerais da América Latina foi a grande alavanca econômica durante séculos da
Europa clássica. Os belos monumentos, as cidades bem construídas, palácios e
teatros europeus tiveram muito do ouro e prata extraídos à exaustão de minas
encontradas nas terras de pessoas que até a denominação de “índios” receberam
por efeito da ignorância dos colonizadores.
A nossa própria ignorância de nossa história
vem também da carência de livros populares e bem feitos sobre o que foi nosso
povo . Não temos obra literária similar às que citamos da história brasileira
mas nosso país merece uma grande análise e exposição. Afinal hoje temos uma
sociedade multi racial razoavelmente harmônica, apesar de denúncias ridículas
de muitos panfletistas mal intencionados. Precisamos, contudo, aprofundar-nos
em nossa cultura para entendê-la. Sua origem foi degradante em muitos aspectos.
Aqui praticamos o genocídio e o escravagismo. Felizmente evoluímos. Estamos
muito melhores que muitos países europeus onde o racismo e guerras religiosas
ainda se fazem presentes de forma violenta.
É impossível conhecer tudo. Mas muito
deveria ser estudado com profundidade. Fatos como a Guerra Civil Espanhola e o
genocídio americano deveriam ser matéria obrigatória assim como a história das
utopias. Todo cidadão inteligente e com poder deveria ter uma base cultural
mínima para, quem sabe, não dizer tanta besteira ou, pelo menos, não ter a
desculpa da ignorância quando viesse a ser julgado por suas piores decisões.
Quando nascemos somos simples e maravilhosos
bebês. O que faz destes projetos de gente figuras tão díspares? a história de
suas vidas poderá mostrar as diferenças, o que levou alguns ao cadafalso e
outros à chave dos carrascos.
Na história das nações veremos o efeito de
idéias, filosofias e ambientes. Alguns povos cresceram para depois submergir. O
que teria levado o povo de Atenas , há dois e meio milênios, ao fantástico
nível de um Sócrates, Platão e Pitágoras? por quê o fenômeno não se repetiu tão
cedo? por quê uma nação que gerou um Goethe, Engels ou um Hermann Hesse
mergulhou no nazismo? qual o efeito da Primeira Guerra Mundial sobre a nossa
vida atual ? é bom sabermos para não repetir erros...
Os meios de comunicação tornam-se mais
poderosos e numerosos. O cidadão atual tem a seu alcance informações que
ninguém há um século imaginaria ser possível. Em qualquer livraria
especializada encontraremos mais recursos que qualquer cientista disporia há
pouco tempo. A falta de informações precisas levou nações a abraçarem as
teorias mais absurdas. Assim a humanidade passou por inúmeras guerras. Nossa
esperança é que a tecnologia diminua esta fragilidade colocando à disposição de
todos imagens e histórias que mostrem o ridículo das posturas radicais.
A História mostra a importância da
liberdade. As grandes guerras foram produto das ditaduras, de imperadores e
ditadores megalomaníacos, muitos deles líderes de religiões agressivas. É
interessante notar atualmente como em países onde existe liberdade de imprensa
há uma preocupação de se evitar escaladas militares. As primeiras lágrimas
mostradas na televisão derrubam a popularidade dos gerentes da morte.
Observamos como a liberdade responsável, a
valorização da cultura e a tolerância são importantes. A própria cidade de
Atenas, o que tinha de tão frutífero 400 anos antes de Cristo? liberdade,
tolerância e democracia. A História da humanidade nos mostra isto. Não é
importante sabê-lo? talvez por isso Atenas não se notabilizou como uma potência
militar. Essa era a qualidade de Esparta, cidade sem liberdade, com padrões de
disciplina e alienação surpreendentes até para a época.
Infelizmente também a História da humanidade
mostra que o interesse individual sempre prevaleceu sobre o coletivo. Não há
demonstração mais inequívoca da “Pirâmide de Maslow” do que a política, a vida
dos povos. Com todos os seus ideais, apesar da base humanista e dos traumas das
grandes guerras, vemos, por exemplo, a Europa retomando caminhos fascistas. Os
ideais socialistas não impediram a China de invadir o Tibete.
A História, íntima da Sociologia, ilustra e
serve de demonstração positiva ou negativa de todas as teses políticas. Ela
mostra com muita clareza o estágio de desenvolvimento cultural de um povo. A
prevalência dos instintos é um fato mais do que evidente em todas as fases da
conhecidas até agora. Nenhuma nação atingiu o patamar da racionalidade muitas
vezes exibido em momentos fáceis. Basta uma agressão ou risco de sobrevivência
e os hinos militares são tocados com violência conclamando todos à guerra.
O jovem do futuro deverá ser mais que um
adulto atual. De alguma forma deverá amadurecer rapidamente pois a evolução
tecnológica e as multidões poderão gerar conflitos terríveis. Diversas vezes
nessas últimas décadas estivemos à beira de uma guerra atômica. Vemos países
super armados comandados por indivíduos sem qualificações morais e até mentais.
Ainda não possuímos uma forma de inibir a loucura de líderes carismáticos. A
tecnologia, de uma maneira especial, colocou nos dedos de certos indivíduos a
capacidade de aniquilar a humanidade. A história mostra-nos quantas vezes
nações tidas como extremamente cultas e desenvolvidas caíram nas mãos de
lunáticos. Conhecer suas carreiras, métodos e os resultados dessas vidas é
muito importante para se evitar repetições. Precisamos encontrar vacinas contra
as guerras, a miséria e a tirania.
Aprender para julgar, saber para comandar,
lembrar para não repetir erros. Este é o nosso desafio, nós que nos
consideramos racionais.
Na vida profissional, sentimental e social
ter bons conhecimentos de psicologia e sociologia ajuda muito. Essas duas
ciências do comportamento humano dão-nos elementos para a compreensão da grande
maioria dos processos que nos afetam.
Citei, por exemplo, a pirâmide de Maslow (
Abraham H. Maslow ) em alguns capítulos. Por quê? de uma forma simples este
cientista mostra que nossas decisões seguem uma seqüência de prioridades da
qual dificilmente escapamos. Saber disto é importante ao se avaliar o
desempenho de qualquer indivíduo ou comunidade. Ao dizer que um ser humano
agirá primeiramente motivado por anseios básicos de sobrevivência poderia
parecer óbvio. Mostrar que outras posturas seguem-na em ordem de prioridade,
naturalmente, será a explicação para muitas atitudes tomadas por indivíduos e
multidões, quando desafiados a agir rapidamente. Na visão de Maslow decidimos
dentro de uma seqüência começando pelas necessidades fisiológicas (alimentação,
sexo, sobrevivência básica de modo geral ), segurança ( sobreviver com
tranqüilidade ), necessidades sociais ( pertencer a grupos, clubes, igrejas,
partidos etc.), estima ( ter a simpatia dos amigos, companheiros, gostar de si
próprio ) e auto-realização, ter o sentimento de que fez e faz, de que é útil,
de que fez o máximo possível dentro de uma visão pública, de que é um campeão.
Nessa etapa Maslow diz “o que um homem pode ser, deve sê-lo”. Pessoas e nações
agem assim. Nossa esperança é que a Humanidade mostre o lado bom das grandes
nações e que suas atitudes apresentem de forma positiva a última escala da
pirâmide de Maslow. Nações fortes e ricas venham apoiar o Terceiro Mundo na
luta contra a miséria. O que vemos, infelizmente, é muito diferente. O que se
gasta em armamentos daria para alimentar e educar cada ser humano sobre a
Terra. O que impede a racionalidade? ou é parte de uma grande estratégia de
poder manter grande parte da Humanidade nos limites da sobrevivência?
Uma outra boa contribuição à análise das
relações humanas é a análise transacional. Lembrar a necessidade do toque
social positivo e demonstrar sua importância é o mérito de Eric Berne em seu
livro “Você está ok? Análise Transacional”. Quem nunca sentiu a dor da
indiferença, do desinteresse de pessoas que admiramos e estimamos? A falta de
correspondência frustra companheiros, amigos e amantes.
A história da psicologia, de um modo
especial, é o relato e a análise da descoberta do ser humano. Muito antes
aprendemos a fazer facas e espadas. Custamos a chegar ao conhecimento
científico da natureza humana. Os especialistas falarão em psicologia,
psiquiatria e psicanálise. As suas três formas têm contribuído para o
desenvolvimento de todos nós. Essas ciências aplicam-se perfeitamente à vida
profissional. Evidentemente algumas para explicar e corrigir patologias, outras
para ajudar-nos a encontrar técnicas de gerência e liderança. Na administração
de empresas um bom livro para começar a ver essas questões é “Psicologia para
administradores” de Paul Hersey e Kenneth H. Blanchard, traduzido pela equipe
do CPB ( Centro de Produtividade do Brasil ).
Principalmente a partir do início deste
século tivemos grandes cientistas do comportamento humano, consolidando as
bases destas ciências. Graças a eles chegamos às técnicas de gerência moderna,
por exemplo, e também, infelizmente, a refinamentos em processos de tortura e
mídia (Goebels) negativa. Mídia? sim, foram extremamente eficazes a serviço de
ditaduras, da exploração do homem pelo homem, da criação de hábitos nocivos a
todos.
Ao mostrarem a existência e efeitos de
nossos instintos sexuais, da estruturação do raciocínio de uma pessoa e da
forma como agimos diante de estímulos os mais diversos, tornaram compreensível
traumas e atitudes de nosso dia a dia. A própria Justiça, na sua preocupação de
administrar leis que devem ser iguais para todos, ganhou colorido em seus
processos. O ser humano não age simplesmente porque é bom ou mal. Uma série de
fatores levam-no a atitudes nem sempre desejáveis mas explicáveis. O sentimento
de culpa, os traumas e nossas reações tornaram-se compreensíveis com
pesquisadores já bastante conhecidos.
Procurar estudar o trabalho de Freud, Jung,
Adler e outros ajudará na compreensão e tolerância de nosso comportamento. Na
vida profissional, de um modo especial, teremos aí excelentes ferramentas de
análise de nossos times.
Já a sociologia, aplicando-se aos grupos,
tribos e nações leva-nos tanto ao conhecimento de sonhos de nossa espécie até
análises de processos recentes como o foram o fim do comunismo na ex URSS e das
ditaduras na América Latina.
É importante procurar conhecer o que
representou a sociedade industrial sobre os povos europeus no século passado. A
escravidão em torno dos teares deu uma boa base às teorias de Marx. As grandes
plantações de algodão na América do Norte e as de cana de açúcar na América do
Sul tiveram efeitos consideráveis em nossa história política e social, gerando
no norte uma guerra de secessão e no sul toda uma estruturação conservadora,
retrógrada. Teorias como as de Auguste Comte foram aplicadas no Brasil. O
Positivismo pesou na educação de nossos exércitos republicanos. Sociedades
perfeitas eram o objetivo de muitos imigrantes. Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro
e até nosso presidente Fernando Henrique Cardoso são exemplos de profissionais
que muito contribuíram para nossa cultura. Principalmente de nosso presidente
esperamos que não esqueça seus discursos e aulas universitárias...
A compreensão dos processos de decisão
individual e coletivo ajuda-nos a ser bons pais, gerentes e companheiros. A
ignorância escraviza-nos a dogmas, religiões e partidos, que nem sempre serão
instrumentos de progresso, tolerância e amor.
Um cidadão não terá capacidade de julgar se
não tiver uma base mínima sobre as ciências que afetam nosso comportamento. A
ausência delas leva-nos a decidir por intuição ou, simplesmente, aceitando uma
liderança nem sempre bem intencionada. Vivemos em uma democracia. Isso nos
obriga a procurar bases sadias de decisão. Nossos votos valem governos, guerra
e paz. Não podemos ser irresponsáveis fugindo à formação básica necessária.
Infelizmente nossos legisladores agem
motivados por fantasias e outros interesses menos publicáveis. A ignorância tem
sido valorizada. Ela é manipulável. Antes de combatê-la, dão-lhes prestígio.
É interessante notar que até para casar os
padres exigem um pequeno curso. Dirigir automóvel leva-nos a testes periódicos.
Para votar, no Brasil, basta saber esticar o dedão borrado de tinta sobre um
papel. Em nosso país o voto é obrigatório para quem souber desenhar o próprio
nome. O que pretendiam nossos constituintes em 1988?
Estudando psicologia e sociologia poderemos
encontrar explicações para esses fenômenos. Substituiremos e sentimento de
frustração pelo de curiosidade sobre processos políticos e sociais. Teremos
como agir de forma mais eficaz.
A vida política, as relações econômicas, as
religiões e seus mitos e o poder sempre seguiram modelos que caracterizaram
ideologias. Esses conjuntos de idéias geraram propostas, partidos e muitos
conflitos. Neste século vivemos a luta entre capitalistas, socialistas e
comunistas. Os monarquistas perderam-se no início, afundando de vez na Primeira
Guerra Mundial. Basicamente tivemos, temos e teremos sempre a guerra entre os conservadores,
detentores do poder, e os progressistas, ou seja, os futuros conservadores.
As lutas ideológicas são naturais mas
penosas, destrutivas, muitas promovendo retrocessos consideráveis. Os
conservadores resistem e com o poder de exércitos convencionais dificultam
mudanças que poderiam ser válidas. Por outro lado esta resistência é
necessária. Um povo não pode mudar suas relações institucionais com freqüência.
As idéias precisam amadurecer, ser testadas e, acima de tudo, devem
corresponder a uma vontade popular firme e consciente.
A radicalização tem sido a rotina da
humanidade. Líderes iluminados defendem ardorosamente propostas que mal
entendem, militantes deslumbrados dão a vida por soluções muitas vezes
contrárias a seus interesses.
Um velho livro, “Princípios fundamentais de
filosofia” de Georges Politzer, Guy Besse e Maurice Caveing, dá uma boa base
sobre o que é capitalismo, socialismo e comunismo. Seus autores colocam suas
simpatias pessoais com paixão mas a conceituação expressa nesse livro é boa.
Percebe-se a necessidade de aprofundamento de teses importantes ao futuro de
nossos descendentes. Infelizmente a radicalização selvagem não ajudou em nada a
compreensão e aproveitamento de todas estas propostas. Vimos as ideologias
mitificando-se e a seus líderes. As liberdades transformando-se em prisões, a
democracia perdendo para ditaduras e os povos regredindo às formas mais
selvagens de individualismos. Agora é politicamente correto falar em redução de
verbas para fins sociais, o povo não deve mais governar-se. O estado existe
para garantir o direito dos poderosos e cobrar os deveres dos mais fracos.
Entre nações o imperialismo volta com toda a força, mais sutil e muito mais
eficaz, colocado nas mãos de janízaros extremamente ágeis na degradação do
estado e na promoção do entreguismo.
Nós, brasileiros, somos sub desenvolvidos
politicamente. Nossos líderes perdem-se em questiúnculas. As grandes teses mal
são discutidas. No Congresso a maior parte do tempo é gasta em discursos
inúteis. As decisões são tomadas no cabresto da ignorância e da preguiça. Para
que estudar se fulano ou ciclano entende? ele decide...
No paradoxo da democracia os mais pobres
apoiam teses conservadoras. Abaixam a cabeça sob o peso esmagador da mídia para
que em seus pescoços se coloquem as cangas desta imensa carroça que é a
estrutura social terceiro mundista, alienante, escravizante na tirania das
elites endinheiradas .
Devemos estudar teorias políticas, direito
dos povos, idéias e formas de aprimorar a vida. Com a mesma preocupação com que
nos empenhamos em compreender uma religião deveríamos estudar ciências sociais.
Queremos votar, participar. Quando depositamos nosso voto em uma urna estamos
decidindo sobre o futuro, contribuindo de alguma forma para o aprimoramento ou
degradação da sociedade. É comum ouvir as pessoas reclamarem dos políticos mas
a qualidade é decisão dos eleitores.
Mas , e as ideologias? o que existe é o
melhor? o que corrigir ou pensar?
De uma forma ou de outra o grande desafio da
Humanidade é encontrar uma forma que viabilize a vida para todos, uma vida
decente e justa. A marginalização de grande parte da população é inaceitável em
um mundo pretensamente racional.
É óbvio que muitas questões terão que ser
revistas, encaradas com seriedade. O planejamento familiar mais cedo ou mais
tarde será questão de estado. A menos que alguma doença, guerra ou catástrofe
natural reduza drasticamente a população sobre a Terra, chegaremos no
próximo século a limites perigosos. Talvez ainda possamos ir muito longe sem
controles mas um dia o sinal vermelho acenderá.
Uma análise que podemos fazer de nossa
sociedade é a que fazemos dos médicos. Não entendemos de medicina, dizemos que
um médico é bom se curar, será ruim se não tiver sucesso. Assim podemos julgar
nossas instituições, resolvem? criaram uma sociedade sadia? alguma coisa está
errada. As diferenças são brutais. A personalidade das pessoas criadas neste
ambiente é deplorável. Será que a humanidade tem capacidade de exercitar uma
sociedade altruísta, produtiva e justa?
Observando-se com atenção o ser humano
veremos do mais pobre ao mais rico a imagem do animal selvagem. A semelhança
cresce assustadoramente quando atingimos seus interesses.
O grande desafio de Cristo não foi vencido :
amar ao próximo como a si mesmo. Como? quanto? quando? por que? Mesmo na forma
mais branda de Zoroastro “não fazer ao próximo o mal que não quiser para si”
não é moda, não é padrão em nossa sociedade.
A humanidade teve muitas utopias. Apesar do
final fascista, compensa ler o livro “Os grandes sonhos da humanidade” de René
Fülöpp-Miller. Utopias ou não as ideologias confirmam-se ou frustram-se diante
dos instintos. A euforia de qualquer povo diante de suas vitórias militares
deixa qualquer humanista perplexo, não interessa o mérito da luta, a vitória
fascina, empolga.
Diante de tudo isto tem sentido propor
sistemas que contrariem nossa índole? como reagirão as futuras gerações? são
questões permanentes que nos obrigam a pensar. E temendo por elas obrigamo-nos
a teorizar. Precisamos discutir à exaustão o cenário “século 21”.
A visão sistêmica da sociedade é necessária,
através dela fazemos análises. Estamos longe, contudo, de dominar todos os seus
parâmetros.
Um grande cuidado que o jovem precisa ter é
contra líderes guerreiros. A juventude é uma fase ingênua da vida. Com
facilidade deixa-se levar pelos pregadores. Em cima de discursos patrióticos,
moralistas e redentores centenas de milhões de moços já caminharam para a morte
nos campos de batalha, nas lutas fratricidas de revoluções que normalmente
terminaram em ditaduras ou, no mínimo, a vidas despedaçadas pelos rancores
gerados por perseguições, torturas e prisões degradantes.
As ideologias servem para o processo
político, devem ser a base de partidos em processos democráticos, livres e
pacíficos.
A democracia deve sempre ser a base de
decisão. A transformação pacífica é o único caminho aceitável. A
violência é o recurso do desespero absoluto.
É preferível esperar a provocar guerras que
destruirão o principal alvo das mudanças : o povo.
Finalmente é bom lembrar que o capitalismo,
o socialismo e a democracia são compatíveis. A Europa tem países em que
administra-se sistemas que são uma mistura das três propostas. Rússia e China
sempre tiveram regimes autocráticos, sem liberdade, sem democracia. Era natural
apresentarem versões totalitárias e ditatoriais do socialismo. O povo perdeu.
A Humanidade, recém saída das selvas, tem um
longo caminho a percorrer antes de atingir o que poderíamos chamar de estrutura
racional, fraterna, justa e decente. Qualquer radicalismo é, no mínimo,
insensato e irracional.
Ter uma opção ideológica é importante pois
será base de decisões políticas. Sem esquecer, entretanto, que estamos longe da
certeza, de termos base para posições severas.
Apesar das platéias quererem convicções,
devemos ter a ousadia de mostrar-lhes a dúvida e propor-lhes passos
inteligentes, sensatos, cautelosos. Um país é como um grande transatlântico:
para mudar de rumo precisa de uma longa distância, uma mudança brusca partiria
o casco.
Nós do Terceiro Mundo devemos primeiro
vencer a batalha do analfabetismo em todos os seus aspectos. Isto é possível
com o que temos. O próximo passo será ditado por este mesmo povo,
pacificamente, interagindo com suas melhores lideranças. A violência só
interessa aos candidatos a ditador.
Estudar e trabalhar honestamente, sempre e
sob todos os aspectos é o melhor antídoto contra o fanatismo. Procurar estruturar
nossas idéias filosóficas sobre a organização do estado é válido para podermos
decidir em quem votar, que propostas priorizar. Qualquer solução, contudo, só
terá efeitos positivos se coerente com a natureza humana e o estágio cultural
em que se encontrar.
Não existe solução única para todos os
povos. O que é bom em um país poderá ser um desastre noutro. Talvez exista um
caminho lógico e evolutivo mas o desenvolvimento exige tempo e condições
favoráveis.
Os países mais ricos têm histórias diferentes.
Alguns se beneficiaram dos privilégios da natureza, da fartura de seus
territórios, outros cresceram principalmente sobre a operosidade e inteligência
de seus cidadãos. Todos eles, contudo, dirigiram suas estratégias de forma
nacionalista, cautelosa, racional. Não se permitiram excessos de qualquer
espécie neste último meio século. Enquanto os de riqueza explosiva
desperdiçaram muito dinheiro, isto aconteceu com a valorização temporária do
petróleo, os países mais experientes administraram suas oportunidades para se
desenvolverem de forma sólida, durável. A grande ideologia tem sido a da
prudência e do respeito e competência administrativa. A distribuição de renda e
reformas institucionais conduzidas de forma progressiva, sem milagres ou
poesias como as da nossa constituição de 1988. Direitos e deveres bem
definidos, benefícios com compromissos claros devem ser a base de propostas
estruturais para qualquer nação.
A Humanidade vem de bases empíricas,
belicistas e de filosofias metafísicas. Procurando melhorar deverá encontrar
leis e padrões de vida decente para todos e, ao mesmo tempo, desenvolver
lógicas de julgamento e valorização pragmáticas, eficazes.
Acima de tudo há necessidade de estabelecer
condições de sobrevivência. O desafio do Mundo em futuro próximo será enorme.
Metrópoles com dezenas de milhões de pessoas existirão em muitos países. A
principal garantia de resistência será o estabelecimento de padrões de
convivência saudáveis a todos os cidadãos. A vida e a educação deverão ser as
grandes prioridades. A liberdade virá como conseqüência. O senso de
responsabilidade deverá estar impregnando cada decisão, atitude, espaço.
A ideologia do futuro ainda não foi escrita.
O ser humano, como qualquer animal, vive
lutando para garantir sua sobrevivência e a de seus descendentes. Esse
comportamento é instintivo, natural e onipresente em nossas atitudes. Estamos
sempre procurando afirmar nossa superioridade, maior beleza, força e
inteligência. O processo de existência é altamente competitivo. Só sobrevivem
com dignidade e riqueza os mais fortes. Desde crianças vivemos uma luta
constante e violenta pela existência. Nosso universo começa em nós mesmos. Quem
se preocupa com a fome dos seres vivos de outro planeta? alguém já rezou pela felicidade
de todos os seres do Universo? Assim procuramos o poder como instrumento de
afirmação, sobrevivência, conquistas sexuais e outras.
O que fascina no Poder? por que tantos lutam
ardorosamente para conquistá-lo?
O Poder é afrodisíaco. Homens comuns passam
a atrair paixões a partir do instante em que assumem cargos importantes, que
desfilam com o carro do ano, mostram possuir grandes riquezas ou, de alguma
forma, mostram-se mais fortes que os demais. Esta característica, por motivos
que o time do Freud explica bem, é essencialmente masculina. Assim como os
homens admiram as mulheres frágeis, carentes e bonitas, as mulheres querem ver
seus amores fortes, conquistadores, vencedores.
Para o ser humano, independente do sexo, o
poder é autogratificante pois o simples exercício da autoridade fá-lo sentir-se
poderoso, seguro. As pessoas modificam-se, apresentam comportamentos
inesperados. Indivíduos humildes tornam-se arrogantes, mestres queridos
acreditam-se deuses quando conquistam poderes maiores. É louco, perturba,
transtorna, modifica.
O Poder também decepciona. À medida que
crescemos começamos a ver as pessoas em todas as suas fraquezas. E como se
mostram frágeis, corruptas e sensíveis a qualquer benefício. Principalmente os
mais incompetentes e malandros procuram favores daqueles que estão nos postos
mais elevados pois esta é a maneira mais confortável de sobreviverem. A
bajulação é constante. O uso em benefício pessoal do Poder é natural para esses
indivíduos que não sabem respeitar aqueles que têm a força do comando. Para os
parasitas o Mundo é um espaço de exploração predatória em benefício pessoal,
até porque não têm capacidade de produzir, de serem úteis. O isolamento dos líderes
responsáveis é uma realidade. Arriscam-se a tornarem-se indivíduos solitários,
eremitas. Perdendo amigos, rejeitando a hipocrisia, a bajulação e percebendo
com muita clareza as fraquezas daqueles que o cercam, deles se afasta por
repugnância ou incapacidade de uma convivência gratificante.
Um grande exemplo do efeito do Poder sobre
as pessoas foi a Revolução Francesa. Sob os ideais de liberdade, igualdade e
fraternidade tivemos líderes que lutaram pelo povo, defenderam os ideais
revolucionários ardorosamente, com o risco da própria vida e enormes
sacrifícios. No topo de suas carreiras fizeram do terror o nível de igualdade e
o padrão de amizade era, no gume da guilhotina, a delação. Exercitaram a
fraternidade dos cemitérios. Enlouqueceram no prazer sádico de suas palavras. O
povo nas galerias de suas assembléias, sedento de vinganças inúteis e dono de
verdades que mudavam voluvelmente, induzia seus deputados aos excessos que
enterraram a frágil democracia e muitos franceses.
O Poder conquistado e sustentado
democraticamente é recente. O ser humano ainda não aprendeu a exercê-lo com
eficácia e respeitando as regras do jogo que vence ao ser eleito. A
transformação de personalidade da maioria dos eleitos é impressionante. Muito
pelo efeito dos bajuladores, o chefe assume a postura de novo rei. Cobra
vassalagem. Exige honrarias e tratamentos muito acima de seu real valor. Sob o
pretexto de exercer autoridade coloca suas vaidades acima da lógica
administrativa. Suas decisões têm por finalidade sua segurança pessoal e
não o benefício do povo.
Ter força, liderança sobre pessoas, põe o
homem comum em níveis de autoridade que o fazem sentir-se Deus, realizador,
árbitro, coletor e predador da natureza. O seu exercício enlouquece os mais
fracos, corrompe os de caráter mais frágil, revela instintos e permite aos
melhores mostrar sua capacidade de aprimorar a vida, a empresa, a nação. Essas
pessoas sentirão o isolamento a que se submetem por terem a responsabilidade de
decisões muitas vezes agressivas, desagradáveis. Administrando empresas, nações
ou famílias toma-se decisões que freqüentemente constrastam com os interesses
imediatos de pessoas nem sempre preparadas para ouvir um não.
Na natureza os poucos bons líderes
demonstram que alguns exemplares da raça humana são civilizados, sadios,
responsáveis, cientes de suas responsabilidades, feitos à imagem e semelhança
de Deus...O resto, infelizmente, é prova de nossa imaturidade para o exercício
da autoridade conquistada nas urnas, na vida profissional e na família.
Tornam-se demonstrações das teorias darwinianas, tão preocupadas em achar elos
perdidos...
Em campanha as promessas são de respeito ao
cidadão, à liberdade, à justiça. Nos palácios o discurso muda. Sentados nas
poltronas dos chefes, indivíduos, não mais que seres humanos, travestem-se de
seres supremos, donos da verdade, exemplos divinos da perfeição. Perfeitos e
trágicos carrascos ou palhaços!
A realidade impõe ver e considerar o que a
História mostra. Conquista-se o Poder por hereditariedade, corrupção, política,
dinheiro, trabalho, tráfico de influências. Um fato visível na história da
humanidade é que mais importante que a forma com que se atinge o Poder é a sua
utilização. Grandes reis, presidentes e generais chegaram ao cume do Poder de
forma impublicável. Com autoridade foram brilhantes, eficazes. Conquistaram a
simpatia e o respeito do povo.
No Poder a responsabilidade pesa, o ambiente
muda, novas relações se estabelecem. Aí teremos um teste de maturidade, da
capacidade de filtrar, decidir, selecionar. Com o tempo percebe-se quanto é
solitário o Poder e como é difícil que antigos amigos e companheiros
compreendam a finalidade do cargo, o que dele se espera, e como poderiam
colaborar.
Infelizmente até nossa educação religiosa
leva-nos à bajulação, à hipocrisia.
Amar a Deus sobre todas as coisas. Como?
realmente O amamos? poucos cristãos teriam a coragem de dizer o contrário mas
nas blasfêmias e na própria vida mostram que assim não sentem.
Esta educação cínica e hipócrita acaba
mostrando resultados negativos nas relações de Poder. Na vida política vemos
uma luta constante pelo Poder e, paradoxalmente, a inconsciência do seu uso, o
desperdício de oportunidades que poderiam estar sendo usadas para o bem da
Humanidade.
O povo, os miseráveis, as nações anseiam por
competência, resultados.
Nossa sobrevivência sempre dependeu e sempre
dependerá da capacidade positiva de nossos líderes. Acima de pequenas questões
está a necessidade de termos bons governos, gerentes e líderes que garantam
nossa sobrevivência. Com todos os defeitos que nossos grandes chefes forem
capazes de possuir, desejamos, sonhamos, rogamos, pedimos, encarecemos ter
deles competência positiva. Principalmente nós do Mundo subdesenvolvido
perdoamos falhas de caráter, ignoramos erros e desonestidades mas ansiamos por
eficácia. A miséria é muito mais uma conseqüência da incapacidade de se gerar
riquezas do que, dentro do discurso esquerdista, efeito da má distribuição de
renda. Os países mais miseráveis são aqueles que caíram escravos de filosofias
messiânicas, contemplativas, passivas. Observando-se nações com religiões mais
desafiadoras, materialistas, mais terrenas veremos que tiveram mais sucesso. A
população cresce, e muito. Se antigamente havia espaço para a irresponsabilidade,
agora precisamos de mais seriedade e objetividade. Precisamos encontrar
soluções para alimentar bilhões de pessoas. A poluição, a destruição da
natureza é mais evidente nos países pobres. Lá não têm outra forma de
sobreviver que a utilização predatória dos recursos naturais. A tecnologia
social, industrial, agrícola precisam ser mobilizadas para o resgate de
populações imensas. A humanidade não tem tempo a perder. A consciência
coletiva, a percepção da importância de cada ser humano, esteja ele no interior
da África ou no centro de Paris é algo moderno, atual, no mundo das infovias,
das comunicações. E em todos existe o medo do futuro.
No passado a humanidade teve riscos
elevados. As pestes, a fome eram rotina. A diferença do mundo atual é a
capacidade de mobilização, as massas alertas e informadas e a capacidade de
destruição total.
Assim já não se despreza a imagem, a visão
que outros povos terão. Neste processo ficamos sabendo se um asteróide irá
chocar-se contra a Terra, se alguma epidemia está se desenvolvendo na Índia, se
os alemães estão respeitando os imigrantes que eles atraíram para seu país no
passado. Se na Ásia, lá no Japão surge um grande líder, aqui o saberemos. Será
visto em milhões de lares em todos os continentes. Suas idéias divulgadas. Suas
propostas analisadas e cobradas por milhões de pessoas.
A Civilização foi, é e será marcada pela
capacidade de cobrança de resultados, pela eleição de líderes, pela conquista
de novos espaços e de uma vida melhor. O Poder diante de pessoas esclarecidas,
informadas, será testado em sua capacidade de transformá-las em multidões de
cidadãos em condições de ter uma vida decente, digna e saudável.
Nós brasileiros temos exemplos de uso do
Poder que o povo amou e detestou. Quem contesta a liderança de Don Helder
Câmara? Juscelino Kubitchek? Pelé? Jorge Amado? Betinho? para falar apenas dos
bons líderes, pessoas de que nos orgulhamos e que enriqueceram nosso país.
Seus defeitos particulares e até políticos
ficaram pequenos diante da contribuição que deram para a felicidade e
dignidade de nosso povo.
Diante de tudo isso o jovem deverá refletir
muito sobre sua possível pretensão política ou gerencial.
Nas empresas, longe da visão crítica da
mídia, este problema é pior, mais medíocre, mais fácil de apresentar perversões
de toda ordem. Muitos gerentes e empresários tratam seus subordinados de forma
humilhante, agressiva, descarregando neles todas as suas frustrações. Longe da
vigilância pública e com poderes enormes muitos criam ambientes com padrões os
mais indecentes, doentios.
Livros, especialistas e escolas alertam
constantemente para a necessidade de disciplinar gerentes. O sucesso das
empresas depende muito da capacidade delas se organizarem de modo a ter um
ambiente sadio e produtivo.
A luta pelo Poder só tem significado justo
quando em benefício daqueles em nome de quem o exercitaremos e para quem ele
foi estabelecido.
O exercício decente e produtivo do Poder é
uma demonstração de cultura, educação e caráter.
Disputar cargos é uma pretensão legítima
quando se tem a convicção de poder exercê-los com eficácia. O excesso de
humildade atrapalha. Avaliar-se no time, no ambiente em que se procura o
gerente, o chefe, é importante para a luta. Sentindo-se em condições de assumir
o comando é justo pretendê-lo. Seria um erro ético contra a empresa ceder, sem
disputa, para um menos capaz.
As empresas, a sociedade como um todo, só
evoluirão se os mais capazes tiverem interesse e disposição para comandá-las.
No processo democrático o Poder conquista-se
pelo voto, pela ação política, pela disputa. É um caminho penoso, cheio de
armadilhas. O candidato pretende cargos, espaços em que exercitará sua
capacidade de legislador ou de executivo. Para isso lutará, enfrentará
adversários, negociará, apresentar-se-á em palcos, palanques e auditórios. Mas
tudo isso deverá ter por objetivo o povo. Ele é a nação que procura líderes,
que pede governo.
A Democracia precisa desta disposição para a
liderança. É um sistema que se baseia na competição. Lamentavelmente tem sido
estruturada de modo a depender do poder econômico, o que restringe em muito o
acesso ao Poder. Principalmente nos estados menores o império dos grupos
econômicos é perfeitamente visível. Jornais, televisões, clubes e ruas lhes
pertencem. Apesar das dificuldades, aqueles que tiverem a oportunidade e
qualidades para a peleja democrática deverão fazê-lo. É um pedido a que se
transformem em mártires da República.
Lutar pelos cargos de comando e exercitá-los
com competência e dignidade é um compromisso com a vida.
A riqueza material, o dinheiro, é o
instrumento de poder mais comum e eficaz. Existimos em uma sociedade em que o
dinheiro compra tudo. Tê-lo significa penetrar em todos os lugares, ocupá-los
com deferências, respeito. Não importa muito como a riqueza foi conquistada. Se
de forma impublicável, dirão que foi produto da ousadia, da esperteza. Ter
riqueza material diante de um povo empobrecido, faminto, é ter a oportunidade
de “dar esmolas”, fazer “caridade”. O estranho é ver muitos agradecendo receber
como esmola o que lhe foi tirado de forma inescrupulosa. A ignorância, o medo e
a passividade de muitos contribui para a eternização de estruturas sociais
injustas.
O poder do dinheiro é sentido com grande
intensidade em um ambiente em que ele compra a mídia, administra a comunicação.
A democracia torna-se uma ficção em uma sociedade em que a censura via
patrocinadores existe a ponto de bloquear completamente a manifestação
ideológica de grupos contrários aos detentores do poder. Exceto em alguns
países de alto nível cultural e grande tradição de liberdade, a democracia é
uma ficção. Grandes potências militares e econômicas vivem sob o império das
elites mais ricas. A monarquia deu lugar aos grandes proprietários. Eles mandam
na opinião pública, ditam as regras políticas e administrativas em seus mínimos
detalhes. Se antes as nações eram propriedade de imperadores, agora o são de magnatas.
O aspecto positivo dessa aristocracia é que
ela se estabelece pela competência. Muitos fizeram riqueza pelo trabalho,
inteligência e competência. A democracia capitalista é um grande espelho da
natureza. Só sobrevivem os mais capazes. Ela é dura e tem dentro de si um
processo impiedoso de seleção natural. Até onde isso é válido é uma questão
delicada, importante. O futuro da humanidade depende muito de encontrar-se uma
alternativa a esse processo “natural” de sobrevivência.
O que temos como Justiça? o que se pretende
nos tribunais? existe Justiça?
O Direito e a Justiça são a grande marca da
civilização, indicando com clareza o grau de desenvolvimento de um povo e da
própria humanidade. As diversas formas de aplicação da Justiça mostram a
racionalidade, a honestidade e, enfim, a dignidade do ser humano em seu
ambiente. O grau de desenvolvimento de um povo poderá ser medido pela qualidade
de seu sistema judiciário, no aprimoramento ético de suas leis e no respeito
que seu povo tiver por seus tribunais.
Produto cultural de cada povo mostra as
características filosóficas e materiais em que vivem. Assim também em muitos
países formalizam violências de toda espécie. Nos países mais atrasados a
Justiça é a principal arma dos poderosos. É também uma grande indústria de
papéis, emprego para cartorários, bedéis e outros...
Em países formados por bandidos a Justiça é
estruturada para defender criminosos, assassinos. Nestes cenários os direitos
do homem só existem a favor dos delinqüentes e poderosos. A Justiça é lenta,
confusa, cara, dependente de armações de toda espécie. Nesses ambientes as
penas mais severas são temidas pois nada mais são que instrumentos de
chantagem, racismo, agressões primárias. A pena de morte, tão necessária nesses
países sem recursos para manter penitenciárias, acaba rejeitada pela certeza de
se transformar em mais uma arma contra os pobres e rivais políticos, religiosos
e econômicos.
Nações imaturas têm na Justiça um grande
problema de solução remota. Os poderosos aproveitam-se do império da impunidade
( dos ricos ) para perpetuarem-se no poder e o fazem até no comando da própria
Justiça.
Um detalhe interessante nestes países é a
figura dos juizes. Cultivam um espírito corporativo exacerbado pois dele
dependem para manter a pompa e mordomias que tanto apreciam. Sabem que não têm
outra defesa a não ser seus órgãos de classe e a elite dominante para
protegê-los. Do povo nunca teriam a simpatia, a defesa de seus privilégios.
Deve ser terrível para um cidadão
esclarecido viver num país sem Justiça, corrupto, venal.
A Justiça, enfim, mostra a qualidade de um
povo, de seu nível cultural...
Roma preserva ruínas que desaparecem aos
poucos mas sua contribuição para o Direito é um marco eterno na história da
humanidade.
No mundo moderno, super povoado e
intensamente competitivo, a Justiça é base para a construção de todas as
transações, relações. Os Estados Unidos da América do Norte são um bom exemplo
disto. País de tantos advogados tem no exercício do Direito uma de suas
atividades profissionais mais valorizadas. A estabilidade e a forma com que o
cidadão norte americano faz valer seus direitos tornam sua pátria um lugar
invejado e desejado por milhões de estrangeiros.
No Brasil já possuímos uma grande tradição
jurídica. Ainda recentemente vimos como se aplicam os conceitos do Direito em
uma ditadura. Esta cultura extremamente rica espera por constituintes e
juristas para ajustes e modernização.
Para o jovem que inicia sua carreira
profissional a serviço da Justiça é bom que reflita sobre a responsabilidade
que terá pelo resto de sua vida. Em condição idêntica à do médico, o advogado,
promotor ou juiz terá uma vida de sacrifícios e compromissos penosos. É uma
atividade apaixonante pelos desafios que contém mas que absorve inteiramente
quem a ela se dedicar.
A responsabilidade de defender, acusar ou
julgar alguém deve pesar duramente sobre a consciência do profissional.
Há muitas maneiras de sobreviver. Antes de
se iniciar em uma profissão devemos analisar todos os seus aspectos, positivos
e negativos. Optar pelo Direito deve vir de uma paixão sincera e honesta pela
Justiça. Nunca como simplesmente uma forma de ganhar dinheiro.
E o futuro? como será um tribunal? um
julgamento? temos uma grande esperança nos computadores e na inteligência
humana. Como utilizá-los? evidentemente haverá necessidade de tornar a Justiça
mais objetiva, pragmática e menos prolixa. Com facilidade poderemos automatizar
muitas análises, economizar muito papel. A simplificação da forma de análise
não é fácil mas a genialidade de nosso povo poderá aplicar-se nesse sentido em
benefício da Humanidade. Precisamos de leis inteligentes e cobranças eficazes.
O que esperar da Justiça?
Primeiro, por pior que seja, é necessária. A
justiça faz parte de nossas vidas sob diversas formas, independente da cultura
e da condição social. É interessante notar que as pessoas mais humildes
costumam ser muito severas. Elas que têm tão pouco, que trabalham duro para
sobreviver e sustentar seus filhos, sentem-se agredidas, ofendidas diante de
bandidos. Estes, com muita facilidade, destroem aqueles.
O segundo é o da esperança. A Justiça deverá
aprimorar-se, tornar-se mais eficaz e coerente até nos países hoje atrasados. É
um processo universal. O interesse das grandes potências passará pela imposição
de suas estruturas e conceitos nesta área. Vivemos fases poéticas mas a luta
pela sobrevivência trará nossos líderes para a compreensão de que até para eles
será bom ter a Justiça funcionando bem. Com o aprimoramento dos meios de
comunicação conscientizamo-nos de nossas deficiências e virtudes. Com certeza
evoluiremos.
O terceiro argumento a favor da Justiça é o
de que a verdade prevalece. Ela que pretende e deve ser a expressão da verdade,
da aplicação correta do Direito, encontrará formas de melhorar. A organização
falha satura, denuncia-se. De dentro e de fora surgem pressões. As contradições
acabam exigindo soluções. Assim a Justiça enriquece-se de elementos que
contribuirão para a sua evolução. Nada é perfeito. A Justiça, pelo que se
propõe, estará sempre muito longe da perfeição. É uma tarefa complexa, julgar.
Finalmente o que se deve esperar da Justiça
e de seus profissionais é o empenho no aprimoramento de suas atividades.
A vida, o ser humano sem Justiça não será,
não poderá ser considerado civilizado, racional. Nosso desafio permanente é
lutar para que a Justiça evolua, seja uma realidade gratificante.
Nunca é demais lembrar que a Justiça plena,
pura, é incompatível com as ditaduras. Seus famosos tribunais revolucionários
constituíram-se em caricaturas terríveis e, infelizmente, continuam existindo
em muitos lugares deste planeta.
Felizmente o Brasil retomou o caminho da
democracia e da liberdade. Temos seqüelas deste período mas passo a passo
recuperaremos o tempo perdido. Graças à liberdade, à comunicação global, ao
próprio turismo nosso povo começa a perceber o que está errado, o que precisa
ser corrigido.
Iniciamos um período de revisão
constitucional. Nosso Presidente, premido pela urgência das reformas econômicas
deu-lhes prioridade. A inflação gigantesca que suportamos durante tantos anos
traumatizou nosso povo. Combatê-la é uma vontade popular e, assim, nada mais
democrático que concentrar esforços neste sentido.
A reforma de nosso judiciário, entretanto, é
uma necessidade urgente. A delinqüência, a criminalidade cresce
assustadoramente. A impunidade é um estímulo à sua propagação.
Problemas sociais são a principal razão
deste fenômeno agravado pela cômoda visão de que a nação é responsável pelos
desatinos de cada um. Se alguém tem dez filhos logo se coloca a questão de que
o estado deve-lhe oferecer escola, saúde e recursos para sustentar sua prole.
As crianças não têm culpa mas seus pais não são orientados em direção a
atitudes mais responsáveis. O resultado é a miséria, as favelas, a
criminalidade crescente e a incapacidade de nosso sistema judiciário atender a
todos os desvios dessa multidão.
Em paralelo à reforma de nosso sistema penal
e judiciário devemos desenvolver um trabalho de conscientização em torno de um
comportamento mais responsável. Até no esporte vemos nossos comentaristas
elogiando a indisciplina, a irresponsabilidade, a molecagem...
De qualquer modo, independentemente das
razões que levam nosso país à crise em que se encontra, o aprimoramento da
Justiça é necessário. A modernização de nossa sociedade e a necessidade de
vivermos em um estado em que as leis sejam efetivamente respeitadas exigem o
aprimoramento de lógicas, processos e instituições, em especial a nossa
Justiça.
A incompetência política e administrativa
dos nossos líderes mostram seus resultados em nossa sociedade. A criminalidade
cresce, os marginalizados somam milhões de pessoas, os mais ricos vivem
prisioneiros entre seus muros e cercados de guarda costas. As diferenças são
tão grandes que os mais pobres para sobreviverem partem para a delinqüência, a
marginalidade. Neste nível os piores crimes acabam acontecendo. Empresários da
notícia encontram aí uma boa fonte de renda e prestígio. Indústrias de armas
faturam como nunca. Demagogos elegem-se em cima de discursos radicais e
inúteis.
O Brasil é um país que produz meia tonelada
de cereais por habitante e por ano. É um dos maiores produtores de carne e um
dos lugares de mais baixa densidade demográfica sobre a Terra ( áreas
férteis ). Exportamos para importar carros de luxo. Quinquilharias as mais
diversas são adquiridas e pagas com as exportações de alimentos. Nossas instituições
não estimulam maior racionalidade. A mídia apresenta a todos os
quadrantes deste país a indolência, a frivolidade e a malandragem como modelo
de Brasil. A figura do Zé Carioca é apresentada como do cidadão tipicamente
brasileiro. O Carnaval é estimulado. Induz-se populações a aceitar padrões de
comportamento distantes daqueles trazidos por seus avós. A padronização
cultural por baixo, em paradigmas degradados, é a glória de muitos donos dos
sistemas de comunicação brasileiros. E eles mesmos depois se apresentam
surpresos com os resultados. Quanto cinismo!
Neste cenário é natural a altíssima
criminalidade, a falta de espaços nas penitenciárias, a insuficiência das
forças policiais. Não há polícia no Mundo capaz de enfrentar um povo
desesperado num país rico. O pior é que esta nação tem oportunidades incríveis
a quem estiver disposto a trabalhar, a enfrentar a vida com um pouco de
criatividade e seriedade e for educado para fazê-lo.
As altíssimas taxas de natalidade
estimuladas por líderes irresponsáveis geram o problema da falta de escolas,
saúde e assistência para milhões de famílias, que não encontram solução para
seus apertos, frutos da ignorância que não vemos acabar, só crescer.
Nesse cenário ouvimos discussões como a da
pena de morte e do aborto.
Em torno da pena de morte podemos
desenvolver um raciocínio importante na avaliação da própria Justiça. O que é
lícito, justo, correto? Como tratar os bandidos?
A Justiça erra quando coloca a questão “é
inocente ou culpado”. Basicamente ninguém é culpado e a conseqüência é que um
bom advogado consegue provar a inocência ou encontrar atenuantes para qualquer
criminoso. Ninguém escolheu os pais que teve, a sociedade em que nasceu ou a
saúde que possui. Mas a penalização é necessária para intimidar, inibir futuros
criminosos e a reincidência. É a vingança arbitrada, uma compensação às
vítimas.
No Brasil, com a preocupação de evitar
injustiças, os processos são lentos. O formalismo e as normas processuais
exigem recursos que a maioria dos brasileiros não possui. O resultado é o
aumento da criminalidade e fragilização da vida social. Um dos aspectos
tenebrosos da falta da “vingança formal” é o surgimento dos “justiceiros” e dos
linchamentos. A falta de fé na Justiça e a desconfiança no policiamento leva
muitos a agirem por conta própria, aumentando os riscos de violências absurdas,
à margem da Lei.
Um dos problemas diante do crime crescente é
a falta de recursos para combatê-lo. Por que não implantarmos a pena de morte?
a penalização financeira? a redução das penas com reclusão?
Ouvindo debates vemos que muitos defendem a
prisão perpétua. Por que a nação deveria gastar tanto dinheiro com um criminoso
irrecuperável? para que ele fuja e mate ou estupre mais pessoas inocentes? qual
é a prioridade? gastar dinheiro com aqueles que ainda não partiram para a
criminalidade ou investir em penitenciárias caríssimas para garantir os
direitos de pessoas irrecuperáveis, com altíssima chance de novos crimes?
Os legisladores brasileiros partem do
princípio de que os recursos financeiros são ilimitados. Criam
interminavelmente mais e mais obrigações para o governo. Quem paga? é o próprio
povo. O brasileiro precisa ter consci6encia de que o governo não faz milagres.
Na aplicação da Justiça esta é uma realidade concreta. Qualquer processo tem custos.
Todo criminoso custa uma fortuna à nação.
Precisamos com o máximo de urgência ter o
bom senso de encontrar soluções e parar com poesias. Nossa juventude, de uma
maneira especial, pode vir a desenvolver propostas melhores do que aquelas que
aplicamos, partindo de nossa experiência. As soluções aplicadas no Brasil não
têm dado resultado. Não é por falta de recursos para as questões sociais. Para
evitarmos a miséria há produção e capacidade de trabalho suficientes. O Brasil
é um país suficientemente rico para sustentar seu povo e com gente capacitada a
encontrar suas soluções. Não podemos, entretanto, passar a vida com utopias
inúteis. A punição de criminosos é uma delas. Os grandes bandidos têm
tratamento privilegiado. Com toda a violência de que são capazes, dominam os
ambientes em que vivem, inclusive penitenciárias. Nossas cadeias são escolas do
crime. Locais em que se organizam e de onde partem para escaladas criminosas
cada vez maiores. Menos pela eventual culpa que carreguem do que por suas atitudes
e mais pela necessidade urgente de reverter as estatísticas do crime, devemos
com urgência implantar a pena de morte e formas mais ágeis de julgar e punir,
de modo geral. Eliminando as piores cabeças elas não serão mais instrumento do
crime organizado. Atitudes exemplares contra os piores delinqüentes inibirão
outros. A redução das penas sobre pessoas e crimes menores é também muito
importante. Abriremos espaços para um maior número de punições. A cadeia não é
o lugar para “pagar” crimes mas para inibir sua reincidência. Sempre que
possível deverá ser substituída. É que nem hospital. Quase tão perigoso quanto
ficar sem internamento é o próprio hospital onde as infecções matam uma boa
porcentagem dos pacientes. Assim são as cadeias, destroem as pessoas, as que
escapam com saúde física (mental é impossível) terão grande dificuldade em
arranjar emprego. Normalmente voltarão ao crime para sobreviverem pois foi isto
que aprenderam nas celas e é o espaço que a sociedade lhes terá reservado.
Evidentemente a solução para o crime não é
simplesmente aumentar ou diminuir os castigos formais mas evitar que crianças
cresçam em direção à marginalidade. A grande solução é a educação e a criação
em ambientes em que o amor, a disciplina e o trabalho sejam a regra.
Cada família precisa ter dimensões e base
para se sustentar. O planejamento familiar, entre outras coisas, é muito
importante. Não podemos acreditar que a nação seja a responsável pelas
fantasias sexuais de qualquer casal. Os meios de comunicação concessionários
deverão pagar o direito adquirido educando positivamente a população. A
programação de televisões e rádios não pode ser livre mas objeto de um plano de
desenvolvimento material e moral da nação. Falar em liberdade nessas áreas é
ignorar a violência com que entram em qualquer lar. São serviços para os quais
pede-se concessão, por que não exigir em contrapartida que tenham qualidade? A
liberdade de imprensa está ligada à vontade de usá-la, tê-la. A imprensa
escrita tem o filtro da decisão de adquiri-la. Há um esforço considerável e
necessário para atingi-la. Assim chega-se a uma condição de discernimento e
seleção. A imprensa eletrônica, ao contrário, está dentro de casa a partir do
momento em que se instala o aparelho. Na ausência dos pais os filhos tem acesso
a tudo o que é transmitido. E muito do que se faz nas telinhas e se diz via
microfones é oportuno, saudável. O culto à moda associado à mídia de posturas,
idéias e propostas indecentes cria padrões de comportamento deploráveis.
A liberdade existe e é sagrada nas praças,
na literatura, nos ambientes de acesso voluntário e seletivo. Os meios de
comunicação deveriam, sob lei marcial, serem mobilizados para a reversão dessa
cultura estúpida e imoral, que tomou conta do país. Brasil que venera chantagistas
porque foram mestres na arte de explorar a pena ou a imagem para conseguir suas
porcarias. Nação que assim o faz porque tem sido educada a “levar vantagem
sempre”.
O grande desafio das próximas gerações será
encontrar novas formas de inibir a criminalidade. Será aprender a eliminar os
criminosos irrecuperáveis. O Mundo superpovoado deverá encontrar padrões de
educação mais eficazes sem agredir as liberdades básicas do cidadão decente,
trabalhador. Nunca esquecendo os riscos, o câncer do racismo, da xenofobia, do
fanatismo religioso, esportivo e outros, estruturando-se para a estruturação de
uma sociedade sadia, teremos em futuro próximo problemas monumentais em torno
do Direito, da Justiça.
Nesses cenários provavelmente a “pena de
morte” será reconsiderada. Nos EUA isso tem acontecido. Infelizmente
constata-se a inutilidade dos tratamentos amenos, tolerantes com os
superbandidos. Toda a dinâmica de nossos processos na Justiça deverá ser
agilizada e racionalizada. Temos que acabar com a valorização da palavra bela e
inútil, inibir o corporativismo de profissionais do crime que, de um lado e de
outro, se organizam para tirar o máximo de proveito da fragilidade de nosso
povo. O planejamento familiar, o desenvolvimento do espírito de paternidade
responsável deverá ser estimulado. A educação será o grande caminho para
fugirmos à essa catástrofe social que já vemos em metrópoles como o Rio de
Janeiro e São Paulo.
Sem maniqueísmos deveremos encontrar no
culto à responsabilidade, ao trabalho e à seriedade a solução para nosso povo.
Direcionando a mídia e os demais processos educacionais no sentido do progresso
material e moral encontraremos formas de garantir uma vida decente a todos e a
redução do crime ao mínimo suportável.
O que todo ser humano realmente deseja é ser
feliz. Quem se esquece disto acabará concluindo que errou, que terá
desperdiçado sua vida. Note-se que a felicidade é algo distinto do sucesso
profissional. Os caminhos são diferentes ainda que, eventualmente, próximos.
A fortuna de ser feliz é algo infinitamente
mais sutil do que parece. Por estarmos em uma sociedade consumista
estabelecemos metas diárias em que a felicidade coloca-se em conquistar, ter,
usar. Esquecemos que a felicidade é produto principalmente de uma disciplina,
da capacidade de aliviar tensões, de sentir-se bem e satisfeito consigo
próprio.
A felicidade existe para aqueles que
aprendem a ver, sentir, tocar com amor. Existe graça e mistério num simples
pedregulho, na folha de um arbusto qualquer, nas asas de um pássaro. O paraíso
está neste horizonte. O sentimento de equilíbrio e sintonia com a natureza dá a
integração divina com o Grande Arquiteto. Infelizmente embotamos nossos
sentidos e sentimentos nas cidades. A violência é tão freqüente que vira estatística.
Os compromissos profissionais e sociais governam nossas vidas que passam,
consomem-se.
E quando não atingimos essa capacidade de
sentir e de amar viramos máquinas seguindo por trilhas estéreis.
Nossos sentidos emitem mensagens que
precisamos interpretar. Nosso cérebro é programado primariamente para nossas
necessidades básicas. Junto ao ambiente que vivemos acrescentamos outros
parâmetros, novas equações
O que somos biologicamente? somos
descendentes dos povos mais violentos, do produto de um processo seletivo muito
severo. Nossos ancestrais conquistaram a Terra, lutando entre si e contra a
natureza. Não é de estranhar, pois, a dificuldade que sentimos para a simples
contemplação, para com paciência admirarmos nosso ambiente. Nossos impulsos são
violentos, nossos instintos exigem conquistas permanentes. Temos muitos
fantasmas em nossas mentes. Isso tudo cria dificuldades na busca da felicidade.
Mas queremos e devemos ser felizes.
Devemos conciliar o desejo de progresso, a
necessidade de sobrevivência com padrões de comportamento que nos libertem de
ansiedades e angústias inúteis.
Muitos caem nas drogas. A solução
química torna-se um pesadelo.
Nossos instintos nos governam gerando
prazeres que poderão ser base de muita felicidade. Um casal que se ama tem no
sexo uma forma divina de satisfação. E deste amor a formação de uma família com
grandes chances de ser feliz. O amor pela companheira(o) é extremamente
gratificante e natural. Um jovem que inicia sua vida adulta deve refletir muito
sobre esta questão. O amor sexual trará felicidade à medida que o jovem for
capaz de cativar e manter a seu lado alguém que ame e lhe dê a oportunidade de
desenvolver-se como ser humano.
A vida poderá submeter nos a muitas
provações. Nesses períodos precisaremos dominar sentimentos negativos e ter
paciência. Com o tempo as cicatrizes fecharão. Até a morte traz a esperança de
compensações. Nesses momentos a fé em uma outra vida, acreditar em Deus,
ter uma religião ajuda muito. O conforto da crença em uma vida futura melhor
ajuda o ser humano a enfrentar a morte sua e de seus entes queridos.
De qualquer forma os últimos momentos de
vida serão eternos. Sem referências de tempo, o coração parado e o sangue
esfriando nas veias, o cérebro mergulhará na inconsciência através do céu ou do
inferno. Estas duas alternativas estarão ligadas aos últimos sentimentos.
Chegar lá com tranqüilidade, com a certeza do dever cumprido, com amor em volta
e na mente será uma forma de estar no paraíso...
A conquista da felicidade talvez um dia
surja como uma preocupação generalizada. Estranhamente fala-se pouco sobre esta
questão com objetividade. Insinua-se ser este ou aquele o caminho mas,
possivelmente por efeito de crenças mórbidas, a felicidade parece ser
pecaminosa, lesiva ao espírito humano. A mídia também se encarrega de criar
falsos valores. Instrumento do dinheiro atende os interesses dos
patrocinadores, a vítima é o espectador.
Com ou sem religião o ser humano precisa de
uma estrutura filosófica. Ao formá-la devemos ter o cuidado de valorizar o
amor, a tolerância, a paciência. Com inteligência e bondade construiremos um
edifício lógico em que viveremos com prazer, felizes por termos nascido e
estarmos tendo a oportunidade de ter uma vida de alguma forma gratificante.
Ser feliz é ter capacidade de suportar
agressões sem a neurose da vingança, renunciar a luxos fora do alcance pessoal
sem angústias ou invejas, saborear com prazer o prato que nos oferecerem, ver
com admiração o céu e a terra que nos envolvem.
A felicidade é o produto da bondade e da
sensibilidade positiva que tivermos. Tendo-a seremos saudáveis, amigos, gente.
A vida é curta, não seria inteligente
desperdiçá-la com rancores, frivolidades, preocupações inúteis.
Amar e ser amado é privilégio da bondade,
caridade, delicadeza, sexo e imagens que se cria ao longo da vida. Vamos
colhendo o que plantamos. Envolvendo pessoas podemos conquistá-las,
apaixoná-las e a nós mesmos. A vida ganha cores, flores e odores. A felicidade
cresce à medida que ativamos nossos sentimentos e de forma positiva vemos os
aspectos bons de cada situação, pessoa e momento. Ser feliz é uma demonstração
de uso adequado de nossa inteligência, tornando-a instrumento de disciplina a
nosso favor.
.
Sentir-se responsável é uma obrigação de
qualquer pessoa consciente do que faz e na medida que percebe sua capacidade de
agir.
O sentimento de responsabilidade além dos
limites das necessidades básicas de sobrevivência é uma característica humana
superior. Serve como indicador de civilização. Talvez mais importante que
qualquer outro parâmetro, este sentimento é a base da grande sociedade humana.
Cristo deu-nos o grande exemplo. Fez-se homem e nesta condição transmitiu sua
mensagem de paz e amor. Torturado e crucificado, deixou-se morrer na cruz para
o perdão dos pecados da Humanidade. Filho do Criador sentiu-se responsável pela
obra de seu Pai. Mito ou verdade o exemplo vale como demonstração do que
deve ser nossa grande diretriz. Estranho, entretanto, é ver tantos pregadores
propondo o ódio, a segregação, o inferno para os adversários...
Muitos grandes líderes, políticos e
profissionais cresceram exatamente por sentirem-se comprometidos com um
processo, com a conquista de resultados além daqueles suficientes à própria
sobrevivência. O perceber-se responsável é uma demonstração de compromisso e
maturidade. Quando acertarmos e errarmos estaremos fazendo algo com boas ou más
intenções. Conscientes acrescentaremos à nossa vida imagens, realizações e
sentimentos que caracterizarão nossa personalidade. A tentação para negar a
culpa de erros existe sempre, o prazer de assumir a autoria de coisas boas é
grande.
Podemos enganar muita gente mas não
conseguiremos esconder de nós o que somos.
Desenvolver-se fortalecendo-se para assumir
responsabilidades e desfrutar da liberdade com o sentimento dos limites
naturais e éticos é o desafio de todo jovem.
Vivemos uma época em que o culto à liberdade
colocou esta questão em segundo plano. Um exemplo eloqüente é a defesa do
aborto. É mais fácil e comercialmente interessante promover a matança de
crianças a estimular o controle da concepção, o planejamento familiar sadio. A
televisão, o cinema, a música e a literatura de modo geral promovem e exaltam relacionamentos
irresponsáveis. Em nome da liberdade tudo é permitido. A televisão, de uma
maneira especial, é um péssimo veículo de comunicação. Os interesses comerciais
de seus concessionários são soberanos. As estatísticas governam a programação.
Não interessa o efeito . O que importa é o que vende mais.
É lamentável notar o sucesso de propostas
criminosas. É também compreensível o número de pessoas que defendem o aborto. É
a lei do menor esforço. É mais agradável ceder aos instintos do que
administrá-los. Outro exemplo é a velocidade dos carros nas cidades e estradas
deste país. Apesar das dezenas de milhares de vítimas a cada ano, pouco se fez
para efetivamente reduzir os riscos desta loucura institucionalizada.
Precisamos trabalhar para que isto mude. De
novo podemos dizer que a sobrevivência da humanidade depende de comportamentos
com mais amor, justiça e responsabilidade. Precisamos encarar com mais
objetividade, voluntariedade e coragem o papel que nos couber. Ele será tão
grande quanto for a nossa capacidade.
O senso de responsabilidade é a voz da
consciência que nos cobra atitudes. Muitos escapam dela rezando, procurando
confessionários. As Igrejas fariam um grande favor à humanidade se colocassem a
compensação social como única forma de remissão dos pecados. Para que
confissões? para rezar pedindo perdão de coisas que serão repetidas? basta o
travesseiro, a noite mal dormida para mostrar o quanto erramos. Perdão? vamos a
uma “pena de Talião” positiva. Fazer um bem que compense o mal produzido.
Ter responsabilidade é, antes de tudo, não
errar deliberadamente, procurar contribuir positivamente, construtivamente. A
vida passa e por onde andamos deixamos marcas. Que sejam sinais de um
benfeitor, um lutador pelas boas causas, um bom pai, um grande profissional.
Vivemos um grande período em que a luta
ideológica foi pretexto para muitas violências.
A década de 60 foi muito rica em lideranças,
propostas e utopias. Quem teve a oportunidade de senti-la politicamente tem
hoje a satisfação de lembrar movimentos fantásticos. Havia por trás questões
ideológicas pesadas. A Guerra do Vietnã mexia com a juventude. No Brasil
terminamos a década no início do período militar e seus censores. A década de
70 mostrou o peso das experiências políticas de nossos companheiros, amigos de
todos os lados. Alguns mortos, outros neuróticos, viciados e desempregados,
outros felizes, empregados , ricos.
Neste final de século deveremos perceber que
a fraternidade será essencial à análise e correção da sociedade humana.
Nossa esperança é o aumento da capacidade de
raciocínio. O desenvolvimento da inteligência fará com que as pessoas tenham
mais chances de compreender a importância do respeito mútuo e da necessidade de
agir, de contribuir para o sucesso de todos.
Desenvolver um espírito de compromisso com o
aprimoramento da vida é um ato de inteligência, competência e amor ao próximo.
As batalhas dignificam os soldados. Muitos
morrem, outros voltam com a glória da vitória ou a vergonha da derrota. Maior
vergonha, contudo, fica para aqueles que fogem da luta, escondem-se, não se
expõem deixando para outros a carga da sua própria defesa e sobrevivência.
O sucesso em qualquer circunstância é o
prêmio dos que lutam. Vencer não é para os preguiçosos, medrosos, derrotistas.
A luta deixa feridas, machuca, dói. Vencer significa ter um objetivo,
perseverar e lutar. A vitória não cai do céu. A vida é uma grande marcha.
Poderemos caminhar em círculos, rodeando o berço em que nascemos. Poderemos também
marchar para novos horizontes, abrir novos espaços. À medida que avançarmos
entraremos em terrenos desconhecidos. Mergulharemos em grossas neblinas na
curiosidade de saber o que existe além, mas também arriscando-nos a cair em
despenhadeiros. A coragem será a grande ferramenta desta luta. A inteligência o
instrumento da vitória.
Todos querem ser respeitados. É bom merecer
a atenção, ser amado por multidões. Tudo isto significa esforço, sacrifícios. O
grande político, o atleta famoso, o médico respeitado, o advogado temido são
exemplos decorrentes de vidas de dedicação. Muitos dissimulam esse esforço. Até
por vaidade poderão dizer que as coisas vieram naturalmente. Não é verdade.
Talvez com prazer pelo amor à carreira mas com muita dedicação venceram.
Ao topo da montanha há muitos caminhos mas o
sabor da subida depende das dificuldades encontradas. Vencer significa
derrotar. Faz parte de nossos instintos competir. É uma lei natural. Dela veio
a evolução, o aprimoramento das espécies. O ajustamento progressivo à natureza
em transformação é conseqüência desta compulsão à luta, à conquista. Assim a
natureza seleciona os melhores.
A luta faz parte de nossa vida, vencer ou
perder é a rotina de quem vive valorosamente..
A luta nem sempre é contra outros seres
humanos. O alpinista luta contra a montanha, supera barreiras naturais. O
aleijado que se exercita para recuperar sua antiga capacidade mostra sua garra
de lutador. Procurar superar-se é o maior desafio de qualquer ser vivente. Quem
não leu “Fernão Capelo Gaivota”? a ficção exemplificando uma luta
esplêndida...Na vida real, em tempos recentes, talvez o maior exemplo seja o de
Gandhi. Com toda a sua fragilidade física e material liderou e venceu o
poderoso império inglês à época em um grande processo de libertação de um povo.
Nossa maior guerra é contra nós mesmos.
Valorizando nossas limitações perdemos na partida, antes da luta. Há pessoas
que ao chegar à idade adulta adquiriram a personalidade do perdedor. Ouvi-los é
escutar uma sucessão de expressões tais como : “não tenho sorte”, “sou doente,
não posso”, “ninguém me ajuda”, “não tenho tempo”...Serão indivíduos que
viverão abaixo de suas capacidades, que desperdiçarão oportunidades, chegarão
ao final da vida infelizes, lamentando a falta de sorte, de oportunidades que
não quiseram ver.
Superar-se é o grande desafio. Fazê-lo
depende apenas de nós mesmos.
Outro aspecto importante é o seguinte : um
ser humano poderá produzir mais do que consome, menos ou tanto quanto. Óbvio?
sim, mas importantíssimo. Todos sentem o que custam e ninguém será realmente
feliz na inutilidade. Está em nosso coração esta preocupação. A inutilidade
reflete-se em doenças comportamentais e psico somáticas. Vencer na vida é uma
expressão de muito significado onde o principal é lutar para ser feliz, para
sentir-se realizando. Quantos exemplos poderemos ter em grandes empresários. Do
nada construíram grandes empresas gerando milhares de empregos. Estes merecem
estátuas, nomes em ruas e praças, enfim, o registro de uma história que não se
escreve. Os promotores do trabalho viabilizam a vida, a dignidade. Vencer é
conquistar o respeito de todos por um trabalho produtivo, antes de mais nada.
No passado, entre selvas e tribos hostis, os grandes guerreiros eram paradigmas
de valor. À medida que a Humanidade cresce em sua capacidade de pensar e as
guerras perdem significado, percebemos o valor daqueles que usam toda a sua
criatividade para produzir alimentos, casas e cidades, aparelhos e empregos
para o bem estar e sobrevivência da Humanidade.
Assim poderíamos dizer que há diversas lutas
possíveis. Como utilizaremos o tempo dependerá de nosso caráter, capacidade e
visão. Não podemos viver sem desafios mas devemos escolhê-los para não
desperdiçarmos um tempo valioso, principalmente quando há tanto a fazer.
Mas, como vive o lutador? muitas vezes
enfrentando a hostilidade de perdedores, a inveja e vinganças. Devemos aprender
a andar sobre as nuvens. As tempestades deverão ser superadas com dignidade,
coragem, paciência.
Nada deverá afastar-nos de uma boa luta
exceto sua inutilidade.
Na natureza admiramos as planícies e
montanhas mas chama-nos a atenção aquelas que de alguma forma conseguem ser
diferentes. No verde das florestas uma orquídea fascina por sua beleza e por
ser uma planta rara. Na multidão algumas pessoas são percebidas por qualidades
físicas ou sociais diferentes. Procuramos aquela bebida, aquele programa que
trás algo especial. A mesmice incomoda, irrita. Cair na rotina significa morrer
antecipadamente. Quem se lembra de um dia comum? é como se não o
tivéssemos vivido. Nossa existência é a somatória de dias e anos especiais, o
resto desaparece tão rapidamente quanto custou a passar.
Tornar a vida rica em imagens, sons e amores
é um ato de inteligência e determinação. O casamento é um bom exemplo desta
disposição. A falta de inspiração e vontade em torná-lo uma sociedade
empreendedora a dois afasta, esfria, apaga, leva o casal à separação.
Na vida profissional a mediocridade é um
câncer muito freqüente. É difícil entender como pessoas que estudaram tantos
anos acabam mergulhando em uma atividade sem expressão, porque não assumem
riscos, porque se escondem atrás de grupos de trabalho e comissões para não se
exporem, não acrescentarem nada. Um problema sério é que esses mesmos
indivíduos fazem questão de ganhar, receber benefícios que não conquistaram.
Não lhes peçam ousadias, responsabilidades. Conseguem gastar dezenas de horas
em reuniões intermináveis para delas saírem como entraram ou até piores porque
nelas um convence o outro da importância de suas inutilidades. Dão charme à
burrice, pompa às besteiras que escrevem. A mediocridade é irmã gêmea da
estupidez e da covardia. O profissional medíocre estuda para confundir, para
esconder-se em seu medo de assumir posições. É impressionante a capacidade
cínica desses indivíduos. Com uma desfaçatez incrível apresentam “trabalhos”
que envergonham suas profissões. Projetos absurdos passam por essas comissões
sem qualquer dificuldade. A única preocupação é agradarem seus chefes, não se
comprometerem.
Muitas empresas desaparecem, perdem
competitividade, deixam de conquistar mercados por não perceberem a necessidade
de evoluir, de se ajustarem a novas exigências, por se submeterem aos pobres de
espírito. Uma das razões é a cultura conservadora, inibidora de talentos. Um
argumento muito usado em uma empresa desta espécie é : “mudar por quê? sempre
funcionou assim...” Outro recurso dos dirigentes dessas empresas são os famosos
planos estratégicos, “democráticos”. Qualquer erro poderá ser atribuído à
equipe, ou seja, a ninguém. À medida que dependerem de consenso, e o consenso
só existirá quando os menos inteligentes do time compreenderem as propostas a
serem feitas, a companhia estará se amarrando, perdendo tempo, oportunidades. O
fundamental para muitos executivos é o salário, status, não os resultados. Por
quê preocupar-se com o sucesso das empresas? ao final terão seus currículos.
Boas companhias resistem a maus períodos. Os acionistas podem ser ludibriados, bons
relatórios enganam bem...
Neste final de século a tecnologia impera.
Quem não corre fica para trás. Quem não se atualiza, perde espaços. A ciência,
de uma forma prodigiosa, enriquece-se em todos os setores. Não há uma área do
conhecimento humano que não possa evoluir, aumentar resultados. A informática,
de uma forma incrível, oferece recursos espetaculares. No Brasil, graças à
estúpida “Lei da Informática”, perdemos oportunidades, tempo. Agora, no
processo de abertura que vivemos, temos ao nosso alcance um mundo gigantesco,
apenas esperando que o alcancemos. O que surpreende é a mediocridade de muitos
de nossos líderes. Falam em progresso e, ao mesmo tempo, impedem o acesso a
informações, imagens, lugares onde poderíamos aprender, evoluir. É interessante
como esta última e terrível década afetou muitas cabeças. Não gaste, não viaje,
não compre ferramentas, computadores, corte despesas. Esquecem-se que para
ganhar é preciso gastar, investir. Cortam justamente os recursos para
desenvolvimento de culturas, inteligências. Muitos de nossos políticos e seus
gerentes vivem um mundo medíocre e tentam fazê-lo nosso.
Lutar contra a mediocridade é lutar para
existir. A vida ganha colorido, sabor e sons quando a desenvolvemos dentro de
processos não convencionais. Evidentemente os riscos são maiores mas ao
contrário teremos a certeza de uma vida perdida. Estudar sempre, procurar
aprender em todas as oportunidades e tudo o que for possível é uma forma de
adquirirmos elementos para criar algo. As oportunidades surgem quando menos
esperamos, devemos estar preparados para acrescentar qualidade ao que
estivermos fazendo.
Acima de tudo devemos lutar para melhorar a
vida nossa e de nossos companheiros. Quantos pararam para pensar em quanto é
importante tornar a vida mais bonita? enfeitá-la? colori-la? enchê-la de sons?
Vemos catedrais, monumentos e grandes
jardins sabendo que significaram o sacrifício de grandes populações. Valeria a
pena viver sem essas demonstrações de arte? o povo, o maior sacrificado, não se
orgulha do que suas cidades possuem? o que se esconde por trás disso tudo? não
é a vontade de ser diferente? de ser, estar, possuir, participar de algo
especial? no íntimo de todos nós existe uma declaração de guerra à
mediocridade.
A vontade de ser diferente é uma
demonstração de criatividade. Ser diferente é ser corajoso, ser desigual porque
lutamos para ser melhores. É ter a centelha divina do avanço, do crescimento em
direção à luz.
Aproximando-nos do fogo arriscamo-nos a
queimaduras mas, quanto mais perto chegarmos, mais de perto veremos a luz e
seremos iluminados..
Na história da humanidade, desde as tribos
mais primitivas até hoje entre povos mais atrasados, o comando baseia-se na
força física, poder das armas e na exploração de crenças míticas. Caciques,
generais, reis e sacerdotes cobrem-se e cercam-se de pompa, símbolos, recursos
os mais diversos para mostrar a todos que seus poderes também derivam de uma
vontade divina, transcendente. Súditos e crentes querem ver em seus líderes os
favores dos deuses. Acima de tudo temem desagradá-los e seus reis e sacerdotes
lhes aparecem como testemunhos e interlocutores desta ligação.
O resultado disto é um grande afastamento
destes líderes de seus liderados. A linguagem afetada, as guardas armadas, tudo
contribui para uma definição rígida de classes estabelecidas, na visão deles,
transcendentemente.
Felizmente o processo civilizatório, a
liberdade e a própria Democracia pouco a pouco transformam estes modelos.
Estamos chegando ao momento de mostrar que o
valor de uma pessoa não está em suas roupas, cargos ou sobrenomes. Valeremos pelo
que fizermos, pela nossa capacidade e produção. Pela força de nossas palavras e
não pela pomposidade e sofisticação realizaremos algo, mostraremos nosso valor.
Precisamos resistir à tentação do poder
fictício.
A humildade valoriza o poder. A espontaneidade
com que se revela mostra a segurança da autoridade, do domínio de qualquer
atividade. O grande líder impõe-se pelo respeito que manifesta na imagem
conquistada em batalhas vencidas, obras realizadas. A falta de humildade mostra
insegurança, ignorância, medo do contato direto. A competência no exercício de
uma profissão faz do profissional uma pessoa respeitada e admirada pelo que
realizou e sabe fazer. O poder de determinar ações é inerente ao cargo e ao
respeito adquirido. Quem o tem, usando apenas duas pequenas palavras ( sim ,
não ) transformará seu ambiente, sua empresa e, quem sabe, o Mundo. Do chefe
cobrar-se-á apenas competência, seriedade e honestidade.
A humildade não é ser pusilânime, fraco,
transigente.
O grande líder sabe quando precisa ser duro
sem perder a ternura (Che Guevara). O bom gerente comanda sem ofender
desnecessariamente. O grande comandante sabe integrar-se à sua tropa, falar,
brincar, sentir suas dores e alegrias sem perder o controle da situação.
A história de Jesus Cristo não nos mostra
nenhum momento de soberba, empáfia. Não usava paramentos nem incensos para
dizer suas palavras divinas. Sua força estava na verdade, na lógica, na
coerência. Infelizmente esta talvez tenha sido a lição mais difícil e tão
poucos a aprenderam.
As inutilidades do poder desviam a atenção
para o que é importante. Valorizá-las significa desperdiçar tempo e energia com
detalhes sem valor. O Poder é precioso. Cada minuto poderá ser gasto em algo
produtivo. Não é preciso ser muito inteligente para descobrir o que fazer. As
deficiências de qualquer empresa ou governo são tão grandes que qualquer pessoa
medianamente racional poderá contribuir muito. Basta ser honesto, corajoso e
prático.
Quanto ganhamos trabalhando com simplicidade
e objetividade...
Evidentemente existe o ritual do poder,
mínimo necessário. Dependendo do momento devemos respeitar formalidades e
cerimônias em torno dos líderes. Ainda temos necessidade dessas fantasias. Suas
dimensões, contudo, dependem da inteligência e cultura dos liderados.
A humildade é saudável. A arrogância cobra
seu preço. Gera inimigos que mais cedo ou tarde cobrarão as ofensas recebidas.
A ostentação custa caro também em trabalho. Gasta-se para mostrar o que outros
não precisam ver.
Agredir gratuitamente é procurar inimigos
sem necessidade. Qual a felicidade em tê-los? Podemos nos avaliar pelo tamanho
dos inimigos que conquistamos. Não os queremos mas aparecerão à medida que
existirmos. Estes são inevitáveis, por quê ter mais? A humildade pacifica.
Exercida com inteligência, aproxima pessoas, permite-nos desarmá-las,
mostrar-lhes que não lhes queremos mal, que não é nosso propósito destruí-las e
sim, quando muito, corrigi-las ou até segui-las. Afinal, quem é dono da
verdade?
Ninguém é tão ruim quanto nos parece ou tão
bom quanto queríamos que fosse. Este é um dito popular com toda a sabedoria da
vida. A tolerância vem da compreensão de nossa fragilidade.
A Bíblia tem um bom exemplo no episódio do
apedrejamento de uma mulher pecadora. Quando Cristo desafia os presentes a que
a primeira pedra só fosse atirada por quem não tivesse pecado, ninguém estava
naquela condição de pureza e ela saiu viva daquele episódio....
A humildade vem principalmente da
compreensão da natureza humana e de nossa própria vida. Nossos méritos são
muito menos nossos e muito mais o produto de uma série enorme de fatores
alheios à nossa vontade.
Ter a humildade em nosso coração é fazê-lo
saudável, bom e feliz.
Ser humilde é mostrar pelas nossas atitudes
o respeito e o amor que temos pelo próximo.
Virtude dos sábios, a paciência torna-se uma
qualidade de grande valor nos momentos difíceis, durante uma vida em que estamos
sujeitos a períodos de glória e de derrota. A consciência de que o tempo passa
e que com ele vem soluções para a maioria dos problemas ajuda a superar
questões delicadas. Lembrar que sempre haveria uma hipótese pior ajuda a
suportar fases ruins da vida.
A paciência leva à tolerância diante de
atitudes desagradáveis, pouco inteligentes. A consciência de que cada animal
emite sons característicos de sua espécie leva-nos a não nos revoltarmos contra
os latidos dos cachorros, os miados dos gatos e os grunhidos dos porcos. Afinal
esses são os sons que podem fazer...
Saber esperar é ter capacidade de pensar e
aguardar o melhor momento para agir. Pensando mais encontraremos soluções
melhores. O momento adequado para cada decisão vem com o tempo; é preciso esperá-lo
e agir com firmeza quando surgir a oportunidade.
O jovem, principalmente, precisa educar-se a
ter paciência. Naturalmente agressivo, ousado e impaciente expõe-se a muitos
acidentes que poderiam ser evitados. Os pais e educadores devem treinar seus
dependentes a ter calma, a refletir mais antes de cada aventura. A prudência é
conseqüência da capacidade que tiver de esperar a melhor oportunidade, melhores
condições.
Há um momento certo para cada processo. A
vida sucede-se em fases que exigem amadurecimento, preparo. Querer antecipar
experiências, atitudes e compromissos é perder a chance de um melhor
desempenho, uma vida mais feliz e saudável.
Na vida profissional ter calma e capacidade
de agir apenas quando necessário ou desejado é uma qualidade importante, muito
útil ao profissional e à empresa. Desafios e agressões são freqüentes,
enfrentá-los com domínio da situação é um grande “handicap”. Perder a calma, o
autocontrole, é uma falha imperdoável em muitos cargos de comando. O “sangue
frio” é necessário para suportar pressões que muitas vezes têm como único
objetivo desestabilizar-nos.
Um empresário ao iniciar sua empresa deverá
ter disposição para esperar sua consolidação. O início de qualquer indústria,
atividade comercial ou de serviços exige tempo para se firmar. Se a semente for
boa ela germinará mas precisará de tempo, ambiente e cuidados adequados.
Tendo-se competência e disposição para o trabalho as oportunidades virão e o
pequeno empreendedor poderá mostrar a que veio. O empresário impaciente não
saberá aguentar os períodos difíceis, apertar o cinto, garimpar serviços.
É fácil imaginar quanta paciência é
necessária ao alpinista que deseja escalar altas montanhas. Um grande cirurgião
depende dela para dominar-se e concluir com êxito as operações mais demoradas.
Um arquiteto não poderá concluir com sucesso sua obra se não tiver disposição
para a cada dia discutir com engenheiros e operários o projeto que desenvolveu.
O estudante não será bem sucedido nas provas se não tiver paciência para estudar
horas e horas, dias e dias até as provas. Provas que se repetirão monotonamente
até concluir seu curso. E terminados os estudos o jovem profissional ainda
precisará de muitos anos até gozar do prestígio dos bons.
A paciência é uma qualidade extremamente
afetada pelo estado emocional de uma pessoa. Suas glândulas também contribuem
muito para as reações que tiver. Sabendo disto um indivíduo inteligente
administra seus riscos, exposições, evitando colocar-se em situações perigosas
quando não estiver em condições de fazê-lo. É o caso de andar armado ou não.
Uma pessoa agressiva arrisca-se muito e também aos outros se usar armas
regularmente. Por motivos fúteis poderá desencadear uma tragédia que lhe
destruirá a às pessoas que o provocarem.
Métodos existem para suportar pressões sem
violências. Um deles é a prática de esportes físicos. Ao enrijecer os músculos
tornamos o cérebro mais elástico, ao exercitá-los atenuamos tensões. Os povos
orientais têm técnicas milenares para o desenvolvimento mental e pacificação do
espírito. Conscientes da necessidade de suportar grandes pressões e tristezas
aplicaram-se no desenvolvimento de exercícios e processos de meditação, que
preparam a pessoa para as dificuldades da vida. Outro recurso é a minimização
da agressão. Simplesmente não valorizando uma ofensa, ignorando uma atitude
descortês, além de inibir uma reincidência, ela passará sem os efeitos que
pretendia seu autor.
A paciência aproxima-se do estoicismo na
capacidade de resistir a sofrimentos pesados, quando a praticamos diante de
doenças graves, nossas ou em alguma pessoa querida. Mantendo a serenidade
podemos facilitar e até encontrar soluções. Há momentos que todos passarão e
que poderão ser extremamente agravados se as pessoas não tiverem preparo psicológico
para enfrentá-los. Nessas ocasiões a fé em Deus e uma religião também ajudam
muito.
A história da Humanidade têm inúmeros casos
de pessoas que só sobreviveram porque tiveram paciência e autocontrole. Diante
de desafios aparentemente intransponíveis conseguiram superá-los por terem tido
capacidade de resistir a todas as dores, ameaças e mensagens negativas.
O otimismo é uma grande virtude. Uma pessoa
paciente normalmente conscientiza-se que o final será melhor do que o momento
que estiver passando. Pensamento Positivo e confiança no futuro são armas
poderosas, tornando aqueles que as possuem fortes o suficiente para resistir a
muita pressão...Muitos livros têm sido escritos a respeito, merecendo uma
leitura atenta, principalmente por aqueles que estiverem passando dificuldades.
A literatura em torno do Pensamento Positivo tem orientações diversas. Com
certeza existirá alguma obra que não ofenderá a convicção filosófica de quem
dela estiver carente.
Finalmente é bom repetir, insistir: a
paciência é uma sábia qualidade. Desenvolvê-la é um ato inteligente, útil
àquele que pretender ser bem sucedido e feliz.
A disciplina e a determinação de espírito
são condições essenciais a quem pretende atingir um objetivo difícil.
A falta de respeito a padrões de
comportamento sadios termina por destruir muitos jovens que teriam, não fosse a
falta de atenção com seu próprio corpo e espírito, condições de desenvolver-se
de forma brilhante.
Em casa, no trabalho, nas escolas e no amor
há necessidade de respeito e obediência a uma série de normas, regras
importantes ao sucesso, à obtenção de bons resultados.
Na década de 60 e início dos anos 70 era até
moda a indisciplina total. A juventude, em protesto contra a geração de seus
pais, a educação recebida, a guerra do Vietnã e, muitas vezes, sob o efeito de
drogas das quais o LSD era a mais famosa, entregava-se apaixonadamente a
posturas anárquicas. Valeu como protesto mas destruiu muita gente boa. O pior
efeito foi o início de uma cultura de uso de drogas que fugiu ao controle. Hoje
o comércio da cocaína, maconha, heroína e outras porcarias é uma grande
indústria a nível mundial. Na clandestinidade a corrupção e a depravação das
drogas causam um desastre social.
A competição é a base de sobrevivência.
Todos precisam conquistar um lugar ao Sol. Não há tolerância a quem não for
bom. Para os fracos resta a piedade, a caridade e os lugares indesejáveis.
Assim o jovem precisa conscientizar-se da
necessidade de preparar-se para a luta pela sobrevivência. E esta luta é dura,
exigente.
Neste quadro o ideal é começar cedo o
treinamento, o disciplinamento do corpo e da mente. O autocontrole não é fácil,
não é tarefa para os fracos.
Não entregar-se ao sono, à dor, à preguiça,
a doenças para fugir a compromissos. É comum ouvir certas pessoas dizerem com
freqüência não poderem fazer algo por estarem com dor de cabeça, cansados, indispostos.
Normalmente são indivíduos frágeis, medíocres, incapazes de liderar, vencer.
Usam suas deficiências como argumento para fugir a qualquer responsabilidade.
Devemos resistir a esses impulsos negativos, não nos ajudarão em nada. Lair
Ribeiro tem um livro genial a respeito: “O Sucesso” . Nele o autor destaca que
a diferença entre um potencial perdedor e um vencedor é pequena em suas
condições físicas e mentais, a diferença está na cultura, na vontade de
vencer, de lutar e de superar as dificuldades do caminho.
Existe alguém que não sinta nada? os
vencedores, os campeões são pessoas perfeitas? uma imagem esplendorosa foi a
daquela corredora de maratona chegando ao final da corrida tropegamente. Pela
determinação transformou-se, ainda que não chegando à frente, na grande
vitoriosa, a imagem símbolo daquela olimpíada. No Brasil temos, entre nossos
grandes personagens, o exemplo de Amyr Klink. Com determinação, disciplina,
inteligência e coragem tornou-se um modelo a ser seguido por todos nós.
A disciplina sadia educa o corpo e o
espírito.
A disciplina, pelo que exige nas manhãs
frias, no estudo prolongado, no trabalho interminável, é a têmpera do caráter
quando nos coloca desafios prosaicos mas decisivos como esses. Vencer o sono,
as dores musculares, a fadiga mental é um bom exercício. Em muitos momentos
isto será apenas um aperitivo do que teremos de suportar.
Precisamos de disciplina até para podermos
nos rebelar objetivamente contra algo que discordemos. Obter resultados implica
na necessidade de planejamento inteligente, execução organizada, paciência e
determinação.
Na história da Humanidade não encontraremos
um grande líder que não tivesse entre suas características a disciplina e a
determinação de atingir seus propósitos. E muitos sofreram estupidamente antes
de conquistar seus objetivos.
Se a disciplina é necessária ao
desenvolvimento, a determinação em atingir resultados é essencial ao espírito
empreendedor.
O “descobrimento” da América é um bom
exemplo de determinação de um líder, Cristóvão Colombo. Sua teimosia,
insistência e arrojo levaram-no a vencer todas as barreiras na Espanha e rumo
ao mar aberto, superando um oceano cheio de lendas e terrores, atingiu em
frágeis embarcações a futura e ingrata e maldosamente denominada América.
Cientistas houveram que passaram a vida
pesquisando, procurando provas de suas teorias, resultados nem sempre atingidos
mas que deram a alguns deles um lugar eterno na história da Ciência. Os
alquimistas da Idade Média não conseguiram chegar à pedra filosofal mas,
perseguindo-a, encontraram muitas substâncias de interesse para a humanidade.
A disciplina deve ser parte de um processo
de educação para a vida . A determinação, a qualidade de quem tiver um projeto,
um objetivo para atingir
Ter um espaço, ser um vencedor, um campeão é
para os que conseguirem dominar seus instintos, suas falhas. Ocuparão um lugar
de destaque aqueles que tiverem capacidade para se desenvolver e com firmeza
lutar para realizarem seus sonhos, torná-los realidade, vencerem...
Caldas Aulete define : “coragem, força ou
energia moral que leva a afrontar os perigos; valor; ânimo, intrepidez,
bravura, denodo “.
Coragem não é ausência de medo, é vencê-lo,
dominá-lo .
A vida exige coragem, sobre aqueles que não
a tem vinga-se impondo-lhes uma existência medíocre. É essencial a quem
pretende viver dignamente. Nos momentos de derrota, de uma maneira especial,
sua ausência conduz o miserável à atitudes vergonhosas, a desesperos e choros
indecentes.
Coragem não é sinônimo de loucura pois esta
é inconseqüente. A vida é a oportunidade que um pouco da matéria deste Universo
tem de acrescentar-lhe algo. Este conjunto material não deve desperdiçar sua
fração de existência...Nós, parte material que tem poder de se transformar
temos durante nossa vida a chance de sermos úteis mas para isso o caminho é
longo e penoso. Tendo-se metas e grandes objetivos precisaremos vestir-nos de
coragem para atingi-los. Na vida profissional, política e sentimental ela é a
qualidade que fará a diferença entre o sucesso e a mediocridade.
A bravura de Napoleão no cerco de Lion, no
início de sua carreira, permitiu-lhe mostrar sua competência. O ânimo, a
determinação de um operário deu ao Brasil um Lula, um humilde retirante
nordestino ontem, hoje um grande líder político. A ousadia, a intrepidez de
Tiradentes transformou-o em mártir de nossa pátria, símbolo de um Brasil que
nascia. Vencer o medo teve efeitos diferentes sobre essas três personalidades
mas foi, com certeza, essencial ao espaço conquistado em nossa história.
A biografia de Abrahan Lincoln é um bom
exemplo de coragem e lutas. Faliu no comércio duas vezes, aos 31 e 34 anos. Aos
35 anos perdeu sua primeira esposa. Perdeu 8 eleições sucessivas a partir dos
32 anos e foi ganhar aos 60 anos a presidência dos EUA. Entrou para a história
da humanidade por suas decisões corajosas e progressistas. Teve em sua pátria
oposição feroz que culminou com seu assassinato...
A coragem é também necessária para enfrentar
a inveja daqueles que não a possuem. Talvez o maior obstáculo a quem ousa lutar
seja a animosidade e o veneno daqueles que não se dispuseram a fazê-lo. A
intriga e a calúnia costumam ser as armas deles. É interessante notar como
informações negativas prevalecem sobre as positivas. O indivíduo mesquinho,
incompetente, medíocre, não sabendo fazer envenena, atrapalha, destrói.
Em família, a preocupação que os pais têm
com a saúde dos filhos produz um padrão de cuidados muitas vezes excessivo. Por
diversos motivos poderemos transformá-los, nossos filhos, em pessoas medrosas,
covardes. Vivemos em cidades selvagens, sem segurança, expostas a todo tipo de
violência. É natural que os pais queiram superproteger sua prole. O reverso da
medalha é inibi-los, amedrontá-los e desarmá-los. Precisamos criar um ambiente
em que a coragem inteligente seja valorizada, desejada e transformada em
qualidade natural.
Uma das razões de constrangimento são as
fobias. Pavores ridículos criam restrições infantis a atividades muitas vezes
essenciais. Um adulto tem por obrigação dominar-se sob pena de agravar
problemas e até criá-los desnecessariamente.
O medo dominando um indivíduo transforma-o
em um ser frustrado, medíocre, chato.
Dominar-se e administrar-se dentro de um
grande plano de vida exige determinação, inteligência e coragem. Enfrentar
inimigos, barreiras, superar obstáculos eventualmente perigosos exige
capacidade para dominar entre outras fobias o medo da morte. Esta é uma
preocupação natural, própria de quem vive, existe. Arriscar a própria vida é
uma demonstração inequívoca de coragem mas, pela sua dimensão, exige
inteligência para que não o façamos gratuitamente.
A coragem, acima de tudo, é uma qualidade
importante para que se fuja a uma vida medíocre. Tendo-a estaremos dispostos a
viver com intensidade.
O apego excessivo à vida, o medo exagerado a
doenças e acidentes impede que um indivíduo se desenvolva, participando de
atividades as mais comuns. Não há como viver sem se expor. O perigo, o risco de
acidentes é onipresente e a probabilidade de se acidentar aumenta à medida que
perdermos sensibilidade, agilidade. A exposição contínua estimula nossos
sentidos a ficarem mais alertas. Vale notar o que acontece quando nos afastamos
muito tempo das cidades. Ao voltar cometeremos erros pela falta de atenção.
Atravessando uma rua, dirigindo um carro com mais facilidade esqueceremos algum
padrão de segurança após um período longo de afastamento da confusão das áreas
urbanas. Nem por isto deixaremos de retornar, de recomeçar a vida urbana. Assim
devemos ter noção de risco relativo. Recusamo-nos a fazer algo pelo receio de
algum problema e nos colocamos às vezes, inconscientemente, em outros
muito piores. Desenvolvendo lógica a respeito evitaremos o ridículo de recusar
serviços ou prazeres que nos seriam convenientes.
Verdade ou mentira, realidade ou fantasia.
Na vida estaremos sempre diante destes dilemas. O que queremos? viver sonhando
ou procurando utopias? são questões básicas que nem percebemos. Traumas,
acidentes, grandes problemas levam-nos a sublimar, a criar alternativas
fictícias.
Em nossa vida sentimental, de uma maneira
especial, geramos paradigmas muitas vezes impossíveis de serem atingidos.
Sonhamos ter como parceiros grandes personagens televisivas, esculturais. De
repente apaixonamo-nos por alguém próximo, uma pessoa muito mais
simples...Precisamos ter visão realista, sincera e honesta a nosso respeito. A
capacidade de uma autocrítica honesta permite-nos fazer uma análise importante
ao sucesso de nossos projetos pessoais. Conscientes de nossas limitações e
potenciais poderemos elaborar planos, metas e objetivos realizáveis.
Durante a vida seremos sempre colocados
diante de desafios que deveremos avaliar com razoável precisão. Qual o custo de
um erro de cálculo? frustrações, desamor. Quantas separações, quantos casais
desfeitos porque casaram-se sob o manto das ilusões. Quantos profissionais
fracassados porque calcularam mal seus recursos.
Um grande desafio é ser realista sem se
deixar dominar pelo perfeccionismo, pessimismo e mediocridade. É querer a
verdade sem se abater pela possibilidade de más conseqüências. Dominar a vida
com todos os seus percalços e desafios. Decidir tendo ciência dos custos e
benefícios. Avaliando riscos.
Uma prova de maturidade e coragem é
enfrentar as situações mais difíceis com serenidade, determinação e
inteligência.
A vida tende a colocar-nos grandes desafios.
Há casos extremos de resistência e heroísmo. Como devem os vietnamitas ter
suportado o Napalm, os exércitos inimigos destruindo sistematicamente suas
casas? os poloneses sendo bombardeados pelos nazistas? os judeus assistindo
indefesos seus irmãos, pais e filhos caminhando para as câmaras de gás?
Mesmo diante de todas as tragédias do mundo
teremos sempre o compromisso da sobrevivência.
É comum notar o desespero na iminência da
morte de um ente querido, de um pai ou mãe. Pudéssemos ler os pensamentos
deles, agonizantes, nesta hora de sofrimento veríamos o pedido de aceitação, de
força. Acima de tudo os pais anseiam pela sobrevivência dos filhos. Para eles a
vida teve sentido criando e educando suas eternas crianças. O que menos
desejariam seria a infelicidade ou, pior ainda, a destruição dos filhos.
Quem sobrevive a uma tragédia tem que
rapidamente esquecê-la, trabalhando para recuperar as perdas materiais e a
reconstrução do que for possível. A realidade que interessa é a necessidade de
sobreviver, de recomeçar. Sempre haverá alguém que precisará do nosso trabalho,
carinho, atenção. O passado é caso resolvido. O futuro depende da gente, poderá
ser modificado, melhorado. A capacidade de se reprogramar é vital. Não podemos,
em hipótese alguma, entregar-nos a tragédias passadas. A realidade está no
rosto de uma criança esperando que lhe ajudemos a crescer, a alimentar-se, a
ser feliz.
Não temos o direito de fugir à grande missão
: sustentar, manter a vida.
Todos os psicólogos, psiquiatras e
psicanalistas mostrarão mil formas que o ser humano adota freqüentemente para
fugir à realidade. Todo este arsenal de artifícios comportamentais explica
porque as soluções eventualmente não são encontradas. É lamentável ver tanta
gente boa entregar-se à auto comiseração. Resistir, lutar para enfrentar a vida
com dignidade é imperativo. A vida digna será o resultado de aprendermos a
encarar a realidade com resignação e disposição de luta.
Atitudes depressivas poderão ser patológicas
e curáveis. Procurar solução é a atitude correta. Entregar-se passivamente é
mergulhar de cabeça em um precipício difícil de sair. Enfrentar a vida e em
especial nossas próprias deficiências é essencial ao seu sucesso. As derrotas
também são algo a ser assimilado com dignidade. Só perde quem luta.
Na política e na gerência é facilmente
perceptível entre muitos perdedores as maneiras com que as pessoas fogem à
responsabilidade, às decisões mais difíceis. A mediocridade é o principal
resultado deste cenário. Gerentes criam fantasias, inimigos fictícios,
preconceitos para explicar porque não produzem. Políticos começam a ver
adversários por toda parte. Só não são capazes de aceitar a própria
incompetência. A verdade dói, incomoda.
A verdade e a realidade são as armas dos
fortes. Dominando-as poderemos enfrentar exércitos. O conhecimento do que nos
cerca e de nós mesmos será um recurso valioso, que precisaremos para conquistar
a vida.
Devemos desde cedo preservar algo que as
crianças têm com naturalidade: a sinceridade, a capacidade de ver as coisas
como elas lhes aparecem. O adultos costumam racionalizar, criar imagens já
programadas para cada cenário. Tornam-se, muitas vezes, preconceituosos,
sectários.
Precisamos criar um mundo honesto,
inteligente, em condições de ver de frente nossas oportunidades e limitações e
nelas trabalhar para melhorar a vida de todos.
Evidentemente não deveremos partir para
posturas de máxima segurança, exigir informações plenas como condição para
tomada de atitudes. A certeza absoluta é impossível. Só os ingênuos a têm. A
mediocridade é o custo de quem quer se preservar, não quer se expor.
A realidade e a verdade devem ser
instrumentos da ação consciente, honesta e corajosa.
Enfrentando a vida com toda a clareza que
nossa cultura e nossos mais modernos sistemas de informação possibilitam,
conquistaremos a oportunidade de sobreviver com dignidade, eficácia e
felicidade no futuro.
A Terra, saturada de tantos “homus sapiens
sapiens”, precisará de toda a nossa competência para não mergulhar em guerras
ou catástrofes ciclópicas.
O grande sonho de muitos povos que viveram
sem possuí-la, a liberdade é um grande desafio da Humanidade.
Revoluções e guerras foram feitas em nome da
liberdade. Que liberdade? de morrer de fome? de mendigar trabalho? saúde? ou a
liberdade de viver em um ambiente saudável? questões desta espécie tem
consumido muita cerveja em mesas de bares, em reuniões de estudantes e
militantes políticos.
Grande sonho da Humanidade, a liberdade de
expressão, locomoção, religião e outras é base de muitos movimentos e
ideologias.
E o frágil ser humano, simples, bípede,
pensante? como este ser entende a liberdade? o que espera conquistar com ela?
Imerso na multidão qualquer indivíduo tem o
direito de escolher seu caminho, decidir sobre muitos detalhes que o farão uma
pessoa respeitada, bem sucedida ou mais um indigente, um desconhecido. O uso da
liberdade identifica-nos como seres desenvolvidos, civilizados ou não.
No processo político temos a Democracia como
a única forma institucional de dar a qualquer indivíduo a capacidade de
participar do processo decisório em sua administração pública. Isto faz dela
algo extremamente valioso, imperdível. O cidadão atual, graças às inúmeras
formas de comunicação existentes, tem acesso a imagens, sons e notícias que lhe
permitem desenvolver espírito crítico do governo e leis. A liberdade se
consolida à medida que sentimos sua importância. O nazismo e o comunismo
soviético são dois exemplos de renúncia à liberdade que custaram caro à
Humanidade.
A liberdade indissocia-se à responsabilidade
quando a exercitamos no meio de uma sociedade, na administração de empresas e
na condução de uma família. Em cargos de comando colocamo-nos à serviço de um
ideal, um discurso, uma política. Infelizmente a origem histórica do Poder
deu-lhe o sentimento do uso imperial, da propriedade do posto e seu uso em
benefício próprio. Os estados e nações pertenciam a famílias, reis e generais.
O povo, vassalo, era instrumento da glória do soberano que dele dispunha como
bem entendia. As religiões, no aconchego dos palácios, davam-lhes autoridade
transcendente, mística. Essa imagem ainda perdura. No Brasil o ex-presidente
Fernando Collor de Mello foi em nossa história recente quem mais a
materializou. Em muitas empresas vemos a mesma postura, o Poder a serviço do
chefe e não dos acionistas, dos seus proprietários. Vale a pena observar o
comportamento de alguns grandes empresários que se metem na política.
Respaldados no sucesso de suas atividades profissionais e acostumados a dar
ordens, agem como se fossem donos da verdade, não toleram divergências, agridem
gratuitamente quem deles discordar. Se pudessem revogariam todas as leis que
soltam a imprensa, o povo. Exemplos não faltam no cenário brasileiro atual.
Tudo isto faz com que a liberdade e o Poder tenham diferentes efeitos e
compreensões. Para quem está no comando o direito de usá-lo em benefício
pessoal, para o povo a esperança do protesto, da luta pela sua evolução. A
liberdade é instrumento diferente para muitas pessoas.
Dentro das novas regras econômicas e da
fobia consumista criou-se um cenário em que o trabalhador assalariado vive sob
o risco de uma escravidão sutil. A abertura de fronteiras permitiu que
bolsões de trabalho escravo produzam e venham competir em sociedades mais
desenvolvidas. Países que contavam com estruturas sociais sólidas estão sob o
risco de se degradarem sob o peso dessa nova ordem. O aviltamento de salários e
o desemprego é o resultado diante de uma competição que não conseguem vencer. É
surpreendente ver pessoas dormindo nas estações de metrô de Tóquio, capital de
um dos países mais ricos do Mundo. Em Londres aumenta o número dos que dormem
em praças por não poderem pagar um aluguel. Nos EUA a miséria domina
bairros até famosos por suas histórias. Que riqueza é esta que obriga operários
a trabalharem sem parar, sem tempo para o lazer, estudos? que não considera as
diferenças natas de capacidade, penalizando aqueles infelizes que não tiveram
saúde e o amparo de famílias bem constituídas? que não garante a sobrevivência
primária dos menos favorecidos? que prende seus trabalhadores a padrões
comportamentais severos impedindo-os de serem eles próprios? Talvez esta seja a
grande arma dos poderosos, não dar ao povo a oportunidade de estudarem e refletirem
sobre suas realidades. Sobrecarregando os mais humildes eles não poderão
contestar as instituições que os condenaram à marginalidade. Possuem uma
liberdade relativa, a de serem escravos, de trabalharem incessantemente para o
deleite de alguns.
Há alguns anos os países mais desenvolvidos
discutiam a redução das horas de trabalho. O Mundo ocidental, pelo menos,
caminhava para a consolidação de conceitos de convivência saudáveis, de
maior dignidade. O impacto das crises econômicas, do petróleo e, principalmente,
a abertura de fronteiras enfraqueceu sindicatos, partidos progressistas, idéias
de maior respeito pelo ser humano. Hoje vemos a pobreza crescendo, o desemprego
e a criminalidade como realidades crescentes nestes antigos e belos
países. Nações inteiras renunciaram à liberdade de se administrarem,
entregaram-se a poderes supranacionais que não percebem ou não querem ver suas
anomalias. O resultado é a volta do racismo, da xenofobia, das lutas
religiosas. Tudo vira explicação para os menos inteligentes. As
dificuldades por que passam torna-se culpa de outros e não de suas decisões
políticas.
A liberdade é valiosa. Precisamos dela para
podermos pensar, viver. Tendo-a com tempo para o lazer, a vida em família, para
o exercício de nossas filosofias e religiões, estaremos evoluindo,
acrescentando informações que serão necessárias à evolução política, cultural e
afetiva. É essencial tê-la de forma real. Isto significa possuí-la
administrando nossas atividades de modo a podermos pensar em coisas além daquelas
exigidas por nossas necessidades básicas. A responsabilidade do exercício
democrático é muito grande. Nossas obrigações familiares, como educadores,
exigem que aprimoremos nossa formação de modo a podermos transmitir a
nossos filhos idéias, instruções e culturas decentes.
Ter liberdade é algo que poucos percebem. Na
juventude ela parece natural mas, sem perceber, gradativamente arriscamo-nos a
perdê-la. Escola, casamento, emprego, filhos e vícios transformam muitos seres
humanos em autômatos e em cidadãos alienados. Precisamos conciliar a vida
a nossas obrigações básicas de modo a poder desenvolvê-la com dignidade. Quando
novos lutamos pelos direitos dos adultos, lá chegando deixamo-nos prender por
diversos compromissos que poderão levar-nos à mediocridade, a
prisões insidiosas.
O exercício da liberdade de lutar por sua
subsistência, do direito de formar sua família e de trabalhar, própria do
adulto, é o espaço que o jovem conquista gradativamente. Se os pais têm uma
missão na vida é educar seus filhos para explorar seus espaços com eficácia e
responsabilidade. Os pais são os pássaros que olham anciosos seus filhotes
baterem asas, treinarem saltos, planarem e finalmente voarem para suas vidas e
seus amores. A cada movimento o receio de um tombo. O medo de alguma armadilha
que destrua seus filhotes...Voando vêem a vastidão do Mundo, os grandes espaços
e também seus predadores. Os mais experientes sabem quanto de sorte e luta foi
necessário para sobreviverem.
A mente humana rejeita limites. Seu
desenvolvimento é produto de um instinto aventureiro, pesquisador,
questionador. A curiosidade do ser humano levou-o a cruzar oceanos, a voar pelo
espaço e procurar em desertos tesouros que ficaram depositados nos cofres de
nossa cultura. Graças à vontade de ser independente as tiranias caíram, os
ditadores tremeram.
Lutar pela liberdade é não aceitar o império
do dinheiro. Todo indivíduo tem direito a uma vida digna desde que honestamente
dê sua contribuição à sociedade. Lutar pela liberdade é não aceitar
patrulhamentos, censuras ideológicas, restrições religiosas e raciais.
Ser livre é querer pensar e colocar como
diretriz suas próprias convicções, não renunciar ao direito de raciocinar. Ser
livre é ter disposição para a luta. Estar disposto a pagar o preço da
independência, resistindo às pressões econômicas e sociais em contrário.
Ser livre é ser solidário com a Humanidade.
Ser livre é enfrentar a tirania.
Ser livre é ser gente.
Ser livre é ser.
O que sentimos quando vencemos, a glória de
chegar à frente em uma competição, ver um filho recebendo seu diploma, o
resultado de um trabalho de feito, é o sucesso, o prazer de sentir-se um
vitorioso.
Procurando o sucesso fazemos exercícios para
sermos campeões assim como trabalhamos, estudamos e procuramos a melhor
namorada.
Para algumas religiões o sucesso é o sinal
da simpatia divina, acrescentando à luta para obtê-lo o fervor religioso, as
justificativas para muitas maldades. Povos que aceitam essa visão têm sido bem
sucedidos. O culto à pobreza teria sentido diante do Apocalipse, do fim do
Mundo. Pregar a renúncia é pretender a miséria. O sucesso, fruto de muito
trabalho, é válido, justo, desejável. De qualquer forma é reconfortante e saudável
sentir-se vitorioso.
O vencedor passa a ser paradigma para muitas
pessoas, ganha a responsabilidade de ser modelo para muitos que começam suas
vidas, principalmente os jovens sempre anciosos para firmar suas posições. A
responsabilidade de um campeão é algo que talvez passe despercebido a muitos
publicitários e jornalistas. Vemos com apreensão a divulgação de aspectos
negativos de grandes ídolos do esporte, por exemplo. O que estará passando na
cabeça de milhões de crianças? que será preciso imitá-los para conquistar a
mesma glória? com certeza muitos, não poucos, tomarão aqueles detalhes como
parte de um conjunto de atributos para serem vencedores.
Ser um vencedor é uma meta de qualquer
indivíduo.
Como administrar esta vontade sadia de
pessoas que iniciam sua vida adulta? ter o que como referência de sucesso?
Antes de mais nada não devemos nos esquecer
que a vida passa. Aqueles que tiverem saúde chegarão a quase um século de vida.
Em algum momento desta trajetória deixarão de ser os primeiros, os campeões.
Como planejar esta carreira?
O sucesso é uma condição passageira.
Conquistamos em determinada atividade, ela termina, consagra-se o campeão. E
depois ? devemos sempre estar preparados para compreender as oscilações da
vida. Precisamos aprender a aceitá-las para não sermos destruídos nos momentos
piores. As oportunidades se sucedem. Podem mudar de campo mas sempre estarão aí
para quem tiver competência, capacidade de trabalho e vontade de lutar.
Empresas passam mas o espetáculo continua. No circo da vida há muitos papéis
disponíveis. O público das arquibancadas aprecia variedades.
O importante é entender que outras situações
acontecerão. Não tem sentido incomodar-se além do mínimo necessário com
qualquer coisa da vida. Nem futebol, nem profissão nem a própria vida deverão
perturbar-nos além da nossa capacidade de ação. Problemas sem solução
resolvidos estarão.
É terrível observar companheiros lamentando
a falta de sorte, o leite derramado. O resultado de qualquer luta é a vitória
ou a derrota. Nas disputas crescemos ou desaparecemos mas nelas poderemos
mostrar nosso valor. É a têmpera que dá a dureza do aço, do ser humano.
Enfrentar a própria sorte é atributo dos fortes. Resistir, crescer nos momentos
difíceis, aprimorar-se é o desafio que nos propomos vencer para merecermos,
mais adiante, ter sucesso pelo qual batalhamos.
Há muitas maneiras de sentir o sucesso. Tudo
depende de nossa cultura, índole e oportunidades. O maior será sentir-se feliz.
A felicidade é um estado de espírito fantástico. Genial é ver como as pessoas
mais simples conseguem conquistá-la em meio a tantas adversidades. Ela marca a
ingenuidade dos menos inteligentes e a extrema inteligência dos mais sábios.
Nesses dois limites veremos como se conquista a felicidade em coisas simples,
naturais, tão próximas.
A inteligência mediana é suficientemente
grande para perceber os grandes desafios da natureza e assim pretender
enfrentá-los. Infelizmente, ainda pequena para vencê-los, com freqüência é
derrotada. O resultado é a frustração, a infelicidade.
O sucesso é um momento de grande prazer.
Saboreá-lo embriaga, inebria.
A preocupação com o sucesso tem base em
nossos instintos mais elementares. A conquista da parceira(o), do espaço vital,
do alimento é uma disposição natural em todos os animais. O espírito
competitivo é uma conseqüência disso tudo. O sucesso será também a conclusão
com êxito de todos esses processos, desafios. Simples mas naturais, são
importantes e até necessários por serem instintivos.
À medida que mostramos resultados crescemos
na admiração de muitos e na inveja de outros. O pior aspecto da frustração dos
derrotados é o poder de calúnia e difamação. Em nosso país, onde a liberdade de
imprensa confunde-se com o direito que jornais e jornalistas têm de dizer o que
bem entenderem de qualquer pessoa ou empresa, os riscos são enormes. A nossa
Justiça é cara, lenta e pouco eficaz. Pessoas que se destacam devem
acostumar-se à idéia de serem objeto de atenções pouco lisonjeiras de pessoas
frustradas.
O importante para um cidadão civilizado,
decente, é fazer bom uso do sucesso. O crédito conquistado deverá ser usado
para melhorar a sociedade, o povo. Sabemos quanto falta fazer para que
mereçamos o crédito de nação responsável, evoluída humanisticamente. Um simples
passeio por qualquer cidade brasileira mostrará quanto falta corrigir. Desde a
questão habitacional, a criança de rua até o simples problema da inexistência
de calçadas (quando existem são impraticáveis), mostra o quanto
estamos atrasados. No exercício da cidadania agradeceremos ao Criador ter-nos
permitido ser vencedores, campeões. Devolvendo em ações positivas mostraremos
ter merecido as glórias recebidas.
O sucesso é pois uma grande
responsabilidade. Tendo-o teremos o compromisso de maximizarmos os benefícios
da autoridade conquistada.
Sem respeito pela Humanidade, sem a extensão
do sucesso a outros, ele terá sido estéril, limitado ao que o motivou.
Dizem os especialistas que sonhar é
necessário e saudável. Acordamos sabendo que dormíamos, que aquelas imagens e
sons eram imaginação nossa. Logo as esquecemos. Na maioria das vezes não as
lembraremos ao acordar. Foram, contudo, importantes para o equilíbrio emocional
da pessoa. De tão importantes fazem parte de nosso “hardware”...
Livros e livros já foram escritos querendo
decifrar essas estórias noturnas. Muitos povos lhes deram grande significado.
Os sonhos de reis e sacerdotes governaram guerras, casamentos, disputas.
E acordados continuamos tendo nossa imaginação
funcionando. Nossos pensamentos ficam vendo paisagens, debates e amores
fictícios. Rostos queridos ficam perto de nossos beijos, seus corpos juntos aos
nossos, suas palavras em nossos ouvidos, seus perfumes nos envolvendo em doces
ilusões...
Em matemática denominamos a isso simulações.
Experimentamos idéias mentalmente. Verificamos se teriam chances de darem
certo, de funcionarem.
Não podemos perder esta capacidade,
precisamos estimulá-la. A criatividade é conseqüência da capacidade de sonhar.
Sonhando construímos catedrais, fomos à lua, atravessamos oceanos. As primeiras
idéias e propostas mais pareciam obra de loucos. A persistência de muitos
aventureiros, cientistas e engenheiros fez acontecer tantas aventuras
maravilhosas.
Podemos perder pontos quando os sonhos fogem
ao nosso controle. Perdemos capacidade de concentração. As aulas ganham imagens
distantes do programa, da fala do professor. Vemos e ouvimos o que sonhamos,
não o que o mestre apresenta. Transportamo-nos para mundos distantes perdendo
contato com o presente. Arriscamo-nos a perder aqui, sonhando lá. Mas sonhar,
imaginar é parte essencial do empreendedor, do cientista, do filósofo, do
artista e do amante...
A vida é dura por si só. Atenuá-la com
pensamentos agradáveis em torno de uma música romântica, passeando por um
jardim, observando uma flor é saber entorpecer sem vícios, é “viajar” sem
drogas.
Desde pequenos deveremos estimular nossa
capacidade de sonhar. A leitura de livros é um excelente exercício neste
sentido. A falta de imagens concretas, a comunicação restrita a palavras
permite-nos imaginar cenários, personagens. Desenvolvendo-os ativamos nossa
capacidade geradora, inventiva. A música instrumental, de uma forma ainda mais
profunda, exige concentração e capacidade de sonhar, produzir estórias.
Um dos erros de muitas escolas é a famosa
apostilha. “Mastigam“ as questões para os alunos. O estudante deixa de
pesquisar, de ler livros e neles encontrar as respostas que procura. Não usa
sua imaginação para encontrar soluções. Afinal o vestibular é um teste de
memória, pouco de raciocínio. Compensa orientar o aluno ao processo pavloviano
de ação e reação programadas. A introjeção deste processo e sua consolidação
poderá custar caro ao futuro profissional. A mediocridade será o preço pelo
vestibular fácil.
As escolas, de uma maneira especial,
deveriam ensinar seus alunos a sonhar. Eles deveriam ser desafiados a sonhar
acordados em quadros, danças, músicas e poesias.
O grande sonho da humanidade é viver em
mundo rico, feliz, saudável.
Não podemos perder estes objetivos, esta
vontade que John Lennon imortalizou em sua canção “Imagine”.
Sonhar com a vida significa estimular nosso
cérebro à luta. Sentimos nossos impulsos rumo ao desconhecido, à aventura.
Procuramos soluções para problemas que nos afligem, vencemos tabus,
superamos barreiras.
Muitos povos talvez não tenham progredido
por sonharem pouco, por não virem forças para dominar demônios, pajés e
ambientes hostis.
Sonhando poderemos encontrar caminhos
desconhecidos que nos levarão a uma vida melhor.
Sonhar não é iludir-se. Não é fugir à
verdade. É procurá-la de uma forma otimista, positiva.
A verdade é o fermento dos sonhos à medida
que a procuramos corrigir. Revoltando-nos contra situações que entendemos serem
negativas, começamos a imaginar alternativas, soluções. Nossos revolucionários
devem ter sido grandes sonhadores. Em seus pensamentos viam a possibilidade de
conquistarem um Mundo melhor. Puseram em prática as teorias desenvolvidas em
horas de devaneios, simulações. Transformaram suas nações a partir de imagens
criadas em seus cérebros.
A Humanidade deve muito a sonhadores que
tiveram a coragem de por em prática seus melhores pensamentos.
O grande desafio da vida é conciliar o
sucesso com a felicidade. Ser bem sucedido na vida profissional ou política
exige grande dedicação, disciplina e competência. O trabalho duro é a melhor
receita para quem quizer a vitória. A menos que tenha nascido em berço de ouro
ou privilegiado por qualidades excepcionais, o sucesso só virá como efeito de
uma vida dedicada e de grandes lutas. Já a felicidade está no caminho de uma
vida mais lúdica, sensual, instintiva. Atendendo a ordens do coração poderemos
ter grandes paixões, amores inesquecíveis. Fugindo a responsabilidades teremos
a liberdade de rejeitar famílias, amigos e companheiros para seguir caminhos de
muitos prazeres. O risco será chegar a um momento de frustração. A felicidade
assim conquistada consome-se rapidamente. A alegria de viver é como ver a
diferença das cores fortes e a harmonia das imagens suaves. A harmonia gera
prazeres sutis, menos cansativos e mais duradouros.
Viver pouco tempo no máximo do prazer ou em
um ritmo frenético de trabalho é possível, o preço é o resto da
existência comprometida com seqüelas nem sempre suportáveis.
Se existe algo difícil a um jovem é
estabelecer limites a si próprio. Aprender a fazê-lo é amadurecer. Saber
aceitar desafios inteligentes é privilégio dos melhores. Lutar pela vida
produtiva é obrigação de todo aquele consciente de sua cidadania e missão. O
Grande Arquiteto do Universo colocou em cada um a missão de aprimorar a vida e
mantê-la com dignidade. A inconsciência deste propósito leva inexoravelmente ao
esvaziamento de propósitos, à ausência de objetivos decentes. Viver para o
prazer é perder a capacidade de tê-lo nos momentos oportunos.
Na vida política e social é fundamental não
se deixar dominar pelas banalidades do processo. A coerência ideológica e
filosófica é importante para os ajustes de trajeto quando necessários. Quem não
têm rumo não terá correções pois estará perdido por princípio.
Em tudo é fundamental não ignorar a
natureza humana, sedenta de direitos e omissa em seus deveres. Em especial nós
brasileiros vivemos uma cultura em que tornou-se hábito jogar no governo a
culpa de todos os males que vivemos. É confortável fugir à responsabilidade.
Coitadinho do miserável, do bandido, do desempregado. Poucos têm
coragem de falar nas causas reais de tanta pobreza. Talvez por efeito de
séculos de escravatura e de elites selvagens, temos hoje a visão negativa dos
mais ricos e empreendedores, olhando com misericórdia os menos
favorecidos. Está na hora de falarmos em maior responsabilidade familiar,
planejamento, educação em casa, iniciativa, voluntariedade, disciplina e
seriedade acima de tudo. Precisamos mudar a visão que fazemos de todos nós.
Cobrando-nos resultados veremos um Brasil melhor.
Sem piedade precisamos ser duros em nossa
própria visão. Estabelecendo-nos desafios e trabalhando com firmeza só
ganharemos. Na juventude, os primeiros anos de vida adulta são plenos de saúde,
de vitalidade que precisa ser bem usada. O desperdício pesará duramente no
futuro. É fantástico chegar à meia idade com a sensação do dever cumprido,
sabendo que se fez o possível.
Na vida religiosa e política ter cuidado com
o fanatismo, as convicções, as certezas odiosas. Qualquer idéia que leve à
violência deve ser tratada com muito cuidado. Devemos pensar dez vezes
mais antes de qualquer agressão. Cuidado com o pensamento rápido, a expressão
fácil. Ficar calado é uma virtude se o silêncio for gasto para pensar, ponderar
e, adiante, agir com firmeza, objetividade e justiça.
A família, os filhos são nossa principal
responsabilidade. Quem não souber educar e sustentar seus dependentes pouco
direito terá a qualquer manifestação. A grande demonstração da felicidade e do
sucesso inteligente está em casa. Deve-se duvidar dos projetos daqueles que não
criam uma família feliz e harmônica. No mínimo poderão ter falhas
muito graves de estruturação filosófica. É sintomático que muitas religiões têm
sido causa de enormes sofrimentos. Conduzidas por pessoas que se impediram a
ter famílias, têm em seus líderes indivíduos distantes da realidade.
O amor é a principal base da felicidade. O
sentimento egoísta, obsessivo e alienante não é amor. Precisamos aprender a
amar em todas as suas formas. A vida sexual, a caridade, a responsabilidade
social e política geram formas de amor importantes. Tê-los é enriquecer a vida
em todos os seus aspectos.
A liberdade com responsabilidade é essencial
a uma vida digna. Saber respeitar o direito do próximo é imperativo em uma
sociedade civilizada. O Brasil, infelizmente, está longe desse ideal. Em
qualquer lugar podemos notar selvagens exibindo sua ignorância. Mudar esses
padrões é um compromisso de cidadania que devemos ter em nossas mentes e
atitudes.
Preservar a liberdade é um compromisso do
ser humano racional. Só quem viveu sob censura, patrulhamentos ideológicos e
morais sabe como é odioso suportá-los. A arrogância e estupidez dos censores
não têm limites. O poder na mão de pessoas medíocres é estúpido, inaceitável.
Preservar o direito de falar, pensar e de decidir sobre sua própria vida é um
direito sagrado. Respeitar esse direito em todos que nos cercam é sinal
de senso de justiça.
Viver produtivamente é um compromisso com a
vida. A ociosidade é criminosa em um Mundo que precisa de tanto para oferecer a
todos um padrão minimamente suportável, digno. A cultura, a formação
profissional e a saúde só têm sentido se forem base para a ação positiva,
produtiva.
O que reafirmar? o que dizer? basicamente
que a vida exige responsabilidade, seriedade e amor.
Em tudo que realizarmos deveremos fazê-lo
com estas preocupações.
O desafio de existir, produzir e ser feliz
exige uma avaliação objetiva de riscos e benefícios, da qualidade de vida
necessária e suficiente. Sonhamos com o sucesso e testamos idéias. O perfeccionismo
não é prático, inibe a ação. Lutamos contra o medo e a insegurança. Assumimos
riscos. Administramos paixões.
A mediocridade e o medo são os grandes
inimigos do ser humano.
Devemos ter consciência das sutilezas da
sociedade em que vivemos, sonhamos e trabalhamos. Saber respeitá-la sem
submissão é uma arte que precisamos desenvolver. Não esquecendo a força dos
mitos, a inteligência exige uma disciplina crítica e consciente.
As imperfeições são grandes em nossas
estruturas de poder, religião e família. É natural que assim seja pois nossa
Civilização é recente, trazemos ainda muito forte os instintos das selvas de
que nossos ancestrais saíram. Sendo pessoas imperfeitas naturalmente agiremos
de maneira a contrariar os grandes paradigmas, apresentados de forma a não
mostrarem suas falhas. Conscientes de nossas limitações teremos nos modelos
perfeitos horizontes talvez distantes mas, onde nasce o Sol, o caminho a
seguir. Procurando a luz teremos a oportunidade de conhecer a verdade, a lógica
da vida. Lembrando sempre que a felicidade e a saúde contribuem para as
melhores decisões, não deveremos desperdiçá-las gratuitamente.
A profissão, o lazer e nossas crenças formam
um conjunto que será decisivo em nossa capacidade de sermos felizes. Montar
esta base é o desafio dos jovens. Decisões erradas pesarão sobre toda a
expectativa de uma vida decente, produtiva e feliz.
Liberdade sempre com responsabilidade é a
principal condição para uma cidadania saudável e essencial ao processo
democrático. A educação é responsabilidade sagrada que adquirimos sobre nossos
dependentes. Administrá-la de forma consciente e com propósitos de preparação
para uma vida séria e produtiva é a principal obrigação de um pai de família,
além, é claro, de sustentá-la e protegê-la. Educar para a liberdade, para o
exercício da criatividade e independência é algo de grande valor em uma
sociedade tão cheia de dogmas. O ensaio de ideologias sem fanatismos é
obrigação de indivíduo que deseja participar do processo político. Não podemos
esquecer que ninguém é dono da verdade. Por mais evidentes que sejam as
imagens, poderão estar iludindo, criando falsos paradigmas, modelos errados.
Precisamos de religiões sem inquisições. O patrulhamento ideológico e
filosófico de modo geral é intolerável. A liberdade é um direito sagrado só
limitado pela mesmo direito dos outros seres humanos. A consciência e o exercício
sadio de nossos deveres e direitos, este é o desafio do jovem, dos pais, da
sociedade e humanidade.
A família é nossa base. Constituí-la de
forma sadia e mantê-la com dignidade e amor é o compromisso sagrado de todo ser
humano.
O planejamento familiar, o controle da
natalidade, o dimensionamento do time de acordo com suas possibilidades
financeiras é um compromisso que se deve cobrar dos jovens. O futuro deles
dependerá muito de como administrarem seus hormônios. Se os pais erraram, os
filhos não precisarão repeti-los.
A felicidade conquista-se e mantém-se à
medida que se é coerente com a Natureza e suas leis. Grande parte delas ligadas
ao espírito e ao comportamento que só os seres inteligentes e sensíveis
percebem. A vida nesse universo de tantas maravilhas é um privilégio que
recebemos por decisão do Grande Arquiteto do Universo. O pouco de matéria que
nos constitui fisicamente tem a capacidade de ver, ouvir, sentir a imensidão de
estrelas e areias, do verde das florestas ao azul do céu, de partilhar espaços
com animais, plantas e imagens divinas. Somos parte de um todo maior. Nesse
conjunto deveremos acrescentar valores, enriquecer essa obra gigantesca e
fantástica que é a vida.
Somos racionais? responsáveis? corajosos?
Sonhando com um Mundo melhor, mais justo,
feliz e amoroso enfrentemos a vida com determinação e disciplina. Assim
venceremos, nós, nossos filhos e netos, nosso povo e a Humanidade..
Meus filhos, a minha grande esperança é
ter-lhes dado uma imagem do que julguei melhor dizer-lhes. Este livro não é um
espelho de minha personalidade ou de minhas atitudes passadas. É, entretanto, o
que considerei mais honesto, justo e humano aconselhar-lhes. Não quero que
repitam os meus erros. É difícil aceitar orientações, todos queremos fazer
nossas próprias experiências. O ideal, contudo, seria que os filhos ouvissem
com atenção seus pais para terem a partir deles uma base melhor, amadurecida,
sem reincidências...
Minha geração vivenciou muitas experiências,
muitas questões que a confundiram. Assim também errei muito. Aprendi muito e as
lições que tão duramente assimilei quis transmitir-lhes.
Vejo nas netinhas Isabela e Juliana a vida
recomeçando. O João Pedro apenas balbucia suas primeiras palavras.
Tatiana tem o desafio de transmitir-lhes o
que aprendeu, eu lhe coloco nas mãos o que pude saber. Eliana e Caio Lúcio
terão mais tempo para formar suas famílias e refletir sobre o que escrevi.
O importante é tentar desenvolver suas vidas
de forma consciente, honesta, inteligente, produtiva e com muito amor. Não
apenas o amor sexual, mas principalmente aquele mais amplo, decorrente da
admiração pela obra do Criador.
Para todos aqueles amigos, alunos e outros
que durante minha vida profissional acreditaram em minhas palavras, que
trabalharam, estudaram e lutaram a meu lado espero estar contribuindo com mais
alguns conselhos, sugestões de quem já viveu um bocado. Quando me lembro que
batalhei na política estudantil na década de sessenta e nessa época tive minhas
primeiras salas de aula, vivi os anos setenta com todas as suas pressões
políticas, na década de oitenta como professor universitário, militante
político e profissional de engenharia levando-me finalmente, nesses últimos
anos aos maiores cargos da empresa que me acolheu no Paraná, sinto que tive a
oportunidade de ter experiências valiosas. Essa vivência gerou este livro como
contribuição, espero, para uma vida melhor.
Concluindo, a meus filhos, netos, amigos, ex
alunos, companheiros de lutas e trabalhos, o meu pedido para que tenham garra,
disciplina, lutem por seus ideais e que procurem conciliar tudo com muito amor.
Assim com certeza terão sucesso e serão felizes.
João Carlos Cascaes
Curitiba, 24 de dezembro de 1995.
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