Índice em 04 de janeiro de
2016
Ética,
reflexões para um novo século
Perante nós mesmo todos fingimos ser mais ingênuos do que
somos: é deste modo que descansamos dos nossos semelhantes.
Friedrich Nietzsche, (Nietzche)
Nada estimo mais, entre todas as coisas que não estão em meu
poder, do que contrair uma aliança de amizade com homens que amem sinceramente
a verdade.
Baruch de Spinoza, (B. d. Spinoza)
As novas opiniões são sempre suspeitas
e geralmente opostas, por nenhum outro motivo além do fato de ainda não serem
comuns.
John Locke, (John
Locke)
Um dos paradoxos dolorosos do nosso
tempo reside no fato de serem os estúpidos os que têm a certeza, enquanto os
que possuem imaginação e inteligência se debatem em dúvidas e indecisões.
Bertrand
Russell, (O Pensador)
A verdade neutra e essencial liberta do poder, não existe.
Cesar Candiotto, (Candiotto)
“Um problema da nossa época é que as pessoas não querem ser úteis, mas
sim importantes”.
Winston Churchill, (Churchill)
Conheci ao longo da vida, ou melhor, desde que tomei
consciência da qualidade de muitas pessoas próximas, gente muito inteligente.
Eram seres humanos racionais com um tremendo referencial ético. Foram a base
usada para estimular minha disposição para o estudo formal, algo pouco atraente,
assim como a paixão pelas ciências sociais, filosofia, política, astronomia
etc. Vocação? Creio que podemos sentir restrições graves, o resto é só uma
questão de conhecer e estudar, praticar. Pessoalmente creio que seria impossível
para mim tudo o que me afetasse emocionalmente de forma violenta (Medicina, por
exemplo).
Além de restrições emocionais já nasci de forma complexa e
capaz de provocar lesões graves.
Lendo a história da Princesa Isabel (Priore)
descobri que a disposição para não facilitar partos e parturientes era uma
diretriz religiosa em nosso país sempre atrasado, assim, em condições
similares, ganhei traumas e minha mãe lesões físicas e mentais, provavelmente.
As limitações pessoais foram “enriquecidas” por uma “tosse
de cachorro” ou melhor, “laringite estridulosa” (Laringite
estridulosa ou “Tosse de cachorro” Uma doença de inverno?) que me acompanhou
até o início da puberdade.
Aprendi com tudo isso que a inteligência tem efeitos
relativos.
Fiz cursinho em São Paulo em 1963 e lá, longe da natureza
exuberante de Blumenau à época e com saudades do céu cheio de estrelas
frequentei o Planetário no Parque Ibirapuera. Que maravilha!
Mais tarde, já apaixonado por Astronomia, comecei a olhar as
estrelas com pequenos telescópios, descobri que assim via melhor alguns pontos
e espaços do firmamento, mas deixava de enxergar o céu como um todo.
O excesso de capacidade de raciocínio pode prejudicar a
visão das pessoas...
Qualquer que seja a nossa constituição temos, felizmente, um
tremendo potencial.
Somos computadores dotados de excelentes sensores,
servomecanismos, transdutores, sistemas elétricos de transmissão de dados,
estrutura física feita para grande mobilidade, capacidade de manipulação
material, etc. e estruturas de processamento de dados, arquivo, softwares
dedicados, sistema operacional fantástico, unidades polidimensionais de
comunicação e cálculo (neurônios), glândulas que produzem estimulantes e
atenuadores, reprodutividade (sexo e complementos), etc.
Ou seja, geneticamente trazemos uma coleção de
características e, desde a concepção, sofremos ajustes e até transformações
radicais em consequência de ambiente (educação, relações humanas) e acidentes e
incidentes decisivos à nossa vida.
O privilégio de nascer com pais realmente preocupados com a
educação de seus filhos foi, acima de tudo, o processo mais importante para
minha formação.
Assim aprendi (vou alternar a primeira pessoa do singular
com a do plural em favor da melhor compreensão do texto) muito com meu pai,
pessoa extraordinariamente inteligente, lúcida e responsável. Graças a ele
aprendi a duvidar com tolerância as divergências; existe maior lição do que essa?
Pedro Cascaes morreu cedo, algo que me entristece profundamente sempre que me
lembro disto. Fez muita falta ao filho curioso, teimoso acima de tudo, ainda
que relativamente disciplinado à força pela mãe.
Entre a inteligência primorosa e bem estruturada e a cultura
do pai e os padrões comportamentais da mãe, criada em tempos de escravatura,
disciplina a qualquer custo, sentimentos excessivos e fúteis típicos da
educação que recebeu, ganhei uma base inestimável além da herança genética
extremamente pronunciada para tudo o que sou.
Fantasticamente as divergências de base religiosa de meus
pais estimularam conversas intermináveis e diárias (principalmente no horário
do almoço e janta) com o Pedro Cascaes. Com imensa paciência ele explicava seus
pontos de vista, não os impunha. Meu pai falava pausadamente, pensava muito
antes de responder, ensinou-me a raciocinar.
As lições de casa também mostraram os equívocos, tais como a
violência física que minha mãe exercia de forma arbitrária e ilógica e os
vícios do casal, dentre os quais o tabagismo foi o de piores consequências. Era
uma época em que a mídia comercial, sempre ela, faturava fortunas continuamente
defendendo a tétrica arte de fumar, mesmo depois da demonstração mundial a partir
de centros médicos honestos de que o cigarro e similares eram vícios mortais.
Aliás, isso não mudou. O alcoolismo, o uso abusivo de automóveis
(sustentabilidade?), prazeres irresponsáveis etc. e o consumismo desregrado
mantêm os sistemas privados de comunicação, bem pagos por grandes grupos
econômicos. Falarei, escreverei (espero pulicar esse trabalho em versão oral e
escrita, se possível em LIBRAS também) mais disso adiante.
A base cultural em que me formei teve uma contribuição
excepcional do povo de Blumenau. Os blumenauenses das décadas de quarenta a
sessenta eram bem caracterizados. Gente de origem predominantemente germânica
naquela época externava fortemente as virtudes e defeitos de um povo
determinado, guerreiro, trabalhador e também vítima e algoz graças a conceitos
de raça e poder.
Blumenau era uma vitrine mais elaborada do fascismo que os
getulistas tentaram aplicar aos brasileiros. Aliás, aqui, Brasil, dizia meu pai
que qualquer ideologia seria desmoralizada pela maneira de ser dos brasileiros,
o que não deixa de ser uma virtude importantíssima num planeta que abriga uma
espécie de vida tão cheia de certezas, quanto o é o ser humano.
Entre defeitos e virtudes meu segundo lar foi o Colégio
Santo Antônio. A disciplina era forte, menos do que em minha casa. Assim lá
vivi e convivi com pessoas excepcionais (em todos os sentidos). Mais uma vez a
heterogeneidade entre professores demonstrava a fragilidade dos dogmas,
ideologias, religiões, morais e éticas que ao longo da história foram construídos
e se construiu para agora dividir o mundo, nações, famílias e até grupos circunstanciais
presos a catecismos que aceitam, por mais idiotas que sejam.
É incrível a fragilidade de pessoas aparentemente cultas,
capazes de afirmar e fazer juramentos e afirmar crenças absolutamente
anacrônicas e distantes de suas vidas particulares e sociais, onde demonstram
inequivocamente que só aproveitam de tudo o que dizem acreditar o que lhes
convêm.
O processo de racionalização assusta.
É bom reafirmar, contudo, aspectos pessoais que me afetaram
profundamente.
A saúde pessoal foi um fator marcante e decisivo na
construção e percepção de minhas crenças. Desde muito cedo a alergia e
bronquite “Tosse de Cachorro” (Laringite estridulosa ou “Tosse de cachorro” Uma
doença de inverno?) foi uma limitação violenta, levando
meus pais a exercerem uma vigilância severa sobre o que fazia.
Era um tremendo “perna de pau” e assim acabei tendo nos
passeios de bicicleta o meu lazer e esporte favorito (Brasil Não Morizado), algo que
viabilizava o gosto por esportes radicais, nunca confessados aos meus pais.
Imagino qual seria a reação de minha mãe se, ao longo dos anos, soubesse em
detalhes o que o filho fazia em todos os lugares em que viveu...
Com certeza tive o privilégio de estudar em São Paulo,
capital, onde passei um ano (1963) frequentando o cursinho pré-vestibular Di Túlio,
na rua Conde de Sarzedas, na Liberdade. Neste ano de dúvidas imensas ou simples
apatia profissional aprendi muito conhecendo a cidade de São Paulo e suas
atrações gratuitas, das apresentações da Orquestra Sinfônica no Teatro
Municipal ao Planetário no Ibirapuera onde revia as estrelas que deixara em
Blumenau.
Vestibular, Itajubá e tudo o que aconteceu a partir de 1964
serviram para educar e temperar conhecimentos e ideais, entre eles o mais
nobre, cuidar de minha família.
Maravilhosamente tudo contribuiu para agora escrever este
livro, ser autodidata pode desmerecer o que se faz no mundo acadêmico, mas, se
feito de coração e com base em bons livros, filmes e na grande escola que é a
vida pode merecer registro...
Quero escrever e expressar com o máximo de sinceridade o que
penso até o momento de encerrar este livro.
É, contudo, fundamental ter em mente a nossa incapacidade de
percepção plena de nossa vida e do Universo. Sempre falamos e escrevemos com o
que somos capazes de ver e entender, ou assim imaginamos que o seja.
A própria visão é uma ilusão. Entre qualquer objeto líquido
ou sólido existem gases e processos energéticos (ondas, corpúsculos) que não
captamos. As cores são uma convenção cerebral, assim como o cheiro, o paladar,
a audição e até o tato. Nosso corpo é um conjunto de sensores, servomecanismos,
emissores químicos e elétricos que junto ao que denominamos de cérebro mais
softwares, sistema operacional etc. e arquivos viabilizam o que somos.
Filósofos deram outras explicações, mas na realidade somos
máquinas bem elaboradas e hipercomplexas.
Incorro no erro e riscos do meu primeiro livro (Converando Com Meus Filhos), quando o que
escrevi foi sincero e cheio de “boas intenções”, mas os erros de redação e
impressão infelizmente mataram o trabalho. Sua publicação aconteceu em pleno
período de uma grave doença em meus olhos...
O fantástico em relação a esse livro (Cascaes, Converando Com Meus Filhos) foi o momento em que
minha esposa entrou em meu escritório; naquele instante tinha o primeiro
exemplar para me apresentar e eu a idade que meu pai tinha (o número de anos,
meses e dias que meu pai vivera até o dia de sua morte material) ao falecer.
Digo morte material, pois tenho inúmeros incidentes em que a presença dele e
sua orientação devem ter acontecido (ou algo muito mais improvável) após o 27
de novembro de 1966.
Na condição de engenheiro eletricista raspei a morte por
acidente e a morte profissional e sentimental por diversas vezes;
inexplicavelmente tomei a decisão certa no último instante, algo feito com
convicção e sem qualquer outra explicação, exceto aquelas metafísicas tão
comuns aos espíritas.
Minha mãe era mulher lindíssima, extremamente trabalhadora,
uma artista com uma voz excepcional, apaixonada por tudo quanto fosse belo. Com
certeza seria romântica radical se meu pai não fosse tão materialista.
Infelizmente, como já disse, aprendeu a ser dura e radical com os filhos. Dela
guardo lembranças, de meu pai uma tremenda lição de vida e uma convivência
espiritual altamente positiva que só o filho mais velho tem o privilégio de
contar.
No espaço blumenauense de grandes contradições eu, minha irmã
Sônia Maria e o Pedrinho (Pedro Filho) nascemos e crescemos, cada uma seguindo
seu caminho, escalando montanhas, caindo e se levantando sem desistir de viver.
Destaco meu pai pelo senso de responsabilidade e disciplina
que assumiu após seu casamento com a minha mãe, Chiquinha (Francisca). Era um
indivíduo livre, optou pela jovem Francisca e a família que construiu.
O respeito e o amor sem exibicionismo de meu pai por seus
filhos, esposa, parentes e amigos e amigas era uma característica que marcava
sua personalidade profundamente, algo inegável a quem o conhecesse bem.
Minha atual família em sua origem era espartana, nasceu e
cresceu com imensas dificuldades; casamos e geramos nossos filhos; vencemos
(eu, minha esposa e filhos) superando situações extremamente difíceis.
Nesse sentido o livro (A Arqueologia do Saber) é um espelho dessa
vivência. Lamentavelmente quem ler, espero que todos aqueles que amo e admiro o
façam, estará também afetado pela por suas limitações e compulsões, mas é
sempre na esperança do entendimento pleno que nos expressamos quando queremos
educar. Ou seja, dentro do cenário da época tivemos o que de melhor nossos pais
puderam dar. Seria fantástico ler e estudar algum livro semelhante ao
Arqueologia do Saber, tratando da Arqueologia da Educação Familiar naqueles
tempos para melhor compreendê-los. É normal os filhos reagirem aos pais, nem
sempre com sucesso. Isso prejudica análises pessoais e pode até gerar
ressentimentos.
O que Michel Foucault teria a ver com minha família?
O culto à verdade, o apego à honestidade, a vontade de ser
responsável e o registro de comportamentos, linguagens, o significado da vida
em tempos distantes.
Meu pai era um missionário de filosofia e lógicas sensatas.
Em sua juventude, contudo, a comunicação e o acesso à cultura universal era
precaríssimo. Foram tempos de “glória” das ideologias mais radicais.
À semelhança dos pregadores mais conscientes, Pedro Cascaes exercia
a sinceridade com seu filho mais velho. Que momentos fantásticos tive
conversando com ele...
E agora?
Envelhecendo e aprendendo muito dia a dia, estudando muito,
afinal sou apaixonado por História, Sociologia e Filosofia, tenho algumas
convicções que podem estar erradas, mas, infelizmente, pouco vi que contrarie o
que estou escrevendo.
O ser humano era extremamente cruel e violento, se comparado
ao atual em nosso mundinho. Vivia pouco, sua vida era dominada por vaidades,
medos, rituais, convicções e disposição para matar, se necessário, por muito
pouco. Essa cultura persiste em muitos lugares até em nossa terra, é fácil de
perceber isto. A Selvageria fortuita obriga-nos a recomendar cuidados e
distanciamentos de pessoas potencialmente perigosas.
A esperança com certeza é a Humanidade viver mais e mais com
saúde mental. Superar a fase de império dos hormônios é fundamental à leveza de
pensamento e condições de ver algo mais do que simplesmente a beleza ou
sentimentos de alguém que nos atraia.
Paradoxalmente o amor verdadeiro pelo ser humano em geral
depende desse desprendimento, pois o sexo gera competição, desafios, mentiras e
fantasias que ajudam muito pouco a pensar.
Com certeza o amor que se desenvolve após a fase mais
agressiva do acasalamento é talvez mais terno e real. Aí, mais uma vez,
percebemos entre pessoas em geral que a tolerância substitui o amor.
O desafio é aprender a viver, a ser, ter e amar.
Com certeza o amor é essencial à felicidade, e deve ser
cultivado, sustentado, estejam as pessoas em que condição estiverem.
Criar bons relacionamentos e saber viver é uma arte divina.
Assim o desafio deste livro é procurar transmitir conselhos e informações que
ajudem a viver de maneira saudável e gratificante.
Nada pior do que o arrependimento e as boas oportunidades não
costumam se repetir.
O objetivo deste trabalho é expor nossa visão (absolutamente
pessoal) ética e sugerir algum padrão moral a quem se interessar pelas nossas
opiniões e pensamentos. Não é um trabalho de um profissional em Ciências
Humanas ou Filosofia, mas o resultado de uma vida razoavelmente longa durante a
qual inúmeras vezes fomos obrigados a tomar decisões vistas de forma positiva
ou negativa (pessoalmente e por nossos críticos e observadores), dependendo de
quem era afetado pelo que fazíamos. Com certeza em muitos momentos ficamos
entre opções duríssimas e sendo obrigados a manter a serenidade, a fixação em
rumos e compromissos inegáveis.
Nossos filhos, netos e bisnetos são a prova da qualidade do
que optamos por sustentar.
Parece-nos que o saldo foi positivo, assim atrevemo-nos a
escrever este livro na esperança de sermos úteis àqueles que respeitamos e
amamos.
Para estimular reflexões é bom lembrar que nunca vimos alguém
feliz com a notícia de que morreria em breve, exceto em casos extremos, talvez.
Assim a saúde física e mental é essencial a uma existência compensadora e é
importante querer viver a partir da harmonia pessoal e social. A vida cobra
pesadamente os erros e excessos. A proximidade da morte também pode afetar o
raciocínio, portanto cuidado com as nossas palavras.
Mais ainda, sendo um trabalho que realizamos num período de
decadência física e intelectual, podemos errar muito em nossas reflexões. É,
contudo, um esforço para deixar algo de referência a todos que quiserem lembrar
o que entendíamos por “ética” ao final da vida.
Agonizando podemos fraquejar e transmitir uma falsa visão de
nossas crenças. O limiar da
racionalidade talvez seja um dos mais difíceis de se determinar. Mais ainda, é
extremamente complicado fazer julgamentos sobre o que sentimos, vivemos e
fazemos. Não somos bons juízes em causa própria.
Escreveremos e revisaremos este livro até tivermos
consciência de que o final de nossa vida será uma hipótese próxima, assim é uma
obra perigosa, sempre merecendo dos leitores atenção para os vícios
intelectuais dessa fase da vida.
E a Ética?
Tratando de ética estaremos falando de algo que nasceu do
medo e respeito a um ser superior. O medo e a admiração eventual criaram
superstições que se transformaram em seitas, cultos secretos e explícitos,
finalmente naquilo que agora entendemos por religiões. Podemos existir sem essas
crenças?
Falam também de códigos de ética de empresas, comunidades
etc. o conceito generalizou-se, faltando, contudo, na maioria dos casos,
sinceridade, honestidade intelectual. Virou um instrumento de marketing e
cobranças, quando interessam aos maiores acionistas.
Note-se que na origem dos tempos os seres superiores aos
humanoides eram inúmeros, talvez já naquela época com a sensação do
sobrenatural, invisível, etéreo...
Deus surgiu nas mentes humanas, aos poucos, sutilmente.
Entendemos que compreender, explicar e aceitar a existência
de Deus, se existir, seja o que for, é algo absolutamente distante de nossa
capacidade de raciocínio. As ilusões humanas partem para o mais difícil ainda,
que seria o contato direto e cooptável com o Ser Supremo. Infelizmente a imensa
maioria da Humanidade acredita e aceita alguma divindade capaz de agrados,
chantagens, vinganças e paixões na lógica antropomórfica (um Deus com alguma
característica humana, o que consideramos um absurdo), algo que serviu de base
a nossas grandes e pequenas religiões.
Merece uma pesquisa, algo até fácil diante dos meios de
comunicação atuais, o que significa a palavra “religião” que tantos defendem e
poucos sabem o que realmente esse verbete contém. O desafio será formular as
perguntas, pois diante da questão: acredita em Deus? A imensa maioria dirá que
sim para não contrariar os fiéis mais perigosos.
Note-se que a pessoa que afirma não ter “religião”
é vista com desconfiança, algo típico de gente insegura com o ser humano e sua
capacidade de tomar decisões sensatas.
O que incomoda tremendamente é a hipocrisia da imensa maioria
dos crentes. Pior ainda, a maioria ao bajular um ser superior sente-se livre
para repetir crimes, “pecados”, vícios de toda espécie. Outros além de rezar, chorar,
bater no peito, flagelam-se e declaram temor mas não resistem à tentação de
repetir “pecados” descaradamente.
Ver gente rezando, orando, pagando promessas, batendo no
peito e depois fazendo coisas abomináveis é a prova suprema da falsidade
reinante e da fragilidade do ser humano. Os pedidos de perdão acontecem
diariamente, poucas pessoas resistem a cometer os mesmos “pecados” ou piores.
Isso é acreditar em Deus? Ser religioso?
A complexidade do Universo e a de uma simples bactéria são
colossais. Vamos explicar tudo isso
imaginando um ser mais complexo, onipotente, onisciente, perfeito? Podemos?
Deus é antes de tudo uma invenção humana; o ser humano não
suporta a falta de explicações, sejam quais forem. Acreditamos que somos
capazes de altíssimos raciocínios (e, portanto, conhecimentos), quando na vida
real poucas pessoas são suficientemente inteligentes e dispostas a pensar com
profundidade. O mistério da vida e até das coisas inanimadas distribuídas pelo
Universo ultrapassa pretensões de estudiosos, menos daqueles que, ingenuamente,
simploriamente acreditam que tudo se explica de acordo com alguma Bíblia ou
documento complexo e mais antigo.
Com certeza há muito a ser descoberto e muito mais que nunca
será conhecido, em tempo algum.
A vida está aí e os desafios de existir exigem de todos nós
máxima compreensão de quem somos e o que devemos ser, melhor ainda, o que
pretendemos ser. Vale registrar que saber de si, querer entender o que somos e
queremos é tema que remonta aos filósofos mais antigos. Para isso os grandes
pensadores criaram métodos de análise bem expostos em seus livros e biógrafos (Foucault e a crítica da verdade) e magistralmente
idealizados. Com certeza na história futura outros serão feitos.
O que importa, o que precisamos para viver em harmonia?
Simplesmente não existe uma “Ética Universal”. Guerras,
kamikazes, soldados em geral, ordens religiosas, de tudo um bom exemplo os
janízaros[2], talibans,
povos selvagens imersos em grandes florestas verdes ou de concreto, em desertos
de areia ou de gente demonstram o perigo de crenças aceitas incondicionalmente.
Com certeza desde que nascemos vamos desenvolvendo uma visão
própria de moral e ética. Isso explica as inúmeras formas de comportamento, das
mais violentas às mais acolhedoras que encontramos no mosaico humano. A imensa
maioria crente que existe e age, reage de acordo com a moral única de seus
antepassados, pessoas fraternas e principalmente, talvez, com o que sua família
lhe ensinou ou pregadores mais eficazes; têm padrões éticos rígidos a partir de
conceitos morais que valorizam ao extremo.
A Ética pode ser um pesadelo quando malformada ou simplesmente uma
característica desprezada pelas pregações contrárias. Vale, entretanto, como
figurino a ser debatido e analisado com competência. Se aqueles que
consideramos fanáticos ou criminosos forem passíveis de reeducação, ela será o
desafio da Justiça e sistemas educacionais.
Lamentavelmente vivemos num ambiente ainda maniqueísta e
subdesenvolvido, essa é a nossa maior tragédia.
A felicidade e o sucesso que nos gratificam dependem de nossas
habilidades, desde que começamos a pensar, em descobrir os melhores caminhos
para nossa satisfação e amor próprio.
Seria fácil se todos nós tivéssemos a genialidade de entender
e dominar nossos instintos e comportamentos e pudéssemos saber detalhes de tudo
o que a humanidade descobre e faz (worldometers). Talvez muitas
pessoas realmente tenham conquistado esse nível de conhecimento, vivendo em paz
e harmonia com tudo e todos.
O drama existe quando insistimos na sinceridade pessoal e não
admitimos mentiras, exigindo de nós a dúvida se qualquer detalhe carecer de
explicações convincentes. Esse pesadelo saudável é essencial ao comportamento
livre de fanatismos. Lideranças religiosas, políticas, militares etc. sempre
partiram para o convencimento absoluto de suas vontades e de todos aqueles que
pudessem cooptar. Assim as guerras, suplícios, submissões espúrias e maldosas
se transformaram em padrão de dominação, algo que virou ciência, cultura e
negócios; nova forma de dominação: o consumismo e modismos mercantilizados.
Muito pode existir fora de nossa compreensão, ninguém,
absolutamente ninguém é dono da verdade nem possui inteligência necessária e
suficiente para construir certezas.
Não dominamos todas as ciências universais para podermos
fazer afirmações absolutas. Isso percebemos estudando Física e a investigação
de suas relações matemáticas em todas as suas formas, entre outras ciências.
Equações e leis naturais de senso comum vão se mostrando simplificações até
grosseiras à medida que aprofundamos estudos e experiências, um processo que
vai apresentando complexidades sucessivas, desafiando permanentemente nossa
vontade de chegar ao conhecimento absoluto de qualquer fenômeno.
Durante a vida sentimos que somos ou não privilegiados;
sofremos e nos regozijamos com muita coisa que pode ser efeito de nossas
decisões, todas elas, contudo, causa e efeito de tudo o que acontece.
O que podemos e devemos, na nossa mais simples imaginação, é
descobrir o que de dentro de nós sussurra e eventualmente grita, diz o que
fazer (Pessoalmente sempre me arrependi de quando desprezei essa orientação).
Nunca poderemos fazer afirmações a partir de outros corpos e
cérebros. Podem ser radicalmente diferentes do nosso conjunto e o são, e nós
carecemos de amplitude para atingirmos sozinhos as “verdades” que eventualmente
afirmamos. Isso exige respeito (nunca submissão incondicional) pelas
orientações diferentes daquelas em que acreditamos. Quem é dono da verdade?
Com certeza um líder sente-se obrigado a fazer a apologia de
suas ideias e propostas. Infelizmente a operacionalidade do discurso de
mobilização exige pessoas que tenham o dom da oratória, ou seja, saibam
transgredir a honestidade intelectual.
A maioria das pessoas padece de preguiça intelectual, pensar
incomoda...
Mais ainda, lembrando Michel Foucault, precisamos estar
atentos ao que em relação ao passado chamaríamos Arqueologia do Saber (Foucault, A
Arqueologia do Saber), título de um livro fantástico desse
gigantesco pensador universal. Em que nível de comunicação estamos?
Nada garante que o que denominamos azul seja igual para
todos, assim como os sons, sabores, textura, imagens etc. com certeza são
diferentes, pois treinamos permanentemente gostos e nossos sensores e softwares
são afetados diariamente, degradados pela poluição e acidentes, fortalecidos ou
enfraquecidos pela educação.
Nossa preocupação, contudo, é registrar o que possa ser útil
e faça daqueles que acreditarem em nossas opiniões e “teorias” pessoas felizes,
de bem com a vida e ao final dela não se arrependam do que fizeram, ao
contrário, tenham orgulho do que foram e esperança em outras oportunidades além
da morte, se existirem.
Acima de tudo esperamos transmitir a beleza da dúvida, a
inutilidade das convicções e o perigo do fanatismo e da indiferença em relação
a uma vida sadia, prioritariamente racional e fraterna.
Qualificar, classificar, optar, aceitar, viver em
coletividade e trabalhar é um conjunto de ações que qualquer pessoa desde a
mais humilde à maior das maiores é obrigada a exercer para poder sobreviver,
simplesmente. Mais ainda, dependendo do momento e das exigências ambientais a
questão moral e a ética serão diferentes, merecendo do indivíduo uma avaliação
própria.
Não existe panaceia.
Os figurinos estão aí, seus criadores naturalmente os
defendem com vigor, mas a realidade supera as simplificações. Viver, sobreviver
e vencer exige de cada ser pensante e atuante flexibilidade de estilos e capacidade
de discernimento em função dos cenários em que estiver.
Assim como a Humanidade evolui ou simplesmente se transforma,
nós também mudamos ao longo da vida.
Muitas religiões introduziram conceitos de culpa e penitência
que tornam as pessoas crentes inseguras e infelizes. Criaram situações e
comportamentos para dominação de seus rebanhos. Os massacres por motivação
religiosa são a pura consequência do medo de desagradar ao(s) Deus(es) e uma
forma de bajulá-lo(s) assim como a necessidade compulsiva dos donos da verdade
em imporem suas vontades.
Se as religiões criaram fundamentalistas, as ideologias
políticas (Cascaes, Procurando Saber,
Entender, Aprender Filosofia, História e Sociologia - SEM CENSURA ) o fizeram tanto ou
mais, pois com elas estavam interesses de classes, de elites, dos donos do
Poder. É normal lembrar os tempos passados como sendo idílicos, algo que
certamente é fruto da mais absoluta ignorância sobre a História da Humanidade.
Provavelmente estejamos num período até superior a todos que existiram, apesar
de nações inteiras ainda se digladiarem de forma absurda e imoral.
Qualificar pessoas é um processo extremamente grave, ainda
que necessário e permanente. Dependemos de classificações quando estamos na
multidão externa a elites restritas e suficientemente poderosas para inibir
contestações fora de seus aquários. Qualquer família que já passou por
dificuldades de sobrevivência sabe quanto é perigoso um descuido ou um erro que
seja notado por outras pessoas poderosas.
Vivemos uma fase de ativismo social e político. De modo geral
os cidadãos comuns não lutam a favor de propostas além de seus interesses
reais. Os processos coletivos pouco mais são que manifestações de torcidas
organizadas, exceto quando os abusos das elites ultrapassam certos limites
difusos, mas felizmente existentes. A dominação das classes mais poderosas tem
um recurso que é inatingível pela gente humilde, a possibilidade de propaganda
intensiva de suas ideias.
Um agravante nesse processo de convencimento é a mídia
religiosa, sempre proclamando a necessidade de sacrifícios e penitências e que
os bons terão benefícios após a morte ou ainda em vida por vontade divina.
Constroem templos e frequentemente esquecem a própria casa. Os escândalos
recentes em torno da Igreja Apostólica Romana demonstram o que acabamos de
dizer. Nesse episódio sociólogos, cineastas, romancistas etc. ganharam um
manancial de estudos e trabalhos que serão extremamente úteis ao conhecimento
da natureza humana.
Seja qual for nossa saúde física e/ou mental temos
fragilidades tão grandes quanto podemos ser fortes. Somos gigantes quando
dominamos nossos vícios debilitantes. Crescemos ao impor aos nossos instintos
padrões de comportamentos saudáveis. Em tese existe dentro de nós, qualquer um,
os piores e melhores instintos e hipóteses de desenvolvimento.
O dilema é: que modelos vestir?
As religiões e ideologias trazem figurinos completos. É só
aceitar, acreditando ou não. Como qualquer roupa o que vestimos prende,
atrapalha movimentos de maior liberdade, mas protege do frio, evita
contaminações perigosas, identifica e aproxima pessoas. Pode também causar
doenças e abrigar micróbios. As grandes pragas de nossa história vieram por aí,
mais ainda quando nenhum conceito de higiene intelectual e material eram valorizados.
Ao contrário, em períodos obscuros de certos povos a sujeira corporal era
considerada piedade religiosa.
A questão sexual, espertamente explorada pelos pregadores,
assustava qualquer pessoa (Dantas) e o fanatismo
condenava (e condena) a suplícios impressionantes quem ousasse liberar seus
instintos sexuais. Derivando desse manancial de complexos de culpa o
abrutalhamento das relações humanas chegou ao que ainda existe, preconceitos de
gênero radicalizados e a exploração da mulher pelo homem.
Exemplo:
(Sexualidade, cristianismo e poder) em Considerações Finais
[Sexualidade, cristianismo
e poder, (Bruna Suruagy do Amaral Dantas
)]:
A sexualidade,
portanto, sempre exerceu fascínio sobre o cristianismo, que não cansou de
comentá-la, discuti-la, normatizá-la, proibi-la e excitá-la. A Igreja cristã,
mais especificamente a Igreja católica, produziu tratados com o propósito de
convencer as mulheres a evitar o casamento e dedicar-se à castidade bem como
redigiu documentos destinados a ensinar os monges a proteger-se dos desejos que
ameaçavam a santidade da alma. Nos primeiros séculos da era cristã, o clero
católico procurou combater o matrimônio, instituição laica e privada,
recorrente entre os membros da aristocracia romana. Diante de sua permanência,
a Igreja promoveu, com certa reticência, a sacramentalização do casamento,
autorizando-se, desse modo, a penetrar no quarto do casal, vasculhar sua
intimidade e estabelecer os limites entre o permitido e o proibido no âmbito da
sexualidade. Homens que, em tese, se privavam de viver a própria sexualidade
ficaram responsáveis por orientar a vida sexual de fiéis que não sabiam o que
fazer com os próprios desejos e temiam suas manifestações. Tornar o matrimônio
uma instituição pública e sagrada permitiu ao clero romano consolidar seu poder
político e ampliar sua intervenção na vida íntima dos fiéis. O que pode gerar
mais poder a uma instituição do que a capacidade de controlar a intimidade das
pessoas e ter acesso a seus segredos?
A Igreja desenvolveu
tecnologias de extração da verdade de si, como a prática da confissão, para
descobrir o que cada sujeito esconde de sua sexualidade e, dessa forma,
aumentar seu poder sobre os corpos dos fiéis. O clero estava interessado em
conhecer a vida íntima dos cristãos para melhor controlá-la e aperfeiçoar os
códigos de regulamentação dos desejos e da atividade sexual. As técnicas de
interrogatório e os procedimentos confessionais possibilitavam a revelação de
verdades secretas, desconhecidas do próprio sujeito. O dispositivo da confissão
determinava que o verdadeiro cristão deveria “despir” a sexualidade diante do
confessor que observava tudo com atenção e interesse. A pastoral católica inaugura
a prática da exposição da vida sexual, sem pudores e inibição.
Além da ciência, o
protestantismo e logo em seguida o pentecostalismo aprimoraram as técnicas de
vigilância e observação da sexualidade, desenvolvidas pelo catolicismo
medieval. Segundo Weber (2004), a Reforma Protestante produziu uma forma de
dominação e regulamentação da vida privada que se fazia sentir mais fortemente
entre os fiéis, pois penetrava de fato nos espaços secretos da intimidade. A
sexualidade tornou-se ainda mais central do que já era. Nas Igrejas
protestantes e pentecostais, tudo gira em torno dos desejos e prazeres sexuais
dos fiéis. As pregações, os documentos teológicos, as orientações doutrinárias
e os códigos de conduta fazem constante referência à vida sexual. É preciso
vigiá-la, observá-la e confessá-la para não perdê-la de vista. Os seus rastros
devem ser seguidos. Nas cerimônias religiosas, ela aparece para ser
simultaneamente cultuada e combatida. Desde suas origens, o cristianismo
continua preservando o espaço da sexualidade em seus cultos, como se dela
dependesse para permanecer vivo.
A história da
sexualidade ocidental, narrada sucintamente nesse artigo, permite-nos constatar
que o cristianismo sempre se incomodou com a sexualidade, intensificando
gradativamente seu sistema de controle para mantê-la sob a tutela e orientação
da Igreja. Líderes eclesiásticos promoveram a disciplina do corpo, a
regulamentação do prazer, a normatização do desejo e o estímulo à exposição da
intimidade sexual por meio dos procedimentos confessionais. Por intermédio das
confissões, o clero adquiriu um tipo específico de saber que ampliou o poder de
dominação e controle da Igreja. As estratégias eclesiásticas consistiam em
utilizar o saber obtido nas práticas confessionais para dominar o corpo e o
desejo dos fiéis, tornando-o dócil e obediente, com o propósito de consolidar a
autoridade moral e o poder político da Igreja cristã.
Aceitar algum código de ética, admitir padrões morais e viver
de acordo com a vontade de alguma tribo pode salvar e fazer muita gente feliz
assim como aterrorizar os mais sensíveis.
Os males da Idade Média persistem em países que resistem em
aceitar a igualdade perante leis gerais que a ONU (Conheça a
ONU)
num período de valorização do ser humano criou; até quando essas orientações
serão mantidas? Graças a esse período de inspiração a proposta de Direitos
Humanos ganhou consistência, mas não universalidade, infelizmente. Note-se que
a as leis universais são expostas a votações de delegados de países filiados,
podendo ser alteradas quando a relação de forças o determinar. Caminhamos num
bom sentido ou outras teses levarão ao esquecimento do ser humano?
É importante transcrever o que isso significa, a Wikipédia dá
um bom resumo:
a) direitos civis
e
políticos
(exemplos:
direitos
à
vida, à propriedade, liberdades
de
pensamento, de expressão, de crença, igualdade formal, ou seja, de todos
perante a lei, direitos
à
nacionalidade, de participar do governo
do
seu Estado, podendo votar e ser votado, entre outros, fundamentados
no valor
liberdade);
“Todos os seres
humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e
de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”
— Artigo 1º
Declaração Universal dos Direitos do Homem
As ideias de direitos
humanos têm origem no conceito filosófico
de
direitos
naturais que seriam atribuídos por Deus; alguns sustentam
que não haveria nenhuma diferença entre os direitos humanos e os direitos
naturais e veem na distinta nomenclatura etiquetas para uma mesma ideia. Outros
argumentam ser necessário manter termos separados para eliminar a associação
com características normalmente relacionadas com os direitos naturais, sendo John Locketalvez o mais
importante filósofo
a
desenvolver esta teoria.
E no Brasil? (Pergunta que será aplicada diversas vezes ao
longo deste livro de forma explícita ou não)
Excelentes romancistas, sociólogos, cineastas e a arte em
geral descrevem a sorte de pessoas menos poderosas que contrariaram convenções.
Livros memoráveis são uma lição para quem, sendo mais jovem, pode optar por uma
vida disciplinada ou não.
Outros mais atentos à vida dos poderosos devem estar
avaliando os réus do “Mensalão”, por exemplo, assim como os escândalos que vão
do Metrô Paulistano a golpes contra o BNDES. A Operação Lava Jato entrará para
a história mundial, tão grande é sua amplitude, convencendo, quem sabe, o
criminoso em potencial a procurarem padrões honestos de existência...
O tratamento aos cortesãos, contudo, é outro bem diferente
daqueles que estão na planície. Ou seja, agravando a lógica dos julgamentos
encontramos situações muito diferentes em função dos poderes adquiridos.
Infelizmente a aplicação das leis é feita por corporações que
valorizam formalismo e, via de regra, inibem inquéritos. O Juiz Sérgio Moro,
inacreditavelmente, rompeu com essa metodologia graças também a uma equipe
extraordinária que merecerá destaque no devido tempo.
É importante pensar, contudo, se também simplesmente não
estamos vingando nossa mediocridade ao saborear a agonia de pessoas que
conquistaram projeção nacional (Marton). Lamentavelmente a
corrupção tem sido uma espécie de endemia no Brasil, doença que se aperfeiçoou
ao longo do tempo. De uma certa forma todos os brasileiros e brasileiras são
culpados por covardia, omissão, leniência ou cumplicidade, com raras exceções.
Felizmente, contudo, o Brasil tem exemplos atuais
inacreditáveis para quem não o conhece. Os escândalos se sucedem graças a uma
dinâmica moderna de vigilância e à liberdade de comunicação. Assim sabemos de
coisas que antes eram privilégios de alguns iniciados.
Aqueles que não forem brasileiros poderão entender o que pretendemos
dizer com os filmes e livros (Trabalho Interno), (Wall
Street)
e (Economia Bandida), entre outros, da
história da economia mundial no século 20 e já agora, século 21; cenários e
histórias reais e romanceadas de uma realidade internacional assustadora até
para o ex-presidente do Banco Central dos EUA (Greenspan).
Economia, culturas e poderes são a marca da organização
humana. O nosso desafio é entender o que aconteceu e imaginar fórmulas de
sobrevivência com dignidade, realistas, aplicáveis a nossos descendentes.
Não podemos ignorar, contudo, que a cultura universal se
transforma e em cada momento veremos o resultado dos discursos, conhecimentos,
hábitos e poderes existentes (Foucault, A Arqueologia do Saber).
Michel Foucault demonstrou, estudou e teve suas análises
publicadas em muitos trabalhos que merecem leitura (ou audição e visão –
youtube, filmes, quem sabe no cinema em algum dia) e aprofundamento intelectual
(Cascaes, Livros e Filmes Especiais), preocupado com
interpretações éticas e morais feitas a distância, longe dos caprichos da
inteligência humana e seus preconceitos. Sua determinação em viver de forma
presencial situações marcantes de sua época, analisando incidentes e processos
extraordinários com padrões jornalísticos e filosóficos, ilustra um método de
estudo importantíssimo, muito longe do academicismo e das convicções de
filósofos universalistas, revolucionários de escrivaninha. Hannah Arendt,
inúmeras vezes destacou em seus livros as diferenças entre o consenso universal
e a realidade, algo que lhe custou caro após o livro (Arendt,
EICHMANN EM JERUSALÉM )·.
Ela viveu o pesadelo de expressar suas crenças, algo semelhante ao que
aconteceu a inúmeros pensadores de imenso valor para a Humanidade. Mário Vargas
Llosa é genial ao descrever histórias fictícias e reais, um marco no registro
da história latino-americana. Já Umberto Eco expõe com detalhes sutilezas do
pensamento humano universal assim vamos aos poucos tendo condições de
compreender muitos cenários humanos que antes pareciam coleções de datas e
nomes de ruas e praças.
De qualquer forma, por mais inteligente que o profeta, sábio,
professor, filósofo ou ideólogo seja, a certeza absoluta que possam ter de suas
propostas é algo perigoso, prejudicial à racionalidade e à otimização da vida
humana.
O inacreditável em pleno século 21 é sentir que muitos
analistas querem que a natureza humana siga um figurino para o qual têm as
medidas certas.
O “homo sapiens sapiens” é incrivelmente complexo e com
alternativas infinitas de composição de seus elementos criadores; cada pessoa é
singular, única. Justiça? Julgamentos? Em tudo sempre devemos separar a
necessidade de regulamentação e disciplinamento da convivência da aplicação de
conceitos “universais”; até onde são válidos?
Ou seja, sempre que qualificamos alguém devemos ter
capacidade de alteridade (Alteridade) e visão holística
do que somos eventualmente obrigados a fazer, dizer e até agir de forma radical,
quando necessário. Com certeza não é uma postura conveniente a quem manda em
qualquer espécie de sociedade atual. Isso Frei Beto explana com muita
propriedade em (PÓS-MODERNIDADE E NOVOS PARADIGMAS) e em outros
trabalhos sobre o jogo do poder e seus efeitos sobre o comportamento humano.
Atenção a comportamentos éticos em cada momento da História não
é capricho, é algo útil e fundamental ao indivíduo; esse primata bípede da
espécie homo é um animal que não tem (agora) proteções naturais suficientes
para viver instintivamente nas cidades sem grandes sistemas corporativos de
segurança; precisa aprender, por bem ou até violentamente, que depende da
submissão a códigos morais e éticos para sobreviver em grandes comunidades,
ainda que não perfeitos, tampouco sublimes. Para isso leis, decretos, normas,
códigos e sistemas de intimidação e isolamento existem e estão em permanente
transformação para disciplinar bilhões de pessoas.
A qualidade da submissão a códigos de ética e os próprios
códigos dependem da cultura, do grau de instrução e da educação formal do indivíduo
e sua comunidade, algo que se transforma permanentemente.
É importante notar que os legisladores podem introduzir
constituições completas, mas inúteis se os povos não as entenderem. Da
Revolução Francesa aos processos de “redemocratização” da América Latina [ (Gomes), (Marques)
etc.] encontramos exemplos concretos da ineficácia e até dos riscos de saltos
muito grandes.
Religiões são a base da ética popular e até de grandes
lideranças poderosas. Elas existem sobre estruturas consensuais ou não, mas
seus profissionais, convencidos de suas pregações, são extremamente eficazes no
convencimento de seus seguidores. A retórica, algo analisado em muitos livros
de grandes pensadores, é arma perigosa que pessoas engajadas em qualquer coisa usam
para convencer, muitas vezes desprezando qualquer argumentação honesta ou
realizando prodígios saudáveis, pois convencem pessoas com argumentos que
aceitam.
Se o ser humano pudesse realmente entender e utilizar a Ciência
em sintonia com verdades absolutas (pelo menos neste convencimento) certamente
teríamos orientações seguras dentro do que denominamos “ética”. A fragilidade
de nossos comportamentos e conhecimentos, contudo, estimula dúvidas e ajustes
assim como adoção de conjuntos de leis, regras, preceitos e doutrinas
pré-fabricadas, inclusive religiões e ideologias.
Temos desde leis
universais até pessoais, familiares. Todos nós construímos mesmo sem perceber
uma coleção de regras, códigos, padrões morais, etc. e adotamos religiões, estruturas
filosóficas e similares.
E nós diante de tudo isso?
A insignificância do “homo sapiens sapiens” é uma realidade
que só cresce à medida que o conhecimento humano avança. No passado nossos
ancestrais podiam ser arrogantes, era fácil ter certeza de alguma coisa, tudo
parecia simples.
Civilizações foram nascendo sobre o conceito antropomórfico
da figura e comportamento do que denominaram “Deus”. Era fácil e instintivo
pensar assim, como o é e será sempre para a maioria absoluta das mulheres e dos
homens.
As certezas são proporcionais ao grau de ignorância do ser
aparentemente pensante ou mal orientado. Basta uma noite olhando o firmamento
celeste ou procurando com alguma lupa detalhes de uma simples flor para
percebermos que nada ou muito pouco sabemos e entendemos. Nossas dúvidas
naturalmente se ampliam e se afastam de receitas prontas, remédios genéricos e
médicos importados. É o ônus da inteligência e da cultura científica.
O que se percebe, contudo, é a disposição para a alienação; é
fácil delegar a terceiros as dúvidas existenciais. Sobreviver com luxos exige
dedicação, muito trabalho, redução máxima para a introspecção e leniência
diante dos poderosos.
Na sociedade moderna, compulsivamente lúdica e consumista, o
tempo para pensar é escasso. A mídia a serviço de grupos de executivos, empresas,
ONGs, líderes corporativos etc. usa e abusa do poder de convencimento que
esmaga a inteligência humana.
Estar obsessivamente “conectado” com o mundo é o câncer que
mata a capacidade de pensar. Esquece-se a inteligência, opta-se pelos instintos
oportunistas e a compulsão de ser, estar e pertencer já que é muito difícil
mandar e liderar. É analgésico esquecer tudo e simplesmente saborear a vida de
forma natural, aproveitando e usando o potencial da Ciência e da Tecnologia
para existir de acordo com o mais íntimo e impublicável de nossos instintos.
Com certeza nascemos diferentes e crescemos acentuando
qualidades singulares. Essa situação contemplativa e maravilhosa que temos pela
Natureza de nossa existência torna a sociedade humana algo fantástico, quando
ela se desliga de instintos selvagens. Infelizmente passamos milhões de anos
lutando de forma violentíssima para sobreviver se considerarmos que só existimos
quando de acordo com os cientistas ganhamos algumas habilidades que definiram
como e o que é o ser humano.
Talvez tenhamos superado as imposições das florestas e
savanas perigosas e permanentemente desafiadoras.
Talvez por desonestidade intelectual ou ignorância muitos
expoentes do pensamento humano promoveram paraísos (e infernos) na Terra e no
Céu. Com certeza só não aceitando o que significa viver como animal entre
animais e até insetos e micróbios acreditaremos que devamos desprezar
radicalmente a violência se tivermos capacidade de defesa pacífica.
O desafio é disciplinar as necessidades e os sentimentos para
máximo distanciamento de nossa animalidade, se a bondade é realmente um fim possível,
necessário, nobre e justo para os humanos.
Isso não significa o abandono radical de nossos instintos,
eles são úteis e podem ser necessários em ambientes selvagens assim como na
rotina diária, onde o amor sexual é uma das compensações maravilhosas dessa
realidade. No relacionamento sexual o instinto é essencial e parte da beleza do
acasalamento.
O amor estimula e precisa de nossos hormônios e eles são
também importantíssimos quando estamos entre seres perigosos.
Os relatos da vida em presídios (Varella) e em lugares onde
criminosos mandam demonstra a importância de saber se defender em condições
extremas, quando palavras e atitudes santificadas têm pouco valor. Nesse
isolamento também a sexualidade aparece superando preconceitos. Que laboratório
mal analisado.
Vivemos em cidades gradativamente hostis. Nelas, por maior
que seja a disposição para a “não violência” ficamos à mercê de pessoas
agressivas e sob efeito de drogas, enlouquecidas e mal-educadas. Não tendo
capacidade de reação seremos reféns de tudo o que se arma contra nós. Mais indefesos
ainda no Brasil onde o povo foi desarmado, exceto em ginásios e academias
“esportivas” onde as artes marciais preparam atletas para matar sem armas de
fogo, facas e estiletes.
Nossa sociedade improvisadora e cheia de boas intenções está
inviabilizando a vida civilizada.
De modo geral a sociedade está organizada e regulada partindo
de princípios de autonomia e livre arbítrio.
Somos tão poderosos assim?
A análise do comportamento de nações tidas como desenvolvidas
e cultas demonstra a nossa incapacidade de fugir de processos educacionais
dirigidos estrategicamente, dentro dos interesses das classes dominantes. Os
exemplos são assustadores. No último século nações inteiras patrocinaram processos
de genocídio absurdos, algumas vezes sob alegações socialistas, noutras valia a
lógica do imperialismo, mas os piores instintos dominavam soberanamente de
forma implícita nas teses e discursos de qualquer líder daqueles povos. Muitas
nações, secularmente crentes de serem superiores às demais, usaram o poder de
seus exércitos para a realização de massacres abomináveis.
O Nazismo foi o ápice da mediocridade de uma classe média que
se acreditava ter direitos abomináveis e nítidos indicadores de superioridade.
A estupidez nas décadas de trinta e quarenta do século passado é uma
advertência do que significa a crença em valores fantasiosos e egoístas.
A que devemos tantos riscos e perversões, assim como valores
infinitamente sublimes que muitas pessoas demonstram possuir?
Observando lobos que vivem em matilhas, por exemplo,
percebemos a hierarquização pela força e a exclusão de outros bandos. São
selvagens com alguma organização familiar e social. No meio dessas alcateias é
possível enxergar a ternura entre as fêmeas e seus filhotes. Seríamos apenas
isso?
Além do que poderíamos definir como resultado de nossos
instintos e anseios, nosso corpo é uma montagem que contém elementos perigosos
e fascinantes. Somos um tremendo computador com sensores, unidades de lógica,
processadores polidimensionais e extremamente compactos ocupando segmentos de
nosso cérebro onde um sistema operacional, aplicativos hereditários, sistemas de
comunicação, de refrigeração e energia compõem a maioria das nossas virtudes e
capacidades. Temos mobilidade, poder de procriação etc., tudo organizado de
forma infinitamente complexa e ao mesmo tempo tão simples como só a Natureza é
capaz de produzir.
Dentro de nós, em vários lugares do corpo, encontramos
glândulas
que mudam os parâmetros de muitas equações de decisão. O DNA
contém elementos que formam o plano construtivo, o relógio de cada um, as
sementes de tecidos, modelos e padrões definindo fases de nossas vidas com
determinação orgânica, além, é claro, da sua composição minuciosa.
Cada ser humano é o produto de origens materiais, culturais,
ambientais etc. O DNA diz muito ele é o produto de casais que, por sua vez, vêm
de outros sucessivamente. Após o nascimento material passamos a ser objeto de
inúmeras influências, com destaque o cenário familiar e social em que vivemos.
Ou seja, de modo geral podemos até afirmar que não decidimos
sobre as bases em que nascemos, crescemos, fomos educados. Perante qualquer
tribunal realmente justo e submetido a leis universais (no sentido amplo) todos
seriam vistos como objeto de um processo de transformações, evoluções ou regressões,
mas simples produtos de uma miríade de acidentes, incidentes, DNAs, ambientes e
até leis humanas.
Onde podemos mudar algo?
O universo matemático pode ser dividido entre o espaço determinístico
e o probabilístico; de alguma forma criamos estímulos até pequeníssimos que nos
fazem optar por um ou outro caminho. Deterministicamente podemos dizer que o
resultado será esse ou aquele, no mundo real, contudo, prevalecem os eventos
aleatórios, circunstanciais, distantes de toda espécie de “autoridade”.
Pessoalmente acredito também
que alguma espécie de espírito pode nos apoiar, assim vivi sentindo a
influência, de meu pai, imagino. Minhas decisões durante décadas tinham (e têm)
momentos de inspiração inacreditáveis, algo que simplesmente não posso desprezar.
Ou seja, dentro do mundo que conhecemos e imersos na
complexidade do Universo estamos infinitamente longe de explicar tudo o que nos
acontece.
De qualquer jeito temos o direito de simplificar e explicar,
acreditar em alguma coisa que entendamos como soberana em nossas vidas.
Falamos em glândulas e em períodos de existência. Cada um é
um conjunto de composições singulares. E daí?
Nascemos absolutamente egoístas, dependentes. Não fosse assim
a sobrevivência da Humanidade estaria em risco, se é que ela ainda existisse.
É importante lembrar isso. O altruísmo depende principalmente
da educação que recebemos. O egoísmo deixa-nos dependentes de sentimentos
primitivos, de vaidades, vícios e necessidades que diminuem à medida que
esquecemos nossos problemas e nos fixamos em ajudar outras pessoas, ou seja,
aprendemos a amar o próximo.
A infelicidade é flagrante entre pessoas egocêntricas, sempre
apavoradas com a morte, a perda de qualquer coisa, querendo sempre mais para
si, nunca estando satisfeitas.
O egoísmo também pode ser o resultado de patologias.
Merece leitura atenta o verbete (Psicopata) assim como os livros
de Michel Foucault, com destaque para (Foucault, História da Loucura) e inúmeros bons
psicólogos e psiquiatras.
Isso tudo demonstra a importância da família, da Educação, da
Liberdade onde a aleatoriedade pode evitar a dominação dos tiranos, santos e pregadores.
No Brasil passamos por momentos absurdos de controle de
grupos de fanáticos à direita e à esquerda. Nas ditaduras militares e marcadamente
ideológicas, desde os tempos de Deodoro, Vargas e mais tarde com os militares
que consideravam o Almanaque do Exército o único documento de escolha de
presidentes sofremos processos de lavagem cerebral terríveis.
Agora estamos, principalmente, sob o império da mídia
comercial e religiosa. Alegando liberdade de imprensa mentem, promovem vilanias
ou “santidades”, estimulam comportamentos doentios a serviço de patrocinadores
alheios às necessidades mais sadias de nosso povo ou expressam convicções que
ferem a liberdade de culto e crenças metafísicas. Com certeza isso é um instrumento
de dominação de fanáticos e grupos econômicos e financeiros que se sobrepõem na
pirâmide de dominação da Humanidade.
Confunde-se liberdade de imprensa com liberdade de opinião,
algo proibido à maioria dos jornalistas, devidamente monitorados pelas equipes
de editoria. Sistemas de comunicação convencionais são caros e dependem do
poder da mídia e seus patrocinadores para sobreviverem, enquanto os sistemas
estatais são implicitamente censurados...
A literatura, emissoras de rádio, TV, redes sociais, portais,
templos, etc. formam um conjunto poderoso que, se tivermos censura enérgica e
até discreta, irresistível na condução de qualquer nação.
A verdade é uma hipótese sempre que a procuramos e essa
vontade de entender cria sentimentos de humildade e dúvidas íntimas que
precisam ser valorizadas.
Felizmente temos as redes sociais e a universalização da
informação. O Mundo WEB desmonta (por enquanto) até as ditaduras mais ferozes. A
aleatoriedade e a acessibilidade quase universal a sistemas modernos de comunicação
via telefonia e internet está furando bloqueios seculares.
Sobre a mídia merecem leitura (O Diabo na
Água Benta)
e (O Cemitério de Praga) fora outros
clássicos mostrando como as “verdades” são produzidas.
Ainda estamos num planeta ética e culturalmente
subdesenvolvido. São muitos os lugares da Terra em que os fundamentalismos
religiosos, políticos e até esportivos criam cenários de terror.
A fragilidade do ser humano está mais do que evidente num
mundo em que o desenvolvimento do conhecimento técnico e científico adianta-se
velozmente da inteligência e capacidade de assimilação sadia das ciências
humanas.
Poderá vir da própria Ciência formal a fórmula de melhor
aproveitamento do conhecimento humano universal. Talvez tenhamos recursos para
aceleração do cérebro que não sejam tão prejudiciais quanto as drogas
existentes.
Precisamos de tudo e de todos para superar nossas limitações.
Ao longo da vida passamos por diversas etapas que partem da
total dependência dos pais e terminam, se vivermos o suficiente, precisando dos
filhos para tudo. A família marca nossos passos e é um equívoco tremendo desprezar
esse relacionamento.
Com certeza carregamos glândulas e instintos que trazemos de
tempos imemoriais quando os seres humanos pouco sabiam da causalidade do
relacionamento sexual e provavelmente o afeto recíproco era secundário diante
da necessidade de lutar pela própria sobrevivência.
À medida que evoluímos ganhamos consciência da unidade básica
de nossa sociedade mais desenvolvida, a família.
Sistemas totalitários recentes procuraram minimizar a
importância da família e atualmente as empresas televisivas (concessionárias),
principalmente, procuram enfraquecer a importância dos pais.
Aliás, a liberdade de demolir a família é algo que merece
atenção dos nossos legisladores. Empresas que existem aproveitando concessões
oriundas dos representantes do povo e lambuzadas com o dinheiro do contribuinte
deveriam ser mais cuidadosas com suas programações. Os televisores,
principalmente, são janelas permissivas e fora do controle familiar.
Não devemos confundir a liberdade de expressão de convicções
com a exploração comercial das taras humanas.
Há poucas décadas defendíamos a liberdade de expressão
política e artística. Teatros, cabarés, prostíbulos e outros ambientes fechados
eram, por excelência, lugares permissivos. Ver, entretanto, nas paredes de
nossas casas, apartamentos e até em lugares públicos histórias e cenas
inadequadas a crianças e jovens é algo preocupante. Será que a liberdade de
expressão é isso?
As crianças e os jovens são um tremendo mercado consumidor
que os patrocinadores da mídia comercial disputam ferozmente, na esperança de
que elas imponham a seus responsáveis caprichos e consumos ao gosto e critério
da indústria. A promoção de produtos e costumes suntuosos e depravados é uma
forma de desmonte da sociedade e instrumento de escravização na ânsia de
conquista de luxos e prazeres caríssimos. Não bastasse isso a poluição e
degradação ambiental em geral precisam reverter, algo só possível com a mudança
de hábitos perdulários. Com certeza os responsáveis pela mídia comercial devem
ponderar essas questões e agir preventivamente, antes que sejam vítimas de
ações enérgicas contra a deseducação implícita que promovem, apesar dos
belíssimos programas educativos que fazem provavelmente com o dinheiro do
contribuinte.
Vemos, resumindo de forma simplória, reportagens e programas
absurdos, quando menos querendo generalizar hábitos, credos, vícios e
compromissos de cidades formadas com padrões muito diferentes daqueles em que
nascemos e crescemos. O Brasil tem dimensões continentais, faz sentido
adotarmos figurinos paulistas ou cariocas?
O pesadelo dos pais é imenso.
Como convencer os filhos e filhas a serem responsáveis, a
gastarem o tempo necessário e, pelo menos, suficiente ao aprendizado social,
político e profissional a partir de fontes seguras, saudáveis?
Um exemplo atroz é a mídia esportiva. A duração e o aluguel
(patrocinadores) dos programas esportivos demonstram a conveniência lúdica que
os responsáveis pelas concessões de emissoras de televisão faturam. Ganham até
quando a serviço da Democracia (apesar de serem concessionárias), agora, diante
do decreto (Brasil) que permite o
desconto de débitos do Imposto de Renda (BRASIL) do horário político não
negociado, possivelmente em valor cheio de televisão em rede nacional. Em programas
de partidos eleitorais elas, as concessionárias de rádio e TV, têm agora outra
fonte de receita considerável. Quanto mais partidos melhor... Usando e abusando
de seus privilégios enriquecem seus donos e mandam no Brasil.
O que se pode constatar, resumindo, é a perversidade
monumental de programas e propostas via emissoras de TV, até quando?
Ou seja, a família perde espaço para “educadores” mercenários
e irresponsáveis, para não dizer: criminosos.
Viver é vencer etapas, primeiro inconscientemente, depois, se
a pessoa tiver respeito por si própria e sua família, a construção e manutenção
de uma vida pessoal, profissional e social adequada à felicidade e saúde
daqueles que a formarem e de seus descendentes, prioritariamente.
Com certeza as pressões centrípetas
são enormes. Serão mais fortes nos dois extremos da escala social. Na extrema
pobreza e em famílias que se dispersam sem condições de cuidar de seus filhos é
quase impossível manter um ambiente saudável, ou melhor, é impossível. O
resultado é trágico. Crianças soltas no meio de ambientes insalubres perdem a
oportunidade de crescerem de forma segura.
Na puberdade e até antes, percebendo a discriminação social,
começam a ser brutalmente lesionadas psicologicamente. Ao contrário de tempos
antigos quando a definição rígida de classes sociais por outros motivos e na
ignorância do luxo e prazeres dos mais ricos a miséria era razoavelmente
aceita, atualmente as telinhas das TVs mostram ao vivo e a cores o que
significa ser rico, muito rico. O estímulo a ambições impossíveis e à
criminalidade é simples decorrência dessa visibilidade ofensiva dos luxos e
vícios de elites podres. O resultado é a demanda por mais e mais penitenciárias
e policiamento. Gradativamente os ricos se cercam de guardas e muros, invertendo
a condição de prisioneiros e os mais pobres viram simples estatísticas...
Mais ainda, os mais ricos deixam seus filhos por conta de
empregados e empregadas. Quem educa as crianças?
Assim o ideal seria que todos sem exceção pudessem e
cuidassem com carinho de seus descendentes. Com certeza os ganhos sociais
seriam enormes.
Em termos éticos as famílias perdem espaço para a mídia
comercial e as crianças se transformam em chorume
desse lixo que é a programação em horário nobre das emissoras de televisão.
Lembrando o poder político conquistado graças à manipulação
de reportagens e ao interesse mórbido pela propaganda via telinha podemos quase
esquecer a possibilidade de mudanças a curto e médio prazo.
Códigos de ética?
Vimos momentos em que a mídia pensou em códigos de ética.
Talvez sentindo o efeito de seus “códigos” no faturamento e riqueza dos
concessionários descubramos que a ética do dinheiro é soberana, foi mais forte.
E as famílias? Os seres humanos que a formam?
O desafio do século 21 será usar tudo que existe para
fortalecer as unidades básicas da sociedade de forma sensata, honesta,
cautelosa e dando aos seus responsáveis condições de educar e proteger seus
componentes.
Somando as influências deletérias de processos de deseducação,
os efeitos da mídia se agravam com as gangues criminosas e dominadoras em torno
do comércio de drogas. O império dos narcotraficantes é visível e mortal.
É extremamente importante educar para a sobrevivência e o
sucesso com dignidade, de que jeito?
Se as crianças são afetadas pela má propaganda, os pais não
são menos vulneráveis, até por que eles estão no pleno uso de instintos
sexuais, acima de tudo, num ambiente social em que sair devidamente vestidos
para chamar a atenção do sexo oposto é a regra implícita na moda.
Não devemos regredir a proteções e exclusões primitivas, mas
devemos estar atentos ao que significa ser alvo e agente de ações de conquistas
de terceiros, aleatórias, perigosas.
O casamento é uma formalidade, um ato de compromisso que as
religiões faturam.
O nascimento de filhos, contudo, transcende tudo e cria
obrigações extremamente importantes.
Naturalmente existem casais mal formados, impossíveis. Se
neles a geração de filhos aconteceu, é uma lástima. Existindo irão precisar de
cuidados especiais.
Ser pai ou mãe é uma condição de compromisso inalienável.
Como educar? Acima de tudo pelo exemplo. Nada perturba mais
uma criança do que a falsidade dos pais, quando percebida. Talvez assim sejam
treinadas para muitas profissões, mas é algo que as entristece, magoa.
As desculpas para desvios são abundantes. Romantismo é a mais
usada. Inúmeros livros, filmes, peças teatrais etc. foram feitos e continuam em
produção transformando paixões em atos nobres. Não dá prestígio mostrar o
contrário, com raras exceções. Será por isso que normalmente os romances
terminam com a cerimônia do casamento?
Crianças?
A resposta de muitos é: o Governo que cuide delas.
No Brasil pior do que isso é a herança dos tempos coloniais
quando o trabalho escravo era usado extensivamente. Degradar famílias de
escravos e estimular a procriação sem grandes preocupações era um tremendo
negócio. O negro escravo era um objeto que seus donos compravam e vendiam sem
qualquer preocupação com os seus sentimentos. Ainda hoje vemos o resultado
disso em regiões onde a responsabilidade social ainda não chegou.
Principalmente entre homens nota-se o orgulho de ter amantes e ter gerado
muitos filhos, deixados aos cuidados de Deus e dos pagadores de impostos. São
vítimas de uma cultura de alienação total.
A mídia comercial, ideológica ou religiosa, foi motivo de
atenção especial por grandes filósofos, com destaque para Theodor Adorno,
Noam Chomsky (Noam Chomsky | Talks at Google ) e o Poder em si tema
de muitas palestras e livros de Michel Foucault, entre muitos outros em
diversos cenários.
A irresponsabilidade de famílias é moda e atributo de
sociedades insensíveis (Steven D. Levitt is). Chegamos a
descobrir presidentes de nações que se orgulham de abandonar mulheres com as
quais tiveram filhos. Que exemplo!
Ou seja, justamente quando a Humanidade poderia conquistar um
padrão mais saudável de formação cultural, diminuir o número de presidiários,
drogados e pessoas infelizes descobrimos que instintos primários ainda comandam
gente de qualquer nível social, econômico e cultural.
Lógicas libertárias e sexualistas foram geradas e
conquistaram defensores.
A liberdade é um estado de espírito maravilhoso,
absolutamente necessário a qualquer ser humano inteligente. Vícios,
dependências, manias, comportamentos padrões restringem a liberdade, mas são
opções de vida que devemos respeitar. Vivendo em sociedade somos obrigados a
fazer concessões. Simplesmente já nascemos com inúmeras limitações, é bom
pensar, vale a pena aumentá-las?
A utilização de drogas cresce e outras acontecem sem atenção,
como é o caso das bebidas alcoólicas.
O pesadelo das drogas sociais, outras discretas, muitas secretas
e até medicinais é o nosso cotidiano. Muitos não percebem sua existência, pois
como é o caso do tabaco e da bebida alcoólica fazem parte de nossa história. Os
efeitos maléficos do cigarro e similares só agora são uma certeza. Venenos
lentos que viciam são extremamente perigosos.
A sociedade em geral agora assume preocupações que não
existiam.
Sempre é bom lembrar que até o século 19 da era cristã a
humanidade era, em geral, propriedade de algumas famílias. Os sistemas
monárquicos com o apoio de instituições religiosas e militares impunham ao povo
o que bem entendessem. Eram pouco mais do que “coisas” consumíveis. Os efeitos
dessas formas de organização social se estenderam ao mundo burguês, onde o sangue
azul deu lugar ao ouro e prata de capitalistas, agiotas, especuladores e
latifundiários.
As Guerras do Ópio (Guerras do Ópio) e o imperialismo
brutal servem de exemplo da primariedade de povos que se diziam desenvolvidos.
A luta pelos direitos dos trabalhadores e do ser humano em
geral até hoje despertam fortes rejeições daqueles que afundaram na lama de
ideologias conservadoras.
No passado a humanidade tinha pouco tempo e recursos para
pensar.
As pessoas tinham vida curta, as epidemias e as guerras eram monstruosas,
tudo conspirava contra a sanidade social.
Fantasticamente estamos mudando, ou melhor, nossos descendentes
poderão ter uma vida melhor, principalmente num país distante das taras
europeias e asiáticas.
Algo que é fundamental compreender é que só no século 21 a
longevidade, ou melhor, viver em média mais que poucas décadas até o início do
século 20, tornou-se realidade nos países mais desenvolvidos e em alguns
lugares muito especiais.
A “terceira idade” moderna é um cenário emergente na maioria
dos países.
A quantidade de idosos cresce continuamente, assim como de
pessoas dependentes de inúmeras drogas para a própria sobrevivência.
Nesse século a Medicina terá um arsenal de remédios,
calmantes, relaxantes etc. que também poderão viciar. Até curando pessoas poderemos
estar produzindo dependências perigosas.
Neste cenário as substâncias absolutamente agressivas ao ser
humano, conhecidas como drogas [ (Drogas), (Terra)], vieram para ficar,
pelo menos até que alguma indústria ou governo decida investir para valer em
pesquisa e desenvolvimento de produtos que provoquem rejeição a essas porcarias
e sejam úteis à nossa saúde física e mental.
Isso é possível, mas interessa à indústria do crime e da
Justiça?
Enquanto não evoluímos de forma inteligente na inibição de
vícios degradantes o que podemos fazer é educar e aprender a se defender dessas
pragas.
Para entender podemos começar com um digrama (sujeito a
atualizações) apresentado pela Wikipédia:
Drogas, danos físicos – dependência
Esse diagrama mostrado acima é o resultado de muitos anos de
avaliações de diversas fontes e diz muito, merece atenção. Derivativos e
combinações entre elas aparecem continuamente, tornando a proibição um desafio
quase inútil. Novas drogas aparecem sempre, complicando tremendamente a
inibição a seus usos.
Outras fontes trazem detalhes organizados em gráficos e
diagramas (Revista Época 63). Podemos, portanto, mergulhar no mundo
das drogas conscientemente ou, principalmente em momentos de relaxamento moral
muito bem ilustrados no filme “O Lobo de Wall Street” (Scorsese), onde vemos o
personagem principal experimentar o crack, induzido por um “amigo”, e não
saindo mais desse circuito, até a própria destruição social e econômica,
parando num presídio federal dos EUA. Nessa etapa perdera família, amigos (que
acabou traindo), amor próprio, saúde etc.
A situação mais covarde e perigosa é a que envolve crianças e
jovens. É um tremendo desastre com muitas explicações. Absurdamente percebemos
que quase nada é feito pelo Governo, entidades privadas, ONGs, maçonarias etc.
De modo geral todos param no discurso vazio.
Os crimes facilitados pelas drogas compensaram?
Com certeza a utilização de substâncias legais ou não para
relaxamento, desinibição, estímulos intelectuais não é por si só algo tão grave
a ponto de condenar a pessoa ao inferno (Brum),
mas a estratégia de combate ao tráfico desses produtos criou indústrias e
comércio criminosos (que talvez não existissem se houvesse maior liberdade (Duarte) e (Niven)).
Falta lugar nas penitenciárias, vigilância e policiamento para sustentação de
uma política puritana. Infelizmente podemos acreditar que se as piores quadrilhas
perderem este “filão” procurarão outro objeto de trabalho, mas a expansão de
pessoas envolvidas pelos traficantes é um pesadelo [ (Maronna), (Pellegrini),
(Francisco Inácio Bastos)] notavelmente
assustador.
A organização de atos agressivos para roubar e dominar é algo
tão antigo quanto a própria humanidade, afinal, não seria isso que os europeus
fizeram ao chegar ao “novo mundo” e o que faziam aqui as nações pré-colombianas
entre si? O conceito de crime veio aos poucos com a evolução de um
comportamento de mútuo respeito entre seres humanos e comunidades.
A produção e comercialização de drogas é algo hediondo nessa
fase de nossa história, pois agora sabemos de toda a virulência desses venenos,
ou seja, era e é o comércio da morte.
De qualquer forma o problema foge nitidamente ao controle de
nossas autoridades e merece uma estratégia mais inteligente de contenção, mais
ainda num país em que só parte de suas crianças têm o privilégio de estudar em
escolas bem montadas e as creches são um luxo raro para o povo mais humilde,
sem esquecer as dezenas de milhares de quilômetros de fronteiras e praias e a
dispersão de nossa gente.
O pior, contudo, é constatar que simplesmente a situação das
crianças brasileiras não comove nossa burguesia material e intelectual.
Chegamos a um tremendo grau de artificialismo emocional. Os rituais
substituíram as ações, são menos perigosos.
Pior ainda, a fragilidade das classes sociais mais pobres e a
mercantilização da Justiça cria um cenário de perversões incríveis. É
importante lembrar as razões para mudanças que aconteceram e começam a se
ampliar [ (Cascaes, Drogas e drogas), (Política
holandesa sobre drogas)] podendo atingir níveis insuportáveis.
A injustiça poderá explodir de forma imprevisível.
Não temos pena de morte nem processos tão rápidos quanto
necessários, os bandidos os têm. Diariamente fazemos mais e mais leis inúteis,
falta o essencial, a autoridade e eficácia de nossas instituições.
Nossa legislação e jurisprudência criaram um marco pueril,
definindo um número de anos, meses e dias que separam o jovem infrator do
adulto criminoso. Nossos legisladores não foram capazes de elaborar algo
melhor, assim colocaram nas mãos dos grandes traficantes milhões de jovens
inimputáveis (e influenciáveis) até completarem exatamente 18 anos de vida
biológica.
A importância da Holanda nesse padrão de política merece análise
e transcrição de seu site oficial:
“Os Países Baixos são famosos por sua
política de tolerância às drogas. Mas, muitas pessoas não sabem que, na
verdade, drogas são ilegais nos Países Baixos. Entenda a política de drogas do
país para evitar problemas no futuro.
Todas as drogas são proibidas nos
Países Baixos. É
ilegal produzir, possuir, vender, importar e exportar drogas. No entanto, o
governo criou uma política que tolera o uso de maconha em alguns termos e
condições específicos.
Cafés
Cafés podem vender apenas drogas
leves e não mais que cinco gramas de maconha por pessoa por dia. Os cafés são
regulados por leis rígidas, que controlam a quantidade permitida de drogas
leves e as condições nas quais podem ser vendidas e usadas. Os cafés não podem
fazer publicidade das drogas. Pessoas com menos de 18 anos não podem comprar
drogas e não podem entrar em cafés.
Política de drogas
A política de drogas nos Países
Baixos visa: reduzir a demanda por drogas, o fornecimento de drogas e
os riscos aos usuários, a seu ambiente e à sociedade.
Os holandeses reconhecem
que é impossível proibir as pessoas de usarem drogas totalmente. Por isso, os
cafés têm autorização para vender pequenas quantidades de drogas leves. Essa
abordagem pragmática faz com que as autoridades possam se concentrar nos
grandes criminosos, que lucram com o fornecimento de drogas pesadas.(destaque
nosso)
Fatos
A política holandesa sobre drogas tem
tido certo sucesso em comparação às políticas de outros países, especialmente
em relação à prevenção e cuidado. O número de usuários dos vários tipos de
drogas não é maior que em outros países, enquanto o número de mortes
relacionadas às drogas, de 2,4 por milhão de habitantes, é o menor da
Europa.
Podemos afirmar por tudo o que aprendemos ao longo de décadas
de existência viajando muito, convivendo com todo tipo de gente e situações, é
a de que os vícios, principalmente de substâncias que usamos rotineiramente sem
restrições legais ou não, são tremendamente prejudiciais. Ou seja, tudo se
agrava com a dependência, a impossibilidade de não usar algo que não é
saudável.
O desafio dos pais e responsáveis por pessoas ainda imaturas
é o estabelecimento de uma estratégia inteligente de educação. É um processo
difícil, pois a mídia comercial tem na propaganda direta e indireta de hábitos
nocivos ao ser humano uma tremenda fonte de renda.
Naturalmente as empresas que têm custos elevados procuram
recursos para existirem. Isso nós vemos até em clubes de serviços, ONGs e
entidades que se declaram combater os vícios. No desespero de mostrarem “boas
atividades” aceitam dinheiro e apoio de pessoas e organizações quase
criminosas, assim como de associados visivelmente comprometidos com “esquemas”
impublicáveis.
Os mais velhos nasceram e cresceram em um país onde o consumo
de cigarro e bebidas era fator de distinção entre jovens e adultos. E agora?
Em torno do combate aos vícios e produtos que destroem a
saúde física, mental e social das pessoas há muito a ser discutido.
Nesse projeto devemos relembrar os ensinamentos de Michel
Foucault ao tratar de filósofos cínicos, principalmente, que ele exaltou e
mostrou valores maiores. Na última fase de sua vida batalhava para promover
atitudes sociais e firmes.
A coragem da verdade e a determinação de lutar pelo
aprimoramento da vida são disposições complexas e difíceis, mas organizáveis e
Foucault as defendeu de forma brilhante. Um filósofo diferente, atento à vida e
procurando na Filosofia e na História da Humanidade razões para acreditar no
futuro...
Os profetas também assim o fizeram, mas alicerçaram seus
ensinamentos no temor a Deus. Era até fácil, a vida era curta, a convivência
com a morte uma rotina. À medida, contudo, que a Humanidade perde esses temores
e ganha confiança, os seres humanos se dispersam e enveredam por caminhos
frívolos e inúteis (Ferry). Chegamos a novas
propostas simplificadoras, bem colocadas por Pierre Zaoui em (A
Filosofia Francesa Depois de Maio de 68 - Pierre Zaoui ). Nós, brasileiros,
sentimos um imenso vazio sofregamente ocupado por novas religiões, talvez
incutindo em nossos jovens uma cultura de exclusão assustadora.
Como dizer simplesmente que a vida poderá vir a ser um
inferno aqui na Terra se cuidados permanentes contra os maus hábitos não forem
assumidos?
Como dizer para pais e mães, educadores e lideranças
eventuais que o exemplo é fundamental? Que podem estar destruindo as pessoas
que amam e querem proteger?
Que devemos construir um Brasil a partir de investimentos
pesados da proteção e educação de crianças e jovens?
Temos excelentes trabalhos que merecem atenção e colocados no
blog (Cascaes, Mirante da Educação), merecem ser lidos e
ouvidos com atenção.
Não podemos esquecer que a liberação do porte de drogas para
consumo próprio não trata de forma adequada a distribuição, produção,
preparação das drogas etc.
É um desafio monumental formatar de maneira eficaz uma
legislação de inibição das drogas e viabilizá-la no menor prazo possível.
Qual é o limite de coerência e de competência de qualquer ser
humano?
Existe o superhomem ou a supermulher?
Alguém é perfeito?
Podemos manter permanentemente a vitalidade juvenil?
O envelhecimento
significa o quê?
Obviamente não; todos têm limitações e a capacidade e
competência de qualquer “homo sapiens sapiens” segue um gráfico com eixos e
parâmetros bem definidos. O envelhecimento sinaliza limitações que fogem à
percepção da maioria das pessoas, criando situações constrangedoras e
perigosas.
Com certeza a evolução da Medicina promete soluções mágicas,
mas até elas chegarem a bons padrões haverá necessidade de muitos cuidados (Cascaes, Os
idosos no Brasil).
Ao longo da história, principalmente nessas últimas décadas,
pessoas que começaram com propostas morais, políticas, sociais e familiares
mostraram que a vida é de fato um enredo de teatro ao longo do qual encenamos
peças difíceis, terminando, muitas vezes, em comportamentos típicos de
tragédias gregas
ou brasileiras, simplesmente. Ou seja, o famoso “amadurecimento” parece ser
sinônimo de hipocrisia e cinismo da pior espécie.
Grandes filmes mostram pessoas ilustres no ocaso de suas
vidas, poucas mantiveram a dignidade e qualidade de seus discursos mais
lúcidos. Outras amargaram isolamentos dolorosos (Le Promeneur
du Champ de Mars )
e (O general em seu labirinto).
Vencedores que têm sucesso em suas carreiras souberam escalar
montanhas e também aprenderam a descer delas, se souberam manter a dignidade no
ocaso de profissões e vidas (Cascaes, Saber envelhecer ).
A democracia
criou uma oportunidade muito especial de se entender até onde os líderes
conseguem manter confissões éticas e quanto conseguem suportar quando seus
interesses pessoais, vícios e convicções íntimas as governam. Mais ainda, é
muito evidente a degradação quando no ápice de suas posições, mostram que de
fato o Poder corrompe (Cascaes, A favor da democracia no Brasil).
A força pessoal é sempre testada em qualquer lugar, da
família à empresa, em clubes e partidos políticos, inclusive em sociedades
religiosas.
Somos “humanos, demasiadamente humanos” (Nietzsche).
O que isto significa quando pensamos em ética e moral?
A angústia e estados depressivos aparecem, são doenças
psicossomáticas que
surgem quando contrariamos o que acreditamos sinceramente.
Algo simples e elucidativo está nos ensinamentos de Sigmund
Freud ao mostrar como o nosso comportamento reage ao nosso íntimo, nossa
educação, ao diagramatisar nossas decisões como uma divisão entre os três
segmentos de influência e decisão comportamental:
Da Wikipedia
temos:
Even though the model is structural and makes
reference to an apparatus, the id, ego and super-ego are functions of the mind rather
than parts of the brain and do not correspond one-to-one with actual somatic
structures of the kind dealt with by neuroscience.
The concepts themselves arose at a late stage in the
development of Freud's thought: the "structural model" (which
succeeded his "economic model" and "topographical model")
was first discussed in his 1920 essay Beyond
the Pleasure Principle and
was formalized and elaborated upon three years later in his The Ego and the Id. Freud's proposal was influenced by the ambiguity of
the term "unconscious" and its many conflicting uses.
Isso
ilustra o que desde Freud sabemos; temos uma “voz da consciência” e outras
mensagens que simplesmente mal percebemos. Nossos ilustres chefes e as Suas
Excelências, tão humanos quanto todos nós, também as têm. A demonstração é a
figura até patética que percebemos entre pessoas que se julgavam acima das leis
humanas ou assumidamente se afastam de discursos antigos.
Precisamos,
portanto, principalmente diante daqueles a quem amamos, praticar a honestidade
intelectual, um imperativo categórico (Kant por Fernando Savater La aventura del
pensamiento avi.)
dominante, ou pelo menos desejável. O exercício do diálogo sincero, franco, é
um tremendo filtro de amizades.
O
relacionamento conquistado com base em mentiras é frágil, pode se transformar
em ódios irreversíveis.
Ter
amigos e amigas dispostos a conversar com sinceridade é um privilégio
inestimável. Eles nos ajudam em momentos importantes, pois, afinal, quais são
os nossos limites?
Exatamente
por termos limitações e desconhecermos plenamente a nós mesmos é importante
alguns cuidados diante de decisões que afetarão nossa vida inteira.
A
prudência sugere autocríticas e leva à percepção de que tudo o que pretendemos
poderá não acontecer. Isso é perfeitamente normal, mas a vaidade e a
ingenuidade bloqueiam análises pessoais importantes.
Todos,
vivendo muito, passarão por momentos extremos em todos os sentidos.
Como
enfrentaremos as adversidades? Elas são inevitáveis, a menos que sejamos os
primeiros das listas do cemitério.
E no
início de nossas vidas profissionais? As dúvidas costumam ser enormes.
O que
realmente desejamos ser? Felizes, no mínimo.
O que
podemos alcançar, conquistar? Proteger? Cuidar? Ter?
Aqueles
que dependem de nós precisam da força e competência que tivermos. Colocá-los em
risco, sabendo que não suportaremos derrotas, é uma tremenda
irresponsabilidade. Por outro lado, devemos treiná-los, prepará-los para os
momentos ruins.
O ser
humano que se fragiliza torna-se parte dos problemas da vida dos demais, muitas
vezes exigindo atenção que seria necessária a pessoas amigas que realmente
precisam de todos.
É uma
cena típica de grandes acidentes ver indivíduos que deles saíram ilesos criarem
pânico, confusão, exigirem atenção enquanto à volta deles, às vezes por falta
de alguns segundos de cuidados, outros acabam morrendo ou agravando suas
lesões.
Sempre
a avaliação de cenários e análise de prioridades é essencial a qualquer líder.
Podemos
escolher, ser grandes ou pequenos, frágeis ou fortes. Isso depende muito mais
de nosso caráter do que exatamente da riqueza material ou força física.
Construímos
nossas capacidades e competências ao longo de nossa existência. O capricho
nessa obra compensa.
Entre
as muitas decisões que devemos tomar está a vida profissional.
A
opção por uma profissão é algo de extrema importância na vida de qualquer um.
Cada atividade profissional exige um padrão mental, físico, comportamental e
moral. Um jovem desenvolve seus desejos pelos exemplos familiares e diante do
que a Mídia, amizades e escolas ensinam.
É
importante compreender que a opção de emprego, empresa, submissão ou não etc.
afetam o relacionamento familiar. O casamento normalmente acontece em momentos
de paixão, a vida mergulha o casal em rotinas pesadas.
Tanto
sob o ponto de vista social quanto familiar o compromisso de trabalhar e
sustentar famílias exige muito de todo ser humano, mais ainda quando tem
pretensões maiores.
Muitas
vocações e profissões não têm visibilidade adequada. As percepções podem
enganar e insinuar caminhos equivocados. Por isso tudo é importante o apoio de
especialistas, se possível, na hora de adotar um circuito que levará ao diploma,
é aconselhável quando possível.
Infelizmente
os vestibulares testam conhecimentos, não avaliam e selecionam de acordo com
vocações em potencial.
Lamentavelmente
os testes vocacionais
saíram de moda, ou melhor, poderiam ser mais valorizados e aperfeiçoados. Eles
existem na admissão a empresas, mas aí o candidato já terá perdido muitos anos
em alguma escola profissionalizante.
Na
maioria dos vestibulares, o que vale é a capacidade de memória e o volume de
conhecimentos, eventualmente raciocínio.
Diplomas
confundem, dão a percepção de que o jovem ou adulto pode fazer e quer. As
frustrações serão violentas se ao longo da vida o candidato a alguma profissão
perceber que não alcança o nível desejado ou terá feito opções que não gosta.
Recomeçar frequentemente é mais saudável do que insistir em caminhos errados,
com a vantagem de partir com uma formação que os companheiros da futura
profissão raramente terão.
Felizmente
vivemos numa época em que refazer a vida profissional (inclusive com o Ensino a
Distância) é possível, assim como todas as outras.
A
rigidez de compromissos típicos de antigamente deu lugar a uma sociedade
dinâmica, que, entretanto, cobra um preço elevado no relacionamento familiar,
onde os prazos e compromissos são bem concretos e de extrema importância para
as pessoas que dependem de nós.
É,
portanto, essencial saber que potencial temos e o preço que estamos dispostos a
pagar na conquista de uma carreira. Graças à internet existem portais que dão
um apoio que poderá ajudar muito [ (Teste
Vocacional),
(Testes
profissionais),
etc.], isso sem falar de especialistas nessa arte do bem querer uma profissão.
Nem
sempre existe sinceridade na oferta de oportunidades de trabalho assim como
naturalmente criamos imagens que talvez não interessem aos empregadores. Frequentemente
as opções não satisfazem o ambiente social em que vivemos. O corporativismo
bloqueia análises que poderiam ajudar muito; podemos enfrentar a resistência de
pessoas que se encontram em espaços que não são capazes de sustentar.
Em
qualquer atividade humana as barreiras explícitas e discretas afetam o
trabalhador. Note-se que obstáculos existem para serem vencidos ou aceitos.
Tudo depende de nossa capacidade de enfrentá-los.
No
Brasil o debate em torno do atendimento médico (Programa
Mais Médicos)
foi antológico. Revelou um comportamento e situação de atendimento que poucos
brasileiros que vivem em grandes cidades conheciam. Apesar de muitas faculdades
de Medicina mantidas pelos contribuintes os resultados a favor do povo
brasileiro e do cidadão comum são pequenos. A importação de médicos e o
compromisso deles de trabalharem onde nossos profissionais não aceitam viver
foi a revelação de que muito precisa ser corrigido.
O que
sabemos, mesmo com todos os benefícios razoáveis de uma família “classe média”
vivendo em um centro com muitos recursos, é que não é difícil encontrar
profissionais sem vocação, apesar de eventualmente serem bem preparados. Um
profissional desmotivado é perigoso, mais ainda quando lida com pessoas
eventualmente no limite de resistência.
A
opção errada de vida gera prejuízos para todos, possivelmente maior para
aqueles que erraram ao escolher uma profissão, uma cidade para viver, amigos
etc.
O
desprezo pela realidade é um erro primário.
E os
vícios culturais e comportamentais em família?
Viver
alienadamente é muito mais “gostoso” do que enfrentar a realidade. Talvez por
consequência de milhões de anos extremamente difíceis o ser humano evoluiu, mas
transformou-se reforçando um padrão de comportamento alheio ao ambiente em que
existe.
Um dos
vícios culturais mais desastrosos é o desprezo pela prudência financeira.
Inacreditavelmente
casais mimados esquecem custos e benefícios de suas atividades. O que aprendem?
O que podem provocar?
Como
dissemos o exemplo é fundamental, educamos principalmente mostrando pelas
nossas atitudes o que deve ser feito.
A
diferença entre casais responsáveis e outros é impressionante, principalmente na
educação dos filhos.
Disciplina,
higiene, segurança, planejamento de vida, cuidados e valores bem transmitidos
evitam desmontes que acontecem com facilidade quando os pais fogem da
compreensão de suas limitações.
A
felicidade não se conquista com facilidades.
Ao
contrário, deve-se valorizar cada conquista. Talvez um dos grandes equívocos de
qualquer casal já comece na famosa “Lua de Mel”, frequentemente relativamente
deslumbrante para ao retorno enfrentarem o choque de realidade criando
frustrações que poderão perdurar e destruir um casal.
Existem
limites que educam, excessos que desmoralizam, deseducam.
Tudo,
em tudo, sempre e em qualquer atividade devemos respeitar limites de prudência
ou ter consciência do que a derrota significará.
A pior
derrota é a luta que se perde em batalhas subdimensionadas... A burrice dói
quando a percebemos.
Ser
feliz significa equilíbrio emocional, estar de bem com a vida. Momentos de
muita alegria são insustentáveis, mas inesquecíveis quando merecidos.
Temos
limites até para o prazer.
Participamos
de uma inspeção de um prédio; entre nós um senhor humilde e mal vestido era o
mestre pedreiro que apoiava os engenheiros e vendedores. Ninguém se interessou
pela personalidade, pela vida daquele senhor que construiu a partir do zero uma
carreira honesta, com certeza inúmeras vezes arriscando sua vida. Seu salário?
Não tivemos coragem de perguntar, deve ser ridículo em relação à importância de
suas atividades.
Será
que seus filhos sabem quanto o pai é valoroso?
O
Ministério do Trabalho e os sistemas de saúde têm estatísticas dos heróis do
trabalho. Anualmente, principalmente pelo desprezo de seus patrões, centenas de
milhares de brasileiros sofrem acidentes graves, morrem ou ficam com lesões
permanentes em atividades de risco e insalubres. Formam um contingente de
heróis na luta pela construção do Brasil, existe algum monumento ou praça, ou
museu dedicado ao trabalhador anônimo que fez, constrói e trabalhará pelo
Brasil?
As
lutas ideológicas e principalmente o pavor das elites de que o cidadão honesto,
comum, trabalhador e dedicado a uma profissão produtiva ganhe destaque explica
muito da alienação a seus valores. Ao contrário, interessa a quem manda a
alienação, a dispersão de atenção fora do horário do trabalho.
Até
poucos tempos passados só os profissionais das guerras imperialistas mereciam respeito,
afinal davam a vida em favor dos interesses alheios às suas necessidades...
Felizmente
os tempos mudam. Atualmente em qualquer residência os seres humanos descobrem a
importância do bom eletricista, encanador, pintor, do artífice ao profissional de
nível superior que falhando transformará a vida da família em um pesadelo.
Em
países mais desenvolvidos descobrimos museus fantásticos dedicados ao trabalho,
à tecnologia, ao resultado de inovadores, inventores e sábios. As bibliotecas e
museus tecnológicos são templos do conhecimento e dentro deles encontramos
trabalhos interessantes e guias escolares mostrando a seus alunos o que
encontram e explicando para quê existem.
De
qualquer maneira o famoso “mercado” descobriu que a contracultura dá dinheiro,
principalmente se dirigida aos jovens.
Vivemos
uma época em que a grife ganhou uma importância tão grande que até nossas
madames gostam de servir de outdoors. Jogadores, esportistas e atletas ostentam
marcas de produtos industrializados. Os patrocinadores da mídia viabilizam
programas imensos e vazios. Os especialistas em merchandising trabalham para
esvaziar a mentes e encher corações de banalidades.
O que
nos preocupa é o que constatamos pessoalmente fazendo enquetes em bairros mais
humildes: a maioria dos jovens quer ser jogador de futebol. E se não forem?
Continuarão fascinados com as riquezas e poderes de seus ídolos? Pensarão em
outras profissões? Terão orgulho de suas opções não esportivas? Serão
competentes? Vão aderir ao ganho fácil da criminalidade?
Parece
que instintivamente percebem, gradativamente e talvez tardiamente, que poderão
ser tão vazios quanto as bolas que chutam. A vida adiante dará um choque de
realidade e a percepção do tempo perdido.
Precisamos
promover a honestidade, não?
As
manifestações contra a corrupção ganham força e esperamos que continuem se
avolumando. Mais importante seriam atos de vergonha nacional; o dia da vontade de trabalhar merece ser criado.
Que as profissões, trabalhadores e suas corporações já com dias consagrados gastem
esses momentos promovendo suas carreiras, especialistas, seus heróis e
mártires.
Exemplificando,
sempre que passamos por Itajaí, Santa Catarina, lembramo-nos do cidadão que
morreu fechando válvulas de um terminal de gás que, incendiado, explodiria boa
parte da cidade. Será que seu nome é relembrado anualmente?
No
Setor Energético colecionamos vítimas. Os museus das concessionárias não fazem
referência a esses heróis...
Algum
sindicato tem galerias e museus mostrando seus grandes profissionais e suas qualidades?
Quando muito aparecem em revistinhas de uso exclusivo dos seus associados,
quanta alienação!
Nossas
cidades se preocupam em valorizar os bons profissionais? Esquecem que a
notoriedade e seus predicados dependem de idealistas, planejadores, construtores
e operadores excepcionais? Naturalmente existem exceções, são poucas, contudo.
Com
certeza isso existe, ainda que residualmente. Muitas ruas e praças têm nomes de
professores e de outros trabalhadores, empreendedores e artistas locais; nelas descobrimos
porque assim são denominadas?
Precisamos
de circos, arenas, coliseus e gladiadores, gostamos atavicamente de acreditar
que temos algo em comum com essa gente que corre atrás de um esférico. Ganhamos
anéis de concreto monstruosos. As cidades passam a ter coisas “arquitetônicas”
como se fossem bolhas de insanidade além das famigeradas “torcidas
organizadas”.
Agora
só falta construirmos imensos hospitais, escolas, boas creches e em número
suficiente, fábricas, ateliês, objetos educativos e cidades decentes.
Aproveitando o que precisamos fazer vamos trabalhar para valorizar nossos
cientistas, planejadores, urbanistas, engenheiros etc. Há muito a ser feito.
A
propósito, quem sabe o nome e a vida dos valentes lutadores e pesquisadores
contra nossas endemias? Quem foram aqueles que de fato viabilizaram a
agroindústria no Brasil? Onde estão os nomes dos técnicos e engenheiros que nos
deram a infraestrutura energética de nosso país?
Está
na hora de descobrirmos o Brasil que trabalha, estuda, luta pela construção de
nossas vidas.
Nos
finais de semana, em momentos de alienação saudável e necessária, vamos torcer
pelos nossos times. Cuidado apenas para não engordar comendo salgadinhos e
tomando bebidas alcoólicas, principalmente estas, patrocinadoras dos circos de
concreto e espetáculos que inauguraram.
Nossos
heróis serão modelos para nossos filhos...
1 - Deus é um conceito que remete a um ser, substância (Yalon) ou criador absolutamente
distante de nossa capacidade de compreensão.
2 – O que não compreendemos não podemos conceituar de forma
objetiva.
3 – A visão antropomórfica é perigosa à medida que atribui a
Deus vícios e caprichos humanos.
4 – O pensamento metafísico é inerente ao ser humano,
singular, pessoal.
5 – O ser humano não merece semelhança a um ser perfeito,
eterno, onisciente e absolutamente poderoso.
6 – As convicções que se transformam em ações são perigosas
na justa medida que afetam a liberdade e direitos de outros seres humanos.
7 – O respeito à individualidade, singularidade, ao direito
de qualquer ser humano ser e agir de acordo com suas crenças, desde que não
agridam materialmente outros seres humanos, é essencial à sobrevivência da
Humanidade.
Para segurança e evolução da Humanidade é fundamental a
consolidação de uma visão laica e objetiva do que possa ser a ética e a moral,
independentemente das crenças pessoais em Deus(es).
Hannah Arendt em seu livro
(Arendt, Entre o Passado e o Futuro) relata o
aprimoramento do conceito de Deus e suas motivações, dá um excelente histórico
da criação e evolução dos deuses. Ou
seja, foi a maneira que os seres humanos encontraram para encontrarem paz e
esperança, nem sempre com boas intenções.
Da cultura judaica ganhamos a crença num Deus único, mas
sempre com características típicas dos seres humanos.
Giordano Bruno, Galileu Galilei e inúmeros outros pensadores
no mundo cristão foram martirizados e condenados a prisões e fogueiras ao longo
da história cristã simplesmente por discordarem veementemente das religiões
dominantes.
Baruch Spinoza (judeu) pagou caro por sua visão diferente[ (Ética - Demonstrada à Maneira dos
Geômetras),
(Baruch de Espinoza)] que, por muito pouco, não lhe custou a própria
vida.
As ditaduras religiosas têm causado extremo sofrimento
àqueles que ousam contrariá-las.
Bertrand Russell e outros grandes pensadores enfrentaram e
demonstraram a falsidade, inúmeras vezes, da afirmação: “se eu não acredito em
Deus posso fazer qualquer coisa” (Umberto Eco). Sempre foi usada
como antídoto a comportamentos de rejeição ao teísmo.
O comportamento religioso espraiou-se pela ação política onde
lideranças habilidosas e capazes de criar idolatrias geraram guerras e
holocaustos.
É importante registrar que a pregação religiosa serviu de
justificativa a ações imperialistas ou simplesmente lutas de mútuo extermínio
entre nações fanatizadas [ (R. F. Miller), (Llosa, O
sonho do Celta),
(Cascaes, Procurando Saber, Entender, Aprender Filosofia, História e
Sociologia - SEM CENSURA )...].
Com certeza a pessoa comum e de baixa capacidade de
raciocínio poderá se deixar influenciar fortemente pelos pregadores religiosos
e políticos. Isso é rotina e levou a Humanidade a inúmeras guerras, terrorismo,
genocídio, xenofobia etc., pois as religiões e as crenças ideológicas, versão
“materialista” das religiões clássicas, foram e são instrumentos de organização
social e disciplinamento de pessoas a cargo de profetas, místicos, sacerdotes,
pastores, políticos e profissionais.
O ser humano comum só nesses dois últimos séculos começou a
ter acesso à cultura universal e poder ler e escrever graças à multiplicação de
escolas, livros, museus, bibliotecas e finalmente os mais modernos meios de
comunicação via internet, sistemas de rádio e televisão, fotografias, filmes
etc. Essa era uma exceção absoluta e pior ainda, vivia-se pouco, ou seja, raros
indivíduos chegavam à idade necessária e suficiente a aprender e digerir
ensinamentos éticos e filosóficos, quando isso era possível.
As religiões e ideologias ditatoriais impõem ensinamentos
censurados e completos dentro dos limites que lhes convêm, ou seja, era e ainda
é proibido discordar.
Onde e quando a ignorância imperava a imposição de religiões
foi importante para disciplinar tribos, nações e estados sem padrões de vida
harmônicos e incapazes de decidir individualmente. Pouquíssimas pessoas podiam
realmente estudar algo mais que suas profissões.
Povos mais organizados ganharam dianteira em relação ao mundo
ocidental. Pararam, contudo, talvez pela dificuldade de universalizar sua
própria cultura, quem sabe por efeito de padrões de registro complexos demais se
comparados ao que desenvolvemos na escrita contínua com letras, palavras,
frases e números (A AURA DO
LIVRO NA ERA DE SUA REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA).
A Inquisição (A Inquisição) manteve a hegemonia
da Igreja Católica no mundo ocidental; o nazifascismo felizmente praticamente
implodiu ao final da Segunda Guerra Mundial; os países “comunistas”
gradativamente perdem a rigidez ideológica, mas a cultura do servilismo
alienante continua a criar campos de concentração e o fundamentalismo religioso
volta a assustar os povos livres.
Temos, portanto, exemplos inequívocos dos efeitos do
fanatismo religioso e político que pudemos observar ao vivo e a cores no século
20 e no atual. Não encontramos ainda nada parecido ao agnosticismo
ou materialismo generalizado, pois dificilmente algum povo os adotaria como
lógica geral, apesar da insistência das democracias ditas burguesas em
estabelecer estados laicos e os países “comunistas” adotarem o materialismo.
O que podemos imaginar, contudo, é a evolução da cultura
universal e da inteligência humana, chegando, quem sabe, a viabilizar a
convivência harmoniosa sem o terrorismo intelectual e material.
É justo afirmar, contudo, que as ditaduras matam a
inteligência e mediocrizam qualquer vida, exceto dos poderosos de plantão.
Lamentavelmente a censura e a imposição de comportamentos
podem e existem com outros formatos. No “mundo livre” a plutocracia material
e/ou intelectual existem e sabem se camuflar e confundir.
E podemos viver sem crenças religiosas e convicções
ideológicas?
Viver é antes de mais nada sobreviver e sucessivamente seguir
ocupando espaços e ganhando sentimentos tão bem ilustrados pela Pirâmide de
Maslow
(Hierarquia de necessidades de Maslow). A demonstração dessa
afirmação é notável na vida; vamos sentindo sua pertinência à medida que
vivemos e convivemos com muitas pessoas.
Nessa lógica, o que sugerir aos nossos filhos e netos?
Na leitura do livro (O Enigma de Espinosa) encontramos
possíveis motivos para a obra (Ética - Demonstrada à Maneira dos Geômetras) cuja edição
brasileira, Série Ouro da Martin Claret, traz uma introdução feita por (Huberto Rohden)
que é uma excelente tradução do pensamento de (Baruch de
Espinoza).
A definição que Spinoza traz do que possa ser entendido por Deus um enfoque
mais realista e de imenso valor para entendimento do que possa ser Deus para
quem não admite a existência de um Criador cheio de caprichos e vontades
aleatórias.
O aspecto positivo da
introdução do Dr. Huberto é chamar a atenção para a importância da bondade e do
amor, algo que extrai de Spinoza
e que, visto a partir da natureza humana, deve dar muito mais felicidade do que
o contrário (visão utilitarista? Darwinista?).
Com certeza em todas as deduções até o desenvolvimento recente
do conhecimento mais científico do ser humano [e aí merece ser lido (Foucault, História da Loucura)] tínhamos uma visão
sentimental do que seriam os crimes e castigos necessários (Foucault,
Vigiar e Punir).
A Humanidade procurava no colo dos deuses a razão para seus comportamentos e
diretrizes. Tudo era envolvido por lendas e imagens ao gosto e compreensão
popular. Qualquer obra mais complexa seria inatingível pela maioria absoluta das
pessoas ignorantes ou não.
E agora?
A ignorância pode ser
superada facilmente; no mundo da WEB é possível acessar e conhecer lugares,
histórias, ciências e opiniões que eram impossíveis ao ser humano comum até há
pouco tempo.
A Humanidade tem a bola, o campo de esportes, treinadores
etc., terá condições naturais para aproveitar bem isso? Pode dispensar o medo a
um ser superior?
E Deus?
Líderes, muitos talvez sábios, criaram as religiões, algumas
delas extremamente bem elaboradas. Para absorver tribos, nações e a humanidade,
a amplitude depende de circunstâncias estimuladoras dos sábios de plantão;
inventaram Deus com características similares às do ser humano.
Na Bíblia judaica em algum lugar, provavelmente no Gênesis,
está escrito que o ser humano foi feito por Deus à sua imagem e semelhança. O
contrário é mais provável; assim gente ignorante, crédula, sensível e
dependente passou a “conversar” com Deus.
O Criador, o Todo Poderoso com raiva, amor, senso de beleza e
feiura, vingativo e capaz de dar medalhinhas tornou-se a base de empresas
multinacionais, apoiadas por exércitos de fanáticos e mercenários.
Papas e similares afetaram tremendamente a história da
Humanidade...
A convicção na existência de ser criador do Universo é
onipresente inclusive entre cientistas e gênios da Humanidade, gente
sofisticada que é capaz de mentir solenemente simplesmente declarando a fé e
descrevendo a essência de Deus de forma a simplesmente identificá-lo à
Natureza. A lógica moderna não consegue suportar conceitos antigos.
As grandes religiões são populares, contudo. É natural. Assim
o terrorismo, o fanatismo, a censura e a injustiça existem em grande parte da
Terra.
Graças a Deus?
Maravilhosamente as pessoas, o conhecimento científico e o
social evoluem. Isso com certeza deve afetar conceitos pré-históricos,
definições pré-científicas e arcaicas. Será?
Podemos, isso sim, intuir que existem hipóteses de
sobrevivência e outros padrões naturais, tudo o que existir será natural. Quem
não teria situações intrigantes para relatar?
Sempre que questionado
a respeito de algum padrão de crença digo que o Espiritismo estaria muito
próximo do que “sinto” existir, mais ainda após momentos incríveis de muita
“sorte”. Sempre lembrando que meu pai e avô, pai do meu pai, eram eletricistas
e de que tive um relacionamento muito forte com o Pedro Cascaes de que muito me
orgulho fico com a impressão de que fui protegido por ele, meu pai, acima de
tudo.
Acreditar é uma palavra forte e exige dados e fatos
demonstráveis, de que jeito?
A invenção humana em torno de Deus e o relacionamento que
possamos ter com o Criador é produto de nossa extrema arrogância. Esse ser
infinitesimal pretender ligações de afeto e cuidados especiais com o Criador do
Universo ultrapassa qualquer limite do aceitável lucidamente. Nada impede,
contudo, que outros cenários de alguma espécie de vida existam e que estejam
fora de nossa percepção direta.
Nossa incapacidade de conhecimento de todos os detalhes da
vida e do Universo é flagrante. Não era assim antigamente. Na simplicidade dos
poucos conhecimentos humanos era fácil ter certeza de que Deus estava logo ali
e todos nós muito próximos do Criador e de suas vontades.
O universo cresce sem parar em nossas contas, e estamos
apenas num pontinho dele com alguns instrumentos de testes e medidas. Podemos e
devemos acreditar no que estiver ao nosso alcance físico e intelectual.
Como tanta gente se declara firmemente convicta da existência
de Deus?
Pior ainda, acreditam em algo que nem podem sabem definir?
O pesadelo das convicções está no fanatismo, na
autoflagelação e hostilização de pessoas discordantes.
As organizações religiosas agem como se fossem torcidas
organizadas de times de profissionais. Os atores principais, os atletas, são
mercenários. Os torcedores que se declaram esportistas ou desportistas se
deixam fanatizar sem participar dos jogos efetivamente. O esporte em si é o que
menos praticam. A semelhança é tremenda com as organizações religiosas. Crentes
que se organizam apaixonadamente em torno de rituais e catecismos que não
seguem à risca, simplesmente dizem acreditar e por essa pantomima se dispõem a
perder a vida e a liberdade. Pode?
O fundamental é que todo ser humano tenha dúvidas e não
esconda seus pensamentos. A hipocrisia é sócia do medo. A coragem de dizer a
verdade é essencial. Em torno dessa questão mais uma vez merece atenção a obra
de Michel Foucault. A evolução da sociedade humana depende da honestidade
intelectual e da coragem de enfrentar o que for real. Assim podemos sofrer e
perder muito, mas o prazer de ser coerente é imenso (Foucault -
a coragem da verdade); o preço que assumimos quando queremos
ser responsáveis e justos é compensador.
O desafio, portanto, é ser crente ou não, sinceramente
acreditar ou não em Deus e poder explicar de forma satisfatória o que se
entende por “Criador do Céu e da Terra”.
Algo tenebroso é a percepção de erros intelectuais, aqueles
que moem a consciência ao longo da vida. Se alguém deseja envelhecer e morrer
com tranquilidade deve, acima de tudo, ouvir sua consciência, pensar e analisar
os efeitos sobre si mesmo de tudo o que faz. Com certeza, sendo uma pessoa
sadia, terá por aí diretrizes saudáveis, dispensando medos e fobias maiores,
como, por exemplo, se agrada ou não algum ser superior.
É importante, contudo, expressar o que sentimos após muitas
décadas de reflexões, experiências, ansiedades, frustrações, erros e acertos. Erramos?
Não é importante, ou melhor, pouco muda se acreditamos em
Deus ou não, o essencial para não aceitarmos radicalismos é a compreensão de
nossa incapacidade de compreender, explicar, conceituar o que seja Deus, não
temos palavras nem competência para esta tarefa hercúlea. Mas dentro de nós
encontramos mensagens, intuições, com sorte vivenciaremos situações
inexplicáveis de forma racional e quanto mais estudarmos mais nos sentiremos
confusos diante da Natureza.
Somos parte de um Universo e dentro de nós existe um espelho
desse cosmos fantástico e ele nos manda mensagens de diversas formas.
Precisamos descobrir, selecionar, saber o que fazer. Os
melhores filósofos conhecidos (quantos existiram?) deixaram a mensagem: primeiro
conheça-se, depois..., ao que acrescentaríamos: e saiba fazer de si o melhor
para sua consciência, pois se Deus existe de alguma forma Ele estabelece
propostas e ações.
A Humanidade carece de atitudes positivas, temos excesso de
gente preocupada com o outro mundo, esquecendo que é neste que construímos a
próxima vida, se existir. Não acontecendo mais nada, que tenhamos no último
suspiro a certeza de termos contribuído para uma vida inteligente e sadia
daqueles a quem influenciamos, pelo menos isso.
A evolução dos seres humanos pode ser compreendida na relação
com seus deuses e crenças na disposição para o martírio, as cerimônias de
sacrifício humano, autoflagelação, penitências intermináveis, doações etc.
A crença radical em pecados e ofensas ao Senhor e a esperança
de conquistar simpatias de seres superiores demonstrando lealdade absoluta é
nesse momento da História mais uma vez um tremendo perigo a nações e seres
humanos mais crédulos.
Desde a origem dos tempos, quando o ser humano começou a
existir realmente, a preocupação em influenciar, decidir, agir com segurança
levou até a sacrifícios humanos e de entes queridos como prova suprema de
submissão a Deus(es).
Templos e altares de pedra ainda existem com histórias
horripilantes e servindo de pano de fundo para selfies de turistas felizes sem
consciência do sofrimento monumental que lá aconteceu. Cidades históricas que
ainda guardam escombros de arenas, coliseus, templos, altares agora dão
dinheiro atraindo turistas e alguns pesquisadores.
A visão idealista criou ideologias
e uma coleção interminável de derivativos. A visão idealista da vida é um dos
efeitos das religiões, sempre induzindo as pessoas a acreditarem em seres
superiores e verdades transcendentais.
Os séculos 19 e 20 serviram de campo de conflitos entre
teóricos e militantes de propostas de organização social que mergulharam a
Humanidade em muitas guerras colossais.
A negação do conhecimento pleno, saber da impossibilidade de
dominar ciências tão difusas quanto muitas que afetam a vida humana ajuda no
desprezo pelos figurinos, e isso é extremamente importante.
Não existe ainda outra proposta melhor do que a da defesa da
liberdade, a da igualdade de oportunidades e a preocupação com a fraternidade
entre os povos.
Acrescente-se a tudo isso a preocupação crescente com o meio
ambiente, o futuro próximo das condições de sobrevivência e veremos que a união
dos povos em torno de sua sobrevivência é essencial.
Temos condições técnicas de até desviar corpos celestes
previamente identificados, poderemos, entretanto, desaparecer por efeito de
montanhas de lixo que produzimos sem pensar no que isso significa.
Podemos considerar valores comportamentais como essenciais ao
aprimoramento da vida humana, talvez entre elas a valorização da sinceridade,
da verdade, da preparação das pessoas para ouvirem e falarem a verdade.
Michel Foucault ([org.], Foucault - a coragem da
verdade)
desenvolve com profundidade o tema “a força da verdade” e resgata a Escola
Cínica
talvez querendo valorizar o imperativo categórico de Kant:
(fonte Wikipédia) Imperativo categórico é um dos principais
conceitos da filosofia de Immanuel Kant. Sua ética tem como conceito esse sistema. Para o filósofo alemão,
imperativo categórico é o dever de toda pessoa doar
conforme os princípios que ela quer que todos os seres humanos sigam, se ela
quer que seja uma lei da natureza humana, ela deverá confrontar-se realizando
para si mesmo o que deseja para o amigo. Em suas obras Kant afirma que é
necessário tomar decisões como um ato moral, ou seja, sem agredir ou afetar
outras pessoas.
O
imperativo categórico é enunciado com três diferentes fórmulas (e suas
variantes), são estas:
1)Lei Universal: "Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se,
através da tua vontade, uma lei universal."
a)Variante:"Age como se a máxima
da tua ação fosse para ser transformada, através da tua vontade, em uma lei
universal da natureza."
2)Fim em si mesmo: "Age de tal forma que uses a humanidade, tanto na tua
pessoa, como na pessoa de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo como fim e
nunca simplesmente como meio"
3)Legislador Universal(ou da Autonomia): "Age de tal maneira
que tua vontade possa encarar a si mesma, ao mesmo tempo, como um legislador
universal através de suas máximas."
a)Variante: "Age como se fosses, através de suas máximas, sempre um
membro legislador no reino universal dos fins."
Ou seja, desde tempos
imemoriais, de uma forma ou de outra, grandes profetas e filósofos defenderam
ou estruturaram suas propostas a partir de algo tão simples como poderíamos dizer:
ame seu próximo como a si mesmo sendo sincero, honesto, justo. Naturalmente na
submissão a seres superiores a maioria absoluta desses líderes passados e
presentes escora suas convicções no medo de desagradar algum ser superior e/ou
na convicção de trocas de simpatias com os deuses, quem sabe usando esses
argumentos para serem aceitos...
O essencial, contudo, é que a vida pode ser muito melhor,
gratificante e produtiva quando a maioria das pessoas acredita na força da
verdade e trabalha com a preocupação de interagir e ser útil.
Qualquer que seja a relação econômica e política entre as
pessoas os resultados podem ser bons.
Qualquer estrutura dá bons resultados se as pessoas forem
boas, competentes, e esse é o grande mandamento de qualquer empresa ou
sociedade: bons resultados.
Convicções que criam conflitos violentos, inimizades,
rancores e demolição mútua são a negação da inteligência.
A prática da sinceridade é o grande instrumento de
aprimoramento da vida, é a grande ideologia.
Mas, e as ideologias?
Apesar dos discursos não passam de leves tinturas que
desaparecem ao primeiro esforço de tirá-las. Com raras exceções as pessoas se
apegam a modismos e figurinos mentais, sem convicção, na maioria das vezes a
partir de motivações triviais [merecem leitura (Eco, O Pêndulo de Foucault), (Llosa,
Conversa no Catedral)].
O que fazemos ao escolher um clube de futebol para torcer e
até morrer de melancolia ou explosões de fúria é o que criamos ao declarar
simpatias políticas, raramente lúcidas.
Ao longo da vida vimos a evolução e regressão de praticamente
todos os líderes que nos empolgaram. Simplesmente mostraram que eram humanos,
demasiadamente humanos, lembrando Nietsche.
O desgoverno reinante está preocupado com a aproximação do
aniversário da revolução, golpe, contragolpe etc. do movimento militar de 1964
que mudou a história do Brasil. Isso não seria problema se o mês de junho de
2013 não tivesse mostrado a insatisfação popular contra tudo e todos que mandam
no Brasil.
Razões não faltam e preocupam demais.
É natural, afinal estamos vendo o desmonte de nossas grandes
estatais e as empresas brasileiras encaminham-se para o mercado internacional,
inclusive a propriedade e o comando delas. Abdicamos da Tecnologia, assumimos a
posição de exportadores de commodities e montagens industriais.
As concessionárias (públicas e privadas) colocaram como objetivo
principal maximizar lucros; a qualidade e a universalidade de serviços foram
abandonados.
Nossas universidades não técnicas se multiplicam, faltam profissionais
e grande parte de nossas cidades vê de longe os privilégios das grandes
cidades. Nelas a violência cresce, a mídia consumista cria desesperos e todos
se sentem mal, com medo, pressentem que falta algo.
O cartel financeiro manda soberanamente. O Poder Político
instalado esquece o povo e enaltece os poderosos. No jogo das trincheiras
políticas o apadrinhamento de “companheiros” deixa o Brasil sem rumo. Mais e
mais dirigentes indicados pelos patrocinadores de campanha desmoralizam desde
concessionárias importantes até simples postos de trabalho em qualquer
repartição pública.
Temos tido sucesso em algumas áreas. A riqueza nacional
viabilizada por décadas de pesquisa e desenvolvimento da EMBRAPA e de algumas
empresas que realmente investiram em tecnologia assim como na exportação de
minérios e lingotes a preços ridículos, considerando o volume das vendas, geram
divisas que viabilizam os prazeres estrangeiros, sempre idolatrados pelas
elites mais ricas, em condições de mandar seus mauricinhos e patricinhas,
principalmente, para a Europa de onde voltam com trejeitos e hábitos refinados.
O custo das viagens internacionais desabou e agora uma
multidão de brasileiros corre para o exterior, a maioria absoluta para
registrar e mostrar orgulhosamente coleções de fotografias padrão “eu estou
aqui, onde mesmo? ”, como diria Jô Soares, “é um espanto”.
Países, nações, tribos, famílias e indivíduos procuram
valores de diferenciação entre si. O sentimento natural de propriedade, força,
dominação e utilização de terceiros e de tudo o que existir faz parte de nossos
instintos. Pobre do ser humano e de suas formas de aglomeração que desistem de
se defender. Exemplos clássicos: os Moriori (Moriori people), habitantes da Chatham Island
(Nova Zelândia), quase exterminados por não saberem se defender. Assim também muitos povos
pré-colombianos foram sacrificados e os sobreviventes escravizados simplesmente
por não terem condições de se defender de povos invasores. O darwinismo é algo
inerente à Natureza.
A escravização e o genocídio sempre tiveram razões aceitas
pelas pessoas mais rudimentares. A satisfação de ambições e a indiferença
diante do sofrimento causado, entretanto, é algo que persiste em comportamentos
de organizações corporativas em nossa sociedade. A esperança é a de que
evoluamos no sentido da fraternidade e tolerância.
E as comemorações cívicas e religiosas? Tanto as grandes
organizações religiosas quanto ideológicas procuram colocar na mente das
pessoas rituais e símbolos que simplifiquem e sirvam de camuflagem às suas
intenções. Afinal o ser humano é um conjunto de órgãos, dispositivos e funções
que exigem um trabalho habilíssimo para serem otimizados, e podem sê-lo em
qualquer direção. É muito pouco provável que qualquer um de nós, tenha a idade
que for, evolua suficientemente para fazer afirmações razoavelmente lúcidas.
Não faltam livros, filmes e trabalhos científicos à
disposição dos estudiosos. Se o estudante (de qualquer idade) quiser verá que
as dúvidas só aumentam à medida que se aprofunda e for capaz de raciocínio
independente e lúcido. Talvez a evolução de cérebros naturais e artificiais
algum dia permita conclusões e diagnósticos plausíveis e sensatos.
Precisamos, contudo, estudar o passado para salvar o futuro.
A Revolução de 1964, em princípio pacífica em relação a
similares, apesar de violenta em alguns cantos de nosso imenso Brasil (ainda
desconhecidos ou mal analisados), merece mais e mais estudos, se possível
isentos de paixões e cacoetes ideológicos. Lamentavelmente até entre pessoas
aparentemente cultas o radicalismo inibe a isenção de espírito e a honestidade
intelectual; é algo que podemos entender observando as torcidas organizadas de
clubes profissionais de futebol.
As limitações humanas são imensas (Nietzsche) e talvez o ideal
seja simplesmente ser feliz, alienando-se tanto quanto possível (Ferry).
Teimando em pensar e nunca esquecendo os ensinamentos de
Michel Foucault, com destaque para os livros [ (Foucault, A Arqueologia do Saber), (Foucault,
História da Loucura), (Foucault,
Vigiar e Punir),
(Foucault - a coragem da verdade)] e muitos outros
livros e filmes recentes sobre a história da Humanidade e do Brasil (Livros e Filmes Especiais), com quase setenta
anos (ufa, não mais serei obrigado a votar), tendo iniciado a militância
política na década de sessenta em Blumenau, nascendo e crescendo conversando
com meu pai e ouvindo aulas extremamente interessantes, agora me atrevo a
escrever algo na esperança de contribuir com alguma coisa a favor da
inacessível e misteriosa verdade.
No Brasil estivemos, desde suas origens lusitanas, submetidos
a interesses de potências estrangeiras. A independência de Portugal levou-nos
ao colo da Inglaterra. A aceitação de regras de mercado matou qualquer
veleidade de industrialização mais sofisticada, que, aliás, não era vocação dos
imigrantes até o início do século 19. A formação do Império deu sustentação à
unicidade territorial. A Corte Brasileira (Gomes),,
contudo, centralizadora e forte impôs atrasos monumentais. A riqueza de nosso
solo foi nossa perdição, viabilizando o extrativismo e a monocultura e
valorizando a escravidão.
Nos países mais desenvolvidos o “chão de fábrica” era uma
experiência vil, atroz, mas reunia trabalhadores que aos poucos souberam impor
seus direitos. Aqui o culto etéreo à bandeira e a violência das elites gerou
constituições, leis, padrões de exclusão que persistem até nas maiores e
melhores cidades de nossa terra.
O mundo ocidental está apenas um pouco adiante de nós em
certos aspectos, mas as revoluções violentas e guerras sucessivas quase por
milagre deram força aos ideais de solidariedade, liberdade e Justiça real.
Aqui, América Latina, ganhamos arremedos de democracia que viabilizaram
caudilhos e ditaduras ferozes, só não muito piores porque, como aconteceu com a
ilha de Cuba, o êxodo evitou a necessidade de prolongamento dos paredões.
O que é terrível, contudo, é em pleno século 21 estarmos
assustados com teses e paixões do século 19, visíveis no relacionamento íntimo
com lideranças perversas deste lado do mundo. Isso não significa que a
alternativa seja saudável. Nos EUA grupos econômicos poderosíssimos manipulam e
se intrometem em tudo, inclusive em nossos emails, para quê?
Em nossa história as Forças Armadas, consolidadas na Guerra
do Paraguai e amarguradas com o tratamento recebido após a guerra,
influenciadas pelo Positivismo e o culto da excelência corporativa assumiram
posições políticas.
Criaram motins, levantes, quarteladas e mudanças radicais em
nossa história republicana. Datas festivas? Acima de tudo o 15 de Novembro, e
outros existiriam se vistos com mais atenção, momentos bons e maus, festivos ou
de tristeza, tudo dependendo dos pontos de vistas dos analistas.
A dúvida maior e fator de questionamentos agora é a
comemoração do 31 de março de 1964. Após esse evento traumático à democracia o
Brasil mudou muito. Que democracia existia? O período militar que se estendeu
até o início da década de oitenta foi bom para o Brasil? O cenário político
atual satisfaz as pessoas mais preocupadas com o futuro dos brasileiros?
31 de março é uma data importante por muitas razões positivas
também e até os seus efeitos negativos mereceriam debates inteligentes. No
último período militar o Brasil iniciou um processo de formação de
infraestrutura e industrial que teria feito de nosso país uma potência se não
tivessem acontecido os erros colossais de avaliação das crises de petróleo e a
influência nefasta e criminosa de grandes grupos econômicos nacionais, que se
lançaram vorazmente sobre as oportunidades oferecidas, deixando para o BNDES e
em alguns casos escombros o que deu errado.
Os montepios dito militares martirizaram milhões de idosos e
idosas...
Perdemos, e isso foi uma lesão gravíssima na continuidade
democrática. Partidos bem estruturados e caracterizados deram lugar a
agremiações inconsistentes.
Após 1988 o sindicalismo e o corporativismo ganharam força
demais assim como outras guildas. Lideranças sindicais, sempre prontas a
negociar qualquer coisa para satisfazer suas categorias agora dominam o Brasil
trabalhador enquanto oligarcas faturam bilhões de reais à custa de nosso povo
ingênuo.
Devemos prosperar, contudo. Estamos em momento de transição
econômica. Grandes centrais de energia deverão começar a operar viabilizando
mais alguns pontos no PIB e no desenvolvimento de nosso país e outras obras
estruturais serão inauguradas nos próximos anos. Universidades evoluem e os
sistemas de comunicação (Cascaes, Ensino e literatura
século 21)
permitem, entre outras maravilhas o EAD, o Ensino a Distância.
Assustador mesmo é ver o povo desarmado diante do crime
organizado e a facilidade e benesses dos corruptores, especuladores e agiotas,
até quando?
Agora o desmonte das estatais é a ordem do grande mercado de
capitais que assim transforma os serviços essenciais em objeto de lucro a
qualquer custo, pois simplesmente carecemos de Justiça eficaz contra os abusos
dessas empresas assim como todos os órgãos de regulamentação e fiscalização
sempre foram travados por contingenciamentos de verbas e ingerências até
sexuais na formação de suas equipes. Parece que o inferno em que vivemos é
proposital.
Para entender o que aconteceu após a “redemocratização” assim
como compreender a dinâmica do mercado financeiro internacional, a nova forma
de imperialismo, não de nações, mas de oligarcas absolutamente inescrupulosos
devemos buscar depoimentos e trabalhos de pesquisa escondidos... Para isso
temos de sobra bons filmes recentes e alguns livros clássicos, sempre lembrando
que qualquer obra literária aparece após algum tempo, ou seja, é anacrônica
nesses tempos supersônicos de grandes transformações (positivas e negativas) da
informação e processamento do conhecimento humano (Cascaes,
Livros e Filmes Especiais).
Mas estamos nas vésperas do aniversário de mais um evento
promovido pelos militares, como o foi a proclamação da República, (Gomes).
31 de março de 1964 e
15 de novembro de 1889, dois momentos históricos que ilustram bem a inépcia dos
civis e a força do corporativismo militar, nos dois casos decisivos para a
ruptura institucional. Com a proclamação da República livramo-nos de uma
sucessão imprevisível e critérios aristocráticos de comando do Brasil, a
Revolução de 1964 salvou nosso povo de uma guerra civil que ganhava contornos
assustadores, mas penamos duas décadas ao sabor do Almanaque do Exército e sob
o arbítrio imprevisível de pessoas que usavam a farda como instrumento de
império.
Devemos registrar que na confiança de escalões superiores
muitos subalternos usaram e abusaram do direito de mandar indiscriminadamente.
Disso fomos testemunhas amarguradas com os rumos do 31 de março de 1964.
É importante lembrar que a divisão ideológica da Humanidade
viabilizou a Segunda Guerra Mundial, efeito do racismo, da xenofobia e ódios
que parecem renascer na ex-União Soviética. Conhecendo mais profundamente as
causas desse fenômeno chegaremos à compreensão da formação de novos grupos de
poder, desde oligarcas a cartéis explícitos e implícitos, assim como o império
de grupos que simplesmente especulam com a capacidade de trabalho da
Humanidade.
A escravidão volta mais sofisticada, estimulada pelo
consumismo e vaidades ingênuas, sempre pressionando as pessoas a gastarem a
vida em frivolidades.
Lamentavelmente estamos num momento atroz. O que realmente
nossos governantes em todos os níveis querem fazer? Obedecem a quem? Sabem
governar?
A degradação espantosa dos serviços essenciais, cada vez mais
importantes, camuflada por alguns progressos, sempre, contudo, muito abaixo do
possível e desejável, assim como a definição de prioridades ao gosto da mídia,
essa sob contratos formais de patrocínio, angustia quem sonha com um Brasil
melhor.
Talvez para milhões de brasileiros as esmolas que recebem
sejam tão maravilhosas, e são, que beijam as mãos de quem lhes dá um mínimo a
que sempre tiveram direito. Isso viabiliza a cooptação e utilização de milhões
de brasileiros eleitoreiramente. As desigualdades regionais, fruto de elites
podres em algumas regiões, são instrumentos de perversões assustadoras,
inclusive de preconceitos que desmoralizam qualquer iniciativa e esforço de
discussão de reformas saneadoras e necessárias.
Mais ainda, o eterno pesadelo demasiadamente humano do apego
ao Poder e às suas benesses é onipresente. O efeito deletério dos palácios
contamina pessoas que pareciam boas, mas se deixam levar pelos áulicos e logo
desenvolvem comportamentos doentios.
O povo vê atônito o desmanche de ídolos e no jogo dos minutos
e segundos do horário eleitoral a formação de alianças espúrias mata o sonho de
um Brasil melhor. O cenário foi preparado para que se algo mudar tudo fique
como está (Il Leopardo fez escola).
De que forma recuperar a dignidade? Hannah Arendt tratou
disso em um de seus melhores livros (Sobre a Revolução) assim como registrou
processos vis de transformação da sociedade humana (Arendt, As Origens do Totalitarismo) e o perfil dos seres
humanos relatando quase jornalisticamente o que descobriu e contou em (Arendt, EICHMANN EM JERUSALÉM ).
Concluindo um tema interminável, o que fazer?
Cascaes
12.3.2014